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Capítulo 11
Capítulo 10 — Delegacia Central do Condado de Madrin


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



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  O coração de Lydia nunca bateu tão rápido, ela já estava do lado de fora dos portões de Westin Hills, torcendo para que Soul conseguisse cuidar da situação com a recepcionista enquanto discava o número de Alice com rapidez, seus dedos tremiam assim como todo o seu corpo, errou os dígitos três vezes antes de conseguir fazer a ligação.

— Lydia! — Alice atendeu no primeiro toque.

— Droga Alice, eu nunca poderia ter compactuado com isso.

— Calma, eu estou bem, tudo está indo de acordo com o plano. — Alice assegurou. — Estou dando uns minutos antes de sair e ir até Enzo.

— Não! Não! — Lydia gritou. — Você não pode ir até o quarto de um psicopata, você não pode fazer isso. Eu jamais poderia ter deixado você fazer essa besteira, droga Alice!

— Eu posso sim. Você não manda em mim, Lydia. — Alice grunhiu. — Não podemos ir embora sem nenhuma informação sobre Anonimato, foi por isso que viemos! Precisamos disso pra saber o que está acontecendo com aquelas pessoas e talvez com a gente.

Alice ouvindo um resmungo irritado de Lídia.

— Vamos ter problemas se não sumirmos daqui agora e voltarmos pra casa. Vamos pensar em um jeito melhor de resolver o que pode estar acontecendo. Eu quero que você saia e diga que está tudo bem para os enfermeiros, Soul está na recepção enrolando as mulheres. Venha com ele. — Lydia respirou fundo. — Eu estou mandando você sair daí, Alice. Agora.

Alice desligou sem dizer nada. Lydia soqueou o celular e o enfiou violentamente no bolso. Torcendo para que Soul conseguisse enrolar as recepcionistas a tempo de Alice fugir. Torcendo para que sua prima lhe ouvisse.

**

As paredes eram cinzentas e não havia nenhuma janela naquele quarto, o piso era gelado, a cama também. A porta era retangular e larga, parecia ser feita de ferro ou metal, e tinha apenas uma portinhola na parte superior dela, pela qual se podia ver o corredor. Alice nunca esteve num lugar mais bizarro e nunca se sentiu tão nervosa. Suspirou, passou as mãos úmidas de suor pelo cabelo e abriu vagarosamente a porta daquele quarto, que fez um rangido baixo.

Já do lado de fora, observou o imenso e estreito corredor, ela estava no início dele, no quarto número quatro. Podia-se ver pouco nitidamente a sala de recepção à sua frente, com uma mulher que falava no celular nervosa e apontava em direção do corredor incessantemente; e olhando para trás podia ver uma infinidade de outros quartos, e o restante do corredor, tão longo que parecia nunca acabar. Sem hesitar começou a seguir para a sala de recepção em passos curtos, para assim chegar porta de saída como Lydia havia mandado. Mas então ela parou, Alice parou e olhou rapidamente para trás, soltou um pequeno sorriso, observando a infinidade do corredor.

— Eu nunca obedeci a Lydia antes, e isso não vai começar agora.

Agora determinada, Alice virou-se e focou no longo corredor, e começou a seguir pelo interior dele, cada vez com passos mais velozes para não ser pega. Quando Alice já estava longe o bastante – o bastante para que não conseguissem vê-la da recepção – ela começou a correr e passar por quartos e quartos, então já estava na letra C. Sua testa suava de nervoso, seu coração pulava alguns saltos, sua garganta já estava seca e suas mãos trêmulas. Mas Alice não recuava, ela continuava a correr.

Finalmente a letra E chegou. Haviam placas com os nomes dos pacientes de cada quarto, e uma numeração em baixo.

Emily, quarto seis. Eduardo, quarto dez. Ella, quarto doze. EnzoEnzo Monroe, quarto treze. Alice estava parada em frente à porta do quarto do homem que escrevia as palavras maravilhosas que ela amava ler online, e ela jamais esperara achá-lo ali. Ao lado da porta, havia um recipiente de plástico pregado na parede, dentro dele havia duas folhas, e nelas continham informações sobre o paciente do quarto, era o seu prontuário.

