Loving can hurt sometimes escrita por Luna Lovegood


Capítulo 7
There's so much to be said


Notas iniciais do capítulo

A fic foi RECOMENDADAAAA! Estou tão feliz, a leitora Paloma fez uma recomendação mais que perfeita, falando coisas maravilhosas sobre a fic e sobre a minha escrita. Estou nas nuvens com as lindas palavras dela, Paloma muitíssimo Obrigada. ♥ ♥ ♥ ♥

Antes de leem tenho um aviso.

Em razão do capitulo passado ter deixado muita gente desidratada com tanto chororô, nesse eu prometo que as coisas serão mais calmas e explicativas. Depois voltaremos ao drama habitual.

Espero que gostem.



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You never said, you never said,

you never said that it would be this hard

Love was meant to be forever, now or never seems too discard

There's gotta be a better way for me to say

What's on my heart without leaving scars

So can you hear me when I call your name?

And when you fall apart

Am I the reason for your endless sorrow?

There's so much to be said

And with a broken heart

Your walls can only go down but so low

Can you hear me when I call your name?

(Call your name - Daughtry)


Felicity Smoak

A pequena viagem até o apartamento da Sara foi silenciosa. Ela parecia com medo de iniciar uma conversa e eu, bom, eu não estava com vontade de falar com ninguém. Ainda estava irritada e magoada, tanto com Oliver quanto com Sara, e minha cabeça latejava apenas em pensar no assunto. Toda aquela situação havia me esgotado emocionalmente e eu só queria  uma aspirina e não ter que pensar em nada disso por um tempo. Então naquele momento o silêncio foi muito bem vindo.

O apartamento de Sara e Nyssa era bem clean, mas decorado com vários objetos exóticos. Inclusive na parede atrás do sofá havia duas katanas em posição de xis, e muitas máscaras espalhadas pela casa. Achei incrível porque eu conhecia a Sara antes de se casar com a Nyssa e ela era sempre tão simples e básica, era interessante a forma como as personalidades das duas se misturaram para compor aquele lugar. O lugar delas.

Senti aquela onda de tristeza me invadir quando lembrei que eu também já tive um lugar assim, tentei varrer aqueles pensamentos para longe. Não queria pensar nessas coisas, não por enquanto porque tudo  que eu conseguiria fazer era chorar pelo que eu havia perdido, pelo o que eu pensei que tinha, pelo o que eu imaginava jamais ser capaz de recuperar outra vez.

Sara me acompanhou até um quarto que ficava ao final do corredor. Estávamos mudas até aquele momento.

— Você pode ficar no quarto de hóspedes, tem um banheiro logo em frente. — ela disse me indicando um quarto não muito grande, mas que parecia confortável, ela colocou minha mala ao chão. — Me chame se precisar de qualquer coisa. —ofereceu.

— Muito obrigada. — agradeci sendo cortês e me esquecendo de que eu estava com raiva dela.

— Pensei que você estivesse chateada comigo também. — Sara disse com esperança ao perceber o meu tom.

— Eu estou chateada com você também Sara, e você sabe que tenho razão para estar. — suspirei, eu não estava querendo começar uma discussão agora, principalmente quando eu mal tinha sobrevivido à última. — Mas as minhas opções eram limitadas ou eu ficava com o meu ex-marido mentiroso ou com a minha melhor amiga, que além de me manter no escuro, estranhamente tem defendido o meu ex-marido. — eu disse, mas minha voz não soou tão irritada como eu pretendia, apenas cansada.

— Você sabe que ele não é seu ex-marido, vocês ainda estão legalmente casados. — Sara falou e eu a fuzilei com o olhar, imediatamente ela assumiu uma postura mais séria, mas eu vi ela dando um quase sorriso quando pensou que eu não estava olhando. — Tudo bem, que tal fazermos assim: porque você não toma um banho descansa um pouco, enquanto eu faço algo para comermos e depois disso nós podemos sentar e conversar se você quiser — Sara sugeriu, mas acrescentou outra opção quando percebeu o quão cansada eu parecia. — Ou então podemos nos sentar na sala, comer bobagens e assistir filmes sem nenhum romance. Sem pressão. Eu só preciso que saiba que serei um livro aberto de agora em diante.

