O Diário de Yosafire

2 de julho

UM MONTE DE COISA ACONTECEU!

É, tipo, muita coisa mesmo! Não consigo nem acompanhar!

Ah, é, esqueci de me apresentar. Eu sou a Yosafire, uma demônio cheia de energia!

Bom, já que eu não vou conseguir lembrar de tudo sem a ajuda do pessoal, vou começar contando o que aconteceu recentemente.

Ontem aconteceu uma batalha enorme, que decidiu o futuro desse mundo. A batalha decidiu se nós todos morreríamos ou se seríamos salvos e teríamos nosso mundo de volta. Mas, apesar de tudo, nós vencemos, graças a todo mundo, principalmente ao Ivlis, que acabou com tudo de uma vez por todas, derrubando o Siralos no lago.

Sim, é uma história bem complicada. Depois que o Siralos foi morto, eu, a Etihw, o Kcalb, o Wodahs e o Ivlis voltamos para o campo de batalha para ver como estavam as coisas.

Aquilo estava uma bagunça. Anjos subordinados de Siralos lutavam contra anjos e demônios do Gray Garden e demônios de Ivlis. Os anjos do sol usavam roupas marrons e amarelas com desenhos de sóis, as pessoas do Gray Garden usavam roupas pretas e brancas e os demônios de Ivlis usavam roupas vermelho escuras, a maioria com óculos de sol e boina.

Quando viram Etihw, Kcalb e Ivlis chegando, eles pararam de lutar aos poucos. Alguns até já sorriam, imaginando que Siralos já tinha sido derrotado.

Grora viu Wodahs e correu para abraçá-lo.

“Atenção!” Etihw gritou, ao meu lado. Ela provavelmente tinha usado um feitiço para ampliar sua voz. Todos que lutavam voltaram sua atenção a ela e aguardaram para ver o que ela diria. Alguns continuavam lutando, mesmo assim.

“Parem de lutar agora! Siralos está morto, a Guerra do Sol acabou. Os que quiserem ser livres, parem de lutar agora, ou continue e sofra as consequências” ela continuou falando, agora fazendo com que todos parassem de lutar. E então, várias perguntas começaram. Vozes ecoaram para todos os lados e muitos vieram em nossa direção para perguntar o que tinha acontecido.

Eu quis deixar os adultos resolverem as coisas e corri para localizar minhas amigas, e, principalmente, minha mãe. Olhei para todos os lados, e finalmente vi uma garota de cabelos rosas que segurava uma espada, de costas para mim.

“Rawberry!” Gritei, sorrindo. Ela se virou, olhando atentamente, e quando me viu, abriu os braços para me abraçar. Eu corri e a abracei.

“Yosafire, vocês conseguiram! Salvaram o mundo!” Ela gritou, sorrindo. “Vou fazer várias geleias de insetos para você!” Agora ela sorria, lambendo os lábios. “Vai ficar delicioso!”

Eu acho que fiz uma cara de nojo, mas Rawberry não pareceu perceber. Eu contei um pouco sobre o que tinha acontecido lá no Jardim Cinzento, até que fui interrompida por alguém:

“Rawberry!” Era um grito realmente muito alto, vindo de não muito longe. Quando olhei para lá, vi que era Raspbel, a irmã de Rawberry, ao lado de Macarona, que provavelmente a estava trazendo até ali. “Eu senti tanto sua falta! Te amo!” Ela disse enquanto chorava de felicidade e corria para abraçar sua irmã.

Eu me emocionei com aquilo, foi muito bonitinho! O reencontro de irmãs!

E então, o Pégaso da Rawberry apareceu para cumprimentar Raspbel.

“Aaah! O que esse bicho tá fazendo aqui?” Raspbel exclamou.

“Calma, irmã, esse é só o Pégaso. Ele é meu amiguinho!”

“Rawberry, você não pode ter animais de estimação! Você não se lembra da vez que eu levei um coelho pro Castelo Black e entreguei ele pra você?”

“Poxa! A culpa não é minha se o Hofferson era delicioso! Além disso, eu não vou comer um cavalo!”

