Conspiração escrita por Lura


Capítulo 34
Ache o Padrão


Notas iniciais do capítulo

Sem muita enrolação, muito obrigada a você, que não desistiu desta história e ainda a acompanha.

E um agradecimento especial aos leitores Gutor, BabyCool, Writter, Asuna Dragneel, Mayura e lunatsuki, que comentaram o último capítulo.



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Capítulo XXXIII - Ache o Padrão

 

Magnólia - 10 de maio de x792

Lucy respirou lentamente, empenhando-se em não desfazer o sorriso forçado que sustentava. Alguém tinha que manter as aparências, já que Natsu parecia incapaz disso.

Não que ele não tivesse tentado se esforçar no início. Mas devido à natureza extremamente sincera e transparente do dragon slayer, não demoraram a descobrir, durante as primeiras entrevistas conseguidas por Mirajane para implementar seu plano “Casal Perfeito”, que era muito menos prejudicial deixar Natsu agir naturalmente, que fazê-lo mentir mal.

Afinal, ele era conhecido nacionalmente, não apenas por sua magia, mas também por seu temperamento. E era pouco provável que conseguissem conquistar a simpatia das pessoas para a causa deles, se qualquer teatro fosse constatado em suas atitudes.

Então, sim, Natsu geralmente agia como ele mesmo, sendo orientado apenas a não deixar escapar nada que pudesse indicar seus planos de ação contra o processo criminal movido pelo conselho, ou qualquer coisa que pudesse colocar em risco a segurança de Lucy. Não que ele precisasse ser alertado dessa última parte. A paternidade iminente fizera com que ele despertasse um instinto repressor a tudo que poderia ser prejudicial à maga celestial.

Por outro lado, sobrava para Lucy a função de ser simpática e a missão de contornar eventuais gafes soltadas pelo mago do fogo. Nada muito impossível, os anos de convivência a treinaram para aquilo. 

O que a obrigava a manter um sorriso forçado, na verdade, era o fato de as entrevistas serem cansativas. E frustrantes.

Porque, para conquistar a simpatia do público e antagonizar a atuação do conselho ao acusá-la, ela tinha que desempenhar o papel de “pobre mulher grávida”. Mas o pior, era ter que compartilhar informações que ela não queria.

Informações que eram especiais e, portanto, deveriam ficar entre ela, Natsu e os amigos que escolhessem.

Como o gênero de seu bebê.

Depois que Charle e Cana revelaram que o casal mais falado da Fairy Tail aguardava uma menina, Mirajane não tardou em mexer os pauzinhos para conseguir quantas entrevistas pudesse. Naquele momento, enfrentavam a terceira daquela semana, e a última por um tempo, Lucy esperava. Nem por isso, a menos importante, já que estavam sentados diante de Jason, o repórter mais requisitado da Sorceres Magazine, que apesar da eloquência e empolgação com que geralmente desenvolvia seu trabalho, vinha tratando a loira de maneira extremamente simpática. Não raras vezes lhe lançando sorrisos compreensivos.

O que não queria dizer que não fazia perguntas incomodas.

— Qual foi a reação de vocês ao descobrir que foi uma menina? Vocês tinham preferência pelo sexo? — inquiriu ele.

Lucy olhou para Natsu, antes de responder:

— Nós ficamos felizes e sequer havíamos conversado sobre isso. A pressão de toda a situação é tão grande que só pensávamos em manter nosso bebê seguro — respondeu enquanto o mago do fogo assentia em concordância, ciente que entregara a resposta dramática necessária (que, todavia, era completamente verdadeira).

Jason lançou mais  um sorriso de conforto antes de anotar a resposta, não perdendo tempo em seguir a entrevista tão logo terminou de rabiscar seu bloco de notas.

— Vocês já decidiram o nome? — questionou.

— Ainda não — O dragon slayer foi quem respondeu dessa vez. — Lucy quer pensar sobre isso com bastante cuidado — acrescentou, franzindo a testa em contrariedade.

— Nossa filha não vai se chamar “Happy II”, Natsu — Lucy retrucou, mal humorada, enquanto o outro revirava os olhos.

— Era brincadeira — comentou ele, sob o olhar cético da loira.

O repórter não pôde deixar de rir em razão da troca de comentários engraçada que presenciava.

— Happy II? Seria Cool! — brincou, e dessa vez Lucy revirou os olhos. — E em relação à magia? Vocês já pensaram se preferem que ela use magia do fogo como o pai, ou magia estelar como a mãe? — questionou.