— Isso parece bom. — Concordei assentindo com a cabeça, aquele parecia um bom plano. Era por isso que eu decidi ficar com a Sara, não havia pressão com ela. Ela não me obrigaria a falar, não iria discutir se eu não quisesse.

Assim que Sara me deixou sozinha eu fui para o banheiro, joguei um pouco de água fria no rosto, me assustando com o olhar da mulher que olhava de volta para mim naquele espelho. Ela parecia exausta, havia círculos escuros debaixo dos olhos que estavam inchados e avermelhados de tanto chorar, minha tez estava sem brilho e eu parecia tão triste que eu mesma estava com pena de mim. Eu precisa me livrar desse peso que parecia me puxar para baixo, por mais deprimente que a minha vida parecesse eu precisava lutar contra isso.

  Me enfiei embaixo do chuveiro deixando a água apenas cair sobre o meu corpo, tentando me livrar da tensão daquele dia exaustivo. Fechei os olhos aproveitando a sensação da água morna sobre a pele, meus músculos e minha mente aos poucos relaxando...  Eu fiquei assim por horas, sem pensar em nada, limpando a mente de tudo o que aconteceu, fingindo que eu não havia esquecido apenas três anos da minha vida, mas todos os vinte e sete.

Aquele lugar vazio era bom, quase não havia dor ali. Eu queria ficar assim estranhamente sedada, mas havia algo forçando a minha cabeça, e quando percebi, um pequeno pedaço de memória voltava.

“Eu me lembrei de estar em um escritório grande o emblema da Palmer Technologies dançando na tela do computador a minha frente, eu mordiscava distraidamente uma caneta até que sons de passos batendo no chão chamaram a minha atenção. Eu olhei em direção a porta da sala e vi alguém entrando. Minha memória era imprecisa, eu não sabia dizer quem era, mas eu me senti imediatamente irritada com aquela presença, minhas mãos se fecharam ao redor da caneta com força e eu me endireitei na cadeira, pronta para um confronto, tentei focalizar no rosto da pessoa a minha frente, mas nada... tudo desapareceu com a mesma velocidade em que veio.”

Abri os olhos num rompante, sentindo o coração acelerado, eu estava quase me lembrando de algo e então a memória se foi. Eu imaginei que depois da lembrança daquele dia fatídico o restante viria também, mas tudo continuava um branco com exceção desse pequeno flash sem sentido.  Desliguei o chuveiro e saí do banho, me enrolei na toalha, desembacei o espelho com a mão e continuei a não me reconhecer. A única diferença de agora para antes era o meu cabelo molhado que pingava nos meus ombros, eu ainda parecia abatida, mas agora havia um estranho brilho de medo em meus olhos. Eu descobri que a vida  que eu acreditava viver era uma  grande farsa, e por mais que eu disse querer recuperar a minha memória, eu temia não reconhecer nada daquela mulher que eu me tornei naqueles três anos.

Quem eu era agora?

Voltei para o quarto e vesti um pijama simples e deitei de bruços sobre a cama. Fechei meus olhos com força tentando obrigar a mente a lembrar de algo mais, eu precisava mais do que aquele flash indistinto, eu queria saber quem eu era, quem eu me tornei depois que Oliver Queen me destruíra.

Mas eu apenas dormi.

Não sonhei.

Não tive pesadelos em forma de novas lembranças.

Acordei com Sara me sacudindo e dizendo que eu precisava acordar e me alimentar um pouco. Esfreguei meus olhos encarando minha amiga sentada na cama com uma bandeja com um sanduíche e suco de laranja ao seu lado. Me sentei, ainda sentindo meus olhos pesados de sono, mas meu corpo estava muito mais leve e relaxado. Bocejei enquanto me convencia a acordar completamente aquele tinha sido um cochilo restaurador, me surpreendi ao olhar pela janela do quarto e perceber que já estava de noite. Como poderia, eu havia chegado na casa de Sara pela manhã.

— Que hora são? — perguntei, fitando pela primeira vez a minha amiga.

