Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 36
36. As irmãs Grace, pt. I




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LEVOU CERTO TEMPO para que toda a história viesse à tona.

No início, parecia que eu não conseguiria contar. Acho que parte de mim se sentia desnecessariamente exposta a respeito de tudo aquilo, ou talvez fossem apenas os velhos hábitos me impedindo de ser franca e direta — algo que eu devia ter sido há muito tempo. Seja como for, o fato era que cada minuto parecia se arrastar como uma hora completa, e eventualmente comecei a pensar que a paciência de Dean se esgotaria em breve. Felizmente, acabei descobrindo que ele conseguia ser bem paciente às vezes, o que acabou sendo um ponto a meu favor.

Não sei quantos minutos permanecemos ali, sentados em frente aquele celeiro, com nada além do som entrecortado de nossas respirações para interromper meu relato. Por fim, consegui contar a ele tudo a respeito do encontro com a criatura — desde o momento em que encontrei minha irmã, Alice, na praça em Los Angeles, até o inevitável final com o Djinn no porão da loja abandonada.

Meus pais. Alice. Justin. As palavras saíam mais facilmente à medida que a história se desenrolava. Eventualmente o nervosismo desapareceu e o aperto em minha garganta se tornou ligeiramente menor, até o momento em que meu subconsciente desistiu da batalha e deixou que a represa se rompesse de vez. Quando terminei, não restou nada além do silêncio — ironicamente gritante — para contemplar minha história.

Ao meu lado, Dean respirou fundo, notando que aquele era o fim — teoricamente, já que ainda havia mais alguns contos restantes. Ele sabia disso tanto quanto eu, é claro. Seus olhos cor de oliva me avaliaram por intermináveis segundos, como se me examinassem de dentro para fora. Eu me encolhi onde estava, abraçando meus joelhos outra vez e aguardando pela torrente de perguntas que eu sabia que viria.

Mas a primeira delas não foi nem de longe uma das que eu esperava.

— Você atirou na própria cabeça? — indagou o loiro, parecendo verdadeiramente incrédulo. Eu pisquei, surpresa, então afirmei timidamente, um tanto confusa com o estopim que havia sido escolhido para o nosso interrogatório improvisado. — Jesus, Emma! — Dean riu. — Você é mais louca do que eu pensava!

A forma como aquelas palavras fluíram de seus lábios me fez rir. É claro que ele diria algo assim. Eu assenti enquanto dava de ombros e suspirava.

— Sim, atirei. — O Winchester sorriu. — Não recomendo a experiência, a propósito.

Dean se inclinou para trás, dando uma olhada no imenso infinito azul que se estendia sobre nossas cabeças. Por fim, seus lábios se curvaram em uma careta e ele se virou para mim outra vez.

— É, eu sei — respondeu, franzindo o nariz de um jeito engraçado. — Passei por algo parecido da última vez que um desses avatares tatuados tentou me fazer de Bela Adormecida.

— Acho que o Bobby mencionou algo assim quando voltamos daquela caçada — respondi, ouvindo Dean resmungar algo sobre velhos idiotas não saberem manter a boca fechada e rir logo em seguida. — Então, você colocou uma bala na própria cabeça também? Ou talvez tenha se empalado propositalmente?

O Winchester sorriu e deu de ombros.

— Algo do tipo — disse, ainda rindo. — Foi uma confusão do cacete, aquela noite.

— Eu adoraria ouvir.

Dean balançou a cabeça negativamente. Em seguida esticou o braço e rodeou meu pescoço, me puxando para um abraço lateral e desajeitado enquanto dava um sorrisinho irritantemente convencido. Eu reclamei abertamente, empurrando seu corpo para longe, mas ele me prendeu com a firmeza de um maldito urso e — apesar de todos os protestos e ameaças de morte — se inclinou para sussurrar em meu ouvido:

— Acho que já nos conhecemos o suficiente para que eu saiba a maior parte dos seus truques, querida — sua risada fez cócegas em minha orelha e ele recebeu outra avalanche de ameaças, que tratou de ignorar displicentemente. — Sinceramente, nem sei porque ainda tenta me desconcentrar. Pode até ser que consiga em algum momento, mas nós dois sabemos quem é o melhor nisso por aqui.

Senti meu corpo ficar automaticamente tenso com aquelas palavras, e minha resistência cessou de imediato. Dean sorriu outra vez, ciente de que tinha vencido. Maldito seja, Winchester.

