Conspiração escrita por Lura


Capítulo 37
Proposta


Notas iniciais do capítulo

Olha quem ganhou um novo capítulo antes de o ano terminar.
Como de costume, um agradecimento especial a todos que leram e favoritaram desde a última atualização, e aos leitores Gutor, Vivi Pearl, Ba, BabyCool, LVUzumaki e Mayura que comentaram.
Espero que gostem.



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Magnólia – 13 de junho de X792

Gray abriu e fechou a mão direita repetidas vezes, na esperança de afastar o formigamento persistente. Ao menos a o pior da sensação de queimadura havia passado, pensou enquanto deixava a enfermaria da Fairy Tail.

Desde que descobriram sobre a queimadura que torturava seu braço, Makarov e Porlyusica foram taxativos em expressar que ele deveria lhes comunicar imediatamente a cada nova ocorrência, e Gray sabia que eles não estavam preocupados apenas com o fato de isso possivelmente significar a morte de mais um mago do fogo, ainda que fosse o mais alarmante da situação. Eles estavam preocupados com ele. Com os efeitos que aquela suposta maldição poderia acarretar em seu corpo.

Inferno, ele mesmo estava preocupado. “Desesperado” talvez fosse uma palavra mais próxima da realidade. Porque, dessa vez, em vez do padrão vermelho irritadiço a que estava habituado, a queimadura foi acompanhada por linhas negras desbotadas, que poderiam facilmente ser confundidas com uma tatuagem antiga. No entanto, agora eles sabiam que se tratava do símbolo da magia Devil Slayer, conforme Hibiki lhe explicara.

Nem Porlyusica nem o Mestre sabiam dizer se o fato de a marca ficar mais definida se devia a uma progressão ao uso da magia Devil Slayer, por qualquer pessoa da Signum Sectionis que a utilizasse no homicídio dos magos, ou se significava que as mortes ocorriam a uma distância próxima de Gray, teoria advinda da crise violenta que ele sofreu quando estavam próximos ao local em que Macao e Romeo foram atacados.

Particularmente, o mago do gelo acreditava na primeira opção, já que quando tais formigamentos começaram, se manifestavam em sua pele com uma simples vermelhidão, a qual foi se intensificando a cada ocorrência, tanto que demorou para que Gray reparasse que formavam um padrão específico. Todavia, a vermelhidão evoluiu para o roxo doentio, típico de eczemas, até chegar no preto desbotado que assumira naquela manhã. O discípulo de Ur tinha um palpite que logo chegaria ao preto intenso e definido, como a tatuagem que Hibiki lhe mostrara com sua magia arquive, se não fizessem algo para interromper as mortes em cadeia dos magos do fogo.

— Se é essa marca vai embora depois que pegarmos os culpados — comentou consigo mesmo, enquanto descia as escadas para o salão da guilda.

— Desculpa, não entendi — falou Lucy, que passava em direção ao quadro de missões, com uma pilha de pedidos novos para pendurar.

— Ah… Eu estava falando sozinho — o mago do gelo explicou, envergonhado. 

Lucy lançou-lhe um sorriso compreensivo, antes de continuar em direção ao quadro, e Gray a seguiu para ajudá-la, por ausência de coisa melhor para fazer.

Fosse outra época, a loira teria reclamado, mas ela já havia entendido que seus companheiros de guilda apenas se esforçavam para cuidar dela, até nas pequenas coisas. Por isso, em vez de ralhar com o mago do gelo, nitidamente chateado por outros motivos, apenas apontava os lugares altos onde deveriam ser afixados alguns pedidos, enquanto se ocupava dos que penduraria mais abaixo, satisfeita que a tarefa distraísse o companheiro do time ao menos um pouco. 

— O que aconteceu com o boca de fogão para não estar pairando ao seu redor? — questionou o moreno.

— Foi comprar ervilhas e pêssego — respondeu.

— Ele ajuda nas compras da guilda agora? — indagou, risonho, satisfeito com a dedicação do amigo em auxiliar Lucy mesmo em seu emprego.

— Na verdade, as compras são para mim. Quero fazer um sorvete — explicou.

Gray se endireitou e se questionou mentalmente se havia ouvido corretamente.

— Com ervilhas e pêssegos? — perguntou, incrédulo.

A loira também cessou de pregar os avisos no quadro para lançar-lhe um olhar ácido. 

— Se você nunca vai carregar um humano na barriga durante nove meses e sofrer com os sintomas esquisitos que isso traz, não pode me criticar — discursou, apontando o dedo para o amigo, que ergueu as mãos, ainda repletas de pedidos de trabalho, em rendição.

— Isso é mesmo comum? Eu pensei que fosse mito — o mago do gelo comentou, casualmente.

— Oh, acredite em mim, não é mito — a maga estelar lamentou. — Embora eu acredite que meu desejo repetido por sorvete seja mais por estar esperando um filho do Natsu do que em razão da gravidez em si. As vezes, do nada, eu começo a sentir um calor absurdo — contou.

— Você acha que é a magia do bebê? — Gray perguntou, surpreso. — Isso quer dizer que ele é um dragon slayer como o Natsu? 

— Porlyusica acha que é possível — respondeu.

— Uau. Então a magia dragon slayer é mesmo hereditária — comentou, impressionado.