— São oito da noite, — fiquei chocada com a sua resposta — você dormiu por umas onze horas direto. Precisa comer. — Ela disse arrastando a bandeja para mim.

— Eu não sinto fome. — a verdade é que eu me sentia um pouco enjoada.

— Você vai comer, eu não quero saber, Felicity, nem que eu tenha que enfiar a comida garganta abaixo. — arregalei meus olhos surpresa com o rompante de Sara, e eu que achava que ela seria a mãe boazinha e Nyssa a que coloca de castigo. — Ele está preocupado com você, não para de me ligar, e me fez prometer que iria acordá-la e obrigá-la a comer. — bufei com a revelação dela de que estava falando com Oliver.

— Eu vou comer, mas que fique claro que é apenas porque estou com fome.

Me endireitei na cama e comecei a comer o lanche que Sara tinha feito para mim, eu não tinha percebido a fome que eu sentia até começar a comer. Só então eu me recordei que a minha última refeição tinha sido o jantar na casa dos Queens na noite anterior e depois veio toda essa confusão, e claro, meu semi coma que me fez dormir quase doze horas.

Sara ficou o tempo todo ali comigo, se certificando que eu estava comendo. Me irritei, obviamente ela tinha que dar as informações ao novo amiguinho dela. Quando eu terminei ela me encarou com expectativa nos olhos.

— Então, não vai dizer ao seu novo melhor amigo, que eu já me alimentei? — para minha surpresa, apesar do meu veneno Sara riu.

— É fofo ver você com ciúmes da nossa amizade, mas não se preocupe, Felicity, ninguém poderá roubar o título de melhor amiga de você.

— Se você é minha amiga, por que concordou com a mentira? Não deveria estar do meu lado?

— Não é sobre escolher lados, Felicity, é fazer o que é certo.

— Oh, por favor! — devolvi ultrajada. — Ele me traiu, ele... — não consegui falar, senti meus olhos se encherem com lágrimas novamente e tive que pausar para respirar.

— Ok, vamos com calma aqui. Eu disse que poderíamos fazer isso sem pressão, que tal você ir devagar, escolhendo as perguntas que se sente pronta para saber as respostas? — sugeriu.

Suspirei. Eram tantas perguntas, eu não conseguia fazer o meu cérebro se organizar e focar em algo único. Eu queria saber o que realmente aconteceu nos últimos três anos da minha vida, se eu não estive com Oliver então que caminho eu tomei? Onde eu trabalhava? Onde eu morava? O porquê dela ter ajudado o Oliver, quando a obrigação moral dela como minha melhor amiga a obrigava a ficar do meu lado?

Era muitas perguntas, mas Sara estava certa, era melhor eu começar pelo mais simples e não colocar muita pressão.

— O que eu fiz com a minha vida depois de descobrir tudo? Eu tenho algumas memórias de vir até a sua casa e chorar muito, mas depois disso é tudo um grande branco. — contei.

— Você ficou comigo depois de sair da casa em que morava com Oliver, estava abalada e irritada, e sim, eu fiquei ao seu lado, eu prometi que se encontrasse Oliver Queen na minha frente eu iria chutar as partes dele tão fortes que ele jamais conseguiria usá-las outra vez. — dei um meio sorriso, isso soava exatamente como Sara — Você não ficou por muito tempo comigo, em poucos dias depois  da confusão você recebeu uma proposta de Ray Palmer para trabalhar para ele como vice-presidente, e então se mudou para Central City na mesma semana. Nunca mais voltou, jurou que nunca mais colocaria os pés em Starling. — eu estava realmente magoada — Você quebrou essa promessa vindo ao meu casamento, me disse que só a quebraria por algo que realmente valesse a pena.

Isso batia com a minha pequena recordação de mais cedo. E Uau. Vice Presidente? Não que eu duvidasse da minha capacidade, mas isso era grande e parecia de mais. Só que tinha algo me incomodando em toda aquela história. Ray era um ex-namorado, e embora tenha terminado tudo relativamente bem entre a gente, aquilo era estranho, a não ser que...

