Conspiração escrita por Lura


Capítulo 35
Sinais Flamejantes


Notas iniciais do capítulo

Terceiro capítulo de conspiração no mesmo ano? Parece piada, mas temos uma evolução aqui, não?
Para aqueles que estavam ansiosos pela solução de o mistério, bem, este capítulo a entrega em parte. E também traz outros, hehe.
Muito obrigada a todos que leram último capítulo. O agradecimento especial vai para LVUzumaki, BabyCool, Vivi Pearl, Ba, Mayura e Gutor que comentaram.
No mais, espero que gostem do capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621018/chapter/35

Capítulo XXXIV - Sinais Flamejantes

 

Magnólia - 17 de maio de X792

Makarov passou os olhos pelos artigos de jornal, espalhados por sua mesa, mas logo os pousou na maga estelar transtornada, que encontrava-se sentada à sua frente.

Lucy estava evidentemente angustiada, e o motivo era totalmente compreensível: tinham um novo problema em mãos. Um que não haviam calculado.

— Então Olivia Blauth usava magia de elemento fogo — repetiu o mestre.

— Runas de fogo — especificou Lucy. — Eu não sei ao certo como funciona, mas pelas informações que consegui com a Mermaid Heel, usa de escrita antiga para conjurar e potencializar o elemento — explanou brevemente. — Imaginei que funcionasse como a Solid Script, da Levy-chan.

— É parecido, mas enquanto a magia da Levy permite que ela conjure uma gama variada de materiais, sem necessariamente dominá-los, as runas do tipo elementais permitem que o usuário explore mais profundamente o elemento escolhido — Mirajane, que ocupava o assento ao lado da maga estelar, explicou. — Isso tornava Olivia uma especialista e, portanto, maga do fogo. E alvo, se o que Lucy supôs estiver correto — completou.

— Dificilmente apenas coincidências — o mestre concordou.

— Quanto mais eu penso nisso, mais eu acredito que os crimes estão ligados — a loira alegou. — Totomaru e Mattan Ginger, ambos residentes de Magnolia, eram conhecidos usuários do fogo e foram assassinados após a morte de Olivia — relatou. — Nesses três crimes, as vítimas foram abatidas da mesma maneira: uma perfuração grosseira no peito, sem que a arma do crime fosse localizada ou identificada. Com base no padrão de execução, procurei outras notícias de pessoas que foram mortas com o mesmo método, na hipótese do fato de serem magas não ser conhecido, e ainda achei este — continuou, erguendo uma nota de jornal muito singela — Era um ferreiro que morava em Gallowstow. Poucos sabiam que ele usava magia de fogo para forjar. Ele foi assassinado sobre os próprios instrumentos de trabalho. Eu lembro desse crime, pois a investigação dele atrapalhou o funcionamento dos trens na época em que Laxus e eu retornamos da missão na… — a garota interrompeu-se, prestes a mencionar a mansão de Org, quando lembrou-se do sigilo do trabalho. — O mestre sabe a que missão me refiro — concluiu, por fim, vendo Makarov assentir em compreensão.

— De fato,  não é absurdo pensar que quem quer que seja o assassino, tem os magos de elemento fogo como alvo — concordou com o raciocínio da loira. 

— A questão que prevalece é: por quê? — Mirajane levantou o questionamento que incomodava a todos.

— Não apenas isso. Arrisco dizer que esse fato dificilmente passaria despercebido pela polícia ou pelo Conselho Mágico, que são especializados — o velho pontuou. — Então qual a razão de não terem emitido um alerta, para que os usuários do elemento fogo pudessem se precaver e se proteger? 

Um silêncio tenso seguiu ao questionamento do mestre, evidenciando que nenhum deles tinha resposta, mas todos compartilhavam a mesma preocupação.

A quietude foi rompida  repentinamente, pela entrada de Kinana no escritório do mestre.

— Acabei de contatar Erza — avisou a garçonete de cabelos roxos. — Ela disse que nada de estranho aconteceu com eles durante a missão em Oshibana e que já terminaram e estão prestes a voltar — narrou brevemente.

A maga estelar soltou um suspiro de alívio, embora não estivesse totalmente tranquila. Isso só ocorreria quando Natsu, Erza e os outros magos com habilidades de conjurar fogo estivessem seguros na sede da Fairy Tail.

— Com isso, quantos faltam? — o mestre indagou à garçonete.

