Loving can hurt sometimes escrita por Luna Lovegood


Capítulo 2
Nigthmare


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente eu quero agradecer à todos os comentários de incentivo. Vocês não tem ideia da satisfação que é entrar no Nyah e ver que as pessoas gostaram da história e estão curiosos pelo que vem a seguir. Eu estava planejando postar só na sexta feira, mas fiquei tão eufórica com o feedback de vocês que não consegui esperar para postar o capitulo 2 (que foi literalmente escrito durante o meu horário de trabalho). Espero que gostem da continuação...



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Every night I rest in my bed

With hopes that maybe

I'll get a chance to see you

When I close my eyes

I'm going out of my head

Lost in a fairytale

Can you hold my hands

And be my guide?

Clouds filled with stars cover your skies

And I hope it rains

You're the perfect lullaby

What kind of dream is this?

(Sweet dreams - Cover Leroy Sanchez)

 

Felicity Smoak

Eu descobri que casa não significava o nosso aconchegante apartamento próximo ao Glades, o qual passamos o primeiro ano de casados decorando e preenchendo com lembrança de momentos felizes. Casa, nas palavras de Oliver, era uma moderna cobertura no centro da cidade. Eu não reconhecia nada ali. Para ser honesta eu não gostava de nada ali. Era tudo tão monocromático, preto, branco e cinza! Não havia cor nas paredes, não havia vida no lugar. E porque havia tanto aço inoxidável?

Eu não me sentia em um lar.

A sala era imensa e basicamente consistia em uma televisão gigante em uma das paredes, um sofá em L em couro preto, que parecia desconfortável, uma mesinha de centro de vidro e um tapete claro, as janelas cobertas por persianas cinzas impediam qualquer luminosidade de entrar ali. Era tudo tão artificial, sem cor, sem vida. É sério que nós tínhamos uma sala de jantar? Isso não fazia o menor sentido uma vez que nós sempre comíamos no chão da sala! E a cozinha. Meu Deus. Ela era a rainha do inox, nos eletrodomésticos, nos armários, nas bancadas, eu mal podia me mexer ser ver o meu reflexo em alguma parte. Eu me perguntava como eu cozinhava ali.

Oliver me seguia ansioso, enquanto eu analisava minuciosamente cada detalhe do apartamento que eu deveria chamar de nosso. Acho que ele estava esperando que eu me lembrasse de alguma coisa ao estar de volta aqui. Mas o local não me despertava nada, nenhuma mísera lembrança ou sequer uma sensação, estava tudo completamente em branco. Se não fossem pelos porta-retratos com fotos do nosso casamento no aparador da sala, eu duvidaria que algum dia Oliver e eu tivéssemos morado ali.

Talvez tivéssemos nos mudado recentemente e ainda não tivemos a chance de colocar um pouquinho da nossa personalidade.

Cheguei ao nosso quarto, e me deparei com a mesma paleta de cores preto, cinza e branco. E uma enorme cama King Size no meio.

— Hum... — eu deixei escapar num tom não muito satisfeito, enquanto analisava o que deveria ser o nosso ninho de amor.

— Só hum? — Oliver me perguntou com olhos ansiosos me fitando.

— É tudo meio masculino não acha? E falta um pouco de cor também, as persianas definitivamente precisam sair, seriam melhores cortinas claras para que a luz pudesse entrar — apontei ainda observando a falta de personalidade do lugar, sentindo saudades do nosso antigo apartamento — Onde estão nossos móveis antigos? Você tem certeza que eu aceitei deixar nosso antigo apartamento e me mudar para este de livre espontânea vontade? — indaguei colocando ambas as mãos em minha cintura e semicerrando os olhos para ele, desconfiada.

Oliver me deu um sorriso sem graça, se aproximou me abraçando por trás enquanto sussurrava no meu ouvido.

— Este fica apenas um quarteirão da Queen Consolidated... É mais prático, mas  você pode mudar tudo o que quiser. Pode pintar as paredes, mudar os móveis, as cortinas... — disse trilhando beijos da orelha até a base do meu pescoço me deixando completamente arrepiada. Fazendo-me esquecer completamente do quanto eu havia odiado o apartamento.

Ao menos isso continuava igual, Oliver sempre foi muito bom em me distrair.

