Após sair correndo de lá, me obriguei a ir para o mar, mas eu não consegui. As lágrimas já me cegavam. Alguns campistas passavam por mim e me perguntavam o que tinha acontecido e eu não conseguia responder.

Depois de correr, eu fui parar no meu chalé,  e quem eu menos esperava estava lá.

Annabeth estava sentada nas escadas do meu chalé. Seus olhos estavam vermelhos e sua cabeça abaixada.

Eu dei um pigarro. Ela se levantou olhando para meu rosto, devagar.

- Oi. - Eu disse, por fim.

- Podemos conversar? - ela perguntou.

- Já estamos conversando. - falei, aspero.

- Percy...

- Não. Se vai pedir desculpas nem precisa começar. - interrompi.

Nós ficamos em silêncio. Meus olhos cravados nos seus. Eu sabia que isso era o melhor pra mim. Era o certo.

- Você deixou ela te beijar. - Annabeth disse e eu percebi que ela estava chorando. - Você sabe o quanto eu a odeio, e mesmo assim você deixou isso acontecer.

- Eu não pude evitar. - sussurrei.

- Sim, você poderia ter evitado! - ela gritou.

- PARA! Para de sempre me culpar! Para de sempre dizer que o burro sou eu! Eu cansei de tentar te agradar sempre. - eu gritei de volta.

- Eu não sabia que você se sentia assim.

- É claro que não sabia! Enquanto eu estava sofrendo por você, você estava aqui, com aquele desgraçado quase transando! - gritei.

- O quê? Não! Isso é mentira. - ela disse. - Percy, eu não sabia que era assim. Se você ao menos tivesse falado comigo, nós não estaríamos nessa situação.

- Tem razão, Então, te digo agora: Eu estou cansado dos seus atos ao se referir a mim. Eu fui o amor da sua vida, lembra? Se eu não te disse, foi para não te preocupar, mas já chega! Pra mim, é oficial: Eu vou te esquecer. E a primeira coisa que eu vou fazer é pedir pra você nunca mais me procurar. - disse.

- Percy...

Não terminei de escutar. Entrei em meu chalé, deixando Annabeth chorando lá fora.

                                                ***

Depois de tomar um bom banho, vesti apenas uma calça de moletom e me deitei.

Eu tinha que pensar. Tinha que ver o que eu faria em relação a Annabeth. Eu não tinha a menor ideia do que fazer.

Eu achei que me afastando, deixando claro que entre nós dois não aconteceria mais nada, eu estaria bem... Eu estava nervoso, com a cabeça quente. Agora, pensando com mais clareza, percebi que não era bem aquilo que eu queria dizer.

Eu ficava sem reação só de pensar que a Annabeth estaria se entregando para o Allan agora.

Num momento rápido e sombrio, imaginei como sendo Allan aquele garoto do meu sonho. Mas não poderia ser. Quíron saberia. Alguém teria que saber.

Deixei a minha mente vagar. Não queria me prender a esse assunto. Afinal, eu não era mais nada de Annabeth.

Esse último pensamento foi devastador. Eu estava mentindo pra mim mesmo. Quem eu estava enganando? Eu ainda era mais do que apaixonado pela...

De repente, ouvi alguém batendo a minha porta. Poderia ser uma brincadeira? Talvez.

Outra batida. Meu coração acelerou, peguei contracorrente e abri a porta.

A noite estava fria e silenciosa, a não ser por um gemido abafado.

Olhei para baixo.

Annabeth estava perto da escada de meu chalé, seu rosto manchado de areia e lágrimas. Seus braços estavam arranhados, sua camisa do acampamento estava rasgada.

- Annabeth... - eu sussurrei, apavorado.

- Percy... Me-me ajude - ela respondeu. Sua voz não era mais que um gemido.

Corri até ela e a peguei no colo. Sua respiração estava no meu pescoço, ofegante.

Ela estava mole e fria. A cada toque meu, era um gemido dela.

Entrei no meu chalé, coloquei ela na cama, enquanto ela fechava os olhos.

- Annabeth, acorde. - sacudi gentilmente seu corpo frio.

- Estou com sono... - ela respondeu.

- Não, você não pode dormir. - falei.

Eu a peguei no colo novamente, e a levei pro banheiro, abri o chuveiro e deixei a água cair sobre ela. Isso pareceu acordá-la.

- Annabeth, eu vou pegar uma toalha e uma blusa pra você. Eu já volto.

Peguei uma toalha e a primeira blusa que encontrei. Era de moletom com mangas.

No banheiro, a água já tinha parado de cair e Annabeth estava sentada no chão, com os joelhos abraçados no peito.

- Eu preciso de uma roupa. - ela disse. - Vou para o meu chalé.

- O quê? Não! Você não vai sair enquanto o que quer que tenha te atacado estiver lá fora.

- Percy eu estou cumprindo o que te prometi. Nunca mais te procurar. - ela respondeu.

- Annabeth, pare de ser orgulhosa. Tome - joguei a toalha e o moletom - vista-se. Depois conversamos.

Deixei Annabeth sozinha e me sentei na cama. Quando ela voltou, estava com os cabelos molhados e soltos e vestindo o meu moletom.

Apesar do banho, seu rosto ainda estava um pouco sujo e os cortes estavam vermelhos.

- Eu acho que já vou. - disse ela.

- Não. Nós podemos conversar? - perguntei.

- Eu acho que nós já conversamos tudo o que tinhamos pra conversar. Além disso, você deixou claro que não queria mais falar comigo. - ela respondeu.

- Annabeth, me desculpe. De verdade. Me perdoe. Eu dise aquilo de cabeça quente. Eu não queria dizer aquilo, mas o Allan me deixa louco. - eu disse.

Ela não respondeu. O clima ficou um pouco tenso. Apesar de tudo, ela sabia que eu não a esquecera.

- Fala alguma coisa. - pedi

- O que quer que eu diga? Que eu não posso viver sem você? Está bem, eu digo. - ela suspirou e disse - Percy, eu não posso nem sequer cogitar viver sem você.

Um sorriso brotou em meu rosto. Ali estava a minha Annabeth. Aquela que comigo, era uma pessoa carinhosa, paciente. Não era aquela pelo qual Allan havia se apaixonado.

Cheguei perto dela e entrelacei meus braços em sua cintura. No começo, Annabeth pareceu relutante, mas depois cedeu.

Eu já não aguentava mais. Quando as pessoas dizem que temos um limite, era verdade. ESSE era o meu limite. Eu precisava dela.

- Annabeth, eu te amo. Eu preciso de você.

Ela enlaçou suas mãos em meu pescoço e olhou nos meus olhos. Me aproximei devagar, ela tinha que saber quando estaria pronta pra mim.

- Você me aceita de volta? - ela perguntou.

Fechei o espaço entre nós, encostando meus lábios nos dela. No começo foi um beijo simples. Eu precisava senti-la, precisava saber que ela voltou a ser minha. Só minha.

- Ainda precisa perguntar? - brinquei e ela apenas balançou a cabeça negativamente. - Annabeth eu quero guardar cada minuto dessa noite. Cada detalhe do seu corpo. Eu te quero.

- Eu sou sua. - ela respondeu e colou sua boca na minha.

Enquanto minha boca trilhava caminho por seu pescoço, Annabeth tinha dificuldade em tirar meu moletom.

A última coisa que me lembro, depois de se entregar a mim, foi ela sussurrar em meu ouvido "eu te amo Percy. Faça-me sua".

Depois disso, tive a melhor noite da minha vida.