— Alzack e Bisca estão retornando de Hargeon para cá. Consegui contatar Levy e o Shadow Gear em Shirotsume, e eles também se comprometeram em retornar. Kana e Reedus estão lá embaixo, no bar, e com isso só faltam…

— Macao e Romeo — foi Mirajane quem completou.

— Sobre eles… — Kinana começou, sem disfarçar o próprio nervosismo. — Nós não conseguimos contato. Eu fiz uma transmissão para a hospedaria da cidade de Kunugi em que eles se registraram ontem,  e os funcionários informaram que desde que deixaram as coisas deles lá, não mais voltaram.

Lucy ofegou, sem disfarçar o próprio pânico.

— Calma Lucy, faz apenas um dia! É comum que missões durem até semanas, você sabe disso — Mirajane acalmou, sabendo que a comoção não faria bem à maga celestial ou ao bebê que esperava.

— Mas na atual situação, não é algo que possamos ignorar — contrapôs a loira.

— E não vamos — Makarov garantiu. — Das equipes em missão, qual está mais perto de Kunigi? — questionou, apertando a ponte no nariz em reposta à tensão ambiente.

Kinana contorceu a expressão de forma apreensiva, antes de responder: 

— A equipe da Erza, em Oshibana — lembrou, e o semblante de Lucy caiu.

— Oh, certo — Makarov falou, incerto de como proceder a seguir.

Ele sabia que apesar dos riscos, enviaria a equipe mais próxima para uma checagem em uma situação normal. Mas o fato de ter uma maga grávida de um dos possíveis alvos que integrava justamente tal time, tornava o contexto bem delicado.

— Mande-os! — Lucy falou por fim, surpreendendo-se com a própria convicção. — Vou ser honesta, não é o que eu queria. Mas eu sei que se Natsu chegar aqui na Fairy Tail e qualquer das pessoas em risco estiver fora, ele voltará para buscá-las — raciocinou.

— Faça outra transmissão para o time da Erza, Kinana. Eu quero falar com ela — o mestre decidiu, preparando-se para deixar a sala. — Depois continue tentando contatar Macao e Romeo — orientou, caminhando em direção à porta. — E Lucy… — chamou, antes de sair. — Você sabe que se há alguém capaz de sobreviver a quem quer que esteja atacando os magos de fogo, esse alguém é Natsu — consolou, com confiança.

— Eu sei, mas — a maga estelar começou — tem mais uma coisa me incomodando — revelou, fazendo com que o mestre arqueasse as sobrancelhas.

— Compartilhe conosco — Makarov incentivou. 

A jovem loira inspirou longamente e alisou a barriga inchada por instinto, antes de prosseguir:

— Dos magos do fogo de Fiore, não é segredo para ninguém que Natsu é provavelmente o mais conhecido — comentou, recebendo acenos de concordância do mestre e das outras garçonetes. — Então se esse tipo de magia torna a pessoa um alvo e o Natsu é tão famoso por usá-la, porque não vieram atrás dele ainda?

 

 

Por todo o caminho da viagem de trem, a tensão não abandonou os ombros de Erza, e permaneceu enquanto eles desembarcavam na estação de Kunigi.

Fazia um bom tempo que o mestre não emitia um alerta daquele nível, e ela sabia que deveria ser cautelosa com as informações que forneceria ao resto da equipe. Não poderia deixá-los na completa ignorância, contudo também não poderia ser inteiramente honesta, ou Natsu, tão logo soubesse que ele e vários de seus companheiros de guilda estavam com sua segurança ameaçada, correria desordenadamente por todo o reino atrás dos responsáveis.

Não, eles precisavam levar o dragon slayer do fogo até Lucy primeiro. Desde a gravidez da loira e todo o escândalo com as acusações do Conselho Mágico, ele se tornou mais cauteloso ao redor dela e, portanto, melhor em escutar.

O problema é que ela estava em um grupo de busca que incluía justamente o salamander, e não sabia o nível de sucesso que teriam sem inteirar completamente os membros do que estava acontecendo, sobretudo porque Natsu era o melhor rastreador entre eles, uma dádiva dos seus sentidos dracônicos.

Naquele momento, a ruiva de armadura agradeceu a qualquer divindade existente por Wendy ter tido uma folga em seus ensinamentos com Porlyusica e tê-los acompanhado daquela vez, coisa que vinha sendo rara. Sabia que a menina poderia suprir a falta de Natsu, pois Titânia não pretendia deixá-lo entrar na floresta, a fim de evitar qualquer possibilidade de encontro com o inimigo ainda desconhecido.