— Oliver... — me virei dentro de seu abraço encarando seus olhos famintos — Nós podemos manter a cama, ela parece ser aconchegante e resistente... — eu disse sugestivamente.

Ele deu um riso rouco, se aproximou raspando a barba por fazer no meu rosto, arranhou um pouco, mas... Ai. Meu. Deus. Como aquilo era sexy. Eu totalmente devo ter implorado para ele deixar aquela barba por fazer.

O segundo beijo foi ainda mais intenso do que o primeiro no hospital. Mais faminto e urgente. As mãos dele não deixavam o meu corpo nem mesmo por um segundo e se insinuavam por debaixo da minha camiseta, e eu parecia estar ainda mais sensível ao toque de Oliver, onde quer que suas mãos tocassem a sensação fazia a minha pele queimar em brasa.  O beijo não era diferente, a boca de Oliver era familiar para mim, mas o beijo era diferente. Nossas línguas ainda se moviam em sintonia, como se dançassem a mesma dança, nossas respirações ofegantes se misturavam, mas havia algo mais naquela pulsante vontade de jamais parar de beijá-lo, como se a qualquer momento Oliver fosse desaparecer e eu precisasse tê-lo comigo antes que o perdesse. Eu senti que precisava de mais do que Oliver me dava, mais do seu beijo mais contato, sentir mais pele com pele. Desabotoei rapidamente a camisa dele e movi minhas mãos sobre seu abdômen rígido, as pontas dos meus dedos apreciando seus músculos que pareciam mais definidos do que eu me lembrava. Oliver parecia estar tomado pela mesma necessidade que eu, e tirou a minha camiseta de uma única vez e logo estávamos totalmente entregues ao momento.

Os toques se tornaram mais ousados, o beijo mais lascivo.

Eu já sabia onde eu queria que isso terminasse.  Envolvi o torso de Oliver com ambas as mãos, continuei a beijá-lo e a dar passos para trás tentando puxá-lo em direção a cama, mas percebendo onde eu queria chegar Oliver diminuiu a intensidade do beijo, reduzindo-o a um simples roçar de lábios, segurou minhas mãos com delicadeza as colocando ao redor do meu corpo - longe dele - e me afastou devagar. Pegou a camisa dele que eu havia jogado no chão e a vestiu, acabando com  toda a minha alegria.

— Eu achei que estivéssemos no meio de algo bom aqui. —reclamei.

— Nós estávamos no meio de algo muito bom. — me corrigiu, me fazendo sorrir e voltar a ter esperanças que logo ele destruiu. — mas você precisa descansar e se curar primeiro. São as ordens médicas, e eu não quero prejudicar a sua recuperação. — Oliver disse relutante, colocando uma distância segura entre nós.

Eu estava irritada e frustrada, meu corpo inteiro parecia queimar desesperadamente com o quanto eu queria Oliver nesse momento. Minha única satisfação foi perceber que eu não era a única excitada ali, ele queria continuar o que começamos tanto quanto eu.

Merda de ordens médicas.

— Três semanas é um tempo muito longo. — reclamei fazendo beicinho  e me  aproximando manhosamente, na esperança de fazê-lo mudar de ideia. Talvez eu pudesse mostrar Oliver que eu me sentia bem e recuperada o suficiente...

— Poderia ser muito pior, poderiam ser três anos. — ele disse, e a amargura na voz dele me surpreendeu  —  Apenas tome um banho e relaxe enquanto eu preparo o nosso jantar. — continuou com a voz mais leve  dessa vez, se aproximando acariciando o meu rosto com as pontas dos dedos e pousando um beijo casto na minha testa.

— Banho gelado pelo visto. — eu reclamei, consternada.

Oliver apenas deu uma risada gostosa me deixando sozinha no quarto.

O banho foi estranho, acho que por não saber onde nada ficava naquele banheiro imenso. Porém, o mais estranho foi quando eu abri a parte do armário que deveria ser a minha, havia muitas roupas ali, várias ainda com a etiqueta, reconheci algumas poucas peças mais antigas, mas a grande maioria eu não me lembrava de ter sequer comprado. Minhas bijuterias estavam ali e minhas maquiagens também. E as lingeries eram todas novas, haviam várias, algumas mais sexys do que deveriam, mas varri esse pensamento para longe, eu não estaria fazendo nada por longas três semanas.

