Agentes escrita por Ana Cdween


Capítulo 7
Chapado


Notas iniciais do capítulo

o// felizes? porque eu estou :) Mais um capitulo lindo pra vocês, quero reviews :)



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Jane

Assim que cheguei no prédio avistei Alfred, era o mesmo segurança do hall da época que eu ainda morava ali.

Ele sorriu e se aproximou de mim.

–-Jane, uma boa menina a casa torna.

–-Alfred, como vai?

–-Na mesma querida, trabalhando, e você?

–-Gostaria de estar melhor, pedi o divorcio e não tenho pra onde ir.

–-Nossa, veio ao lugar certo, aqui é sua casa.

–-Só que deixei as chaves lá em casa e não tenho outra opção a não ser chamar um chaveiro, o pior vai ser provar que moro aqui.

–-Isso é fácil, tem algumas correspondências em seu nome na recepção, é só quando chamar o chaveiro mostrar a correspondência com o endereço daqui, seu nome e um documento seu, aconteceu isso na semana passada com um morador e deu tudo certo.

–-Graças a Deus você me lembra dessas correspondências.

–-Mas também você mesma pode abrir, ainda manja daqueles lances das antigas?

–-Claro Alfred, nunca esqueço.

–-Então vou te arrumar a pinça e o clips, o resto é por sua conta.

–-Ai amanhã mando fazer as chaves, falo que perdi.

–-Continua maravilhosa.

–-E você é um cavalheiro.

Alfred era muito simpático e tinha amizade com todos os moradores do prédio, morei ali por tempo suficiente para que ele se tornasse meu amigo fiel, até sabia da minha profissão secreta e de todo o esquema.

Quando me casei e me mudei, ele ajudou com tudo que pode e sempre mandava mensagens dizendo sentir saudades, mas ele sabia da minha vida corrida, então nunca cobrou atenção, diferente da Jas que vivia dizendo que eu não dava mais atenção a ela fora do trabalho.

Ele abriu o portão da garagem pra mim, me ajudou a subir com a mochila e depois que abri a porta com o clips e com a pinça, me ajudou a tirar o plástico dos moveis.

–-Minha sorte é que está limpo.

–-Não amiga, sua sorte é que ainda tem esse apê, queria ver você com aquela sua amiga Jas que odeia seu bofe, ela iria estar te massacrando agora. Ainda bem que você tem seu cantinho aqui.

–-Você tem razão meu querido, ainda bem que você me aconselhou a mantê-lo.

–-Jane, vai até a loja de departamentos aqui no final da rua, aquela 24hr e compra lençóis, ou vai dormir direto no colchão hoje, amiga.

–-Eu vou mesmo, preciso comprar mais algumas coisinhas pra essa noite.

–-Aproveita e compra uma caixa de lenço, porque sua ficha ainda não caiu que vai se separar, na hora que cair, meu Deus do céu, vai desabar em lagrimas.

–-Sabe que não sou assim Alfred, eu não...

–-Jane, a Jas você engana, eu não, pode parar que eu sei que você ama aquele homem.

–-Alfred, por favor, para!

–-Ah Jane, para você de ficar negando pra mim, eu sou viado querida, sei de tudo que se passa ai mesmo antes de você, te conheço há muito tempo e sei o quanto esse John ai deixou você mexida lá em Bogotá, e como ficou caidinha na dele quando ele te procurou aqui, portanto que acabaram se casando.

–-Eu precisava de um disfarce.

–-Que disfarce o que querida, estamos no século XXI, você não precisava de um marido para não ser a solteirona do bairro, você precisava era de um cara para te pegar de jeito e ele serviu até hoje.

–-Alfred, me cansei dele, só isso.

–-Jane, você pode mentir para o mundo, menos para mim, gata.

–-Alfred, você é difícil às vezes, eu preciso ir comprar as coisas, passar no mercado também, você trabalha até que horas hoje?

–-Até meia noite, depois eu venho pra cá pra ver como você está e posso apostar que estará debulhada em lagrimas.

–-Quando você chegar vou estar ouvindo música e relaxando. Toma um vinho comigo?

–-É claro. O de sempre?

Positivei com a cabeça e peguei minha bolsa, desci com ele e peguei o carro para comprar o que precisava.

Comprei utensílios de cozinha, um aquecedor portátil, lençóis, um edredom e uma coberta, alguns filmes que achei que me distrairiam, porque meu domingo seria um tédio. Comprei coisas de comer no mercado e o vinho pelo qual me embebedaria essa noite.