Oh, não! Fiz a pergunta torcendo para que a resposta fosse um com certeza não.

— Sara, por acaso o Ray e eu tínhamos alguma coisa? Eu quero dizer um relacionamento que fosse além do profissional? — eu perguntei mordendo a parte interna da bochecha enquanto inconscientemente prendia a respiração esperando a resposta.

Ela pensou por uns minutos. Minutos esses em que eu fiquei sem ar apenas esperando por sua resposta.

— Eu te perguntei isso uma vez, mas você negou. — respondeu — Mas parece que ele estava interessado porque sempre te convidava para esses “jantares de negócios” e teve aquela vez que ele te deu um colar de diamantes.

Finalmente soltei o ar, aliviada.

— Colar de diamantes? — perguntei aflita. Ele realmente devia estar interessado, pensei.

— É, mas você recusou. — Sara respondeu. — Pelo menos foi o que me disse. —assenti, eu não tinha razões para mentir para Sara, então com toda a certeza não havia nada acontecendo entre mim e Ray. — Outra pergunta?

— Eu era feliz em Central City? — não era isso o que eu pretendia perguntar, mas foi o que saiu.

Sara apenas me o lançou um olhar triste.

— Você vivia pelo trabalho, não falava se tinha amigos lá ou qualquer outra coisa. Eu não te visitava tanto quanto gostaria, mas a gente sempre se falava pelo telefone. Mas sendo honesta, você parecia muito solitária, Felicity. — Sara disse com um tom solidário.

Aquela não era a resposta que eu queria ouvir. Eu queria que ela dissesse que a minha vida lá era incrível, que eu havia superado a decepção amorosa, que tinha amigos e que era absurdamente feliz. Porque assim, quando as memórias voltassem seria muita mais fácil voltar e ser essa Felicity, vice-presidente, que estava bem e feliz longe do ex-marido traidor.

— Vamos lá, Felicity, para de enrolação e pergunte logo o que você realmente quer saber. — Sara falou me olhando nos olhos, esperando.

Ela estava certa, eu estava procrastinando.

— Por quê, Sara? Por que você permitiu que ele mentisse para mim? Porque colaborou com isso? Eu não esperava isso de você. Era suposto que você agisse como a minha melhor amiga e ficasse ao meu lado, me protegesse de ser machucada outra vez. — eu disse jogando a mágoa que eu estava guardando para fora, e  então continuei descobrindo que falar aliviava um pouco do peso dentro de mim — Quando tudo desabou, eu chorei no seu ombro. Você me ajudou a catar os caquinhos do meu coração. Eu não compreendo essa mudança. — as palavras saíram mais como um desabafo do que realmente uma pergunta.

— Felicity... Eu fiquei desesperada quando Oliver me ligou avisando do seu acidente e então ele me disse que você havia perdido a memória, que pensava que vocês estavam casados e felizes. E que ele não seria capaz de te contar a verdade e destruir a sua felicidade. — revirei os olhos eu já tinha ouvido essa desculpa antes. — Então ele sugeriu que contássemos tudo aos poucos, para dar tempo de você se adaptar a situação. Eu discordei veemente, mas depois de conversar com você por alguns momentos... Felicity, você havia acabado de sair de um acidente de carro e estava radiante, — Sara sorriu para mim — e eu não te via assim desde que você e Oliver se separaram. Me desculpe, eu sei que foi errado, mas eu acabei concordando com essa loucura, porque eu sentia falta de ver minha amiga feliz. — eu era uma pessoa de coração mole, eu já a estava perdoando — Mas eu juro, eu concordei apenas provisoriamente.

Absorvi as palavras dela e me lembrei da conversa que eu havia escutado dela com o Oliver no hospital ela dissera algo como “Eu não farei por você, farei pelo bem estar da Felicity”.

— Provisoriamente? — repeti sem entender.

— Sim, eu dei várias regras e o ameacei e também mantive meus olhos em você tentando evitar que Oliver se aproveitasse da situação.