— De novo, por que paramos aqui mesmo? — Natsu resmungou, impaciente para seguir viagem, não importa o quão averso fosse a meios de transporte, já que sua prioridade, nas últimas semanas, era estar ao lado de Lucy o máximo possível.

— O mestre precisa fazer um pronunciamento a todos os membros e pediu que passássemos aqui para avisar Romeo e Macao, já que não conseguiram contatá-lo por transmissão — a ruiva mentiu.

— Seria mais fácil encontrá-los se tivessem nos informado em que missão eles vieram — Meldy comentou, e Erza não perdeu a sondagem de sua fala. A garota estava desconfiada, sentimento que podia ver no semblante de todos os outros, exceto o dragon slayer de fogo.

— Houve um problema no registro da missão e Mira não conseguiu identificar qual é — tornou a mentir. — Por isso vamos procurar. Gray, Wendy, Charle e eu vamos para a zona rural, e vocês quatro procuram pela cidade — decidiu, apontando para Juvia, Meldy, Natsu e Happy.

— Tudo bem… Eu acho — foi Juvia quem respondeu, aliviada por não ter sido incluída no mesmo grupo do mago do gelo, o que apenas acrescentava estranheza ao contexto geral. 

O grupo caminhou mais alguns passos, Happy e Charle discutindo entre si que uma busca aérea seria eficiente, quando o mago do fogo estacou repentinamente, de olhos arregalados.

— Algum problema, cérebro de carvão? — Foi Gray quem perguntou, enquanto salamander inspirava profundamente e Wendy seguia o exemplo.

— São Macao e Romeo — o rapaz de cabelos róseos respondeu com seriedade. — Eles estão feridos.

Merda — Erza não pode deixar de pensar, e mais uma vez se impressionar com a habilidade do amigo captar tantas informações apenas pelo cheiro.

— E há outras pessoas. Droga, eu conheço esse cheiro! — praguejou. — Happy, agora! — chamou com urgência.

— Aye sir! — o exceed prontamente atendeu e içou o mago do fogo, antes que disparassem voando em direção à floresta.

— Natsu, volte já aqui! — Titânia vociferou, mas foi ignorada. — Wendy, vá atrás dele! — Pediu, enquanto corria para segui-lo, e a exceed branca não demorou a pegar a pequena curandeira e rumar para o mesmo caminho de Happy. — Era para irmos juntos, droga! 

— Mas nós não íamos nos dividir em equipes? — Juvia perguntou, acompanhando-a de perto, com Meldy logo atrás.

— Vai nos dizer o que realmente está acontecendo agora? — Gray instigou.

Ciente que não adiantava mais manter para si o que o mestre havia lhe contado, Erza resumiu:

— Tem alguém atacando magos que podem utilizar magia de fogo. O mestre não conseguiu contato com Macao e Romeo e pediu que os localizássemos e os levássemos de volta à Fairy Tail, preferencialmente evitando qualquer contato com o inimigo já que Natsu é um alvo em potencial — narrou, preferindo omitir, para não preocupá-los desnecessariamente, a informação que, segundo Makarov, ela própria também poderia ser um alvo, já que acreditava fazer pouco sentido ser considerada usuária de magia de fogo apenas em razão da armadura “Imperatriz das Chamas”.

— E você não nos explicou isso, por…? — Meldy questionou.

— Para evitar que o idiota do Natsu fizesse exatamente o que ele está fazendo agora — Gray foi quem concluiu o raciocínio.

A ruiva assentiu, antes de prosseguir:

— Nós ainda não temos informações sobre o inimigo. Não sabemos com o que estamos lidando, mas apenas que alguns magos morreram nessa confusão — explanou, comprimindo os lábios em preocupação. 

— Mas o Natsu-san parece ter reconhecido o cheiro — Juvia lembrou. — Isso nos deixa mais perto de descobrir quem são — encorajou, positivamente.

— O fato de ele ter reconhecido me deixa com um pressentimento pior — a ruiva confessou.

— Não seja dramática. Você sabe que aquele idiota não cai tão fácil — Gray tentou despreocupá-la.

— É bom mesmo, porque quando eu encontrá-lo eu vou chutar a bunda dele de volta até a Lucy — a maga de armadura praticamente rosnou, antes que a conversa cessasse, a corrida sendo pontuada apenas por suas respirações ofegantes.