Havia uma coisa pequena me incomodando, a sistemática do armário parecia toda errada, eu costumava dividir as minhas roupas pela cor e ali estava tudo desorganizado. Três anos e eu havia finalmente me curado do meu TOC? Acho que não.

Incerta sobre o que vestir peguei um conjunto qualquer de lingerie e vesti uma blusa de Oliver por cima. Era simples confortável e o melhor: com o cheiro dele, então ao menos isso me era familiar.

O “preparar o jantar” de Oliver Queen significava pedir comida no Big Belly Burguer, cumprindo a promessa que ele tinha feito a mim no hospital. Não que eu esteja reclamando, eu adoro aquelas batatas fritas super salgadas e lambuzadas de catchup. Nós dois nos sentamos no chão da sala e comemos enquanto assistíamos televisão. Me senti melhor por apesar de tudo estar diferente ao meu redor, Oliver e eu ainda tínhamos os mesmo hábitos.

Depois do jantar nos aconchegamos no sofá, que descobri ser bem confortável contrariando a minha primeira impressão, e tentamos colocar em dia alguns episódios atrasados das minhas séries favoritas. Oliver se deu ao trabalho de comprar todos eles.

Eu amo Oliver, mas ele é uma completa negação quando se trata de séries de tv, ou qualquer coisa que chegue próxima da palavra nerd. Por isso a diversão dele era testar a minha concentração na televisão enquanto ele me distraía com seus beijos e carinhos... Queria dizer que eu consegui ignorá-lo, que eu era forte o suficiente, mas falhei miseravelmente.

Depois de cinco episódios diretos de Doctor Who eu já estava bocejando pela décima vez quando Oliver deu o ultimato:

— Ok, Já chega, é hora de ir para a cama... — ergui os olhos para ele deixando claro o meu pensamento — Dormir, Felicity. — me corrigiu balançando a cabeça — Você está quase dormindo aqui no sofá, e a cama é mais macia.

— Amor... Só mais um episódio? — pedi fazendo o meu biquinho tradicional.

— Não. — ele negou tocando meus lábios com a ponta do dedo indicador e  dando o assunto por encerrado. —E nem adianta fazer biquinho. Ele perde, quando a sua saúde é a prioridade. Discussão encerrada.

Oliver simplesmente se levantou e me pegou no colo, como um bom homem das cavernas, me levando em direção ao quarto, e me colocou delicadamente sobre a cama. Ajeitou meus travesseiros e me cobriu com o cobertor e tudo, só faltou o beijo de boa noite para que eu me sentisse como uma criança. Oliver deu a volta na cama e esperei por ele se juntar a mim. Mas ele simplesmente apagou a luz e caminhou em direção à porta.

— Espere... Onde você vai? — eu questionei, quase em pânico. Ele estava me deixando ali sozinha?

— Você precisa descansar e eu pensei que seria melhor se eu... — ele pareceu encontrar problemas para se explicar. 

— Em que tipo de realidade distorcida eu iria querer dormir longe dos seus braços? — o interrompi antes que ele continuasse com o absurdo.

Oliver voltou para a cama com um sorriso feliz nos lábios e se acomodou ao meu lado. Ele suspirou quando repousei minha cabeça sobre o peitoral dele e me aconcheguei no seu corpo, Oliver pareceu pensativo e demorou um pouco, mas ele passou o braço ao redor do meu corpo, me segurando firmemente e bem próxima a ele. E naquele momento não parecia que três anos da minha vida tinham sido apagados da minha mente.

Era como um final de dia normal para mim.

***

Estava tudo escuro.

Mas aos pouco as imagens  e os sons vieram e com ela a dor.

Meus olhos ardiam de tanto chorar, e ainda assim mais lágrimas escorriam pela minha face sem que eu conseguisse controlá-las, meu coração palpitava tão rápido que parecia que ia sair de dentro do meu peito a qualquer momento, minhas mãos estavam trêmulas e geladas. Eu estava na minha antiga casa com Oliver. Sobre a nossa cama havia uma mala grande, onde eu colocava as minhas roupas todas emboladas e com pressa, sem sequer olhá-las direito.

Porque eu fazia isso?

— Felicity... Abra essa porta! Nós precisamos conversar! Você precisa me ouvir antes de tomar qualquer decisão... Por favor, apenas me escute! Eu ouvia Oliver implorar desesperadamente enquanto ele esmurrava a porta, mas eu não o deixei entrar.