Ergui minhas sobrancelhas, aquilo obviamente não tinha dado certo. Ele tinha se aproveitado sim, e não apenas uma vez, mas várias! Corei violentamente com esse pensamento e logo formulei outra pergunta:

— E porque você não me contou quando viu que o Oliver não ia fazê-lo, se o plano era dizer a verdade aos poucos?

— Eu queria tanto! Mas aí outras coisas surgiram...

— Coisas? Que coisas? — perguntei ansiosa.

— Primeiro tem o fato de que eu percebi que o Oliver realmente estava se empenhando em fazer você feliz — lancei à ela um olhar impaciente. — Eu sei, eu sei isso não é desculpa. Mas logo depois que eu te visitei no hospital, Oliver pediu para eu resolver a sua vida em Central City. — contou — Eu tive que ir ao seu apartamento para pegar algumas roupas, levar seu atestado médico no trabalho...

Eles realmente pensaram em tudo.

— Você invadiu meu apartamento?

—Tecnicamente, não é seu apartamento. É alugado. E você deixou a cópia da chave embaixo do tapete. Mas o ponto é que quando eu cheguei lá, não havia quase nada seu, a maioria das suas roupas não estava lá. — aquilo era estranho — Sua vizinha me disse que você tinha passado com ela carregando malas, e dizendo que ia  viajar e não tinha data para voltar. — Sara estudava meu rosto enquanto ia me contando. — E quando eu fui ao seu trabalho fiquei sabendo que você tinha se demitido poucas horas antes do seu acidente! — A voz dela estava empolgada.

— E daí? — não enxerguei o motivo da animação dela.

— Felicity, pense bem sobre isso... Você estava voltando para Starling City depois de três anos, o carro cheio de malas, tinha acabado de se demitir e, além disso, você carregava uma foto do dia do seu casamento no bolso... — Sara disse com os olhos brilhando, me observando absorver o significado das palavras dela. — Lembra da sua promessa? Você nunca voltaria para Starling, a não ser que fosse por algo que valesse a pena. E aqui está você.

— Isso não prova nada Sara. — eu disse teimosamente.

— Não, mas sugere muita coisa. Algo aconteceu naquele dia, algo grande o suficiente para fazer você querer jogar tudo para o alto e voltar para casa. Você só precisa se lembrar, Felicity. — Ela disse com olhos ansiosos me fitando.

 Eu precisava me lembrar.

Eu compreendi o raciocínio da Sara, aquilo estava estranho se eu tinha uma vida boa lá, (por favor, eu era vice-presidente de uma grande empresa!) eu não largaria o emprego dos sonhos se não fosse algo realmente importante... Tão importante quanto...

Sara sorriu ao perceber que eu havia compreendido.

***

Eu passei a noite inteira pensando na minha conversa com Sara. Aquilo me deixou com dúvidas, mas ainda não o suficiente para fazer desacreditar no que eu havia visto com meus próprios olhos. Oliver havia me traído, e a imagem dele e de Laurel juntos na nossa cama, ainda estava muito fresca na minha mente para que eu ignorasse tudo por um talvez.

Então eu ignorei todas as dúvidas por um tempo. Eu precisava de tempo para pensar e acalmar meu coração antes de fazer qualquer coisa. Eu não falei com Oliver enquanto eu estava no apartamento de Sara, mesmo sabendo que ele ligava regularmente querendo saber sobre mim. Eu peguei alguma dessas conversas algumas vezes. Era apenas doloroso demais pensar em Oliver, bastava ouvir seu nome e eu me sentia estranha, dividida entre sentimentos de raiva e amor. 

Eu apenas deixei os dias passarem, esperando que o tempo, como todos dizem curasse a dor e tornasse tudo mais fácil de lidar.

Eu tive alguns sonhos estranhos durante quase todas as noites. Pedaços de memórias, na verdade, tudo muito incompreensível e desconexo. Quando acordei após mais um sonho, dei de cara com um rostinho bem conhecido me olhando ansiosamente.

Thea estava sentada na cama ao meu lado, pés cruzados e expressão marota de quem iria me acordar se eu demorasse um pouco mais para despertar.

— Achei que você não fosse acordar nunca! — Reclamou. Seu rosto tinha um sorriso, mas que não chegava a tocar os seus olhos.