— Não temos certeza ainda — Lucy enfatizou, mas a conversa direcionou a mente de Gray novamente para os pensamentos que queria evitar. Afinal, Hibiki havia dito que a magia Devil Slayer era hereditária. Isso significava que se ele tivesse filhos, eles passariam pelo mesmo transtorno que Gray passava atualmente.

“Só depois que eu morrer”, lembrou-se mentalmente, censurando-se pelo questionamento aleatório. A possibilidade de ter filhos ainda era um item distante e indefinido em meio aos seus planos para o futuro.

— Hmm. — O resmungo da maga estelar atraiu a atenção de Gray de volta. 

— O que foi? — questionou o moreno.

— Está faltando um dos pedidos que separei — Lucy comentou, retornando pelo caminho que viera, para conferir se não havia deixado o panfleto cair.

— Mira-san! Você viu o pedido da missão de escolta do Museu de História? — indagou. 

A garçonete albina, que vinha esfregando o balcão, levantou a cabeça para encarar Lucy, antes de responder:

— Meldy e Juvia pegaram o pedido ontem a noite.

À menção do nome da maga da chuva, Gray flagrou-se prestando mais atenção na conversa do que gostaria.

— Antes de colocarmos no quadro? — surpreendeu-se a loira.

— Elas queriam uma missão longa. Era a única que atendia os requisitos —  a take over deu de ombros sinalizando indiferença, embora sua expressão indicasse preocupação.

Gray supôs que o olhar significativo que ela lhe lançou tão logo terminou de falar, não fosse coincidência.

— Elas não estão no time agora? Por que pegariam uma missão longa separada? — Lucy questionou.

— Elas ficaram de passar aqui está manhã antes de sair. Caso queira conversar, é só esperar — a garçonete sugeriu e, dessa vez, o mago do gelo teve a certeza que as palavras não eram exclusivamente direcionadas para Lucy.

Suspirando, o moreno caminhou para o exterior da guilda. O problema da marca em seu braço, que ele ignorou por tanto tempo, já havia explodido na sua cara mesmo e ele se via obrigado a lidar com isso. Então ele podia muito bem agir como um adulto e resolver sua situação com Juvia, já que todos sabiam o que lhe acontecia. Não havia motivos para continuar omitindo informações.

Decidido, mas não necessariamente ansioso, recostou-se no muro exterior da sede da Fairy Tail e esperou.

A reunião durou tempo suficiente. Mais do que Grand Doma acreditava necessário, para continuar nas mesmas medidas repressivas que ele sabia insuficientes. Se não haviam surtido efeito nos últimos meses, ele não conseguia entender como aqueles velhos de mentalidade ultrapassada acreditavam que funcionaria agora.

Mesmo Org e toda a sua boa vontade, não eram suficientes para impulsionar a mudança necessária no quadro de homicídios sequenciais de magos do fogo. Pois por mais bem intencionado que fosse, ele ainda tinha apego à sua posicao de conselheiro e ao prestígio do Conselho Mágico em si, o que muitas vezes o impedia de tomar decisões mais ousadas.

Porque sim, o departamento criminal do Conselho Mágico havia notado que eram os magos do fogo os alvos dos homicídios desde o começo, e não havia tratado de alertar a população pelo simples fato de não desejar atrair a revolta da impunidade para si.

Apenas agora, as guildas começaram a despertar sua atenção para a ameaça — sem surpresas, o primeiro alerta vindo da Fairy Tail, que parecia sempre um passo à frente dos demais —, o que significava que, na visão da população em geral, as autoridades começavam a tomar conhecimento da situação, o que diminuiria eventuais julgamentos por incompetência em capturar os criminosos. Mesmo todas as vezes que determinaram a suspensão das atividades ferroviárias, não foi associada pelo público em geral à tentativa de encontrar os assassinos. 

Humanos eram tão felizes em sua ignorância. Grand Doma não conseguia deixar de pensar e se deliciar com o fato.

— Você sabe que o novo bloqueio dos funcionamentos dos trens não funcionará e ainda assim não insistiu em outro método — Hallbamn observou, quando alcançaram a privacidade da sala de Grand Doma. 

Fosse outro dia, o presidente do conselho teria se irado, mas uma vez que com exceção de Hallbamn e ele, os demais conselheiros haviam participado da reunião como uma projeção astral, transmitida do conforto de seus lares, considerava a sede em ERA relativamente segura para conversas.

— Você sabe o mesmo e também permaneceu inerte — devolveu o velho, caminhando para a elegante cadeira atrás de sua grande escrivaninha, enquanto o outro fechava a porta do escritório.

Hallbamn apenas deu de ombros. Ele já havia aprendido, desde que se aliara ao presidente, a ler seus movimentos e acompanhá-los. Se Grand Doma não achava importante o suficiente intervir na situação dos magos do fogo com uma atuação decente, então ele também não sugeriria isso.

O que ele não queria dizer que compreendia a razão.

— A princípio, eu não concentrei nossas forças nisso porque não me importo — o presidente admitiu, honestamente. — Chamar a atenção da população para uma série de assassinatos sem solução, apenas mancharia nossa imagem, enquanto precisamos dela ilibada para o sucesso dos nossos planos — explicou.

— Mas agora, é questão de tempo até que cada habitante de Fiore saiba sobre os homicídios — contestou Hallbamn. — Eles continuarão atrás dos magos do fogo, inclusive, de Lucy Heartfilia, cujos poderes e habilidades tanto almejamos, já que existe a possibilidade de o bebê que ela espera herdar a magia dragon slayer do fogo. Eles fizeram isso uma vez, quando ela estava presa, por que não fariam agora? — completou.