Voltei e subi direto, Alfredo piscou pra mim assim que entrei na garagem, eu não entendi muito bem, mas deduzi que talvez estivesse alguém lá em cima, John. Tão rápido, não esperou nem a poeira baixar?

Entrei no elevador tensa, com as compras na mão, mas quando entrei não tinha ninguém, graças a Deus, ele deve ter piscado pra mim por pura graça. Desci de novo para pegar o resto das coisas.

Quando voltei fechei a porta e senti uma certa paz por estar sozinha e poder respirar aliviada, tinha dado tudo certo, tinha conseguido me separar dele sem ter de matá-lo, afinal, seria um desperdício com aquele corpo gostoso todo.

Liguei as tomada da tv e coloquei em um canal de música qualquer. Arrumei a cama e deixei pronta, já que talvez capotasse antes de Alfred subir. Fiz uma salada para o jantar, já que meu estomago estava mal criado hoje, mas tomei uma ducha.

Alfred entrou e me pegou no banheiro.

–-Deu uma encorpada, ta menos ossuda.

–-Alfred, você não perde esse costume, se John te pega aqui ele te mata.

–-Mata nada, ele vai estar ocupado demais usando esse corpinho ai, além do mais Jane, ele sabe que eu não gosto da fruta.

–-Ele é ciumento possessivo e você sabe disso.

–-Mas também né querida, com tudo isso ai o homem fica bitolado e ciumento, e o medo de perder pra outro cara?

–-Nunca dei motivo a ele.

–-Ele é do tipo que não precisa de motivos, protege a fêmea, macho alfa.

–-Macho alfa, me poupe Alfred.

–-E não é não? Vem cá, ele te dava trabalho Jane?

–-Depende do sentido...

–-Todos os possíveis por favor, quero detalhes, até os mais sórdidos.

–-Você é terrível, Alfred.

–-Senhora Smith, vamos lá, me conta.

–-Senhora Smith, será que sou a única?

–-Acha que ele...

–-Não sei Alfred, ele tem fogo demais, e não andamos bem.

–-Tem fogo é? Ta explicado porque não deu certo então.

–-Ta insinuando o que, Alfred? Me enrolei na toalha e sai.

–-Ah Jane, você é meio devagar, não era muito foguenta.

–-Você acha isso?

–-Das mulheres lindas que conheci até hoje, você é a mais sossegada, a que ficou mais tempo solteira, e que provavelmente trouxe menos caras pra cá. Quantos foram? Um? Dois?

–-Dois, Charlie e John.

–-Ta vendo, eu não minto.

–-Eu só não acho que é necessário sempre ter alguém.

–-Mas e agora?

–-Agora eu to sozinha de novo, vou levar minha vida pra frente, focar no meu trabalho.

–-Mais trabalho, sempre trabalho.

–-Mas é a minha vida, e vai continuar sendo. E agora que me separei vai ser ainda melhor, posso focar com mais atenção e inteiramente ao que mais amo.

–-Então você acha que seu casamento te atrapalha no trabalho?

–-De certa forma eu...

–-Jane, eu acho que é o contrario, esse seu trabalho ai matou seu casamento, ta na hora de você dar um basta e voltar a ser a Jane do John.

–-Alfred, do que ta falando?

–-Conhecia uma Jane, imatura, porém responsável e querendo seu espaço, depois quando você conheceu John eu conheci uma outra parte da Jane, brincalhona, namoradeira e muito apaixonada. A Jane subiu de cargo no trabalho. O trabalho engoliu essa Jane tão doce e agradável e deixou uma parte bem mal humorada, rancorosa e estressada, tão focada no trabalho a ponto de deixar escapar o bofe mais desejado da cidade.

–-Alfred, assim você me magoa.

–-Eu menti?

–-Não é nada disso, eu e John estamos em crise há mais de um ano, tentamos bastante, mas não deu. Continuo sendo a mesma Jane brincalhona e doce, só que agora tenho muita responsabilidade na agencia e...

–-Se esqueceu que seu marido precisa de você tanto quanto você precisa dele.

–-Não preciso do John.

–-Vamos ver quando o frio apertar esse seu coraçãozinho de pedra ai, pra quais braços você vai correr.

–-Não vai ser para o do John.

–-Eu não dou uma semana e ele vem aqui e fode você até falarem chega.

–-Alfred, você está muito desbocado.

–-Eu perco a compostura quando eu vejo alguém fazendo algo tão errado como você abandonando aquele homem.

–-Não estou fazendo errado, estou fazendo apenas o que é melhor para nós dois.

–-Bora tomar o vinho? O chefe me dispensou mais cedo, aproveita querida, é pra poucas.