Isso é, até que Gray emitisse um grito e caísse ajoelhado, pressionando o braço direito em completa agonia, sob os olhares arregalados dos parceiros de time.

 

 

Natsu não aguardou a aterrissagem para começar a agir. 

Happy ainda o tinha seguro nas patas quando seu rugido cortou a quietude predominante da floresta e traçou um rastro de destruição entre as árvores, fazendo com que as três figuras desconhecidas saltassem para longe da linha de fogo, antes de simplesmente desaparecerem, como fumaça no ar.

— Natsu-san! — a voz enfraquecida e aliviada de Romeo chamou a atenção do dragon slayer, no momento em que ele pousou no chão com um baque.

O mago do fogo correu em direção ao garoto, ignorando, no momento, o sumiço dos oponentes, em prol da segurança dele.

— Você está bem? — questionou, notando que estava nitidamente ferido, apoiado contra um tronco.

— Eu estou, mas meu pai… — o garoto começou, dobrando-se sobre o próprio abdômen, antes que o mais velho o ajudasse a se deitar, recostado contra a mesma árvore. — Ele foi atingido. Eu tentei desviar a atenção dos oponentes dele para mim e fui seguido, então não sei onde ou como ele está — contou, um tanto desesperado.

Natsu sentiu o interior contrair. Romeo tinha se jogado nas mãos do inimigo para proteger o pai.

— Wendy, ajude o Romeo! — determinou para a garota que havia acabado de chegar com Charle. — Nós vamos atrás do Macao. Ele não está longe, posso farejá-lo.

— Certo! — a menina concordou de pronto, abaixando-se ao lado do colega de time e imediatamente emitindo sobre ele a luz curativa de seus poderes.

— Natsu-san, eu acho que um deles... A mulher… Foi ela que… — Romeo tentou alertar, a frase entrecortada pela dor.

— Eu sei — o mago do fogo interrompeu, sob o olhar de dúvida da dragon slayer celeste. — Não se preocupe com isso. Vamos achar seu pai primeiro — decidiu, levantando-se e caminhando em direção à Happy, que flutuava um pouco atrás.

A dupla alçou voo novamente, Natsu indicando com precisão o caminho que levava até Macao.

Encontrou-o como esperado, dentro de uma fenda em um conjunto de pedras, situada praticamente à altura do chão. Vendo que estava inconsciente,  puxou-o para fora, o olfato incomodado com o odor excessivamente ferroso de sangue fresco que pairava ao redor, e não conseguiu evitar de praguejar ao constatar a fonte: um enorme ferimento, praticamente um rombo, no peito do homem mais velho.

— Traga Wendy aqui. Agora — gritou com urgência para Happy.

 

 

O silêncio era absoluto no corredor que dava acesso à enfermaria da Fairy Tail, não somente em respeito ao ambiente — e aos doentes que encontravam-se a apenas uma porta de distância — mas porque os presentes ali ainda digeriam toda a situação.

Após Wendy finalizar os primeiros socorros em Macao e Romeo, o mestre aproveitou a troca de turno da escolta de Lucy e pediu que Doranbolt buscasse os feridos com seu teletransporte, pois mesmo com os repetidos fracionamentos que teria que fazer com seu poder para percorrer todo o caminho, ainda chegariam mais rápido aos cuidados de Porlyusica.

O mago do conselho concordou sem dificuldades, trazendo pai e filho, assim como Gray, para a sede em velocidade impressionante, enquanto os demais retornaram regularmente na viagem de trem.

Assim que os integrantes do time mais forte pisaram no salão da guilda, o mestre fez o pronunciamento e revelou a situação em que se encontravam: Magos do Fogo estavam sendo assassinados por toda Fiore, e a Fairy Tail contava com muitos alvos em potencial e, provavelmente, com o maior deles.

Natsu ainda se lembrava o quanto se sentiu desconfortável naquele momento, quando os olhares de todos os membros da Fairy Tail se voltaram automaticamente para ele, embora o sentimento tivesse sido rapidamente empurrado de lado por sua maior preocupação, que não era a própria segurança, mas a da loira que estava ao seu lado.

Os fatos ocorridos em Kunigi e a notícia dos assassinatos começavam a se encaixar em sua mente, e ele não gostou da conclusão que havia chegado.

No entanto, manteve-se quieto, pronto para discutir suas suspeitas com o mestre, na conversa que sabia que seguiria.