— Agora, porém, nós podemos usar quaisquer ataques que lançarem contra Lucy Heartfilia em nosso favor — respondeu, de forma entediada, suspirando em exasperação ao ver a expressão de confusão que o outro assumiu. — Diga Hallbamn, quais foram as condições que Lucy Heartfilia assumiu ao ser beneficiada com a Liberdade Condicional? 

— Não sair da cidade de Magnolia e não usar magia — respondeu, ainda sem entender que relação isso tinha com o assunto em questão.

— Oh sim. Mas veja, é perfeitamente normal que uma pessoa sob ataque use de todos os meios possíveis para sobreviver, não acha?

— O senhor quer dizer que espera que atentem novamente contra a vida do bebê de Lucy, para que ela use magia e viole a condicional? — especulou. — Mas ela está usando pulseiras inibidoras! Mesmo que seu instinto usar magia para salvar a própria vida e a do bebê, no final ela não poderá — afirmou.

— Você realmente ainda não compreendeu a grandiosidade do vínculo que aquela garota possui com seus espíritos? — indagou o presidente. — Eles vieram por ela uma vez e praticamente a trouxeram de volta da morte. Por que não a socorreriam novamente? 

— Mas se ela não os invocar, não estará violando a condicional — insistiu o outro, no que o presidente abriu um sorriso astuto.

— Não precisamos que que ela viole, mas apenas que pareça que sim — concluiu, com escárnio. — Tudo o que temos que fazer, é aguardar que quem quer que esteja matando os magos do fogo ataquem novamente e monitorar tudo para evitar que Lucy Heartfilia morra no ataque. E então, a teremos novamente sob nosso domínio — concluiu, voltando-se com indiferença para o trabalho burocrático disposto em sua mesa, como se o que tivesse acabado de falar não envolvesse a forma como estava destruindo a vida de uma mãe e seu bebê.

Hallbamn ainda se surpreendia com a apatia de Grand Doma, porém após tanto tempo de aliança, supôs que não devesse.

Meneando a cabeça negativamente ante a própria fraqueza, deixou o assunto de lado, antes de dizer realmente o motivo de ter vindo ali:

— Um emissário do continente ocidental trouxe uma mensagem — avisou. — Parece que conseguimos. Teremos uma audiência com o imperador — avisou.

— Excelente! — Grand Doma exclamou, expressando sua satisfação com o mínimo de emoção.

— A condição, porém, é que a audiência ocorra em Fiore — acrescentou.

— Previsível. Ele quer conferir a situação pessoalmente antes de formar uma aliança — comentou. — Mas  é melhor para nós. Assim poderei fazê-la pessoalmente — concluiu, antes de contemplar, satisfeito, a maneira que seus planos progrediam.

Eles já tinham as condições necessárias, mas com o apoio ocidental…

— Seremos invencíveis — Grand Doma expressou seus pensamentos em voz alta. 

Gray percebeu a aproximação de Juvia e Meldy tão logo viraram a esquina e notou que estavam envolvidas em uma conversa amigável.

Involuntariamente, gemeu em desânimo. Ele sabia que as magas viriam juntas pois sairiam na mesma missão, mas sentia que não seria fácil se livrar da garota de cabelos rosas para conversar a sós com Juvia. Meldy havia assumido uma postura muito protetora em relação à maga de cabelos azuis, o que fez com que ela cedesse novamente à sua antiga tendência de odiar Gray.

E o fato de Juvia ter literalmente empalidecido ao percebê-lo parado ali, supôs, não ajudaria.

— Precisava realmente pegar uma missão longa para me evitar? — indagou, olhando para a maga da chuva.

O mago do gelo não estranhou a hostilidade do próprio tom, embora sequer tivesse certeza do motivo de continuar agindo assim.

— Uau, como você é presunçoso — Meldy debochou, em timbre ácido.

— Eu não estou falando com você — o moreno se apressou em cortá-la.

— E mal educado — complementou a maga de cabelos rosas. — Juvia-chan, você não precisa escutar quaisquer que sejam os comentários maldosos que ele fará dessa vez — alertou à outra.

— Eu quero falar com a Juvia. Quem decide se escutará ou não, é ela — Gray praticamente rosnou, sentindo que Meldy estava prestes a avançar contra ele.

Aparentemente, Juvia percebeu o mesmo, pois colocou a mão direita de maneira apaziguadora no braço da companheira de time, antes de dizer:

— Mel-chan, está tudo bem. 

— Mas Juvia-chan… — a menina tentou protestar.

— Veja com a Mira-san se o empregador já encaminhou as informações que havia ficado de enviar — insistiu a maga da chuva. — Assim Mel-chan e Juvia podem sair mais rápido — argumentou.

— Certo — a garota de cabelos rosas concordou e começou a se afastar, mas não sem armar um bico de contrariedade. — Para constar — falou, parando quando estava prestes a passar por Gray —, eu o odeio, mas já que decidiu conversar com ele, você sabe o que deve fazer, Juvia-chan — orientou, antes de adentrar a guilda, mas não sem antes mostrar a língua ao mago do gelo.

Juvia empalideceu ainda mais com as palavras da garota, mas Gray parecia alheio ao fato, visto que ainda revirava os olhos diante do gesto infantil de Meldy. Todavia, havia notado as palavras da maga sensorial.