Peguei duas taças que comprei e abri a garrafa de vinho. Começamos a tomar e conversar, contei sobre como aconteceu minha briga com John, jantamos a salada e resolvemos ver um filme.

–-Ainda tenho esperança que você chore.

–-Talvez mais tarde, na cama, quando a saudade apertar.

–-Você ta bêbada falando assim, só pode.

–-To bem , só não consigo parar de pensar nos olhos dele quando eu o deixei.

–-Você o ama Jane?

–-Não sei, na verdade não sei de mais nada, queria ter tido a coragem de mata-lo.

–-Tentou mata-lo?

–-Eu estava disposta para por um fim em tudo, mas eu hesitei todas as vezes que tive a chance.

–-Porque hesitou, já que nesse lance de matar você nem pensa?

–-É diferente Alfred, eu dormi com ele por anos, acordei e tomei café muito tempo com ele, tivemos uma vida juntos. Matar uma pessoa estranha e que faz alguma maldade é uma coisa fácil pra mim, mas John é tão inocente, não faz maldades, eu sei que ele me ama, porque me aturou tempo demais e se não gostasse de mim teria ido embora.

–-Vou perguntar de novo, você o ama?

–-Alfred, você está me embebedando.

–-Me responde Jane.

Meus olhos se encheram de água. --Eu já estou sentindo um vaziozinho.

–-Eu disse que choraria.

–-Alfred, você é um maldito mesmo.

–-Porque não liga pra ele?

–-Não posso, tenho que levar isso até o fim.

–-Não precisa ter fim, e se for pra ter, que seja com aquele bofe do seu lado.

–-Não posso voltar, vou parecer covarde.

–-Cala essa boca Jane, vai voltar e vai ser lindo, ele vai perceber que você voltou porque o ama, ele abre a porta e você as pernas, e pronto, foram felizes para sempre.

–-Não é tão simples, dissemos muitas coisas ruins um ao outro.

–-E dai, uma noitada de sexo e um pedido de desculpas ao pé do ouvido apaga tudo.

Continuamos vendo o filme, eu chorei mais um pouco e Alfred ficou comigo, ele insistiu para que eu ligasse, mas eu não fiz, adormeci de bêbada, nem vi Alfred ir embora.

John

Edd trouxe cerveja e bebemos muito enquanto eu contei a ele como tudo aconteceu.

–-John, acho que até demorou pra vocês se separarem.

–-Poxa me ajuda cara, tô aqui sofrendo.

–-Não sofra, bora dar uma volta e pegar umas gatas, hoje é sábado.

–-Não Edd, quero minha gata de volta.

–-Ela não vai voltar.

–-Trouxe o computador da agencia?

–-Trouxe, mas tem certeza que não quer dar uma volta e tirar o atraso?

–-Que atraso Edd? Ta tudo em dia.

–-Ah então foi por isso a boca roxa e o nariz inchado, anda apanhando na cama?

–-Edd pelo amor de Deus!

–-Isso dá cadeia, se ela ameaçar tirar todos os seus bens na separação, você pode contar a policia que ela te batia e ela vai presa.

–-Edd, vai se fuder cara. Cadê a droga do computador?

–-Tá no carro.

Peguei o notebook no carro e logo abri o programa de localização, joguei o código do localizador que coloquei no carro de Jane, e pimba, deu certo, a localização era exatamente no antigo apartamento dela.

–-Vaca.

–-Edd, não fala assim dela.

–-Tá num lugar tão obvio desse jeito.

–-Não é tão simples, não tem como entrar lá.

–-Como não, John?

–-Só posso subir com a autorização dela na portaria.

–-Fala que vai fazer uma surpresa.

–-Jane é esperta, deve ter mandado não deixar ninguém subir.

–-Que andar ela mora?

–-4º

–-Então escala, seu idiota.

–-Ah e depois como que eu explico pra ela que subi os 4 andares? Falo que sou super herói?

–-Isso é o de menos, ela vai achar heroico você subir para vê-la e vai pular no seu colo.

–-Edd, pode ser que funcione.

–-Viu cara, eu tenho boas ideias.

–-Uma ideia meio suicida, porque depois ela pode querer que eu saia de lá, e não me deixe usar a porta.

–-É, ai ferrou.

–-Não sei o que fazer cara.

–-Eu sei muito bem, já que não consigo te fazer sair e transar com umas gatas, eu posso lhe oferecer algo pra aliviar a fossa, trouxe um presentinho, direto de Amsterdã, sente só o cheirinho. Ele sacou do bolso um pacote cheinho de maconha.