— Eu odeio você — resmunguei por fim, irritada.

— Continue repetindo isso pelos próximos dez anos e quem sabe passe a acreditar em si mesma — ele riu e me largou, levando um empurrão no processo, mas sequer arredou do lugar. — Então, posso continuar com a sessão de esclarecimento ou tem mais alguma tentativa frustrada de distração que você gostaria de tentar?

Revirei os olhos, fazendo um gesto amplo e teatral com os braços.

— Por favor, senhor — disse sarcasticamente, Dean riu.

Então o sorriso sumiu de seu rosto e ele desviou o olhar. Seus ombros de repente ficaram tensos e seu maxilar travou. A mudança de humor foi tão brusca que me senti desconcertada por um momento. Fosse o que quer que ele estivesse prestes a perguntar, não era algo positivo, disso eu sabia.

— Você não acha estranho? — sussurrou, parecendo confuso.

Eu franzi o rosto, completamente perdida.

— Do que você está falando?

Dean hesitou, como se não soubesse como abordar o assunto da forma correta. Por fim, disse:

— Sua visão com o Djinn. A parte do acidente. Seu acidente. — Ele me encarou, como se tentasse transmitir suas ideias a mim através do olhar que me direcionava. — Quero dizer, amnésia? Doença mental? Sério? — senti um aperto sufocante se espalhar por minha garganta à medida que Dean trazia aquelas coisas à tona. Respirei fundo, buscando me controlar. — Emma, foi um exagero, pra dizer o mínimo. Não faz sentido pra mim. Digo, tudo bem que aquela coisa queria te manter lá, mas foi uma história totalmente bagunçada e distorcida, chega a ser algo bizarro.

Eu assenti enquanto lutava contra a sensação asfixiante que me dominava outra vez.

— Bom, eu não sou especialista em Djinns, lembra? — consegui balbuciar, mesmo que aquilo consumisse mais força do que aparentava. — Nunca tinha caçado um antes. Não posso te dizer as possíveis excentricidades da situação.

Dean balançou a cabeça, negando. Ele fechou os olhos por um momento e respirou fundo, buscando se concentrar, acho. Então seus olhos encontraram os meus e um brilho diferente se assomou sobre eles.

— Posso perguntar uma coisa? — pediu gentilmente, parecendo um tanto incerto das próprias atitudes. — Bom, duas.

Eu dei de ombros, assentindo.

— Manda ver — tentei forçar um sorriso e acho que falhei miseravelmente.

Apesar disso, Dean sorriu de volta.

— Aconteceu mesmo um acidente? — seu tom era cauteloso, quase tímido. Eu diria que ele estava desconfortável, se não o conhecesse bem. — Digo, você me disse que o Justin da sua visão distorceu os fatos. Então, aquilo aconteceu mesmo? Com a sua irmã e o namorado dela, o tal Theo? — fiz uma careta ao escutar aquele nome, desviando o olhar. Dean não se deixou abalar e prosseguiu: — E você nunca sequer mencionou que tinha uma irmã, a propósito. Nem Castiel disse nada sobre isso quando nos conhecemos e rolou aquele lance de identificação angelical entre vocês — ele riu nervosamente, o que me provocou um sorriso. — Então...?

Respirei fundo, erguendo o rosto para o céu e mordendo os lábios em uma tentativa mal sucedida de controlar meus sentimentos. Seria difícil falar sobre aquilo, como sempre era toda vez que eu precisava tocar no assunto, mas Dean não parecia ter pressa. O Winchester me observava quieta e pacientemente, quase como se soubesse do peso que eu estava prestes a recolocar em meus ombros. Apesar disso, não pude evitar reparar em algo importante; ele não estava bravo comigo, nem magoado, mas devia estar. Eu havia escondido muitas coisas dele — e de Sam — durante todo o tempo em que trabalhamos juntos. Eu havia mentido, ocultado e omitido, tudo isso em prol de manter meus segredos como meus. Mas Dean não parecia irritado comigo, nem um pouco. Na verdade, ele parecia até... solidário. Quase como se entendesse a minha situação.

Talvez por isso — por eu achar que ele estava reagindo de um modo totalmente inesperado — eu tenha ficado tão surpresa quando sua mão pousou sobre a minha, ou quando seus olhos encontraram os meus pela milésima vez naquela tarde e eu pude observar de perto a compreensão dentro deles.