— O que ela quis dizer? — perguntou, desconfiado.

— Juvia não sabe — a maga respondeu. — O que o Gray-sama quer com a Juvia? — indagou, sem perder tempo.

— Resolver as coisas entre nós — falou, simplesmente. — Você está me evitando desde que nós… — começou a explicar, mas interrompeu-se, repentinamente constrangido. — Eu sei que não fui a melhor pessoa naquela noite, e devo no mínimo me desculpar — emendou, envergonhado.

A maga de cabelos azuis suspirou. 

— Gray-sama não precisa se desculpar. Juvia estava consciente e não se arrepende — disse. — Agora, se Gray-sama der licença à Juvia… — pediu, preparando-se para seguir o caminho para o interior da guilda.

— Espera, Juvia! — Gray pediu. — Eu pensei que havia se afastado pois estava arrependida. Mas você não se arrepende, porque está me evitando então? — questionou. 

A jovem comprimiu os sábios em uma linha fina, antes de respirar fundo e dizer: 

— Porque a maneira que Gray-sama trata a Juvia machuca.

— Não é tão diferente da forma que eu lhe tratava antes. Eu nunca menti para você, ou lhe dei falsas esperanças — argumentou.

— Está certo. Juvia nunca se importou em ser magoada por Gray-sama porque ela se magoava sozinha — exasperou-se, imediatamente arregalando os olhos com as próprias palavras.

— O que você quer dizer? — o mago do gelo questionou, sem ignorar a maneira que a jovem pareceu se amedrontar com a própria fala, ao ponto de fugir. — Espera, Juvia! — exclamou, puxando-a pelo braço no momento em que começou a correr.

O movimento fez com que a maga, girasse de volta para ele abruptamente e cambaleasse com o movimento, de modo que Gray precisou ampará-la para que não despencasse.

— Oh céus, não agora — a mulher choramingou.

— Você está bem? — o moreno indagou, segurando-a pelos ombros, notando a feição doentia que ela havia assumido.

— Hei! Está tudo ok aqui? — Natsu, cuja aproximação em conjunto com Happy sequer havia sido notada, perguntou, vendo a comoção entre os dois magos.  

E o dragon slayer logo percebeu que não estava tudo bem, se a maneira como Juvia soltou-se abruptamente de Gray para inclinar-se contra o muro e vomitar indicasse alguma coisa.

A primeira reação de Gray foi contorcer o semblante em asco, mas logo ele inclinou-se ao lado da maga, a fim de apoiá-la.

— Juvia! O que aconteceu? — questionou, desnorteado e preocupado.

— Enjoos são comuns no início da gravidez. Puxa o cabelo dela para trás que ajuda mais — Natsu explicou, com ar de conhecimento de causa. 

— Oh nossa, Natsu! Você provavelmente não deveria ter falado isso — Happy comentou, preocupado, desconfiando do que havia acabado de acontecer.

As suspeitas do gato voador apenas foram confirmadas com a maneira que Gray endireitou-se e voltou os olhos arregalados como pires para o mago do fogo.

— Gravidez? — metade engasgou, metade esganiçou a palavra.

— É! A Lucy teve umas crises de vômito feias no início — alheio ao pânico do outro, Natsu respondeu.

Gray estava prestes a gritar que não era aquilo que queria dizer, no momento em que Juvia pareceu recuperar-se e levantou, encarando-o com olhos marejados. 

 — Gray-sama… — a maneira que ela choramingou o nome dele praticamente confirmou suas suspeitas.

— Juvia, você está mesmo grávida? — perguntou, sacudindo-a pelos ombros, desesperado.

— O que você pensa que está fazendo? Quer deixar ela pior? — Natsu gritou, indignado, enquanto tentava afastar a maga da água do aperto do mago do gelo.

Sobrecarregada com os eventos ao seu redor, a mulher chuva simplesmente correu para o interior da guilda, deixando Gray atônito para trás.

Natsu o soltou e conferiu se os pêssegos e ervilhas contidos na sacola que trazia haviam sobrevivido à pequena peleja, antes de voltar-se para o companheiro de time e dizer casualmente:

— Ela está sim. O cheiro das mulheres mudam durante a gravidez. E eu também consegui ouvir o coração do bebê.

— Natsu, a Lucy vai te matar — flutuando entre ambos, Happy avisou, em tom resignado. 

— Por quê? — o mago do fogo perguntou com inocência.

O exceed, no entanto, não teve chance de responder, pois naquele momento uma Meldy que rugia furiosa deixou o prédio da guilda e atacou, pulando em Gray.

— Olha o que você fez! — Lucy censurou, puxando a orelha de Natsu.

— Eu não entendo! Por que não se pode falar sobre isso? Todos não saberiam em alguns meses, de qualquer jeito? — choramingou o dragon slayer, tentando se livrar do aperto de Lucy. 

— Porque é pessoal! Tente se lembrar da maneira que foi constrangedor para nós, no início — a loira esbravejou, soltando-o. 

Meldy estava prestes a dizer que o fato de o casal discutir a vida de Juvia como se ela não estivesse ali, não estava ajudando. Na verdade, a incomodava a maneira que o segredo de Juvia havia acarretado em uma pequena reunião na enfermaria, onde sua companheira de time deveria estar descansando.