Alice pegou as folhas e percebeu que eram exatamente as mesmas informações que estavam no site.

— É ele mesmo. — arfou Alice, colocando as folhas no lugar, apertando os próprios dedos.

Ela limpou a garganta e sacudiu os braços, umedecendo os lábios que instantaneamente secaram. Então ela colocou a mão no bolso interno da sua jaqueta e tirando de lá o molho de chaves.

— Ok, ok. — Alice murmurou para si mesma observando as chaves.

Como tudo ali, as chaves eram etiquetadas. Alice olhou para a parte superior da porta do quarto. Quarto de número treze. Voltou a olhar as chaves procurando aquela de mesmo número. E a achou.

— Isso é muito errado. — Alice sorriu, indo com a chave até a fechadura.

Alice remexeu a chave e sem demora girou a maçaneta e a porta se abriu sem rangidos. Revelou um quarto um pouco mais escuro do que o que ela estava. A garota adentrou nele um pouco assustada, mas esforçando-se para manter-se calma.

Coragem, Alice, coragem.

Ela percebeu que ao lado da porta havia um interruptor, ela ligou a luz. E agora tudo estava nítido e o homem que dormia na cama gélida, arregalou os olhos quando a luz foi acesa e os cravou em Alice, agora a loira estava cara a cara com seu autor predileto, Anonimato. O queixo de Alice caiu, ela sentiu como se ele estivesse em seus pés. Ela deu uns passos pra trás, até que suas costas encostaram-se à parede, sua garganta fechou e suas mãos suaram. Seu coração batia tão forte que doía. Era um nervoso intenso.

— Olá. — Alice sussurrou com a voz fraca, desencostando-se devagar da parede.

Enzo a observava com curiosidade.

— Quem é você? — perguntou ele, com os punhos cerrados e a voz rouca.

As veias de seus dois braços pulsavam. Sua sanidade estava voltando aos poucos devido ás séries de medicamentos e cuidados da clínica, mas ele ainda tinha ódio fulminante dentro de si por tudo e todos.

— Eu me chamo Alice. — sua voz estava travada, mas ela tomava coragem para chegar mais perto da cama de Enzo.

O autor permaneceu calado, observando a moça aproximar-se. Seus olhos seguiam seus movimentos esguios e receosos, era nítido o temor de Alice, mas sobre tudo sua coragem era imensa. Enzo começou a arfar, seus olhos esbugalharam e Alice começou a se afastar novamente, mas antes que pudesse dar o segundo passa para trás, Anonimato agarrou seus dois braços.

— Então, por que está aqui? — ele não gritou, mas sua voz carregava um timbre abusivo. E então, ele começou a apertar os braços da menina.

As feições de Alice começaram a mudar, suas sobrancelhas se inclinaram, sua testa começou a suar, sua boca se abriu pronta para gritar, mas som nenhum saía. Seus olhos estavam mais arregalados que nunca, seus pés se arrastavam no chão a fim de fugir dali, mas ela não conseguia fazer um único movimento. Alice se debatia contra as calosas mãos de Anonimato, seus braços queimavam com os apertões. Ela começou a chorar e gemer, Alice não conseguia sequer pensar direito.

— Solte-me, por favor. — Alice implorou, tentando reter suas lágrimas, puxando os braços. — Eu prometo ir embora.

O que deveriam ser gritos ensurdecedores saía como sussurros engasgados e sem ar. Alice sentia que nunca mais sairia dali.

— Embora?! Vai me abandonar também?! É fantasma! Fantasma como todos! Era um leitor fantasma também?! — Enzo continuava sacudindo os braços de Alice. — Você irá morrer!

— Fantasma? O quê?! — Alice gritou. — Tire as mãos de mim!