–-Eu não fumo mais, cara.

–-Você parou porque a Jane pediu. Jane, Jane você tá ai? Viu John, sua mulher não tá aqui. Aliás, ex-mulher.

–-Ela é minha mulher Edd, não ex.

–-Cara, só um tapinha vai, não vai fazer mal.

–-Não sei, vou pegar mais cerveja, você quer?

–-Não, agora vou fumar um beck cara.

–-Não vai beber e fumar?

–-Não faço mais isso, meu filho me viu passar mal.

–-Ele só tem 3 anos

–-Mas ele chorou quando eu vomitei, ficou assustado e não quis meu colo.

–-Ah entendi.

Fui até a cozinha e peguei mais cerveja. Ficamos conversando e eu matutando como entraria no apê para ver Jane, me lembrei do Alfred, ele me ajudaria a entrar, mas talvez não, ele é muito amigo dela pra traí-la.

–-Da um tapinha ai cara.

–-Edd tô bem. Dei um gole na cerveja. –-Acho que vou arriscar pedir para o Alfred me ajudar.

–-John, para de falar da sua ex-mulher, tá insuportável cara.

–-Minha mulher, não ex, não enquanto eu puder fazer alguma coisa.

–-John, você a ama?

–-Você ainda pergunta Edd?

–-Sei lá, só que às vezes...

–-Não tenho como explicar o que sinto, tá ligado? Vai, me passa esse beck ai.

–-Sabia que não ia resistir.

–-Quem sabe chapado eu consigo pensar em algo pra trazer Jane de volta.

Ficamos fumando até eu me sentir completamente chapado, no começo eu conseguia conversar normalmente, mas depois só via Jane na minha frente, e só conseguia pensar nela.

–-Sabe o que é pior Edd? Toda fez que eu chapava eu ficava tarado nela, deitávamos e rolávamos feito doidos pela casa, mas o melhor era quando ela também fumava e se entregava pra mim de um jeito muito doido. Fazíamos amor, tomávamos um banho e fazíamos amor de novo, era bom demais.

–-Era para parar de falar nela.

–-Eu sei cara, mas fumar só piorou as coisas, cada lugar que eu olho eu a vejo desfilando com uma camiseta velha minha e sem nadinha por baixo, com o cabelo preso no alto, descompromissada com um pote de pipoca na mão, vindo em minha direção, tão sexy que chega a me dar arrepios, ela sorri delicadamente e senta no meu colo. Quantas vezes vimos TV assim, quando estávamos chapadões, melhor época, ela se importava mais com a gente do que com a porra do trabalho dela.

–-Se era tão bom assim, porque pararam de fumar?

–-Edd, quando você fuma algumas vezes se perde o controle, come demais, dorme demais, faz muita bagunça porque tudo fica bem mais interessante que o trabalho ou arrumar a casa. Sabe aquela semana que faltei ao escritório e disse que Jane estava doente?

–-Sim, mas faz tempo.

–-Jane estava de folga a semana toda e perdemos o controle. Fumávamos e transávamos o dia todo, dormíamos aqui no tapete, grudados, claro. Eu perdia sempre a hora para ir trabalhar, então acabávamos fumando mais e transando mais, acha mesmo que ia para o trabalho e deixar ela toda gostosa e fumando sozinha aqui? Nem pensar, fiquei até nosso chá acabar.

–-Eu não saberia como proceder em ter maconha e uma gostosa em casa e ter de trabalhar.

–-É, então, perdemos o controle total.

–-Porque mesmo ela te pediu para parar?

–-É meio delicado e meio pessoal. Ah e não foi apenas ela quem pediu para eu parar, eu resolvi sozinho.

–-O que houve?

–-Eu machuquei ela na cama, ai conversamos muito, e decidimos que só fumaríamos juntos, porque com os dois excitados no mesmo nível as coisas fluem.

–-Machucou ela transando?

–-Sim.

–-Que tenso cara.

–-Sim

–-Tá com sono, né seu desgraçado?

–-Como sabe?

–-Quando você começa a falar pouco assim é que tá com sono.

–-Bobiei cara, pensar nela me deixa muito excitado, mas agora é diferente, ela não tá aqui.

–-Pensa positivo cara, se ela tivesse aqui você não teria fumado e muito menos estaria assim jogado no sofá, cheio de garrafas de cerveja pela casa.

–-Mas eu trocaria tudo isso aqui, toda essa chapação apenas para que ela estivesse aqui, deitada ai no outro sofá, distante de mim, vendo TV, quase dormindo, talvez um pouco mal-humorada e brava comigo.