Assim, foram chamados na sala do mestre, Lucy — que, ficaram sabendo, havia constatado a série de mortes de magos do fogo —; Jellal, que havia praticamente se tornado um agente investigativo da Fairy Tail e retornara à sede a pedido do mestre, além de todos os envolvidos no incidente em Kunigi. Bem, quase todos, já que Wendy auxiliava Porlyusica e Gray também permanecia na enfermaria, com uma febre absurda e a dor persistente no braço. 

— Então, o incidente de hoje confirma suas suspeitas de que estão perseguindo e matando magos capazes de usar magia elemental tipo fogo — começou o mestre, voltando-se para a Lucy. — Mas ainda não há explicação para essa matança — acrescentou, apertando a ponte do nariz, com preocupação. Afinal, vários de seus filhos encontravam-se em risco. — Você identificou algum deles? — questionou, voltando-se para Natsu, pois  havia sido previamente informado que o dragon slayer foi o único a ter ao menos um vislumbre dos inimigos.

— Não vi o rosto de nenhum deles. Só vi que eram três e desapareceram logo depois de se esquivarem do meu rugido — explicou. — O que não significa que não tenha identificado ao menos um — completou, e o velho arqueou as sobrancelhas, diante das palavras aparentemente contraditórias.

— Explique melhor — pediu.

O mago do fogo olhou de forma cautelosa para Lucy, que o encarou de volta com apreensão, antes de endurecer o semblante e anunciar:

— A mulher que atacou Lucy, quando ela estava presa, estava entre as pessoas que atacaram Macao e Romeo. Eu não esqueceria o cheiro dela ainda que mil anos se passassem — afirmou, praticamente rosnando em fúria.

A maioria dos presentes exclamou em surpresa, ao passo que o Mestre e Jellal se entreolharam preocupados. No entanto, Lucy apenas olhou de forma resignada para o companheiro.

— Tudo bem, Natsu. Eu já havia considerado a possibilidade — revelou. — Não falei nada até agora pois não queria preocupá-lo antes que chegasse aqui.

— Então quer dizer que não foi mesmo o conselho que planejou o atentado contra o bebê — Erza expressou a conclusão geral. — Você foi atacada porque o filho de vocês é um mago do fogo em potencial — emendou, fitando a maga estelar.

— Isso explica o desaparecimento dos inimigos quando Natsu localizou Romeo. Pelo que me lembro, a maga que te atacou em E.R.A., tinha a habilidade de se teletransportar — Meldy recordou.

— Miori era o nome dela — Lucy lembrou.

— Bem, ao menos uma pista — Makarov declarou, em resignação momentânea.

— Na verdade, temos mais um indício —  Jellal alegou, atraindo a atenção dos demais. — Lucy e o bebê não foram atacados uma, mas duas vezes — contou, e os presentes mal conseguiram evitar a estupefação.

— Como? Eu me lembraria se mais alguém tivesse tentado matar nosso bebê! — exclamou a loira, tanto assustada quanto desesperada.

— Cidade de Datra, pouco antes do natal — o mago de cabelos azuis narrou, quando o semblante da maga estelar demonstrou reconhecimento. — Se me lembro bem, você estava prestes a ter o abdômen perfurado por uma senhora quando eu te encontrei, após o mestre me pedir para te escoltar de volta à Magnolia — lembrou. — Você já estava grávida naquela época, não estava? — indagou.

A expressão da loira foi de perplexa para pensativa, e então tornou-se completamente constrangida.

— Err… Sim — admitiu sem graça, e mesmo Natsu remexeu-se, incomodado. — Cerca de duas semanas, acho.

Na verdade, ela tinha certeza. Afinal, só havia dormido com o mago do fogo uma vez antes que partisse para a missão na mansão de Org, em que ficou exatos quinze dias, antes de decidir se encontrar com seu time que estava em missão em Osimiri, onde presenciou o beijo de Lisanna e Natsu. A loira ainda se lembrava que o transtorno da situação fez com que ela fugisse, e pelo mal estar que sentiu no dia, decidiu descer em Datra, onde sofreu o atentado narrado por Jellal.

— Mas eu só descobri a gravidez meses depois! — argumentou. — Como eles poderiam saber do bebê, se nem eu sabia? — questionou. — E como saberiam que é filho do Natsu? 

— A partir da notícia da gravidez qualquer um desconfiaria que é filho do Natsu-san — Juvia comentou, atraindo um estreitar de olhos da loira.

— Não muda o fato que ainda era muito cedo para qualquer um saber — resmungou em resposta.