— Idiota — Lucy xingou, entrando em uma pequena discussão com o mago do fogo, e a maga sensorial notou que, brigando daquela maneira, eles precisam casados há anos, a grande barriga de seis meses de gestação da loira apenas reforçando tal aspecto.

— Porém, não mais idiota que este aqui — foi Erza quem declarou, puxando a orelha de Gray, de maneira semelhante à que Lucy fizera com Natsu. — Idiota e completamente irresponsável. Tem noção do tamanho do problema que arranjou? — ralhou.

O mago do gelo sentiu o sangue esquentar.

— Por que você está agindo assim comigo? — indagou, genuinamente irritado. — Quando ficou sabendo que Natsu e Lucy estavam esperando um bebê, você não demorou a apoiá-los.

— Na verdade, ela meio que caiu matando em cima dele, assim como o resto da guilda — Happy lembrou, minimizando a própria culpa no episódio. — Lisanna foi quem deu um sacode em todo mundo — completou.

— É, mas logo depois disso, você os apoiou incondicionalmente — o discípulo de Ur acusou a ruiva. — Mas está apenas me depreciando desde que chegou aqui — emendou.

— Isso é porque o Natsu ama a Lucy! — Erza gritou.

— Erza-san! — Wendy foi quem censurou, alarmada.

Ao perceber as implicações de suas palavras, Erza imediatamente corou.

— Me desculpa, Juvia, eu… — gaguejando completamente constrangida, tentou consertar.

— Está tudo bem, Erza-san — a maga da chuva, que descansava em um dos leitos, cortou. — Juvia sabe que Gray-sama não a ama — comentou, o timbre desprovido de qualquer emoção, demonstrando apenas cansaço, aspecto reforçado com a maneira que ela jogou a cabeça contra o travesseiro e fitou o teto.

— Juvia… — Pela primeira vez desde que a maga da chuva foi trazida à enfermaria, Gray se dirigiu a ela.

— Já chega! Saiam todos! Eu preciso ver a paciente e ninguém aqui está ajudando! — Porlyusica finalmente decidiu se manifestar.

E ela que havia pensado que já tinha um prato cheio para lidar no dia, com Macao ainda internado em estado crítico e a marca que aparecera no braço de Gray naquela manhã. Mas não, as crianças de Makarov pareciam decididas a providenciarem mais crianças, e no pior momento possível. Já não bastava a preocupação relacionada ao fato do bebê de Natsu e Lucy herdar a magia dragon slayer, agora ela tinha que se preocupar em descobrir se a magia devil slayer de Gray afetaria o bebê que ele teria com Juvia.

Isto é, se ela decidisse seguir adiante com a gravidez.

Sem ânimo, sentiu a cabeça latejar com a perspectiva da conversa séria que precisaria manter com a maga da chuva. 

— Agora levante aquela — Lucy instruiu e, imediatamente, Natsu ergueu com facilidade uma das enormes mesas de madeira do salão da guilda, ao passo que Happy erguia cada uma de suas cadeiras princesa, para que a maga estelar pudesse varrer embaixo. O auxílio evitava que Lucy tivesse que se abaixar para fazer o serviço, o que estava se tornando incômodo com a barriga avantajada.

Claro, ela sabia que qualquer outra das meninas que trabalhavam para a guilda fariam o serviço de bom grado para ela não ter que se esforçar, mas com o auxílio de Natsu — que sempre insistia de forma irritante que ela o deixasse ajudar em algo — a tarefa se tornava muito mais fácil e, de quebra o dragon slayer se sentia útil. A loira já havia entendido que era mais fácil tê-lo ajudando, do que tê-lo seguindo-a e vigiando-a para todos os lados.

— Acha que o Gray e a Juvia ficarão bem? — Natsu indagou. — Talvez eu deva falar com o sorvete sem miolos — sugeriu.

— Acho que uma conversa fará bem a ambos, mas não agora. Eles precisam de um tempo sozinhos para processar essa informação, assim como nós precisamos quando descobrimos sobre o nosso bebê — lembrou, metade concentrada em responder, metade concentrada em varrer  — eu também falarei com a Juvia amanhã, se nos encontrarmos — acrescentou, lembrando-se que a maga da chuva parecia tanto cansada, quanto perturbada, quando deixou a enfermaria algumas horas antes.

— Quem diria que a Fairy Tail teria outro bebê tão cedo — Happy comentou.

— Logo o filho de Gray e Juvia, de todas as pessoas. Isso foi meio inesperado — a loira expressou, recebendo um murmúrio de concordância dos outros dois.

Os três seguiram com a tarefa de limpeza por um tempo, cada qual com suas próprias reflexões a respeito da novidade do dia, até que o choramingar do exceed chamou a atenção:

— Quantas faltam? — indagou, sentindo que suas patinhas poderiam cair de tanto levantar cadeiras.

— Duas mesas e podemos ir — Lucy garantiu.

— E minha recompensa? — tentou o gatinho.

— Ensopado de peixe quando chegarmos em casa — a maga estelar respondeu, rindo quando ele exclamou um “Aye” animado.

Quando, no entanto, seguiam em direção às mesas próximas à entrada da guilda, estacaram quase ao mesmo tempo, ao perceberem que dois visitantes chegavam.