Era Oliver, eu precisava deixá-lo entrar, mas não conseguia. Era como se eu estivesse presa em uma peça de teatro, incapaz de fazer algo que não fosse seguir o roteiro. E eu estava assustada, porque aquela era a minha vida, eu não sabia o que estava acontecendo com ela, mas eu conseguia sentir que era ruim.

Mas eu apenas continuei.

Eu deixei meu corpo cair ao pé da cama e fiquei ali por um bom tempo, eu já não tinha forças para continuar de pé, respirei fundo uma, duas, três,  cem vezes numa tentativa vã de me acalmar e retomar o controle da situação. Eu precisava sair e encarar o Oliver, aceitar que esse era o fim de tudo.

Enxuguei as minhas lágrimas e me levantei do chão, tomei uma respiração longa e profunda antes de destrancar a porta e sair do quarto puxando minha mala de rodinhas comigo. Oliver, que estava sentado no sofá com uma expressão sofrível, se levantou imediatamente, vindo em minha direção. Eu percebi que ele também havia chorado, o olhar dele estava desolado, e eu nunca o vi tão infeliz na minha vida. Algo dentro de mim se quebrava ao vê-lo assim e meu coração ansiava por tirar a dor dele. Mas eu não podia fraquejar naquela hora. Porque ele era o responsável pelo meu sofrimento, ele que estava acabando com o nosso casamento. Minha dor era culpa dele.

—  Não faça isso, fale comigo, amor, por favor, vamos conversar, me deixe tentar explicar tudo, Felicity. Ele implorou com a voz chorosa. Ficando entre mim e a porta da sala, me impedindo de sair.

Contei mentalmente até dez antes de responder tentando aplacar minha raiva.

— Eu não quero conversar, Oliver! Gritei, a voz se quebrando e as lágrimas ainda caindo Eu não estou em condições de conversar com você agora. Eu sequer consigo olhar para você nesse momento e não pensar... balancei a cabeça tentando me livrar de uma imagem mental que me causava asco Eu só preciso ir embora daqui, para que essa dor passe, para que eu consiga respirar de novo. Por favor, me deixe ir embora, Oliver. Eu pedi, em um fio de voz.

Eu mal conseguia respirar, as lágrimas nublavam minha visão e meu coração doía tanto dentro do peito que eu cheguei a cogitar que estivesse ferida fisicamente e não apenas emocionalmente.

Oliver olhou no fundo dos meus olhos parecendo enxergar através de mim e ver toda a minha dor, ele fechou seus olhos fortemente como se a minha dor o machucasse também. Ele balançou a cabeça e levou ambas as mãos ao cabelo como se não soubesse o que fazer, ou soubesse, mas tivesse lutando consigo mesmo. No fim ele cedeu e deu um passo para o lado, saindo da frente da porta e  finalmente me deixando ir.

— Felicity... Amor, acorda! — Oliver me balançava com cuidado na tentativa de me acordar. Eu já estava desperta, mas ainda um pouco em choque, por isso demorei tanto a respondê-lo.

— Oi. — foi a minha resposta eloquente, num fio de voz.

— Oi... — ele devolveu vagarosamente enquanto seus olhos me analisavam com evidente preocupação. — Agora me conte o que aconteceu! Você estava se debatendo, falando o meu nome, e chorando tanto que me apavorou. — Ele disse enquanto a sua mão veio em direção ao meu rosto, pousando suavemente em uma de minhas bochechas para secar algumas das lágrimas que ainda escorriam sem que eu tivesse algum controle delas.

— Foi só um pesadelo horrível. — desabafei, meu coração apertando enquanto eu me lembrava.

— Que falar sobre? — perguntou com a voz suave, eu não queria reviver aquilo, mas seria bom colocar para fora.

— Nós tínhamos brigado, eu não sei qual o motivo, mas eu estava saindo de casa com as malas, e você me deixou ir. — eu disse dando ênfase a última parte, e deixando pequenos socos no peitoral de Oliver culpando-o erroneamente pelas atitudes do Oliver do meu sonho.

— Foi só um pesadelo, amor.  Não há razão para se preocupar, tudo vai ficar bem agora. Eu não vou te deixar ir embora da minha vida. Nunca. —  garantiu com um olhar perdido. — Eu prometo — finalizou selando aquela promessa com um beijo singelo e cheio de sentimentos.