–-Responde chapado cara, você ama a Jane?

–-Eu sou maluco nela Edd, desde que botei meus olhos naquele rosto e minhas mãos naquele corpo. Consigo me lembrar de cada detalhe de quando nos conhecemos.

–-Foi uma missão de sorte, não é?

–-Dizem que todos os agentes tem suas missões premiadas, alguns ganham uma grana preta, eu encontrei a coisa mais importante na minha vida.

–-Pararia por ela John?

–-Claro Edd, você sabe que eu sempre abro mão de algumas missões por ela, prefiro as missões aqui em NY para não ter que viajar, sempre saio mais cedo que o resto dos agentes nas missões a noite. Se ela me pedisse para pular da ponte eu pularia, mas hoje ela fez o único pedido que não posso atender, quando ela pediu o divorcio foi o pior momento da minha vida.

–-Se ela ouvisse você falando essa baboseira romântica cairia de quatro em você.

–-Não precisava ser de quatro, se ela voltasse já estava ótimo.

–-John, que fossa cara, nunca te vi chapado e idiota desse jeito, e olha que já fumamos juntos muito nessa vida.

–-Tem ideia do que fazer para ela voltar?

–-Não John, nunca consegui fazer a Gladys voltar.

–-Mas você é um otário com ela, Edd.

–-Eu sei John, por isso pouco insisti.

–-Tô com sono.

–-Eu vou indo John. Ele se levantou.

–-Não Edd, você dorme aqui, pode escolher onde quer dormir.

–-Eu tô bem cara, posso ir andando, amanha pego o carro.

–-Você mora do outro lado da cidade.

–-Durmo no quarto de hospedes então.

–-Não Edd, pode ser aqui no sofá ou no quarto da empregada lá no fundo, tô dormindo no quarto de hospede.

–-Qual é? Vai para o seu quarto, John.

–-E dormir lá e correr o risco de entrar badtrip lembrando dela? Lá tem o cheiro dela, as coisas dela, tudo do jeito dela.

–-Fico com o sofá então.

–-No quarto aqui embaixo é bem confortável, tem TV, aquecedor, pode ficar lá.

–-Eu gosto do seu sofá, tá muito macio aqui, quentinho sabe?

–-Você tá muito chapado Edd, boa noite cara, fica a vontade, tem um monte de coisas de comer na cozinha.

–-Não vai comer nada cara?

–-Não tô afim, acho que tô na fossa, sabe?

–-Dá pra perceber, boa noite John.

Subi e dei uma passada em nosso quarto pra pegar umas coisas, foi entranho entrar lá, eu sentia o cheiro e a frieza dela, como se ela estivesse ali, deitada na cama. Olhei a cama por um momento me lembrando de algumas coisas que se passaram ali, na maioria das vezes coisas boas, apesar de estarmos em crise há mais de um ano, não brigávamos muito, não dormíamos brigados, sem desejar uma boa noite, sem que eu a olhasse antes de fechar os olhos, ou sentisse seu hálito quente no meu rosto, era engraçado pensar nisso agora porque talvez nunca acontecesse de novo, talvez eu precisasse começar a me acostumar com a ideia do divorcio, já que ela não voltaria atrás tão fácil, e mesmo sabendo onde ela está, não tinha com fazer nada, mas eu não conseguia pensar muito assim, eu a queria de volta e lutaria por isso.

Abri o closet e peguei algumas roupas e uma toalha limpa, era tudo tão milimétricamente organizado por ela, podia apostar que ela havia passado algum tempo arrumando daquele jeito, minhas camisas, minhas calças, casacos, tudo alinhado, tudo limpo e cheirando gostoso. Ela cuidava das minhas coisas, minhas roupas e até mesmo de meus projetos, quero dizer, meus falsos projetos. Sempre que tinha um tempo, principalmente aos sábados, ela me ajudava a arrumar o escritório, colocar os projetos em pastas de clientes, me ajudava na organização da papelada já que eu vivia me perdendo ali.

Ela cuidava de mim, na forma dela, e me lembrando dessas formas dela cuidar de mim eu penso: como vai ser sem ela? Eu não conseguia nem pensar na resposta. Tomei uma ducha rápida, sai do quarto e fechei a porta.

O quarto de hospede guardava poucas lembranças, e lá pelos menos não cheirava a Jane.

Deitei e tentei dormir de todas as formas, me forçava a fechar os olhos, mas o que eu queria mesmo era ouvir a voz dela, ou sentir a pele, o cheiro.

–-O travesseiro. Levantei num salto.