— Não é ela quem deve escolher? — Natsu devolveu, de pronto.

Apesar da risada constrangida do jornalista, Lucy não pode deixar de pensar que eles não sabiam se as coisas seriam realmente assim. Afinal, uma gestação de uma criança com um pai que possuía a constituição física modificada para partes do corpo de um dragão, era novidade, já que nenhum dos dragon slayers conhecidos tinham filhos. Porlyusica já havia lhe contato não saber se as características dos pupilos dos dragões poderiam ser transmitidas geneticamente. Aparentemente, só descobririam em alguns meses.

— Bem, nossa última pergunta — anunciou o jornalista, e Lucy resistiu à vontade de gritar “finalmente”. — As pessoas não param de questionar: vocês pretendem se casar em um futuro próximo?

A maga estelar engasgou com a própria saliva, enrubescendo intensamente. Natsu, por sua vez, apenas coçou a nuca, incomodado. Eles sequer conseguiram encarar um ao outro, mas sob o olhar de sobrancelhas arqueadas de Jason, a loira logrou afastar o constrangimento o suficiente para dizer:

— Nós estamos bem dessa forma — declarou.

— Mas vocês vivem juntos, certo? — insistiu. — Muitos especulam que iniciaram esse relacionamento apenas por causa do bebê, que seria fruto de uma aventura — explicou. — Outros dizem inclusive que Natsu assumiu a criança e a união de vocês apenas para protegê-la das acusações.

Aquilo era deselegante e cruel, Lucy não conseguiu deixar de pensar. Mas sabia que as especulações mencionadas pelo repórter, de fato existiam, o que exigia que fizessem o melhor para convencer o público que mantinham um romance genuíno. Por mais que ela só quisesse xingá-lo, mesmo que estivesse fazendo seu trabalho.

— Nos já morávamos juntos, bem antes de Lucy engravidar — surpreendentemente, foi Natsu quem respondeu. E embora seu tom fosse calmo, Lucy podia sentir o perigo que emanava do timbre baixo. — Isso pode ser confirmado com nossa síndica, caso deseje.

A maga piscou, aturdida. Aquilo era fato. O mago do fogo já estava vivendo com ela, mesmo antes de iniciarem o romance. Claro, ninguém precisava saber disso.

— E quanto ao bebê, as pessoas deveriam parar de fazer suposições tão maldosas — continuou. — Mas ele é meu. Lucy engravidou depois que nós… 

— Natsu!!! — interrompeu ela, mortificada.

— Acho que deu para entender — completou ele, dando de ombros.

— Deu sim — o jornalista confirmou, entre risos, divertindo-se com o quão vermelha Lucy se encontrava.

Com mais algumas palavras trocadas e fotos registradas, Jason se retirou da sede da Fairy Tail, deixando para trás o casal, que permaneceu acomodado na mesma mesa.

— Estou cansada disso — a loira reclamou, jogando-se sobre o tampo de madeira, tão bem quanto sua barriga avantajada permitia.

— Sinto muito que tenha que passar por isso, Lucy — Mirajane lamentou, caminhando até eles.

— Tudo bem, Mira-san — respondeu a maga estelar. — Sei que você consegue essas entrevistas pensando no melhor para nós. Obrigada pelo esforço! — declarou com sinceridade, sem entretanto se mover de sua posição confortável.

— Mas sabe, ele falou algo interessante hoje — a garçonete albina comentou, enquanto se sentava em frente aos dois. — Vocês não pensam em se casar? Com certeza seria um evento interessante, que atrairia ainda mais a simpatia do público — alegou.

Lucy endireitou-se num rompante, ao passo que Natsu desviou o olhar, corado.

— Eu… Eu não quero fazer disso um evento, Mira-san — contou Lucy, sem jeito. — Se formos nos casar — continuou cautelosa, temendo deixar o mago do fogo desconfortável —, que seja porque queremos, não porque é necessário — concluiu.

A maga take over sorriu com simpatia, mas não teve receio em perguntar:

— E vocês não querem? 

Finalmente, a Lucy encarou Natsu, sem saber exatamente o que dizer.

— E o que mudaria se nos casássemos? Já não vivemos juntos? — perguntou ele. — Lucy já é minha parceira. Eu não ligo se ela quiser, mas é fazer um evento pra dizer algo que todos já sabem — concluiu.