Eu tentei acreditar nele, tentei acreditar que nada ameaçaria a nossa felicidade, mas no fundo eu tinha aquela estranha sensação de que algo muito ruim iria acontecer.

***

Depois de tomar o café juntamente com os meus remédios para a dor, eu liguei para a Dra. Snow e expliquei sobre o meu sonho daquela noite. A verdade que eu escondi de Oliver é que eu estava apavorada que aquela pudesse ser uma lembrança. Ela me disse para não ficar preocupada que as memórias, caso voltassem, ocorreriam enquanto eu estivesse acordada e eu saberia discerni-las, e que meu pesadelo era provavelmente apenas resultado do estresse, e que eu deveria apenas descansar e não me preocupar. É sério isso? A resposta para tudo era descansar?

Mas ela também me disse que se eu quisesse e estivesse ansiosa demais por causa da amnésia, eu poderia marcar com um terapeuta que ele me orientaria melhor, e me explicaria tudo. Isso me deixou mais tranquila, eu marcaria um horário logo na semana que vem.

Recebi também uma ligação de Sara me avisando que ela e Nyssa passariam aqui mais tarde com as fotos do casamento para eu ver. Quem sabe assim alguma lembrança voltava? Então essa pequena reunião de amigos pedia algo especial: Pizza e meu vinho tinto favorito. Fiquei animada por um minuto planejando tudo, era bom ter com o que ocupar a mente, até que Oliver cortou a minha felicidade dizendo que de jeito nenhum eu iria beber naquela noite!

Quando Nyssa e Sara chegaram, todos nós nos acomodamos na sala de estar. Esperávamos a pizza chegar, enquanto eu olhava o álbum de casamento das duas. Sara e Nyssa ficaram lindas de noivas (sim, as duas usaram vestidos). Fui notando um padrão nas fotos: As primeiras eram apenas das noivas, depois com as madrinhas, eu e a irmã da Nyssa, Tália. Familiares e demais convidados. Foi então que eu reparei em uma ausência.

— Eu não vejo Oliver em nenhuma das fotos. — estranhei — Porque você não foi? — perguntei encarando Oliver que pareceu não saber o que me dizer.

— Oliver estava viajando a negócios e não conseguiu chegar a tempo. — Sara respondeu por ele.

Aceitei a desculpa esdrúxula por enquanto. Eu tinha certeza de que quer que tenha acontecido entre os dois fez com que Oliver sequer fosse ao casamento dela. Eu me pergunto como eu não consegui corrigir isso no passado, eu era ótima mediando às pessoas. Devia ser algo realmente grave, pensei.

Passei as fotos do álbum focalizando nos rostos, a maioria deles eu reconhecia exceto os parentes da Nyssa, é claro. Até parar em uma foto com Sara e a família Lance, o pai, a mãe e a irmã dela, Laurel.

— Por onde anda a Laurel? — questionei, apenas por curiosidade. Nós não éramos melhores amigas, mas também não éramos inimigas. Ela tinha namorado o Oliver antes de nos conhecermos, então era mais uma questão de marcar o território.

—Ela fez bem em sumir por um tempo. — Nyssa respondeu e notei uma linha de sarcasmo na voz dela. Sara e Oliver também notaram.

— Ela está há um tempo no Japão. — Sara tentou responder com evidente desinteresse, e eu percebi um olhar de bronca dela para Nyssa que apenas revirou os olhos.

Quando eu ia perguntá-la o que a Laurel fazia lá, não porque estava interessada, mas porque eu queria saber porque todo mundo agiu estranho com o nome dela, infelizmente fui interrompida pela campainha e não pude voltar ao assunto. Pelo menos a Pizza  tinha chegado! Talvez a comida deixasse as coisas mais amistosas entre  Sara e Oliver.

Oliver atendeu a porta e recebeu a nossa pizza, colocou-a sobre a mesa de centro da sala.

— Sara você pode me ajudar a trazer o vinho e algumas taças?  — Oliver pediu educadamente. E Sara o seguiu em direção a cozinha.

Foi então que eu tive a ideia.

— Eu já volto Nyssa, preciso ir ao banheiro. — informei.