Natsu não conseguiu evitar o ímpeto de estreitar os olhos de maneira ameaçadora enquanto grunhia em descontentamento, fazendo com que Happy o encarasse com preocupação. Foi Lucy que, após apertar o ombro do mago do fogo de maneira apaziguadora, resolveu tomar a frente da situação, dizendo:

— Princesa Hisui! General Arcadios! Que surpresa vê-los aqui!

— Surpresa desagradável — o dragon slayer resmungou. 

— Natsu! — Lucy censurou.

— Suponho que eu mereça a hostilidade, considerando o motivo da minha última visita — a princesa declarou. — Infelizmente, o mesmo  motivo desagradável me traz aqui para conversar com você, Lucy Heartfilia, embora o contexto atual torne a situação ainda mais grave — anunciou, pesarosa.

— Podemos nos acomodar? Não creio que o assunto a ser discutido deva ser exposto tão próximo à entrada — Arcadios alertou.

— Claro. Vamos para cima — Lucy respondeu, apesar da ansiedade que as palavras da princesa lhe causaram. Se ela tivesse entendido direito e a monarca a visitasse pelo mesmo motivo que visitara Natsu quando acreditou que ela estava morta, certamente não gostaria da conversa. — Você veio fazer uma oferta pelas minhas chaves? — indagou, sem rodeios, uma vez que todos se acomodaram nas mesas do andar superior.

Com a pergunta, Natsu nitidamente assumiu uma postura protetora ao seu lado.

— Vejo que Natsu-san lhe explicou o que aconteceu da última vez — Hisui comentou.

— Eram minhas chaves, afinal — a maga estelar apontou. — E foi a partir da visita de vocês que descobriram que eu ainda estava viva e puderam me resgatar. Sou grata por ter invocado Horologium e me salvado, ainda que essa não tenha sido a intenção original de vocês — acrescentou.

— Eu fico aliviada de ter contribuído, ainda que por coincidência, com o seu retorno em segurança — a princesa expressou. — Mas respondendo sua pergunta, sim, eu vim fazer uma nova oferta pelas chaves de ouro. E acredito que dessa vez, vocês devem considerar a proposta com cuidado — alertou.

Lucy remexeu-se, incomodada, ante o olhar penetrante que a princesa lhe lançava. 

— Por quê? — indagou, questionando-se internamente se seria capaz de desvendar todas as intenções da monarca.

— Porque isso pode aumentar as suas chances de absolvição das acusações do Conselho Mágico — revelou.

— Como pode saber disso? — Natsu foi quem tomou a frente, dessa vez.

— Eu acredito que mais que um bode expiatório para as diversas conspirações recentes que macularam a credibilidade do Conselho, eles têm interesse genuíno no potencial das chaves do zodíaco — revelou. — O Portal do Eclipse já se mostrou um feitiço funcional, apesar de seu potencial apocalíptico. Quantos reinos no mundo não guerreariam para conseguir uma ferramenta que viabiliza a viagem temporal e pela chance de manipular o tempo a seu bel prazer? É basicamente o poder de reescrever a história — explanou.

— Ou de extingui-la — Happy observou.

— Muitos considerariam um risco válido. Eu considerei — falou a princesa.

Não que enfatizar fosse necessário. Todos os presentes se recordavam que ela fora a responsável pela construção do portão que se abriu e libertou sete dragões vindos do passado durante a realização dos Grandes Jogos Mágicos, quase culminando na destruição do reino.

— Seu suposto retorno à vida — Hisui retomou a palavra, voltando-se para Lucy — apenas consolidou para o Conselho o poder das chaves. Afinal, a Nihil Occultum tentou fazer um caminho para o mundo dos mortos. Permanece a dúvida se eles conseguiriam, mas o fato é que o feitiço existe, e exige tanto as chaves de ouro, quanto um poderoso mago estelar contratante de todo o zodíaco — explicou. — Com a sua condenação, eles teriam a possibilidade de apreender as chaves, como arma do crime, e ainda teriam você, uma maga forte o suficiente para abrir o Portal do Eclipse, forjar o caminho entre mundos e sabe-se lá mais o que — completou. 

— E então você quer que eu entregue as chaves para você, a fim de evitar que eles tenham as duas coisas — Lucy concluiu.

— Se você vender as chaves para nós antes do julgamento, faremos tudo ao nosso alcance para evitar que as tomem — garantiu. — E se você já não for contratante dos espíritos do zodíaco, eu acredito na possibilidade de o interesse do Conselho em você diminuir — revelou.

Lucy levou as mãos à testa, nitidamente sobrecarregada com a conversa.

— E você espera que eu desista dos meus amigos por causa de uma possibilidade? — exaltou-se, levantando-se.

— Observe seu tom, minha jovem — Arcadios exigiu, também se levantando e erguendo-se sobre a loira.

— Não se aproxime da Lucy — dessa vez, Natsu esbravejou, colocando-se entre ambos. 

Após lançar um breve olhar de gratidão em direção ao dragon slayer, a maga estelar voltou-se para a princesa. 

— Você acha que já não havíamos cogitado que eu fui acusada tanto como bode expiatório, quanto pelo interesse nas minhas chaves? O que acredita que temos feito nesses meses todos, desde a minha prisão? — indagou, vendo os olhos verdes da monarca se arregalarem. — E o que você tem feito desde a minha acusação? Tentou interceder por mim perante o conselho, para assumir a culpa ao menos da parte que lhe cabe, já que foi a verdadeira responsável pela construção do Portal do Eclipse? Imagino que não, uma vez que sequer respondeu às tentativas de contato do nosso mestre, quando ele te pediu ajuda nesse sentido!