— Você levantou um ponto válido — Jellal concordou. — Então talvez, quem quer que esteja por trás disso, conte com a ajuda de um vidente? — supôs. — Diga-nos, o que exatamente a mulher que tentou te matar disse antes de te atacar? — inquiriu.

A maga estelar franziu o semblante, enquanto forçava a memória.

— Não lembro exatamente — respondeu. — Algo como “o fruto deve ser eliminado” — recordou, antes de assumir uma expressão de compreensão. — Também disse algo a respeito de “sinais flamejantes”! — exclamou, com agitação, a mesma compreensão atingindo os demais magos com exceção do dragon slayer.

— Se por “sinais flamejantes” ela se referia aos magos de fogo, então não acho precipitado presumir que “fruto” seriam os filhos deles — Jellal concluiu. — Eu também me lembro de ela repetir algo sobre “o fruto” quando o neto dela apareceu para buscá-la, então realmente acredito que você tenha sido atacada por causa do bebê. — continuou, encarando Heartfilia. — Se é que era mesmo neto dela — ponderou. — Naquele dia, eu segui o rastro mágico dos dois quando se misturaram à multidão, mas eles simplesmente desapareceram. O que nos deixa com mais dois suspeitos — concluiu.

— Conseguem se lembrar dos rostos deles? Reedus poderia fazer um retrato falado — Makarov sugeriu.

— Já faz um tempo. Não sei o quanto consigo lembrar — falou a loira, frustrada.

— Acho que posso tentar. — O mago de cabelos azuis sorriu de forma consoladora.

— Mestre! — Kinana chamou, abrindo a porta e colocando apenas a cabeça para dentro da sala. — Romeo acordou — avisou, seu rosto sustentando a mesma aflição que atingia todos os membros da Fairy Tail naquele dia.

E foi assim que todos os integrantes da conversa foram parar no corredor da enfermaria. O mestre já havia entrado, para tentar convencer Porlyusica a deixá-los entrar também. Aparentemente, a curandeira estava insatisfeita com a quantidade de pessoas que havia ali, o que perturbaria os doentes, mas Makarov insistia que necessitava de Lucy e Jellal, partes importantes na investigação, e de todos os que estiveram em Kunigi, os quais poderiam contribuir com detalhes que passaram despercebidos. O tempo não estava a favor deles, ou o mestre não insistiria em arrastar tantas pessoas para a enfermaria, era o que Natsu captava com sua audição aguçada, enquanto aguardava com os outros.

Minutos depois, o grupo adentrou, sob o olhar zangado de Porlyusica, todos aliviados por verem Romeo acordado e, aparentemente bem. Nenhum deles, no entanto, conseguiu evitar desviar os olhos para Macao, que jazia desacordado no leito ao lado direito daquele ocupado pelo adolescente, a face pálida marcada pela dor, a pele úmida pela febre persistente, e também para Gray, que dormia na última cama daquela mesma fileira.

— Yo! Como você está? — foi Natsu quem rompeu o silêncio, enquanto esfregava os cabelos do adolescente, decidindo por não perguntar pelo estado dos outros companheiros de guilda e perturbá-lo 

— Natsu-nii! — exclamou, irritado com gesto infantil. — Eu estou bem — respondeu, entretanto.

— Ficamos aliviados — Lucy expressou, sendo acompanhada por um murmúrio de concordância geral.

— Sabemos que você passou por maus momentos hoje, mas há algumas coisas que precisamos saber o quanto antes — Makarov decidiu ser objetivo. — O que pode nos contar sobre o ataque? Conseguiu identificar os agressores? 

Romeo olhou significativamente para Natsu, desviando o olhar brevemente para Lucy, como se não tivesse certeza se poderia falar em frente a ela.

— Tudo bem, amigo. Ela já sabe — o dragon slayer tranquilizou-o.

— Certo — Disse Romeo, em sinal de compreensão. — Eram três pessoas. Duas eu não consegui ver direito pois tive que fugir boa parte do tempo, mas uma delas se parece com a mulher que atacou a Lucy-nee quando ela estava presa. Eu não a vi por muito tempo quando ela se teletransportou para o hotel em que estávamos em E.R.A., mas foi o bastante para ver que são semelhantes — explicou. — Além disso, a mulher  que me atacou também tem habilidade de teletransporte.

— É a mesma mulher sim, a tal de Miori. Eu reconheci pelo cheiro — Natsu confirmou.