Saber que a Rawberry comeu o coelho de estimação dela me deixou assustada e confusa.

“Rawberry, o que você fez com o coelho? Tadinho!” Macarona disse, e depois começou a fazer bastante drama.

Após alguns minutos, ouvi minha mãe me chamando. Me virei e vi ela, segurando suas espadas duplas. Ela soltou as armas e correu para me abraçar. Lágrimas saíram de meus olhos. Todas aquelas batalhas tinham, sim, valido a pena. Meu final feliz estava ali, com minha mãe e com meus amigos. Nada poderia estar melhor. Foi, tipo, uma das melhores sensações da vida!

Conversamos um pouco, até que eu pedi um tempo e saí para encontrar alguém muito importante e especial. Minha mãe disse que ajudaria Etihw e Kcalb a fazer o que é que precisassem e me deu um beijo na bochecha antes de eu sair.

Aos poucos fui deixando de ouvir o som de vozes de todo mundo no campo de batalha e me aproximei do silêncio do Castelo Black. Olhei para o grande castelo, agora em ruínas. De um lado ao outro, pedras escuras estavam jogadas para todos os lados. Janelas estavam quebradas. Não muito longe, localizei quem eu queria ver: Froze.

Fui andando até lá. Dialo e Chelan estavam cuidando dela. Elas ainda estavam usando as armaduras roubadas dos anjos de Siralos. Andei silenciosamente sentindo o vento em meu rosto. Fui chegando cada vez mais perto, até que Chelan finalmente me viu.

Ela cutucou Dialo e apontou para mim. Eu sorri quando ela acenou e disse um “oi”.

“Oi gente!” Eu disse.

“Yosafire, vocês conseguiram!” Froze, que estava sentada e encostada na parede do castelo, exclamou. “Isso realmente me faz feliz.” Notei que ela não estava sorrindo, apesar de dizer aquilo. E depois de alguns segundos, ela até desviou o olhar de mim.

“Parabéns, garota! Eu sempre soube que você conseguiria! Agora vem aqui, nos conte como foi!” Dialo disse, sorrindo.

“Calma, depois eu conto! Primeiro quero ver se a Froze está bem!” Eu disse, me agachando e olhando para minha amiga.

“Eu tenho certeza que ela está bem. Nós fizemos um bom trabalho alimentando e curando ela. O que ela precisa agora é de bastante descanso. E então, deu uma surra no Siralos?” Ela perguntou, enquanto eu ainda observava Froze. Ela realmente parecia estar bem recuperada. Agora eu estava mais tranquila.

Vou parar um pouco para fazer uma observação. Eu não quero escrever o nome daquele deus do sol, então vou só falar Babaca, mesmo, certo?

Ok, continuando.

“Sim, eu descontei toda a minha raiva naquele babaca!” Eu contei, me exibindo. “Mas é claro que precisamos da ajuda de todos. Até da de Ivlis.”

“Mas o Ivlis não estava morto? O Wodahs não tinha feito o feitiço?” Dialo perguntou. Ela parecia surpresa.

Eu demorei um pouco pra explicar o que tinha acontecido, sobre o Ivlis ter perdido o braço, e etc., mas depois de um tempo tudo ficou esclarecido.

Depois disso eu resolvi ficar por lá, com as três, por mais tempo. Froze parecia mais quieta e séria do que o normal, se é que isso é possível. Mesmo assim, eu preferia um pouco de paz do que ouvir uma multidão, após tanta coisa que tinha acontecido no mesmo dia.

Nós até aproveitamos para tirar um cochilo, pois tínhamos ficado acordadas a noite toda e eu estava exausta.

Só me reecontrei com os outros no fim da tarde, quando os anjos do sol entravam no portal e voltavam até o mundo deles. Etihw e Kcalb davam um discurso para o pessoal do nosso mundo, falando sobre a paz, sobre Siralos, e tentavam convencer todos a aceitar que a guerra tinha acabado. Eles também pediam desculpas por todos os danos ocorridos. Foi um discurso bem fofo, afinal.