— E-eu… — a jovem de cabelos verdes gaguejou, mas Lucy não deixou que continuasse, visto que não havia terminado:

— Deixa eu adivinhar: Você aguardou pacientemente, até o momento que julgou que eu estaria desesperada o bastante com a condenação iminente, para então aparecer e fazer uma proposta, acreditando que eu agarraria qualquer possibilidade, por mais ilusória que fosse, de salvar a minha vida. 

A maga loira não precisou de resposta, uma vez que a culpa estampou a face da princesa nitidamente. 

— Eu vou ser direta com você. No momento em que eu escolhi ser uma maga estelar, eu decidi que morreria pelos meus amigos. E eu prefiro morrer a deixá-los nas mãos de pessoas como você! — declarou, finalmente se sentindo exausta com tudo aquilo, razão pela qual não se constrangeu ao jogar-se contra o mago do fogo, que a acolheu em um abraço firme.

— Você não entende — Hisui apelou, desestabilizada. — Não entende o que eles farão uma vez que estiverem em poder das suas chaves!

— E o que eles farão? — Natsu indagou, encarando-a de maneira desafiadora. 

— Princesa — Arcadios falou, em como se a avisasse a não dizer mais que o necessário.

Mas a monarca suspirou.

— Um golpe de estado — murmurou, derrotada. — Todas as nossas fontes indicam que eles se preparam para tomar o poder total de Fiore. E conhecendo Grand Doma como eu conheço, sei que não podemos esperar menos que uma ditadura mágica. E com as suas chaves, o poder deles seria incomensurável — argumentou.

Lucy engoliu em seco. Ciente da rigidez do Conselho Mágico, ela sabia que um governo dominado inteiramente por ele não seria agradável. Na realidade, toda a liberdade com que os magos de Fiore contavam, provinha do fato de o Rei, pai de Hisui, ser um amante da magia, e de o Conselho ser um órgão judiciário e fiscalizatório. Eles não faziam a Lei, apenas a cumpriam, e mesmo assim, agiam arbitrariamente em nome da ordem inúmeras vezes. Com poder total e sem ninguém para limitá-los, em que situação viveriam?

No entanto, ela sabia que a resolução do problema, estava muito além da mera entrega de suas chaves.

— Se é esse o risco que estamos enfrentando, eu sugiro que vocês façam algo para ajudar a evitar a minha condenação injusta e impedir que minhas chaves caiam nas mãos deles — afirmou, desvencilhando-se dos braços de Natsu para encarar a princesa de forma dura. — Pois, sinceramente? Se não foi de seu interesse assumir sua responsabilidade até agora, eu duvido que, uma vez que esteja com as chaves seguras em suas mãos, faça qualquer coisa para ajudar. Posso supor que a minha condenação não fará diferença para você — emendou. 

A mulher abaixou a cabeça por alguns momentos, antes de erguê-la e levantar-se. 

— Acredito que mereço que me enxerguem dessa maneira — declarou. — É o ônus de um monarca, muitas vezes ser enxergado como vilão. Mas não se esqueça que também é o dever de um monarca proteger o seu povo. E é isso que estou tentando fazer - afirmou.

— Eu sou seu povo, e você não me protegeu — Lucy contestou, nitidamente revoltada. — Pelo contrário, você é parcialmente culpada por eu estar envolvida nessa situação e correr o risco de vida. Risco de não criar a minha filha! — emendou. — Eu entendo a lógica do sacrifício de poucos em prol de muitos. Mas não há altruísmo em suas ações, porque você está disposta a apostar apenas o sacrifício alheio, e não o próprio. A prova disso é que não assumiu a sua responsabilidade na construção do portão do Eclipse perante o Conselho Mágico e me deixou levar a culpa sozinha — concluiu, afastando-se da mesa e caminhando em direção às escadas.

A princesa suspirou, nitidamente afetada pelas palavras da loira.

— Vamos, Arcadios — chamou, ciente que não havia mais nada a fazer ali.

No entanto, antes que tivessem a chance de se afastar, Natsu decidiu se pronunciar:

— Vocês disseram que para os planos do Conselho darem certo, eles  precisam das chaves de ouro e de um mago estelar — lembrou. — Hoje vocês tentaram obter as chaves para impedi-los,  mas não conseguiram. É bom que nada aconteça à Lucy, ou vou deduzir que tentaram resolver o problema de outra maneira — avisou, antes de seguir a mesma direção da companheira, escada abaixo. E embora já não conseguisse avistá-la. O cheiro característico da maga e de lágrimas frescas, denunciaram seu rastro.

— Eu vou atrás da Lucy. Parece que ela está na biblioteca — avisou para Happy, que voava em seu encalço. — Pode nos chamar daqui a algum tempo? Quando os visitantes tiverem ido embora — explicou, com irritação. 

— Eu vou vigiá-los até que deixem a cidade — Happy garantiu, cochichando. 

— Obrigada amigo — agradeceu Natsu, afagando carinhosamente a cabeça do exceed antes de correr para as dependências interiores da guilda.

Ele saltou diversos dos degraus da escada que levava ao subterrâneo por vez, e não demorou a encontrar a maga estelar escondida entre as estantes de livros mais distantes, de pé, com as costas apoiadas contra inúmeros volumes antigos.