— Natsu! — repreendeu a loira. Ela estava realmente começando a se questionar quando o dragon slayer tinha perdido a vergonha de falar sobre a vida íntima deles, já que não era a primeira vez que o corrigia naquela manhã, quando algo lhe ocorreu: — Espera, parceira? — repetiu. — Não é a primeira vez que fala isso. O que significa? — indagou.

— Era como Igneel chamava as fêmeas companheiras de dragões — explicou com simplicidade.

A maga estelar ainda processava a informação, quando Mirajane explodiu em gargalhadas.

— Você está me chamando de dragão? — a loira perguntou, elevando-se sobre ele, furiosa.

— Não “dragão”! — negou logo, para a própria segurança. — Mas você é minha fêmea, não? — questionou, de forma quase inocente.

— Aww! — Mirajane não pode deixar de exclamar, os olhos praticamente iluminados com corações, ao passo que Lucy explodia em vermelho. — Isso é tão fofo, Natsu! — comentou. — Deveríamos ter imaginado que dragões tem seus próprios ritos de acasalamento.

— Acasalamento? — Lucy esganiçou, mais corada que nunca, e a garçonete riu com mais intensidade. — Já chega! Nós nem deveríamos falar dessas coisas, para começar! — tentou cortar o assunto.

— Você tá grávida Lucy. Não é como se as pessoas não soubessem o que vocês fizeram e ainda fazem — a albina retrucou, piscando para a loira, que escondeu o rosto nas mãos, momento em que decidiu que já tinha provoaco o suficiente. — Bem, você deveria aproveitar que a guilda ainda está calma e almoçar. Alimentar nossa garotinha — sugeriu com carinho, antes de se afastar.

A maga estelar não teve problemas em acatar a sugestão. Afinal, ela sabia que enquanto a boca de Natsu estivesse ocupada com comida, não diria coisas constrangedoras.

Era seu plano, mas assim que Kinana trouxe seus pedidos, antes de dar a primeira garfada, o dragon slayer olhou para ela e perguntou:

— Você quer se casar, Lucy? 

O coração da loira disparou, o que não passou batido pela audição sensível do outro, que a encarou com preocupação.

E então ela se viu, mais uma vez, sem saber o que dizer.

Pois afinal, nunca esperou realmente discutir previamente sua vontade sobre o assunto. Sempre imaginou que conheceria e amaria alguém que, a amaria de volta na mesma proporção, ao ponto de um dia lhe apresentar um anel e perguntar se poderiam passar o resto da vida juntos.

Logo, aquele não era o pedido de casamento que idealizava.

Ela nem sabia dizer ao certo se de fato era um pedido de casamento.

Contudo, perguntar aquilo era tão “Natsu” que ela não pôde deixar de sorrir. Lucy sabia que o mago do fogo pouco ligava para convenções sociais, mas se importava muito com ela. Com o que a deixava feliz. E não parecia um mau negócio unir-se permanentemente a uma pessoa assim, sobretudo se considerasse a intensidade que o amava, que parecia crescer a cada dia.

— Depois que tudo isso passar — começou a responder. — Depois que acabar o processo e eu for inocentada — continuou, surpreendendo-se com o otimismo das próprias palavras —, nós podemos pensar sobre isso, se você quiser — concluiu, sorrindo serenamente.

Natsu sorriu de volta.

— Então, quando tudo isso acabar, eu volto a perguntar — afirmou, para então desviar a atenção para o próprio prato e começar a cavar a comida avidamente.

A maga estelar resistiu ao impulso de bater na própria testa diante da indiferença com que ele abandonou o assunto, entretanto, ainda assim continuou sorrindo. Se não fosse daquela forma, não seria o Natsu, e ela já havia decidido que queria tudo dele.

Além disso, não podia negar que seu coração falhou uma batida com a promessa contida em suas palavras: ele perguntaria de novo se ela queria se casar. Algum dia.

O assunto foi posto de lado quando a loira começou a atacar a própria comida, e definitivamente esquecido quado Happy, Erza e Gray se juntaram a eles para o almoço.

O salão da guilda lotou com velocidade impressionante enquanto almoçavam, trazendo novos acontecimentos interessantes, junto de seus ocupantes. 

Foi com leve surpresa que a maga estelar descobriu que Lyon partiria naquela tarde, quando ele se aproximou do grupo para se despedir, mas o que chamou sua atenção, realmente, foi o fato do mago do gelo mais velho ter aparentemente desistido da missão de desvendar o homicídio de Olivia Blauth.

Não que ele parecesse muito afetado com isso.