Eles também disseram que iam ajudar a montar tendas de acampamentos, já que não era seguro ficar nos castelos. Seria temporário, até que tudo se estabilizasse por lá. Fui andando em meio à multidão para falar com os dois quando eles terminassem de falar. Demorou mais um tempão até eles terminarem, mas depois disso fui cumprimenta-los.

“Então, como vão as coisas?” Perguntei.

“Os demônios e anjos do sol foram de volta pro mundo deles com Ivlis. Ele vai resolver os problemas por lá. Isso, pelo menos, está resolvido. Agora, sobre o que vai acontecer aqui, ainda é um problema. A situação parece meio instável” Etihw me disse. Eu não entendi muito bem o que ela queria dizer. Para mim, todos iriam aceitar a paz, tipo, de boa, e fim. Mas pelo o que ela dizia, isso não aconteceria tão fácil.

“Tem algumas pessoas que aceitaram a paz e estão tentando ser amigos do lado oposto. Porém, muitos só acharam que a guerra iria parar enquanto Siralos estivesse nos ameaçando, como se fôssemos aliados temporários, e depois iria voltar. E ainda precisamos avisar as pessoas das Vilas dos Anjos e dos Demônios, o que eu acho que é a parte mais difícil. A maioria lá é de adultos, que são os mais conservadores, afinal já sofreram na guerra a vida toda e perderam muitas pessoas amadas.” Kcalb explicou. Após aquilo, fiquei bastante preocupada. Eu só queria que tudo desse certo.

“Mas... Mas... Por que eles não aceitariam a paz? Se a guerra continuar, apenas mais pessoas vão morrer!” Exclamei, levantando os braços.

“Seria ótimo se todos pensassem como você, Yosafire” Etihw me disse. “Mas é muito mais complicado do que isso... Além disso, me culpo bastante por não ter trago a paz antes, pois já houveram várias chances. De qualquer maneira, estamos prontos para aceitar qualquer coisa que nos pedirem para nos desculparmos por tudo isso. Não é, Kcalb?” Ela olhou para o diabo, que estava olhando para Etihw enquanto ela falava. Ele rapidamente desviou o olhar.

“Exato. Nos responsabilizamos por várias coisas e queremos fazer de tudo para consertar nosso mundo” Ele afirmou.

Nós conversamos mais um pouquinho, mas logo eu resolvi me reencontrar à minha mãe e esperar Etihw e Kcalb montarem uma barraca para a gente poder dormir. Eles estavam fazendo tudo aquilo por magia, o que facilitava bastante. No fim, tudo deu certo e fomos dormir. Mas, antes de eu me deitar, minha mãe me deu um presente: um caderno que ela achou na Vila Secreta. E... Agora estou escrevendo nele. Virou o meu diário.

Além disso, ela me deu um suéter vermelho, igual o que tínhamos planejado, seis anos atrás. Eu fiquei muito feliz, sério! Eu amo a minha mãe! De verdade, amo ela pra caramba! Obrigada, mãe!

10 de julho

Uma semana se passou, e as coisas parecem estar melhores! Passei os últimos dias me divertindo com as minhas amigas, e dormindo todas as noites na barraca com a minha mãe. No entanto, novas ideias estão surgindo!

Etihw e Kcalb estão planejando a construção de um lugar para todos morarem, anjos e demônios, em paz e harmonia! Bom, o lugar deverá se chamar Vila Gray, em homenagem ao antigo deus Yarg, e contará com a ajuda de todos para sua construção, tendo assim o objetivo de aproximar anjos e demônios.

E também há alguns planos da construção de um castelo, que vai tomar o lugar do campo de batalha. O nome vai ser Castelo Blancblack, que é, obviamente, uma mistura do Castelo Blanc com o Castelo Black.

Eles pediram ajuda para a Froze para planejar toda essa construção. Na verdade, também pediram a ajuda de outras pessoas, mas estou muito orgulhosa pela minha amiga!

Amiga...

É, continuando... O progresso de amizade entre anjos e demônios está muito bom. Algumas pessoas que odiavam muito o outro lado, como a Raspbel, agora estão muito mais mente aberta. A própria Raspbel está fazendo amigos anjos, tipo um cara de cabelos azuis que eu não conheço.