— Olha, eu sei o que é ter um histórico complicado entre família, acredite — sua voz era doce e Dean deu um sorriso sem graça ao dizer aquilo. — Mas talvez te ajude se colocar isso pra fora. Só... deixe sair, sabe? Pode te fazer bem. E com certeza vai ser melhor do que se deixar sufocar por essa merda toda.

Sob seu toque, minhas mãos tremiam tanto que eu duvidava de que fosse capaz de acalmá-las tão cedo. Minha boca estava seca e o oxigênio parecia arranhar meus pulmões dolorosamente. Eu queria contar a ele, precisava fazer isso. Mas esse fato não tornava o processo nem de longe menos doloroso, ou mais fácil.

Contudo, só o fato de saber que ele me entendia, mesmo que minimamente, parecia deixar tudo um pouco mais simples. Como se não fosse haver julgamento a partir disso justamente porque ele sabia sobre as circunstâncias daquele relato.

Eu me agarrei a isso e iniciei minha história antes que meus pensamentos me levassem a outra linha de raciocínio. Dean, notando minha ansiedade, aumentou a pressão sobre minha mão e me ofereceu um sorriso encorajador. Eu retribuí. Então comecei falar:

— Ela era perfeita, sabe? — eu disse baixinho, desviando o olhar para longe. Sabia que seria mais fácil encarar o horizonte que o rosto de Dean naquele momento. — Alice era meticulosa, ágil, esperta e, bem, incrível. Me lembro de que invejava seus movimentos quando começamos a treinar, ela era simplesmente muito melhor do que eu sonharia ser em praticamente tudo — eu ri, mas não tinha humor algum em meu tom, apenas uma singela e dolorosa nostalgia. — Ainda assim, éramos duas garotinhas cheias de energia e aprendíamos rápido. Com o tempo, parei de me importar com o que ela sabia e passei a me preocupar com o quanto mais eu precisava aprender.

Dean ergueu uma sobrancelha para mim, cético.

— Treinar? — perguntou, uma pontada de surpresa em seu tom. — Você e sua irmã treinavam pra isso desde crianças? Pra essa vida? — eu dei de ombros, concordando. — Caramba, isso é bem... não sei. Eu não conheço muitos assim. A maioria desiste de ser caçador quando os filhos vêm ao mundo.

— Ah, não somos caçadores desde sempre — respondi com naturalidade. — Bom, Alice e eu não, pelo menos. Eu caço desde os sete anos, se lembra? Minha irmã era só um pouco mais velha na época, mas aprendemos juntas.

— E seus pais? — ele parecia curioso.

— Eles se conheceram em uma caçada, é verdade. A família do meu pai é tão antiga nesse ramo quanto a sua, ou a de Bobby — eu sorri, dando de ombros outra vez. — De qualquer modo, como é de se esperar de pais minimamente sensatos, eles resolveram parar quando Alice nasceu. Ficou óbvio que era perigoso demais continuar caçando, tinham muito a perder agora.

Dean assentiu.

— Então, o que revogou a aposentadoria deles?

Voltei o rosto para o loiro, notando que ele me observava atentamente. Eu suspirei.

— Uma semana após o meu sétimo aniversário, teve esse acampamento de verão que a nossa escola oferecia — contei, mirando o céu enquanto as palavras fluíam de mim, calmas e organizadas. — Eu odiava, de verdade. Você se surpreenderia com o quão maldosas as garotas do primário conseguem ser. É quase como se estivessem preparando a si mesmas para o ensino médio — Dean riu daquilo, e isso tornou o relato surpreendentemente mais leve. — Enfim, ao contrário de mim, Alice adorava aquilo e, principalmente, adorava a natureza, então é claro que ela embarcou de cara na aventura. Eu, por outro lado, consegui ser teimosa o suficiente pra convencer meus pais de que queria ficar em casa — fiz uma pausa, pensando melhor no que diria a seguir.

Dean esperou pacientemente até que eu continuasse. Seus olhos não se desviaram de mim um segundo sequer, mas eu estava centrada demais para me incomodar com aquilo. Algumas lembranças me invadiam, tornando a história vívida e estranhamente surreal em meus pensamentos.

Respirei fundo, retomando a narrativa.