Os ocupantes da mesa observaram enquanto Lyon se envolvia em uma briga de despedida com Gray, para em seguida voltar-se para Juvia de forma extremamente dramática. Porém, foi aos berros com Meldy que o Mago do gelo da Lamia Scale deixou o salão da Fairy Tail, a maga da água seguindo-os de perto, em uma atitude mediadora, temendo que se metessem em problemas a caminho da estação.

— Até que enfim! — Gray exclamou, sentando-se novamente na mesa que dividiam, aliviado pelo outro discípulo de Ur finalmente ter decidido seguir viagem.

— É a presença do Lyon na guilda que te incomoda, ou a presença dele ao redor da Juvia? — Erza provocou, sem um pingo de constrangimento.

Lucy soltou uma risadinha ao ver o rosto de Fullbuster corar intensamente.

— E por que a proximidade dos dois me incomodaria? — perguntou, indignado.

— Vocês têm agido de forma estranha desde que voltamos da missão em Hargeon — a maga de armadura apontou.

— Juvia mais que você — a maga estelar acrescentou. — Não é estranho que você a evite, mas tenho a impressão que agora o contrário está acontecendo, o que é muito, muito esquisito — opinou.

— Não pode ter sido a pancada? Ela levou uma braçada e tanto da besta que enfrentamos — Natsu conjecturou, apenas para continuar devorando o próprio almoço em seguida, sem um pingo de educação.

Os demais presentes na mesa piscaram em sua direção, como se ele tivesse algum problema mental.

— Ainda me parece inacreditável que uma pessoa com o nível de perspicácia do Natsu tenha conseguido descobrir o caminho para ter um filho — Happy debochou, atraindo o olhar irado do mago do fogo.

Dessa vez, Lucy foi quem enrubesceu intensamente, enquanto Erza ria pelo nariz.

— O que você quer dizer com isso? — o dragon slayer questionou. 

— Apenas que algo obviamente aconteceu entre Gray e Juvia durante a missão — o felino azul ergueu ambas as patas, as almofadinhas voltadas para cima, em defesa.

Diante do comentário do exceed, Gray bufou irritado e deixou a mesa.

— Ele sempre reagiu mal quando era pressionado a respeito de Juvia, mas realmente está mais sensível desde que voltamos — Erza reforçou, vendo o amigo se afastar da mesa.

— Você realmente não viu nada? — a loira indagou, curiosa.

— Nada mesmo. Nós bebemos a noite e, quando acordei no dia seguinte, Juvia estava arrumando suas coisas, muito ansiosa para sair — relatou.

— O que significa que, o que quer que tenha ocorrido, aconteceu durante a madrugada — Happy maliciou, mas o comentário não foi levado a sério.

— Bom, ao menos Lyon foi embora. Com ele pairando o tempo todo sobre a Juvia, sei que demoraria muito mais tempo para se resolverem — Lucy observou.

— Lyon não teve mesmo sucesso em desvendar o homicídio? — Erza questionou, desviando o assunto.

A loira deu de ombros.

— Não é como se eu pedisse informações a respeito, mas ele comentou que as investigações ao redor de Magnólia também o levaram a um beco sem saída — respondeu.

A ruiva suspirou.

— É um caso de meses. É triste pensar assim, mas parece estar caminhando para um daqueles crimes que nunca serão solucionados — lamentou.

— Realmente. Pelas informações que recebemos do empregador, nenhum dos magos que aceitou o serviço conseguiu encontrar uma justificativa plausível para a morte da Olívia — a maga estelar narrou. 

— A não ser por roubo ou estupro, de fato, não dá para entender como uma maga sem inimigos simplesmente aparece morta fora de missão — Titânia comentou.

— Bom, se esgotaram o caso da perspectiva da vítima, deveriam ter tentado a perspectiva do homicida — a loira apontou, e foi como se uma luz acendesse em sua cabeça. — A perspectiva do homicida… — repetiu, enquanto Natsu, Erza e Happy a encaravam com curiosidade. — Talvez a chave para solucionar o caso não seja entender se alguma atitude de Olívia a tornou um alvo, mas o que motivou o assassino a matá-la. Pode parecer a mesma coisa, mas não é — explicou.

— Parece que em alguns minutos você chegou mais longe na investigação que muitos magos em vários vezes — a maga de armadura sorriu, impressionada. — Uma pena que não tenha pegado o serviço.

Lucy suspirou, desanimada.