— Miori… — o garoto repetiu, para associar o nome à fisionomia que lhe assombrava. — Bem, eu lembrei que vocês comentaram que a mulher que atacou a Lucy-nee não apenas se teletransportava, mas tinha a habilidade de rastrear a presa de alguma maneira. Mas ela não conseguiu me rastrear a princípio — revelou, percebendo que os olhos da maga estelar se arregalaram em retorno. 

— Explique melhor — o mestre pediu.

— Veja bem, quando fomos atacados, o instinto do meu pai foi me empurrar para longe. Como estávamos em uma planície a beira de um barranco, eu rolei para longe em meio às árvores. Eles me perderam de vista, e mesmo quando eu voltei e espreitei enquanto meu pai lutava, com os outros dois, a mulher não se teletransportou para onde eu estava, embora estivesse me procurando. Não até que eu usasse a minha magia para tentar lançar um ataque surpresa contra os oponentes do meu pai — concluiu.

— Então ela rastreia magia… — Jellal refletiu. 

— Àquela altura, já não havia muito o que fazer. Meu pai já tinha sido apunhalado e eu corri na esperança que eles os deixassem e me seguissem. Eles me atingiram algumas vezes enquanto eu escapava, e foi quando Natsu-san chegou — relatou. — Eles eram tão fortes… Eu… Não pude fazer nada para ajudar meu pai — concluiu, a voz embargada, desviando o olhar para o mago mais velho que ainda encontrava-se em inconsciência agonizante.

— Nós ainda não sabemos com quem estamos lidando, pirralho — Makarov declarou, em tom gentil. — Mesmo Org, um mago do conselho, relatou que os inimigos que enfrentou quando defendeu Lucy eram formidáveis. E você os atraiu e estava disposto a enfrentá-los sozinhos. Provavelmente foi por isso que eles não mataram Macao; aproveitaram que ele já estava incapacitado para perseguir você. Isso deu ao seu pai a chance de lutar pela sobrevivência — completou.

O adolescente sorriu triste, mas agradecido.

— Romeo, você sabe com o que seu pai foi apunhalado? — Ainda que constrangido pelo estado fragilizado do garoto, Jellal perguntou em timbre brando, a fim de angariar as informações que precisavam. — Não foram encontradas armas no local onde o ataque ocorreu — acrescentou, optando por não dizer em frente ao menino que aquela era uma das características dos outros casos de homicídio.

O adolescente crispou o cenho em reflexão.

— Eu não tenho certeza, mas parecia uma estaca… — começou. — Talvez não uma estaca. Parecia mais uma… Estalagmite? Estalactite? Nunca lembro qual é qual. 

— Uma estaca de pedra? — Erza indagou, intrigada.

— Não tenho certeza se era pedra, o material parecia muito claro… 

— Gelo? — questionou, voltando-se para a cama em que Gray descansava, ao se lembrar da dor súbita que o acometeu durante o ataque.

Aparentemente , a ruiva não foi a única a se recordar do fato, visto que todo o grupo se voltou para ele.

— Talvez — Romeo concordou. — Como eu disse, foi rápido, então não pude ver com precisão — reiterou. — Embora eu tenha visto um símbolo no braço do homem que atacou meu pai quando ele ergueu a estaca. Não sei se era uma tatuagem ou uma marca de guilda — contou, e o grupo instantaneamente tornou-se mais animado.

— Você consegue desenhar para nós? — Lucy indagou, enquanto Porlyusica passava ao paciente um lápis e um bloco de anotações.

— Bem, não tenho certeza se consigo fazer igual, mas parecia uma letra “S” com uma volta no meio — tentou desenhar, ciente que não havia replicado o símbolo corretamente.

Jellal franziu o cenho enquanto encarava o desenho.

— Talvez fosse este símbolo? — questionou, pegando gentilmente o bloco de anotações das mãos do garoto e fazendo um novo desenho, o qual exibiu ao grupo em seguida:


— Sim, era esse! — confirmou o adolescente.

— Sabe o que significa? — Juvia indagou, curiosa.

— Esse é o símbolo utilizado para demarcar parágrafos, na maioria das vezes em textos de lei — explanou o mago de cabelos azuis. — Eu nunca ouvi falar de uma guilda com uma marca assim, mas agora já temos o que procurar — emendou, satisfeito.

— Você consegue descrever as características físicas das pessoas que lhe atacaram? — Makarov perguntou.

— Eles usavam capas, então percebi poucos detalhes — respondeu.