A menina era muito baixa, Anonimato não precisou de muito esforço para deslizar suas mãos pelo braço magricelo dela, chegando até seus ombros e apertando-os, e enfim agarrando seu pescoço. Ele subiu suas mãos pelo pescoço dela indo até a raiz dos cabelos da menina, puxando-os fortemente.

— Fantasmas! Leitores nojentos que lêem e agem como se nunca estivessem ali! — ele puxou a cabeça da garota até bem perto do seu rosto, gritando já em seu ouvido. — Desgraçados.

Alice soltou mais um grito desesperador.

— Pare, está doendo!

Ela estava quase ajoelhada ao lado da cama. O autor gargalhava. Ele estava repleto de ódio. Uma garota qualquer vinha zombar de sua vida, de sua história. Pelo menos, era no que ele acreditava. O autor puxou mais ainda os curtos cabelos de Alice, fazendo-a finalmente ajoelhar-se ao lado de sua cama.

As gritarias no quarto vinte e dois foram percebidas. Entraram dois homens no local que correram até a cama de Anonimato e lhe deram um sedativo com pressa. Quando o autor se rendeu ao efeito do remédio – não sem antes berrar de ódio uma última vez – soltou os cabelos de Alice, que correu desesperada para fora do quarto, sem ao menos olhar para os enfermeiros.

Seu medo movia suas pernas.

— Garota! — um dos enfermeiros gritou da soleira da porta, observando-a. — Volte aqui, agora!

Mas ela não parou nem por um nenhum segundo, continuou a correr como se não ouvisse nada. Vários momentos de seu encontro com Anonimato se passavam em sua mente como um filme de terror. A dor, os gritos, o desespero, o frio na barriga. Ela fechou os olhos fortemente deixando mais lágrimas descerem pelo seu rosto. Ela se sentia traumatizada e aterrorizada. Em choque, com o corpo paralisado e apenas as pernas se movendo com rapidez.

Ao passar pela sala de recepção, ela jogou o molho de chaves no chão o que chamou atenção dos funcionários e visitantes. Inclusive de seu irmão que assim que a viu, correu atrás dela. Antes de sair de lá, ouviu mais: Ei! Volte aqui, garota!

Ao cruzar o portão do hospital, continuou a correr, sem direção alguma, queria apenas se afastar o quanto pudesse daquele lugar. Quando virou a primeira esquina, já um pouco distante da clínica, sentiu alguém puxar sua mão.

— Socorro! — Alice fechou os olhos quando a tocaram e começou a se debater.

Soul chegou alguns segundos depois, ele estava ofegante.

— Alice, sou eu! — Lydia sacudiu seu rosto. — Onde você estava?! Demorou muito!

Alice afagou os próprios braços, caminhando lentamente pra trás, até se encostar ao muro gelado e fechar os olhos devagar. Soul chegou furioso.

— Por que você me deixou lá sozinho?! — ele virou-se pra Lydia, que desprendeu sua atenção de Alice para encarar o primo. — Passei todo esse tempo dizendo diversos números errados para as recepcionistas dizendo ser o número dos meus pais!

— Eu não tenho culpa se tive que tentar tirar sua irmã de lá de dentro! — Lydia começou a gritar. — E você sequer tentou evitar isso, esse desastre!

Soul soltou uma risada de descrença, cruzando os braços.

— E você por acaso fez? — ele arqueou as sobrancelhas. — Tentar limpar a merda depois de feita não a torna menos sua culpa! Sem contar que eu quis impedir e você foi a favor, Lydia!

— Ah, sério isso agora?! Você é um babaca, que se acha melhor que...

— Eu senti tanto medo.

 As palavras arrastadas e pesadas de dor de Alice cortaram a fala de Lydia. A garota começou a chora demasiadamente, interrompendo a iminente discussão. Lydia ficou travada observando a feição de Alice, que era ainda de terror.

— Me perdoa por ter te deixado sozinha. — murmurou Lydia, após puxar Alice para um abraço apertado, confortando-a em seu ombro. — É minha culpa.