— Eu tenho meu próprio mistério para resolver. Não é como se eu tivesse tempo para colocar outras pessoas na cadeia quando estou tentando me livrar dela — lembrou, tristemente, fazendo com que Natsu automaticamente apertasse suas mãos, que descansavam sobre a superfície de madeira.

— É um trabalho como qualquer outro, Lucy — falou o dragon slayer. — Assim como o trabalho que você tem feito no bar da guilda, ou as missões que faríamos se você pudesse viajar — discursou. — Se você tem uma ideia do que fazer para ajudar a um pai que quer entender a razão da morte da filha, não deve se sentir culpada por isso — concluiu, e Lucy sorriu, comovida com a forma que Natsu nunca deixava de apoiá-la.

— Eles se goxxxtam! 

Mas claro, Happy arruinou o momento no final.

 

Magnólia - 17 de maio de x792

Não era mentira que Lucy se sentia culpada por investigar um caso que não fosse o seu, todavia, isso não mudava a realidade que o homicídio de Olívia Blauth não deixava sua mente, em nenhum momento de seus dias.

Então, concluiu que não faria mal fazer uma breve pesquisa, ao menos para esclarecer o aspecto que lhe incomodava.

Não que ela realmente estivesse chegando a algum lugar, foi o que percebeu ao jogar, com um suspiro desanimado, a última edição antiga de jornal que havia examinado, sobre uma das mesas redondas da Biblioteca Municipal de Magnolia.

Doranbolt arqueou levemente as sobrancelhas, quando o exemplar se juntou aos diversos outros espalhados sobre a superfície de madeira escura. Em pelo menos três ocasiões na última semana, estivera sentado naquela mesma mesa, no assento oposto ao que a maga estelar ocupava, cumprindo seu dever de vigilância enquanto a observava inspecionar edições antigas, aparentemente para encontrar algum padrão entre crimes noticiados e o assassinato de Olivia Blauth. Não é como se ela tivesse lhe contado isso, mas a cópia do pedido que fora direcionado à Fairy Tail que ela sempre carregava, era reveladora o suficiente.

— Nem todos os homicídios que ocorrem são noticiários em jornais, sabe? — comentou, atraindo a atenção dos olhos castanhos. — Você poderia pedir uma cópia de registros policiais. A maioria deles são públicos — sugeriu.

Lucy franziu os lábios, insatisfeita. Ela bem poderia fazer o trabalho de pesquisa na biblioteca da guilda, mas não queria que outras pessoas a incentivassem a permanecer no trabalho, quando ela própria não o havia aceitado oficialmente. Só queria saciar a curiosidade que a incomodava. Por isso, apanhou por conta própria uma cópia do pedido de missão e foi à biblioteca pública em seus turnos de folga. Porém, aparentemente, não teria sossego ali também. Ela deveria ter previsto isso, já que Doranbolt exercera serviços investigativos e de espionagem para o conselho. Ele deveria achá-la uma amadora idiota.

— Eu não quero realmente chamar a atenção da polícia ou do conselho ao solicitar registros policiais — respondeu em timbre baixo, para que não fossem repreendidos pela bibliotecária. — Eles podem achar que eu os quero para investigar meu próprio caso — comentou.

— E isso seria um problema por…? — o homem contrapôs. Lucy estreitou os olhos.

— Eu não estou prestes a revelar para um membro do conselho que está me acusando injustamente, qualquer estratégia defensiva, Doranbolt — respondeu, sem constrangimento.

— Justo — disse ele, sem se afetar. — Mas se for o caso, como os registros são públicos, eu posso pegá-los para você — propôs. — Você só precisa me dizer o que exatamente está procurando, para que eu possa localizar os documentos certos.

A maga estelar o encarou com desconfiança. Ela não sabia a razão de Doranbolt querer ajudá-la, mas tinha que admitir que a proposta era bastante atrativa.

— Bem — começou, concluindo que não havia porque não tentar —, já que as hipóteses de latrocínio, estupro e homicídio por vingança foram descartadas, eu comecei a pensar no que poderia ter motivado o assassino a matar Olívia — começou a explicar. — Então eu me lembrei que algumas pessoas matam pelo prazer de matar — emendou.

— Como os assassinos em série — naturalmente, o membro do conselho acompanhou o raciocínio.

— Exato — confirmou ela. — Mas esses criminosos, geralmente, adotam um padrão para suas vítimas — lembrou. —  O gênero, a altura, a idade, a cor do cabelo... — enumerou. — Só que eu não localizei nenhum outro caso de homicídio com uma vítima parecida com Olívia, para supor qualquer ligação — concluiu, frustrada.