Ela apenas assentiu. Fingi ir em direção ao banheiro, aproveitei que Nyssa estava distraída olhando as fotos do casamento e me virei em direção à cozinha o mais silenciosamente que pude. Parei logo na entrada e fiquei ali bisbilhotando a conversa de Oliver com Sara. Eu estava criando um péssimo hábito de ouvir a conversa alheia. Mas eu minha defesa ninguém me contava nada mesmo.

—  Está aqui — disse Sara, ao mesmo tempo em que e eu ouvi o que pareceu ser um tilintar de chaves — Peguei tudo o que tinha de mais essencial e pessoal lá. Mas não havia muito.

— Obrigado. E quanto ao trabalho dela? — Oliver perguntou.

— Bem, isso foi estranho, ela tinha se demitido naquele dia então eu não tive muito o que fazer por lá. — esclareceu.

— Não acha estranho?

— Eu acho isso o que estamos fazendo muito mais.

— Eu sei que tem razão, mas mais uma vez obrigado, Sara. — Eu ouvi a sinceridade na voz dele.

— Mais uma vez eu não fiz por você. — ela devolveu friamente.

Corri para a sala quando eu percebi que a conversa entre os dois já tinha acabado, cheguei lá um pouco ofegante. Logo em seguida Oliver e Sara voltaram com o vinho tinto, e suco para mim é claro.

Comemos a pizza e conversamos banalidades dali para frente, Nyssa e Sara estavam querendo pensando em ter um bebê, mas ainda não haviam decidido se adotariam ou fariam inseminação artificial. Falaram do apartamento novo e da segunda lua de mel que planejavam para o final daquele ano, elas iriam para o México... E meio sem querer eu acabei me chateando com a conversa, eu ri nos momentos certos, eu fiz as perguntas que me eram esperadas, mas internamente eu estava comparando a minha vida com a de Sara e Nyssa. Elas estavam juntas há menos tempo do que Oliver e eu, e a vida delas avançara. Enquanto nosso casamento estava do mesmo jeito de antes, estagnado durante três anos, nada aconteceu, nada evoluiu, nada se modificou exceto a nossa mudança para esse apartamento que eu odeio.

E ainda tinha aquela conversa estranha entre o Oliver e Sara, que ficava rondado em minha mente e que me fez ser uma péssima companhia pelo restante da noite.

Oliver e eu fomos para a cama assim que Nyssa e Sara partiram. Oliver me perguntou várias vezes se eu estava bem, se eu precisava de algo, se sentia alguma dor. Por mais que eu dissesse um educado “tudo está bem, muito obrigada por se preocupar”. Ele insistia. Sempre foi assim entre a gente, ele parecia perceber quando algo estava errado comigo e não descansava até que eu desabafasse com ele.

Então, eu decidi abrir o jogo, pelo menos parte dele:

— Oliver, nós estamos casados há quatro anos. Eu já estou com quase trinta anos. — disse a idade com desgosto — E eu imaginava a minha vida um pouco diferente.

— Diferente como? — a voz dele soou um pouco insegura e seus olhos me fitavam com receio.

— Filhos, uma casa sem tanto aço inoxidável para começar. — soltei logo a verdade.

Seu semblante imediatamente relaxou, e ele abriu um imenso sorriso daqueles que me roubavam o fôlego. Girou seu corpo sobre o meu ficando por cima, apoiando seu peso sobre os cotovelos e beijou meus lábios suavemente.

— Então é isso que está te aborrecendo? Não se preocupe com isso, amor. Nós teremos quantos filhos você quiser. — seus olhos brilharam apaixonadamente ao dizer isso — Mudamos para uma casa no campo bem rústica. Eu faço qualquer coisa para te fazer feliz. — beijou-me novamente.

Oliver falava sério. E havia um brilho diferente nos olhos dele, algo que eu traduzi como esperança talvez. Instantaneamente me senti melhor, me aconcheguei em seu corpo quente e logo adormeci, pensado nas perspectivas do meu futuro com Oliver, eu poderia ter perdido três anos da vida, mas eu ainda tinha muitos pela frente. Eu deveria ter tidos sonhos bons, mas ao invés disso fui assombrada pelo mesmo pesadelo da noite anterior.


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Notas finais do capítulo

E aí? Respondi algumas perguntas ou deixei vocês com mais dúvidas?
Espero que gostem... Bjs