Eu e as minhas amigas somos vistas como um exemplo. Nossas histórias de como nos perdemos na floresta estão se espalhando para todos os lados, e tem horas que eu ouço várias outras versões. Por exemplo, tem uma que diz sobre como e fui corajosa e enfrentei o leão de seis braços sozinha! E outra que diz que eu fui atingida por um feitiço do Babaca pra salvar as minhas amigas! É, essas histórias são bem legais, afinal.

Ainda queria saber por onde andam a Greif e o Lowrie... Saudades deles.

11 de julho

Essa noite, lá pelas nove horas, pedi para minha mãe se eu podia sair para... Ver a lua. Sim, eu gosto de observar a lua, as estrelas. De todas as estrelas, acho que só tem uma que eu não gosto (o Babaca).

Enfim, fui andando. Não estava muito calor, então eu fui usando o suéter que a mamãe fez pra mim. Quando olhei ao longe, vi que a lua cheia estava brilhando muito aquela noite. Ela parecia enorme no céu. Eu queria andar até o alto de uma montanha e ficar lá, sozinha, observando.

Fui andando e observando aquele lindo mundo, cheio de flores, enquanto subia um morro. E então, cheguei até o topo. Achei que estaria sozinha, mas já havia alguém lá.

“Uh... Velho?” Eu disse, ao ver Kcalb, lá, sentado, observando o luar. Ele pareceu se assustar quando ouviu minha voz. Calmamente, virou-se e me viu.

“Ah, oi, Yosafire.” Após me ver, ele se virou novamente para o céu e continuou olhando para a lua. “O que faz aqui?”

“Eu vim ver a lua cheia. E você, o que veio fazer?”

“A mesma coisa. Eu gosto de observar o céu, e principalmente a lua cheia” Ele me disse. “É realmente algo bom. Sabe, me faz me sentir feliz de estar vivo.”

Eu dei um pequeno sorriso.

“É, realmente.”

Então, uma pergunta se criou em minha cabeça.

“Ei, Velho.” Ele pareceu irritado por eu o chamar de Velho, mas eu não liguei. “Tenho uma pergunta para você.”

“Sim?”

“Bom... É meio complicado. Depois de tantas coisas que aconteceram... É que, quando eu estava com a Froze após nós chegarmos aqui no Gray Garden, nós encontramos a Igls, certo?” Eu comecei a falar. Kcalb mantinha seu olhar na grande lua brilhante. “E nós lutamos com ela, até que chegou um certo momento que aconteceu uma coisa muito estranha.”

As lembranças daquela cena vieram à minha mente nesse momento.

“Eu me senti diferente. Parecia que eu era outra pessoa. Alguém muito mais forte e... mau. Do nada, apareceu um poder negro na minha mão. Eu podia ter matado a Igls naquela hora, mas a Froze gritou para que eu parasse. E depois ela me disse que meus olhos tinham ficado totalmente escuros naquela hora. Eu me senti realmente mal depois disso.”

Eu fiquei quieta após contar aquilo, observando a luz do luar. Era realmente algo bonito de se ver.

“Então, qual é sua pergunta?” Kcalb perguntou, após alguns minutos de silêncio.

“É... Sempre tiveram essas histórias, sabe? De que demônios são maus, de que demônios são sempre os vilões. Têm livros na biblioteca que falam sobre outros mundos, e na maioria os demônios são tratados como os vilões. Então... Será que porque eu tenho magia negra... Isso me faz má?” Perguntei, seriamente.

Kcalb deu uma pequena risada.

“O que foi? Eu disse algo de errado?” Perguntei.

“Yosafire, por que você acha isso? Depois de tudo o que você fez, ainda acha que pode ser uma pessoa má? Bom, existe, sim, magia que pode ser usada para o mal. Mas você não nasce com ou sem ela. Existem os mais variados tipos de magia, diferentes em cada mundo. No nosso mundo, por exemplo, existe a magia branca, contida nos diamantes de Etihw, e a negra, contida em meus diamantes. No mundo de Siralos, existia a magia do sol, que era dividida entre luz e calor. E em outros mundos, existem outras variações. Mas qualquer uma pode ser usada para o bem ou para mal. Quem precisa escolher é você.