Fui até nosso quarto e peguei o travesseiro dela. O cheiro dela era forte no tecido, o suficiente pra eu dormir como se ela estivesse comigo.

Deitei e abracei o travesseiro, o cansaço venceu a rigidez do meu corpo, e o cheirinho dela me acalmou e me fez lembrar que ainda não acabou.

Jane

Domingo eu e John costumávamos dormir até mais tarde, tomar café e subir para o quarto e de novo ver TV embaixo das cobertas, principalmente quando estava frio, era estranho estar sozinha e naquele lugar diferente, mesmo que aquele apartamento já tenha sido meu e sido meu lar por tanto tempo.

Liguei mas Alfred não atendeu o celular, não podia ligar para Jas porque tinha inventado a maior história de que viajaria para o Brasil, quando na verdade eu só queria ficar em casa com John. Talvez eu devesse contar tudo a ela, sobre o divorcio e sobre ter saído de casa, mas ouvir Jas dizer: “Eu avisei”, não me agradava nem um pouco, tinha acordado um pouco de ressaca e mal-humorada. Será que John tinha bebido também? Será que saiu pra curtir, porque agora é um homem solteiro e livre? Eu não queria nem pensar nisso.

Passei a manhã inteira na cama, comi só uma fruta porque não sentia nada além de mau-humor, queria algo que me distraísse, algo que me fizesse esquecer tudo que estava acontecendo, eu parecia bem, queria mostrar aos outros que estava bem, mas na verdade estava sangrando por dentro, porque nem saber o que sinto eu não sabia.

Alfred veio na hora do almoço, trouxe a comida da mãe dele e me fez comer.

–-Como se sente?

–-Bem, a ressaca está leve.

–-Não tô falando da ressaca, tô falando do seu coração.

–-Não sei, é estranho.

–-Jane, vamos lá. Ontem quando você estava bêbada começou a chorar e eu não suporto ninguém chorando e tenho de consolar, então me diga o que sente!

–-Alfred é meio...

–-Jane não enrola, seja direta, objetiva, você é sempre tão simples e direta nas coisas, para com essa graça!

–-Calma então, me deixa encontrar as palavras certas, não quero parecer romântica e nem fria demais.

–-Tá, vou ficar quieto, mas só saio daqui quando você me dizer a verdade sobre o que sente.

–-John e eu não estávamos bem, há mais de um ano estamos sempre batendo um de frente com o outro, sempre indo na direção contraria, eu achei que seria fácil, cogitei até mata-lo para facilitar as coisas, mas a verdade é que... Dei uma pausa, abaixei a cabeça e fiquei em silêncio tentando completar o que tinha iniciado. --É que eu sinto alguma coisa por ele, porque fica martelando na minha cabeça, como será que ele está? O que está fazendo? Se está comendo, se dormiu, se chorou, se sente minha falta e se está se sentindo estranho por dentro como eu estou me sentindo.

–-Ontem você disse que se sentia vazia...

–-É pior que isso, vazia eu me sentia quando estava lá, como se eu não pudesse oferecer o melhor de mim pra ele, como se eu não fosse boa o bastante pra ele, dai acabei cuidando dele demais, mimando, muitas vezes ninando, só que acho que me esqueci que sou a mulher dele e não a mãe, por isso que nesse último ano entramos numa crise tão grande, porque tem horas que vejo ele como um menino perdido precisando de proteção e ajuda, e outras vezes o vejo como meu marido, sedento por algo a mais que um carinho, sabe? Doido por uma pegada e por um momento de prazer e loucura, mas sempre que eu tento ele se afasta, e quando ele tenta eu estou ocupada e não consigo abrir mão das coisas por ele.

–-Então você o ama, querida!

–-Alfred nunca entendi muito bem o que seria amar uma pessoa, ou ser amada porque como você, sabe sou órfã e criada naquele orfanato. John tem um lance de proteção comigo, de cuidado e atenção, nunca entendi qual era a dele e sempre achei que fosse apenas interesse, porque achei que nosso lance era sexo e pronto, mas nesses últimos anos o sexo praticamente acabou e mesmo assim ele pouco mudou, esta sempre disposto a me ouvir, sempre troca os amigos dele pra ficar comigo mesmo sabendo que não vamos fazer sexo. Somos a ferro e fogo, não tá rolando o meio termo em que vivíamos antes, não consigo mais aceitar as atitudes erradas dele e acabo me revoltando e ele a mesma coisa.

–-Ele ama você e disso nem você tem duvida, só não admite! Esse lance dele proteger você e trocar os amigos por você significa que ele prefere você e quer você bem.

–-Ele ficou desesperado porque andei tendo uns enjoos.