Alice fungou.

— Não foi isso, Lydia. — ela disse, afastando-se da prima, olhando-a com os olhos molhados. — Se eu tivesse saído do quarto e vindo pra cá como você disse, estaria tudo bem. Mas não foi isso que eu fiz.

Soul se aproximou, limpando cautelosamente as lágrimas do rosto da irmã.

— O que você fez? — o garoto perguntou.

Estranhamente sempre da mesma forma. A voz de Soul carregava constantemente uma pitada de ansiedade e nervosismo, mas ele parecia ter o controle.

— Eu fui atrás dele, atrás do Anonimato. Eu o vi e ele me atacou. — Alice voltou a soluçar e estirou os braços ainda avermelhados.

Lydia soltou uma exclamação por impulso e logo a abafou.

— Meu Deus, Alice.

A menina respirou fundo e continuou a falar.

— Ele é louco. Louco de verdade. E tem algo sobre todas aquelas mortes que estão havendo, sobre Galeno, sobre o cartão que recebi, sobre tudo. Seja lá o que for, seja lá por que, tem algo a ver com... Leitores fantasmas. — Alice contou, gesticulando com os olhos pesados. — Ele falou sobre fantasmas, me chamou disso e disse que eu morreria. Eu não entendi nada, minha cabeça está doendo, eu estou morrendo de medo e... e...

Alice não terminou a frase, voltou a chorar em desespero e foi abraçada por seu irmão.

— Não precisa falar. Está tudo bem. — Soul tirou sua jaqueta e a entregou para Alice. — Cubra os braços, isso vai sumir logo, mas nossos pais não podem ver.

Alice fungou, mas assentiu.

— Não iremos te pressionar, quando você quiser explicar melhor tudo, você irá. — disse Lydia, passando o braço por cima do ombro da prima. — Agora vamos embora, está anoitecendo.

**

Uma das melhores coisas no Condado de Madrin eram os trens. Havia trem para todo o canto, a cidade era cheia de estações, mas infelizmente eles eram os meios de transporte mais lentos da cidade. Durante as duas horas que andaram nesse transporte chacoalhante, Soul e Lydia tentaram investir em conversas aleatórias com Alice. Mas eles falharam e a garota sequer abriu a boca durante todo o caminho, ela já havia parado de chorar, mas sua expressão ainda era tensa. Ninguém poderia culpar Alice. Ela esteve cara a cara com alguém que admirava por palavras, e pior do que isso, ela tinha quase certeza que este alguém queria matá-la.

E talvez ele quisesse, mas não por ela ser Alice. Enzo não odiava seus leitores por ser quem são, mas sim por fazer o que fazem. Todos eram Alices. Alices de alguém. Irmãos de alguém, ou pais, ou amigos, ou filhos. Mas todos eram fantasmas, e eles só podiam ser fantasmas de uma pessoa: Enzo.

Então, chegaram à sua casa. Alice ensaiava seu melhor sorriso fingido, mas não conseguia, então começou a elaborar uma boa mentira para explicar aos seus pais por que estavam chegando tão tarde em casa. Quando eles abriram a porta de entrada, um cheiro de batatas assadas foi inalado por seus narizes e automaticamente os três se sentiram melhor.

Eles adentraram em casa e Soul então fechou a porta. Enquanto tiravam seus sapatos, vinha da cozinha, com uma expressão furiosa e uma colher de pau na mão, Henri Ashter, pai de Soul e Alice, tio de Lydia. Sua roupa social estava meio amassada, como se ele já tivesse chegado do trabalho há algumas horas. Estava apenas de meias, algo que Lydia notou na hora já que detesta pessoas que andam apenas de meia pela casa absorvendo toda a sujeira do chão num belo par de meias quentinhas e branquíssimas.