Um exemplo é que, no passado, já existiram anjos que sabiam fazer magia. Um, que por acaso me lembra muito sua amiga Froze, sempre usou sua magia para o mal. E também houveram anjos que usaram sua magia apenas para cura e outras coisas boas. A mesma coisa com demônios. O seu tipo de magia nunca vai decidir sua personalidade. Yosafire, você é a pessoa mais pura que eu conheço. Sua alma é boa e sem ódio. Não duvide mais de si mesma” O Velho explicou, calmamente. Ele foi bastante compreensivo.

“É, você está certo.” Falei. “Obrigada, Velho.”

“Ei, Yosafire. Se você quiser, mais para frente, posso te ensinar o que sei sobre magia. Você poderá ser uma boa bruxa se aprimorar seus poderes” ele disse.

“Sério? Aww, obrigada!” Eu disse, sorrindo.

Depois, continuamos a conversar. Sobre desejos, estrelas cadentes, e memórias que a lua nos trazia. Foi um ótimo passatempo, mas logo voltei para o Campo de Batalha para dormir, e deixei Kcalb lá, sozinho, observando o grande e brilhante luar.

21 de julho

Os projetos para a construção da Vila Gray estão prontos! Várias casas vão ser construídas, e a Vila ocupará um grande espaço em uma planície aqui por perto. Estou muito ansiosa!

Enquanto isso, Froze parece estar me evitando. Eu me pergunto o porquê...

22 de julho

Começamos a construir! Vários anjos e demônios estão pegando os materiais, enquanto outros já começaram a construir as casas, e Etihw e Kcalb também ajudam com magia.

Froze ficou inspecionando o dia todo, junto com Grora. Mas então, no final do dia, eu vi ela saindo e indo para uma das florestas. Como eu sou curiosa, fui atrás para ver se ela estava bem.

E aconteceu uma coisa muito... incrível! Eu provavelmente estou vermelha enquanto escrevo isso, mas vamos lá!

Eu fui andando e cheguei até uma floresta de pinheiros, mas não consegui localizar a Froze no começo, então comecei a procurar por ela. Mas depois de alguns minutos, finalmente a encontrei. Ela estava sentada no chão, encostada em uma árvore, e de olhos fechados. Achei que ela estava cansada.

Fui aproximando, calmamente, e quando cheguei perto, eu falei:

“Oi, Froze!” Talvez eu tenha falado muito alto, porque ela abriu os olhos assustada.

“Yosafire, pra que gritar?” Ok, eu realmente falei muito alto.

“Ah, desculpa” eu disse, dando uma risadinha pra descontrair. “Então, o que você ta fazendo aqui?”

“Eu tô descansando. Fiquei o dia todo trabalhando, agora eu fiquei esgotada. E o que você está fazendo aqui? Não ia pensar na decoração da sua casa?” Ela até parecia um pouco grossa.

“É... Eu devia estar fazendo isso, né? Ok, acho melhor eu voltar pra lá, desculpa incomodar.” Eu fiquei um pouco decepcionada por ela parecer tão desconfortável com a minha presença. Então, comecei a andar, e aí...

“Não, Yosaf! Espera!” Ela me chamou quando eu comecei a andar para longe. E então, eu me virei. “Me desculpa, eu fui meio grossa. Por que você... não se senta aqui do meu lado?”

Então, eu sentei do lado dela, mas ela não disse nada.

“Froze, eu não vou mais ignorar isso. Você está mais séria do que o normal ultimamente, o que tá acontecendo?” Eu perguntei, finalmente.

“É que...” Ela não parecia querer falar.

“Froze, você pode falar qualquer coisa pra mim, ok? Eu consigo guardar segredo. Por favor, apenas fala.”

Ela ficou observando o pôr do sol e demorou alguns segundos para falar.

“Certo. Vou parar de ignorar meus sentimentos. Na verdade é tudo por culpa deles. Sabe quando nós estávamos na prisão? Acho que foi a vez que eu mais fui sincera na minha vida. E agora eu... não consigo olhar pra você sem ficar com vergonha.” Ela olhou para baixo.