–-Então Jane, acha justo sair da vida dele por um capricho seu? Acha justo vocês perderem esse amor de louco que vocês tem um pelo outro?

–-Não é um capricho meu Alfred, eu só não posso oferecer mais nada pra ele, ele é maravilhoso e precisa de alguém que possa dar a ele o que ele quer e eu tô sendo um atraso na vida dele.

–-Jane, esse homem não quer mais nada além de você e você pode sim oferecer o que ele quer...

–-Alfred eu...

–-Ele quer que você se importe um pouco mais, que o escolha às vezes, que possam passar mais tempo juntos, que possam fazer carinho um no outro, se olharem nos olhos, sabia que o olhar de vocês um para o outro era o que mais incomodava Jas? Porque exalam o que sentem quando se olham, acho que ela não suporta a ideia de você ama-lo mais que seu trabalho, e digo mais, acho que foi ela quem te transformou nesse monstro doido por trabalho.

–-Credo Alfred, tô aqui me abrindo, falando do John e você fica me detonando.

–-Jane, tô sendo sincero, você acha que só você que pode?

–-Jas não é tão ruim, ela só acha que John foi desnecessário e que ...

–-Ah sem essa querida, Jas suga você Jane, o tempo todo, sempre vinha aqui e te atrapalhava quando você estava com John, ela não deve ter mudado muito nesses 5 anos e tenho certeza que tem dedo dela nessa sua crise conjugal.

–-Alfred té exagerando, ela não tem culpa de nada.

–-Então me diga qual foi a vez que ela te mandou fazer o certo e ficar do lado do teu marido?

–-Ela é quem me lembrava das coisas, inclusive, de algumas datas comemorativas, alguns compromissos com ele, ela me avisava em cima da hora, mas avisava.

–-Aposto que era de proposito, só pra você se atrasar e levar um esculacho do John, porque ela foi induzindo você a odiá-lo...

–-Mas eu não odeio o meu marido...

–-Mas você queria mata-lo.

–Eu só estava perdida, não...

–-Ela plantou isso em você, dia após dia durante esses 5 anos, só que nesse último ano funcionou muito bem, porque até numa crise vocês entraram e pararam de transar, e não venha me dizer que isso é desde o início porque sei muito bem o quanto vocês dois eram quente, haja colchão, estou mentindo?

–-Para Alfred, está me deixando constrangida.

–-Ah Jane, para de graça e vamos parar de falar naquela coisa ruim da Jas.

–-Tem ciúmes dela que eu sei.

–-Jane Smith, eu não tenho ciúmes daquela bicha ruim, tenho é pena, mal amada que quer transformar você nela, já que ela não consegue chegar aos seus pés.

–-Ela é minha amiga, Alfred.

–-Eu sei disso, mas brinca e ela mata seu marido enquanto ele dorme.

–-E se eu brincar você agarra ele.

–-Ai que ofensa! Já vi teu bofe desfilar de cuecas por esse apartamento, acho ele um gato, mas nunca nem passou pela minha cabeça uma coisa dessas, ele é seu e ninguém tasca, e eu protejo isso com unhas e dentes.

–-Eu sei, por isso você é meu melhor amigo e por isso é o único que sabe de tudo como realmente é.

–-Sei, sua peste, como larga um homem daquele?

–-Não sei, estou confusa, minha cabeça tá uma bagunça.

–-Ai Jane, porque você não liga pra ele e manda ele vir aqui e bagunçar você de verdade?

–-Porque eu não quero, vou sofrer mais se a gente conversar e...

–-Não é pra conversar querida, tem coisa muito mais gostosa para se fazer num domingo frio como esse.

–-Alfred, estamos brigados, vamos nos separar...

–-Acho que você tem que parar com essa graça de divorcio e conversar de verdade, frente a frente, olho no olho, para tudo acabar bem e ser uma pegação doida, como nos velhos tempos, boca na boca, pele na pele, aquela agitação maluca. Tá com saudade de quando você e John mandavam ver ai perto dessa janela, olhando para o céu como você já me contou?

–-Ah, Alfred para! Você fica me induzindo a pensar nele e nessas coisas do passado.

–-Para de falar que é passado e pega a porra do seu celular e liga para o seu marido vir aqui dar um jeito em você, porque senão eu mesmo faço isso.

–-Não vou ligar e você não se atreva.

–-Não me ameace querida, sabe como sou, se eu quiser eu faço! Além do mais, não aguento essa sua cara de morte, você está precisando de uma surra bem dada, e do seu marido John. Só acho.

–-E eu acho que a gente tá falando demais naquele filho da mãe.