Após tanto de companheirismo, ele sabia o quanto o cheiro de livros velhos — ela diria clássicos — tendia a acalmá-la. Não que ele pretendesse deixar o serviço para toneladas de papel antigo, razão pela qual não tardou em puxá-la novamente para seus braços e apoiar seu queixo sobre a cabeça dela.

As lágrimas logo pingaram em seu casaco, entretanto ele não as combateria ainda. Sabia que era melhor deixar que a loira externasse sua angústia, ainda que o fato de ela chorar o matasse por dentro.

— Natsu — após alguns minutos, Lucy chamou, e apesar do tom de choroso, esforçou-se para erguer a cabeça e olhá-lo nos olhos.

Natsu sentiu-se levemente perturbado ao identificar nas íris castanhas marejadas, um misto estranho de desespero e determinação. De alguma maneira, ele soube que não gostaria do que ela diria a seguir.

— Eu sei que posso confiar em você para proteger a nossa filha, independente do que acontecer comigo — afirmou, cada palavra trazendo ao dragon slayer a sensação de que seu estômago caia. 

— Lucy… — tentou interrompê-la.

— Me deixe terminar. Eu preciso disso para me sentir tranquila, pois eu vejo que o cerco está se fechando, Natsu! — exclamou, desesperada. — Essa proposta da Princesa Hisui serviu apenas para mostrar que o próprio reino tem certeza que eu vou ser condenada! — emendou, sem conseguir evitar que as sílabas pronunciadas saíssem afetadas pelo pranto. 

O semblante do mago do fogo contraiu-se ao ver toda a insegurança, que Lucy lutava para conter dia após dia, transbordar, quebrando as barreiras emocionais, mas ele deixou que ela continuasse, ciente que se tentasse impedir, ela gritaria as palavras na sua cara de qualquer maneira.

— Eu sei que meus sintomas indicam que nossa filha herdou sua magia, mas a minha família possui uma longa linhagem de magas estelares. Pode parecer um pedido egoísta, mas eu quero que você me prometa que, mesmo que ela não herde as chaves, não deixará que ela pratique a mesma magia que eu — implorou. — Eu não quero que a nossa filha seja um alvo por minha culpa, Natsu! Por mais que eu ame meus espíritos, eu quase fui morta três vezes! Ainda que eu entregue minha vida de bom grado por eles, não posso suportar a ideia de nossa filha fazer o mesmo — concluiu.

O mago do fogo suspirou, tentando manter a calma.

— Eu sei como você se sente — disse, surpreendendo a maga estelar, que acreditava que ele imediatamente ofereceria garantias que nada aconteceria. — Você teme que nossa filha seja um alvo por causa da sua magia, mas veja, ela já é um alvo por culpa da minha. Não apenas ela, mas você, Lucy, estão em perigo enquanto não pegarmos essa maldita seita que está matando magos do fogo.

— Natsu… — começou, sem saber o que dizer ao certo. — Não é…

— Minha culpa, certo? — interrompeu ele, completando o raciocínio. — Eu sei, mas ainda desejei que ela não herdasse minha magia, para ter certeza de que estaria segura, ao menos depois de nascer. Mas agora a gente descobre que ela pode ser um alvo por causa da sua magia também. É como se estivéssemos sendo punidos por nossas escolhas, escolhas inocentes aliás, e nossa filha por algo que nem ao menos pode controlar — desabafou. — É por isso que nós vamos acabar com todos eles — garantiu. 

— Sei que a protegerá independente do que acontecer — declarou ela, com convicção.

— Você a protegerá também!!! — exaltou-se o mago. — Droga, Lucy, você não vai morrer! Nem que tenhamos que ir embora e passar o resto da vida fugindo, eu garanto que você vai criar nossa filha tanto quanto eu!

— Natsu — murmurou a loira, na tentativa vã de secar os olhos que não paravam de trasbordar.

— Eu posso ter falhado uma vez com você, mas isso não vai acontecer de novo! — prometeu o dragon slayer. — Nós vamos criar nossa filha juntos Lucy. Eu jurei que protegeria seu futuro, lembra? — completou

Sem receio, a loira jogou-se novamente nos braços do mago do fogo, permitindo-se envolver pela sensação de calma que a dominava sempre que ele a abraçava.

— Você não falhou, Natsu — comentou, depois de um tempo. — Foi porque você acreditou, que eu sobrevivi e fui resgatada — lembrou. — Eu nunca duvidei do seu juramento de proteger o meu futuro. Por isso eu sei que ela sempre estará segura com você. Pois independente do que acontecer, nossa filha é meu futuro agora. Meu e seu — concluiu, sentindo os braços dele se apertarem ainda mais ao seu redor.


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Notas finais do capítulo

Acho que para surpresa de ninguém, temos mais um baby na fic.
Se eu fosse fazer oroteiro de Conspiração do zero, hoje, provavelmente isso não aconteceria. Mas como eu disse muitas vezes, eu estou seguindo minha idealização original, onde a filha do Natsu e da Lucy e o filho/filha do Gray e da Juvia, cresceriam juntos. Eu tenho todo um universo imaginado em torno de "Conspiração" que, infelizmente, não sairá do papel.

E olha só, temos uma Princesa Hisui não muito altruísta aqui. Sempre bom lembrar que esta fic se desvia do canon logo após os grandes jogos mágicos. A Hisui tinha sido pouco explorada até então.

É isso. Espero que tenham gostado.



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