“Froze, o que é isso? Eu não te julgo, nem nada. Eu ainda te amo! Viu? Acabei de dizer isso, e não estou com vergonha. O tempo todo eu vivo falando pra todo mundo como eu amo eles! Te amo, igual eu amo todos os meus amigos.” E por um momento eu achei que tinha sido um erro ter dito isso.

“Igual... a todos os seus amigos?” Ela disse. Nesse momento ela começou a ficar vermelha, e eu também. “Yosafire, eu também amo os meus amigos, mas… Você…” Ela me beijou. Agora eu estou gritando.

30 de julho

Agora já temos as primeiras casas prontas. Essa vila vai ficar incrível! Bom, a Etihw e o Kcalb estão planejando ir para a Vilas dos Anjos e a dos Demônios para finalmente dizer que a guerra acabou. Só percebi agora que eles não sabem de nada do que aconteceu recentemente. Eu e as minhas amigas vamos junto, afinal, como disse anteriormente, somos vistas como exemplos. Espero que tudo dê certo. E eu passarei a viagem toda do lado da Froze...!

3 de agosto

Ok, acho que tudo deu certo. Os anjos e demônios de lá foram mais compreensivos do que eu pensava. Na verdade, a maioria está feliz, principalmente os pais que sabem que os filhos não precisarão ser levados para a batalha.

Estou feliz que tudo está se encaixando!

4 de agosto

Hoje eu tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Vou falar uma de cada vez. A boa é que... O LOWRIE E A GREIF FINALMENTE APARECERAM POR AQUI!

Eles ficaram felizes que a guerra tinha acabado, e queriam um local fixo na Vila Gray em vez de apenas viver nas florestas. Eles até gostariam de ter um emprego se pudessem. E é aí que vem a notícia ruim...

Eu não sei por quê, mas Greif e Lowrie sempre quiseram ser... professores. E parece que... eles vão ser nossos professores quando a escola estiver pronta. Estou me sentindo traída, achei que eles eram legais.

8 de setembro

A minha mãe disse que queria visitar a nossa antiga casa, que ficava lá longe, numa floresta de pinheiros. Ela só queria ir lá e observar, ter lembranças. E eu fui junto, para termos uma viagem de mãe e filha.

Nós viajamos a cavalo e ficamos alguns dias lá. Foi realmente aliviante poder relaxar um pouco. Vi muitos lugares legais, respirei o ar puro… Ah, foi muito legal!

Mas também fiquei feliz de voltar e reencontrar todo mundo!

29 de novembro

A construção da Vila Gray finalmente terminou! Temos casas pra todo mundo, e é realmente bastaaante casas! O pessoal das Vilas dos Anjos e Demônios já se mudaram para cá e estão se alojando! Temos também várias lojas, restaurantes, etc. Além disso, a escola está muito bonita!

Eu fiquei feliz que conseguimos terminar bem agora, porque logo vai começar a nevar e não seria bom ter pessoas sem casa nessa época do ano. Agora, todos vão poder ficar quentinhos em suas casas com suas lareiras acesas. Vai ser ótimo!

Além disso, a Etihw pensou em algo que vai facilitar a vida de todos nós. Ela pretende criar uma rede de celulares e de Wi-Fi feita com as pedras brancas. Eu não sei muito bem como isso vai funcionar, mas ela diz que vamos poder nos comunicar a tempo real em longas distâncias! Isso deixou todos empolgados.

25 de dezembro

Eu sabia! Eu estava esperando por esse dia! Eu sabia que o Papai Noel viria nos visitar no Natal. Ele ficou bem feliz de ver que nós fizemos as pazes mesmo se ele por perto. No final, ele deu presente para todos nós, e enquanto ele estava aqui, um sentimento de paz e harmonia surgiu em mim. Quando ele foi embora, agora de noite, esse sentimento não era tão grande. Acho que é a Magia do Natal entrando em nossos corações.

Foi um dia muito harmonioso. Nós ficamos com as nossas famílias e amigos e só comemoramos. Por falar em família, vou falar um pouco das famílias das minhas amigas.