–-Desculpa se é um assunto que mexe com você, queridinha.

–-Alfred para! Vamos ver um filme?

–-Eu escolho dessa vez, e se você chorar eu ligo para o John.

–-Tá louco, eu mato você.

–-Já disse para não me ameaçar, você é quem está na minha mão, eu ligo para o seu marido e resolvo seus problemas.

–-Meu ex-marido.

–-Olha aqui, fala ex que eu vou ligar, tá?

Rimos juntos e vimos filme com pipoca à tarde inteira.

À noite tomei um banho e fiz algumas ligações, agendei um horário com o advogado para arrumar a papelada do divorcio, marquei pra cortar o cabelo e fazer uma massagem e criei coragem para atender a uma ligação do John, depois de uma insistência desesperada dele.

–-Oi John

–-Querida, graças a Deus me atendeu.

–-Como você está?

–-Fisicamente bem, psicologicamente abalado e sentindo sua falta.

–-John, eu já marquei com o advogado.

–-E você como está? Onde você está?

–-Estou bem, estou num lugar seguro, não se preocupe.

–-Você disse que marcou com advogado?

–-Isso mesmo.

–-Jane, a gente precisa conversar, colocar as coisas a limpo, não da para agir no impulso do momento e...

–-Eu já me decidi.

–-Mas e eu, Jane?

–-Estou pensando em nós dois, mas você não entende.

–-Tá sendo egoísta e agindo da forma que acha mais convincente.

–-Só atendi mesmo para saber se você estava bem, porque me preocupo com você.

–-Não, não desliga, por favor.

–-Fala.

–-Por favor, vamos conversar, vamos tentar resolver isso da melhor forma pra nós dois, como um casal, nós dois, ai se realmente decidir pelo divorcio a gente...

–-Eu já me decidi John.

–-Se a gente decidir pelo divorcio, juntos, a gente assina a papelada, mas já te adianto que não vou fazer nada no impulso.

–-Não dificulta as coisas.

–-A gente precisa conversar, pode vir aqui, ou quer que eu vá ai no seu apartamento?

–-Como sabe que eu estou aqui? Me seguiu?

–-Não, eu juro que não, eu conheço você e sei que ia preferir ficar sozinha e muito menos ia pra casa da Jas, porque ela ia pisotear você falando de mim, aí chutei que você estava no sua antiga casa e acertei.

–-Jogou verde e colheu maduro.

–-Queria te pedir desculpas pelo que rolou na sexta e por ter dormido separado.

–-Não importa.

–-Nossa Jane, você me magoa sendo fria assim.

–-Tá, continua.

–-Eu me importo, porque fui pesado nas palavras com você, disse coisas desnecessárias num momento errado, quando você só queria fica bem comigo, me desculpe de verdade.

–-Vai ficar tudo bem agora, não vou mais te magoar com minha frieza.

–-Estou sentindo sua falta.

Fiquei quieta e quase desliguei, mas se eu fizesse isso passaria imagem de vulnerabilidade.

–-Não queria que nada disso estivesse acontecendo, queria que você estivesse aqui, mesmo que estivesse trabalhando.

–-Não fala do meu trabalho.

–-Não estou falando por mal, eu juro, só queria que voltasse pra mim querida, eu amo você e não sei como vai ser se você continuar com isso.

–-Vai se acostumar John, se acostumou com meu mau-humor, com minha frieza.

–-Eu me acostumaria com qualquer coisa desde que você estivesse aqui, mas agora é diferente.

–-Eu juro que você vai ficar bem querido, só precisa me ajudar, entende?

–-Sente minha falta?

–-Sinto falta da nossa casa. Ele fez silêncio e pude ouvir alguns ruídos do outro lado da linha.

–-Preciso desligar. Ele continuou sem dizer nada.

–-John.

–-Tudo bem, foi bom falar com você.

–-Sim.

–-Obrigada por atender e amanhã te mando uma mensagem pra gente combinar como vamos fazer.

–-Tá bem, tchau. Esperei que ele falasse alguma coisa, mas ele apenas desligou.

Eu desabei. Todo o tempo que me fiz de forte foi para o ralo, eu estava sofrendo, talvez mais do que ele. Chorei por um tempo, fiquei meio deprimida, não pude dormir pensando no quanto eu era uma idiota tendo o tratado daquela forma no telefone.

Fechei os olhos e me obriguei a dormir. Pelo menos dormindo eu teria a certeza de não estragar toda essa pose de forte que demorei tanto tempo pra construir.


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Notas finais do capítulo

Xo Jolies



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