— Onde vocês estavam?! — Henri gritou apontando para os três com a colher de pau que estava com resíduos de molho que respigavam no chão. — Eu estou ligando há horas! Horas! Lydia, já disse pra você não deixar o celular em casa! E Soul, eu falei para andar com ele carregado! Alice, minha filha, seu celular só dava caixa postal!

Henri estava ficando vermelho, respirou fundo e olhou para trás.

— Catarina, venha gritar com eles também!

Henri chamou a esposa, Catarina Ashter, mãe de Soul e Alice, tia de Lydia. A mulher veio da cozinha usando avental azul, por ele podia-se ver que ela ainda usava um vestido social vinho que chegava até o joelho, e seus pés ainda estavam marcados pelo salto. Aparentemente ela chegou junto com o marido.

— Agora eu vou voltar a mexer o molho. — disse o pai depois que sua esposa chegou à sala.

Catarina massageou as têmporas devagar, com os olhos fechados e depois os abriu vagarosamente e os cravou nos três adolescentes.

— Onde vocês estavam? — sua voz soava com calmaria, mas ainda assim muito aborrecida.

Alice passou as duas mãos rapidamente pelo rosto, mas antes que pudesse responder, Lydia disparou:

— Estávamos no cinema, saímos pra passear e vimos um filme idiota. Paramos pra comer, conversar e fomos num fliperama bem legal até. — mentiu Alice tranquilamente, cruzando os braços. — Estávamos nos divertimos, perdemos a noção da hora. É, foi isso. E os trens demoram muito pra sair da estação!

Soul e Lydia assentiram devagar, ainda com medo da reação da mulher. Catarina ergueu uma sobrancelha e olhou desconfiada para Alice, depois passou o olhar por Lydia e Soul, soltando um suspiro cansado.

— Não repitam isso. — a mãe foi sucinta. — Quero todos sempre com seus celulares. E em casa às sete horas, no máximo. Agora subam e tomem banho para jantar. Vocês têm aula amanhã.

Catarina retornou a cozinha. Soul, Alice e Lydia trocaram alguns olhares sugestivos, mas não disseram uma só palavra e subiram em fileira em direção aos seus quartos. Soul seguiu com rapidez até o seu e bateu a porta com força, e foi ouvido o clique na fechadura quando ele a trancou. Após entrarem no quarto, Lydia fechou a porta devagar e olhou Alice.

— Você quer ir tomar banho primeiro?

Alice sentou-se na ponta da cama e enviou um olhar incrédulo para Lydia.

— Você sempre quer ser a primeira a tomar banho. — Alice soltou um suspiro acompanhado de um olhar de negação. — Não precisa se sentir culpada, Lydia. Não precisa sentir que poderia ter evitado, eu sou teimosa. Eu teria feito aquilo de qualquer forma. E se eu quiser fazer, você não vai poder evitar.

Lydia apenas assentiu e seguiu para o banho. A frase de Alice ficou soando em sua mente. “Se eu quiser fazer, você não vai poder evitar.”.

**

A porta do banheiro foi aberta, e o vapor d’água quente com cheiro de sabonete invadiu o quarto. Lydia se aproximou da penteadeira branca, pegou sua escova e começou a desembaraçar os longos e cheios cabelos, acabou em menos de dez minutos, ainda em silêncio. Colocou a escova no lugar e receosamente sentou-se ao lado de Alice, que estava na mesma posição que antes, sentada na beirada na cama, mas agora ela estava com algo em sua mão.

Ela segurava o bilhete que recebera há algumas semanas: "Você está fora da minha lista, AlliVe. — Galeno Withlock".

— Alice. — Lydia pôs a mão no ombro da prima. — Ficar olhando pra isso, relendo e se remoendo, será pior. Vá tomar seu banho e vamos jantar.

Alice não respondeu, continuou olhando para o bilhete, apertando-o tanto que quase o rasgou.

— Isso me irrita. — sua voz estava baixa e rouca. — Eu não sei por que recebi isso. Eu não sei que lista é essa. Eu não sei se fico aliviada por está fora dela ou com medo. Não sei exatamente por não saber o que ela é. E esse Galeno? Ele não deveria existir. Não deveria me mandar bilhetes indecifráveis. Ele não deveria estar provavelmente matando, Lydia.