— Bom — falou o mestre, dando-se por satisfeito. — Descanse agora. Depois pedirei que Reedus venha e tente fazer um retrato falado com qualquer detalhe que puder fornecer — avisou, e como se aquela fosse sua deixa, Porlyusica entregou um frasco com uma poção fumegante para o garoto que, para a surpresa de ninguém, caiu no sono em poucos segundos. — Vocês estão dispensados — determinou para o restante do grupo, por fim.

No entanto, nenhum deles arredou o pé dali.

— Espere… Macao-san ficará bem? E o que aconteceu com Gray-sama? — Juvia não resistiu perguntou, mas a dúvida era presente nos olhos de todos.

Porlyusica suspirou.

— Gray ficará bem. Ele apenas dorme em razão do remédio para dor que lhe dei — garantiu, sem perder o nítido suspiro aliviado que a maga da chuva emanou. — Quanto a Macao, ainda é cedo para dizer. O quadro é grave e instável — revelou. — Mesmo com a magia de Wendy, enfrentamos dificuldades. O poder dela estimula a regeneração do corpo, mas é complicado estimular um corpo debilitado demais para se regenerar — explicou. — Mas entramos em contato com Chelia e pedimos que viesse nos ajudar — emendou, ao ver os rostos desolados que a encaravam. — Agora saiam para que eu possa trabalhar — concluiu em tom severo, empurrando todos, a não ser Wendy,  para fora, não se dando por satisfeita antes que esvaziassem até mesmo o corredor externo.

Convencida de que não havia ninguém por perto para espiá-los, fechou a porta e caminhou em direção a Gray, sendo acompanhada pelo mestre e pela dragon slayer celeste, a única de seu time realmente ciente da condição do companheiro de equipe.

— E então? — Makarov instigou, quando pararam ao lado do leito.

— Eu não menti. Ele realmente ficará bem, ao menos por enquanto — Porlyusica garantiu. — Mas precisamos descobrir o que significa isso o quanto antes — acrescentou, erguendo o cobertor que protegia o mago para revelar uma série de padrões em seu braço direito, avermelhados como queimaduras de sol. — As marcas estavam enegrecidas quando ele chegou aqui, mas abrandaram gradualmente.

— Pelo relato de Romeo, um dos oponentes pode ser um mago do gelo. Você acha que pode ser uma reação à magia? — o mestre questionou mais por desencargo de consciência, pois sabia a resposta.

— Estou quase certa que ele reagiu à magia que atacou Macao de alguma forma, mas reações a ethernano podem causar ferimentos, não cicatrizes em padrões específicos — explicou a velha. 

— Uma maldição, talvez? — sugeriu Wendy, o tormento que todos passaram com a Maledicite Vincla quando lutaram contra a Nihil Occultum ainda fresco em sua mente.

— É possível, porque essa marca emana magia — respondeu a curandeira. — E não qualquer magia. É magia demoníaca.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que esta história está em publicação há muito tempo, então algumas informações para aqueles que precisam pegar o fio da meada:



Olívia Blauth e o ferreiro de Gallowstow, são personagens fictícios criados por mim para esta fic. Ambos usuários de magia que envolve o elemento fogo. Mattan Ginger e Totomaru são personagens de Fairy Tail, também usuários de magia de fogo. A primeira é membro da guilda Twilight Ogre, e o segundo era da Phanton Lord, ex-integrante do grupo “Element 4”, assim como a Juvia. O anime mencionou pouco depois do arco do “Exame Classe S” que Totomaru chegou a dar aulas para Romeo. Aliás, o Romeo consegue usar não apenas fogo púrpura, como Macao, mas outros tipos de chamas, como Totomaru (ao menos no anime).

Além disso, há vários magos da Fairy Tail que conseguem conjurar ou produzir fogo com suas magias. Vimos isso no episódio n. 72, quando Levy, Reedus, Alzack, Bisca, Macao, Cana e Erza unem seu poder à flecha de Sagitário, para mandar fogo para o Natsu. É filler? Sim. Mas ainda é mais oficial que esta fic, que vai seguir a mesma lógica. Então, esses magos que eu citei e o Romeo, são alvos em potencial.
No mais, eu realmente gostaria de saber a opinião de vocês sobre o que está acontecendo com o Gray. Claro que está mais que evidente o que a marca no braço dele significa, mas onde vocês acham que ela se encaixa na história?

Bom, é isso. Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Conspiração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.