— O que faz aqui tão cedo? Seu irmão te mandou aqui? — perguntei, mas sendo mais grossa do que deveria. Era suposto que alguns dias longe me deixassem mais calma, mas eu me senti rabugenta ao encontrar Thea ali, me encarando com seus olhos claros, tão parecidos com os do irmão. Olhos esses que eu não queria confessar, mas os quais eu estava sentindo uma estranha saudade.

Thea me olhou tristemente sua expressão caindo com a minha reação. E eu fiquei arrependida imediatamente. Thea era uma boa pessoa, eu não devia descontar a minha raiva nela.

— Me desculpe por ser grossa. — falei arrependida.

— Tudo bem, você tem razão para ser, ele me mandou aqui para ser sincera. —suspirei — Mas eu vim porque eu quis, até parece que meu irmão consegue mandar em mim — eu ri, porque era a verdade. Oliver tentara muitas vezes colocar algumas rédeas na irmã, mas isso só a fazia mais rebelde. — Eu vim porque eu estava com saudades e porque queria conversar um pouco.

— Eu também senti sua falta, Thea. — Ela sorriu contente.

— Eu estou tão chateada que vocês dois se separaram outra vez, eu sei que o que o Oliver fez com você foi injusto, ele não tinha direito de mentir. Mas eu tenho a minha parcela de culpa nisso também. —Thea falou num tom de quem pede desculpas.

— Não, Thea, você não fez nada de errado.

— Sim, eu fiz. — discordou de mim — Eu deveria ter conversado com o Ollie, deveria ter o aconselhado a não ir por esse caminho.

— Não é como ele fosse te escutar. Oliver é um cabeça dura.

— Eu sei. — ela disse com um risinho — Mas, o ponto é que eu fiquei tão eufórica com a sua presença, tão feliz de ver vocês juntos que eu intencionalmente ignorei a realidade. Honestamente, desde que você deixou Starling City eu nunca mais vi meu irmão sorrir, ele vivia pelo trabalho, chegava a passar noites lá e estava tão triste durante todo o tempo. — Thea tinha um olhar perdido, de quem relembra um passado não muito feliz. — Felicity... Você trouxe o meu irmão de volta a vida. — Ela disse segurando minhas mãos com as dela. — Quando você voltou, eu o vi sorrir novamente, contar piadas e viver! Ele estava... feliz.

Me arrepiei com as palavras delas. Eu nunca pensei muito no quanto a nossa separação poderia ter afetado o Oliver.  Sinceramente, eu esperava que depois do flagrante da traição dele, Oliver apenas iria assinar os papéis do divórcio e seguir a vida dele com a amante.

Essa era outra coisa que estava me incomodando. Laurel. Nós havíamos nos encontrado aquele dia na Q.C. e o que ela havia dito mesmo? “lamento muito que as coisas tenham terminado do jeito que terminaram”. O que isso significava? Que ela havia dormido com o Oliver e lamentava que eu os tivesse pegado? Ela estava se desculpando por ter dormido com ele? E o jeito que ela havia entrando lá na sala dele com toda a liberdade chamando-o de Ollie... Isso me tirava do sério! Confundia a minha mente.

— Mas e a Laurel? — eu disse o nome dela com um desgosto palpável.

Thea pareceu surpresa com a pergunta, mas logo se recompôs.

— Sabe, só recentemente Oliver me explicou exatamente o que aconteceu entre vocês há três anos atrás. Ele é meu irmão e eu sei que a minha opinião não é imparcial e que eu não deveria me intrometer nesse assunto. — falou me olhando seriamente. — Mas, eu conheço Oliver a minha vida inteira, eu me lembro da época em que ele namorou com ela, e honestamente? Não foi nada demais. Mas quando ele te conheceu algo mudou dentro nele, como se pela primeira ele estivesse realmente apaixonado. Era irritante. Era engraçado. Era bonito. — Ela disse com um sorriso nos lábios. — O que eu estou tentando dizer é que o Oliver que eu conheço jamais abriria mão desse amor assim tão fácil, principalmente fazendo algo tão sujo. Mas a questão é... O Oliver que você ama, você realmente acredita que ele seria capaz de fazer algo tão ruim a você?