Meros segundos foi o tempo que levou para Doranbolt redarguir:

— Esses não são os únicos elementos que podem ser levados em consideração para tentar estabelecer um padrão entre os crimes de um assassino em série — comentou. — Diga: Olivia não tinha nenhuma outra característica que a destacava entre as outras pessoas? — indagou.

Lucy pensou por um momento, consciente que aquela não era uma pergunta infundada. Doranbolt poderia estar reduzido a ser sua escolta, mas certamente possuía habilidade e experiência investigativa que ela não tinha. Assim, forçou a mente a funcionar por um minuto, analisando suas possibilidades, até que seus olhos se arregalaram.

— Ela era uma maga! — exclamou, enquanto o outro sorria. — As polícia considerou esse fator para a hipótese de homicídio por vingança, mas ninguém  parece ter atinado que pode ser a razão que motivou o crime sem necessariamente estar envolvido com um trabalho, ou a característica que liga as vítimas de uma possivel série de assassinatos — comentou.

Se alguém considerou homicídios em série — enfatizou o moreno.

— Mas apenas o fato de a pessoa ser um mago parece meio vago para atrair um assassino em série — ponderou Lucy. — Esses criminosos costumam ser bem específicos. 

— Contudo, da mesma forma que existem diversas cores de cabelo… — instigou o membro do conselho.

— Existem diversos tipos de magia! — concluiu ela, captando o raciocínio do outro. 

De imediato, a loira passou a inspecionar o pedido de missão e o jornal que noticiara a morte de Olivia Blauth, o cenho crispando enquanto o fazia. 

— Aqui não diz o tipo de magia que Olivia usava, apenas que era membro da Mermaid Heel  — reclamou.

— Não é uma informação difícil de conseguir — Doranbolt deu de ombros.

— Realmente não — concordou ela, enquanto separava algumas das edições espalhadas pela mesa, fazendo uma nota mental para contatar a Mermaid Heel assim que retornasse para a sede da Fairy Tail.

— O que está fazendo agora? — o homem questionou, curioso.

— Separando as notícias de homicídios de magos ocorridas após a morte de Olivia Blauth — respondeu. — Para o caso de não confirmarmos o padrão pelo tipo de magia. Talvez haja outras características comuns entre eles — explicou, ao ver a dúvida vincar a testa do outro.

Lucy concluiu o trabalho de separação com um artigo de uma edição um tanto recente, e não pôde evitar de sentir um arrepio ao encarar a foto de Totomaru, o antigo membro da Phanton Lord, ao lado da reportagem que noticiava seu homicídio. Ainda lhe era fresco na memória o quanto Juvia havia chorado pelo ex-companheiro.

No entanto, não era isso que a incomodava.

Após tirar cópia dos artigos selecionados e devolver os exemplares para as caixas correspondentes, a maga estelar retornou para a sede da Fairy Tail, com Doranbolt em seu encalço e, ao chegar lá, não perdeu tempo em se dirigir ao lacrima de comunicação que ficava nos fundos e contatar a Mermaid Heel para informações.

E quando ela retornou para o bar, Mirajane não deixou de reparar o quanto estava pálida, as inúmeras folhas amassadas em sua mão direita passando despercebidas então.

— Lucy? — a albina perguntou preocupada, pronta para ampará-la, se fosse o caso.

Mas a loira disparou e atravessou o bar, parando apenas quando alcançou a mesa mais próxima.

Mirajane observou, curiosa, a maga estelar depositar uma pilha de papéis na superfície e selecionar, entre eles, o que pareciam ser artigos de jornais, os quais passou a organizar pela mesa em uma configuração que lembrava uma linha do tempo, que iniciava com com a notícia da morte de Olivia Blauth e terminava com a reportagem sobre o assassinato de Totomaru.

— Lucy? — insistiu a maga take over. — O que aconteceu?

A loira encarou a albina com olhos assombrados, antes de responder:

— Nós temos um problema, Mira-san. É melhor chamar o mestre.

 


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Notas finais do capítulo

Hahaha, um capítulo de Conspiração apenas dois meses após o último ser postado? Nem eu estou acreditando!
Sobre o mistério dos homicídios, este é o último capítulo que fez suspense sobre isso (e bem, acho que agora há elementos suficientes para que o quebra-cabeça seja montado). De qualquer maneira, o próximo será explicativo, então o mistério está prestes a acabar.
É isso. Espero que tenham gostado.



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