Lydia umedeceu os lábios enquanto mexia carinhosamente nas madeixas loiras de Alice, tentando encontrar uma maneira de dizer algo que tranqüilizasse sua prima.

— Galeno Withlock não é real, você sabe, eu sei, todos sabemos. O que estamos tentando descobrir é se há alguém por trás disso, alguém imitando o assassino da história. E essa pessoa está tentando te assustar. — Lydia tentava pôr certeza em suas palavras. — Eu não vou deixar.

Alice retornou a fitar o bilhete.

— Eu reconheço essa letra. Eu já a vi em algum lugar.

Lydia franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado, tentando olhar o bilhete.

— Não, Alice. Você só está olhando isso demais.

— Não, não é isso. Eu não sei bem de onde, mas eu conheço essa escrita, e essa letra. Eu não estou paranóica. — Alice interrompeu-a, insistindo. — Você precisa parar de achar que estou louca.

Lydia permaneceu em silêncio e Alice revirou os olhos, cansada, e colocou o bilhete de volta em baixo de suas cobertas.

**

Batemos na porta uma vez e ninguém abriu. Batemos uma segunda vez, ninguém respondeu. Então Buckerman arrombou a porta com um chute certeiro, e entramos na casa rústica, eu, ele e mais dois integrantes da polícia. Ouvi um fio de voz, vindo do andar de cima.

— Aqui, por favor.

Subimos, com nossas armas empunhadas, mas eu já sentia que não precisaríamos delas. Quando entramos no quarto, duas meninas estavam sentadas no corredor, com algumas manchas de sangue, mas não pareciam feridas. Lembro-me delas contando como haviam se sujado. Chegaram à casa, procurando por uma terceira garota e quando a encontraram, ela estava morta e havia sangue por toda parte. Uma das garotas apontou pra uma porta no fim do corredor, segui até lá e quando abri a porta vi uma menina pendurada pelo pescoço num ventilador de teto. Seu corpo coberto por cortes, desfalecido.

Não sei como, mas a partir desse dia eu soube que esse seria meu maior desafio.

Já era final da tarde, quando na Delegacia Central do Condado de Madrin, Elizabeth Marsh, delegada local, piscou seus olhos saindo de mais um devaneio. Após o acontecimento com Manoela Steenberg, adolescente que morreu fatidicamente em uma casa de praia, diversos outros casos se desencadearam no Condado de Madrin. Mortes similares, corpos deixados em posições parecidas e o último caso tinha sido o Joshua Martinel, garoto encontrado com os braços cortados no chão da cozinha.

— Há um padrão, Buckerman. — Marsh se pronunciou, após horas de silêncio.

A delegada Elizabeth tinha um propósito quase pessoal com o caso das mortes estranhas. Desde que o massacre tinha se iniciado, este era seu objetivo: desvendálo.

— São todos adolescentes, que liam online a mesma história, inclusive há um intervalo semelhante entre uma morte e outra. Definitivamente um assassinato com um código, esse assassino tem um objetivo. — A delegada rabiscava num papel. — Joshua Martinel foi a sexta vítima em mais ou menos três meses. Isso não pode se estender.

Buckerman concordava com a cabeça, parado ao lado da porta.

— É difícil acreditar que é um assassino quando os legistas nos afirmam que não há nada que prove a presença de uma segunda pessoa nas cenas de mortes, há indícios da presença da vítima. DNA da vítima, digitais da vítima, sangue da vítima. — o policial se pronunciou.

Elizabeth esmurrou a mesa, amassando o papel que estava rabiscando.

— Esse cara é habilidoso e sabe limpar rastros. — ela respirou fundo, roçando sua caneta em seu queixo. — Ele é esperto, mas nós somos mais, e nós vamos pegá-lo.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter vindo até aqui ♥