Fiquei muda diante do pequeno discurso de Thea. E do questionamento que ela fez no final. O Oliver que eu conhecia seria capaz de me trair?

—Vocês se amam é simples assim. — Thea finalizou o discurso orgulhosa de si mesma.

— Você acha que eu devia conversar com ele. — constatei.

— Eu quero que vocês conversem. E em razão da história que vocês viveram, eu acho que vocês se devem uma conversa. Mas eu também acho que você deve fazer isso no seu tempo quando você estiver pronta. — acrescentou.

Sorri, Thea era um amor de pessoa. E ela havia crescido e se tornado uma mulher madura, eu estava tão orgulhosa dela. Não acredito que perdi toda essa evolução. Não acredito que eu perdi tanto da minha vida em Starling City por que eu estava fugindo da dor.

Eu não sabia o que seria de mim e Oliver  depois de todas essas mentiras, talvez tenha sido tudo uma grande armação ou talvez não. O importante é que eu estava decidida a não fugir dessa vez, eu devia isso a mim mesma.

Eu iria atrás da verdade.

***

Oliver Queen

Já fazia três semanas, um dia, doze horas e alguns minutos que Felicity tinha saído pela porta do nosso apartamento com Sara, e minha vida simplesmente ficou parada naquele momento. Ela era a primeira coisa que eu sentia falta ao acordar, eu sentia falta de ter seu corpo quente agarrado ao meu, do cheiro doce dos seus cabelos, eu sentia falta dos seus sorrisos e de como em pouco tempo ela preenchera aquele apartamento cinza com sua presença e o tornara muito mais vivo.

Havia dias em que eu acordava e a saudade era tanta que eu fechava meus olhos e apenas me concentrava no som de sua risada, e fingia para mim mesmo que ela ainda estava ali, nesses momentos eu quase conseguia enganar meu coração. Há muito tempo que eu havia me esquecido do que era sentir a mais pura felicidade, mas no curto período em que tive Felicity de volta a minha vida eu pude viver isso outra vez. Por isso era tão difícil voltar a rotina de antes, não dava para simplesmente seguir adiante enquanto eu não tivesse uma resposta dela. Por isso eu ignorei deliberadamente todas as chamadas do trabalho, desmarquei reuniões importantes e minha mãe não parava de me ligar por causa disso. Se não fosse Sara para me informar como Felicity estava em cada minuto do seu dia, eu estaria surtando.

A quem eu queria enganar? Eu estava surtando de qualquer jeito.

Aquele segundo adeus ainda doía em mim, aquela decepção no rosto dela e o olhos tristes na minha direção... Saber que eu era o responsável por aquilo estava me consumindo por dentro.

Eu sabia que Sara estava fazendo o melhor tentando explicar tudo a Felicity, mas eu também sabia o quanto a minha loira podia ser teimosa quando estava magoada. E para meu desespero a única coisa que resolveria isso, seria tempo e um pouco de espaço. Eu dei isso à ela, mesmo sabendo que tempo longe dela era tudo o que eu menos queria. Mas quando eu já não aguentava mais eu liguei para Thea e despejei a coisa toda desde o começo. Minha irmã ficou desesperada quando soube dos pormenores e imediatamente foi para casa da Sara.

E eu fiquei ali, apenas esperando. Esperando que Thea convencesse Felicity de que eu a amava ou pelo menos que ela aceitasse me escutar. Eu fiquei esperando e tentando não perder as esperanças. Depois de tantos dias,  tantas ligações recusadas, eu  podia sentir a esperança sumir um pouco mais dentro de mim.

Eu estava preso  remoendo as minhas próprias lamentações como eu fazia durante a maior parte do meu dia,  quando escutei a campainha tocar e me tirar do meu transe. Fui até a porta impaciente, disposto a enxotar qualquer um que estivesse do outro lado.

Mas me detive quando me deparei com aquela visita inesperada.


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Notas finais do capítulo

Coisas importantes virão no próximo capítulo ;) vocês não vão acreditar o.O