— Bom, o acampamento havia começado na sexta de manhã e duraria todo o fim de semana. Eu estava radiante por poder aproveitar tanto tempo de liberdade e, curiosamente, me sentia feliz por passar mais tempo com meus pais. Lembro-me que naquela semana em particular eu estava muito inquieta, quase como se soubesse que havia algo prestes a acontecer, mas não saberia dizer o quê — uma risada amarga escapou de meus lábios, e Dean percebeu que a pior parte estava por vir.

"Era um sábado a tarde como qualquer outro. Meu pai estava trabalhando na garagem, como sempre. Ele era fascinado por carros desde que eu me entendia por gente, e passava a maior parte do tempo livre que tinha arrumando modelos antigos e colecionáveis. Minha mãe preparava o almoço, cantarolando alguma coisa que eu não saberia decifrar enquanto o barulho de louças e talheres tilintava no ar. A Emma de sete anos brincava no sofá, entretida com a tevê e o cachorro da família, Floco — e, antes que diga algo, eu sei que era um nome idiota, mas você não pode culpar uma garotinha por sua criatividade, pode?"

"De repente, Floco ficou bastante agitado — algo bem incomum, já que ele sempre fora manso e bem calmo. Começou a latir no meu colo como um louco, tremendo e rosnando para o nada — ao menos eu pensava que fosse o nada. Ele pulou do sofá em um ímpeto e correu para a cozinha, hiperativo como nunca. Acho que gritei seu nome algumas vezes, mas não obtive resposta em nenhuma delas. Mais latidos e rosnados. O tilintar de metal aumentou. De repente, um ganido agudo machucou meus tímpanos, e então foi substituído por um silêncio absoluto."

"Acho que, no fundo, eu soube o que realmente tinha acontecido antes mesmo de ver. Lembro-me de estranhar bastante aquela cena toda. Floco não costumava ser daquele jeito e, de qualquer forma, minha mãe deveria tê-lo repreendido por seu comportamento. Imaginei que talvez ela estivesse lhe dando uma bronca baixinho, só para em seguida afagar sua cabeça e dar alguns biscoitos, ela tinha esse costume. Mas não era esse o caso, infelizmente."

Dean puxou o ar com força. Me permiti encarar seu rosto uma vez e descobri que ele estivera prendendo a respiração, de tão concentrado. Dei risada da cara que ele fazia e balancei a cabeça.

— Que bom saber que estou entretendo você — comentei sarcasticamente.

Ele revirou os olhos.

— O que posso dizer? Você tem um dom para narrativas — um sorriso dançou em seus lábios. — Continue, por favor.

Eu assenti, retomando o rumo com facilidade.

— Enfim, já está claro que a situação toda era bem bizarra — contei, lembrando com vivacidade de cada detalhe. A cena era dolorosamente realista em minha mente. — Mas é como dizem: "Nada é tão ruim que não possa piorar" — meu tom vacilou por um mísero segundo, mas tratei de esconder. — E aquilo estava para piorar, e muito.

"Eu me levantei, caminhando na ponta dos pés em direção à cozinha. O barulho havia cessado, restando apenas o tilintar insistente das facas. Comecei a me sentir terrivelmente assustada, mas forcei meu corpo a continuar. A curiosidade muitas vezes nos obriga a ser estúpidos. Acho que descobri isso da pior forma."

Mais uma pausa. A última parte da história parecia presa em minha garganta, mas assim como naquela tarde, dezenove anos antes, me forcei a prosseguir.

— Quando finalmente alcancei a cozinha, foi como se meus maiores pesadelos se tornassem realidade — contei, quase cuspindo as palavras. — Era tudo vermelho; o chão, os armários, as louças e, principalmente, Floco. Ele não se mexia. Acho que já estava morto àquela altura, mas isso não importava, porque ela continuava investindo a faca contra ele como se não se ligasse para esse mero detalhe.

"Eu entrei em pânico. Não entendia o que estava acontecendo e não tinha certeza se queria, apenas sabia que tinha que fugir dali, e rápido. Porém, é claro que o universo acharia graça em sacanear uma menininha assustada. Talvez seja por isso que ela sorriu ao me ver, quando se virou abruptamente em minha direção. Possivelmente já sabia da piada mística que o destino tinha me reservado. O humor negro da vida às vezes é cruel."