A Froze tem um pai e uma mãe super legais. Eles moravam na Vila dos Anjos por não ter mais condições de lutar. A Macarona também tem um pai e uma mãe muito legais, mas eles tinham saído pra procurar ela quando ela ficou desaparecida na floresta, então eles não presenciaram nenhum dos eventos com o Siralos. A Etihw e o Kcalb ficaram gratos de ajudar a encontrar eles quando tudo acabou.

E também tem os pais da Rawberry e da Raspbel. Eles moravam na Vila dos Demônios, então eu nunca tinha conhecido eles. Parece que tudo está perfeito e em seu devido lugar. Eu não poderia estar mais feliz!

***

Yosafire terminava de ler alguns dos dias que mais gostava, que tinha anotado em seu diário. Ela adorava reler aquelas lembranças, e agora, percebia que estava em um ano depois do que acontecera em toda aquela história. Tudo permanecia bem, em paz.

Alguns anjos e demônios que ainda queriam a volta da guerra, não tinham coragem de dizer. Até a própria Etihw e o próprio Kcalb, se mencionassem aquele período, levavam uma colherzada do Wodahs.

Agora, cerca de um ano após a morte de Siralos, Yosafire vivia sua rotina de ir à escola, passar tempo com suas amigas, comer maçãs e tortas, e tudo parecia ótimo.

As garotas aproveitavam as férias e se encontravam quase todos os dias. E, após Yosafire reler seu diário, ela despediu de sua mãe e saiu de casa para encontrar Froze, que agora era sua namorada.

Ela saiu da casa e observou aquele enorme mundo lá fora. O céu era azul claro, muito bonito. A Vila Gray era encantadora!

Etihw, Kcalb, Grora e Wodahs estavam no Castelo Blancblack, que ficava ao norte da Vila Gray, jogando um RPG de mesa. Era incrível ver como todos se davam bem agora.

Chelan e Dialo estavam assando tortas de maçã na cozinha da casa de Dialo, para comerem naquela tarde ensolarada.

Rawberry ensinava Macarona a como montar no Pégaso, enquanto Raspbel observava as duas.

Lowrie e Greif passeavam pela Vila Gray, observando os anjos e demônios.

E, através daquele portal verde na floresta, estava o Reino do Sol, um outro lugar onde anjos e demônios viviam em harmonia. Ivlis observava o bonito céu alaranjado enquanto andava por um campo de girassóis, em direção a duas lápides, uma com o nome de Siralos e outra com o nome de Igls.

“Já faz um ano…” Ivlis pensava, enquanto colocava um girassol deitado em frente a elas.

E, por fim, Yosafire se encontrou com Froze. As duas estavam andando pelo Parque das Maçãs, um local cheio de árvores com maçãs para todo mundo. Era um lugar bem grande e ótimo para passeios. Pássaros cantavam, flores desabrochavam.

As maçãs vermelhas e suculentas nas macieiras chamavam a atenção de Yosafire.

“Ei, Froze, você tem noção de o quão grande esse mundo é? Temos tantas coisas a fazer, caminhos a explorar! Algum dia nós podemos viajar o mundo, né?” A demônio pulava balançando os braços para frente e para trás, enquanto andava e dava essas ideias para a namorada.

“É, é um mundo enorme, não? Podemos sair para explorá-lo qualquer dia.” Froze deu um pequeno sorriso. Agora ela não se importava mais em sorrir, pelo menos não na frente de Yosafire. Elas continuaram conversando, querendo chegar até um banco para se sentar e passar o resto da tarde.

E, nesse momento, elas ouviram um barulho, como o de algo dando um impacto no chão, não muito longe delas.

“É... Froze? O que foi isso?” Yosafire perguntou.

Elas olharam para o lado e deduziram que o barulho vinha do meio da floresta. E lá estava muito escuro. As duas ficaram observando, esperando que algo acontecesse, mas não viram nada.

“Não custa olhar, eu acho?” Froze sugeriu.

E, sem medo, elas adentraram a floresta, em busca de uma nova aventura, sabendo que, o que é que fosse acontecer, uma estaria lá para proteger a outra.

Fim

…

…?