"Sabe, eu não lembro de muita coisa daquela tarde, só dos acontecimentos principais. Mas, quando minha mãe se levantou e caminhou até mim com as roupas sujas de sangue e um olhar assassino no rosto, eu sabia que aquilo era algo que eu não poderia esquecer nunca, mesmo que tentasse. E os olhos dela, é claro. Eu jamais esqueceria dos olhos; negros e vazios, como se não houvesse mais alma dentro deles."

Mais uma vez, encerrei momentaneamente minhas palavras. Um silêncio pesado se instalou entre nós, um que eu não tinha a intenção de quebrar tão cedo. Mas, ao contrário de mim, Dean parecia sentir alguma espécie de obrigação universal em dizer alguma coisa.

— Ah, cara — ele comentou, parecendo desconfortável. — Por que sempre os cachorrinhos?

Contra todas as probabilidades, dei uma risada genuinamente entretida. Acho que a loucura já tinha alcançado nós dois.

— E o que aconteceu depois? — perguntou o loiro, um tanto incerto se deveria insistir no assunto. — Depois que você a viu... digo, sua mãe. O que aconteceu depois de vê-la daquele jeito?

Eu dei de ombros. Não tinha a intenção de detalhar aquela parte.

— Ela me atacou e tentou me matar — Dean ofegou ao ouvir aquilo, chocado. — É, eu sei. Eu fiquei apavorada na hora, mas aí meu pai apareceu. Deve ter ouvido os gritos, eu acho. — Minha voz falhou um momento, o qual utilizei para recobrar o fôlego. — Ele exorcizou o demônio, mas não antes que o desgraçado fizesse minha mãe pagar o preço. Não sei como e nem quando, como já te disse, não me lembro muito bem daquele dia. Mas aquela coisa machucou a minha mãe em algum momento, e quando o exorcismo terminou, não restou nada além de um corpo no tapete da sala e sangue por toda a cozinha.

Dean não respondeu. O Winchester permaneceu em silêncio por vários segundos, encarando o chão com uma expressão de choque. Era como se a história houvesse sugado sua habilidade de fala ou algo do tipo.

Por fim, ele ergueu os olhos e se virou para mim com um semblante triste em seu rosto.

— Emma, eu não... tinha ideia... — ele fechou os olhos, inspirando fundo e soltando o ar devagar. — Sinto muito. Deus, que merda, eu sinto muito mesmo.

Apesar da situação, não pude evitar um sorriso. A preocupação dele era de fato tocante.

— Tudo bem, Dean. Aconteceu há muito tempo, não me incomodo em falar sobre isso atualmente — eu pensei por um momento em minhas palavras, então acrescentei: — Bom, pelo menos quando eu quero falar.

Dean balançou a cabeça, concordando.

— Agora eu quase me sinto mal por ter te feito contar isso — disse.

Eu ri.

— Já estava mais que na hora de você saber — anunciei.

Dean assentiu, então me encarou de um jeito diferente.

— Mas... ainda não acabou, certo? — perguntou cautelosamente.

Eu suspirei, balançando a cabeça em negativa. Não, ainda não havia acabado.

— Preciso te contar sobre mais um acontecimento, Dean.

O loiro me encarou, curioso. Por fim, seus olhos se moveram rápido e ele assentiu com um aceno sutil, se virando, de modo que ficasse de frente para mim.

— Sou todo ouvidos — respondeu.

Eu concordei enquanto me ajeitava e me preparava para contar a história. A última. Dean aguardava pacientemente ao passo que eu buscava, no canto mais profundo da minha mente, a melhor forma de começar a contar sobre tudo o que viria a seguir.

Por fim, eu me ajeitei o mais confortável possível — o que não era muita coisa, pois estávamos sentados em uma escada de concreto — e comecei meu discurso:

— Está na hora de você conhecer um pouco mais sobre Alice e seus brilhantes feitos, Dean — falei em uma entonação suave.

— O que isso quer dizer? — ele perguntou, confuso.

Eu sorri enquanto dava de ombros.

— Quer dizer que minha próxima e última história, nada mais é que um acontecimento único. Mais especificamente, o dia em que Alice morreu.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Seguindo a vibe de revelações, dessa vez nossa história remete um pouco mais à infância das irmãs e ao motivo que levou Emma e Alice àquela estrada chuvosa na tão misteriosa noite do acidente. Uma nova aparição marca uma série de dúvidas na cabeça de Dean, levando-o a conclusões inesperadas sobre os relatos de Emma. Afinal, o que causou a morte de Alice?



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