Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 30
30. Um dia para se surpreender


Notas iniciais do capítulo

E ao que parece... a cavalaria retorna.

Olá, caros leitores, ao menos o que restou de vocês. Em terras distantes e dimensões paralelas, não faz muito tempo que o mais recente capítulo de CP foi publicado. Capítulo este sendo o 44. Sim, isso mesmo. CP atualmente está no capítulo 44 e, pasmem, ainda não foi finalizada.

O que acontece é que, por um tempo, eu desapeguei do Nyah e podemos dizer que... abandonei a plataforma. Continuei publicando normalmente no Wattpad, mas aqui eu realmente deixei de lado. Mesmo assim, acho injusto deixar o site para trás, uma vez que ele foi minha maior inspiração e motivação para continuar com a narrativa, além de ter me proporcionado tantas coisas incríveis como milhares de ideias e um amigo muito especial.

Portanto, estou feliz em anunciar que estarei retomando as postagens, atualizando a história até seu capítulo atual (serão 15 capítulos publicados hoje, e depois disso as postagens serão mensais). E mais feliz ainda em revelar que isso aqui, depois de 4 anos, está finalmente chegando ao fim.

Gente, sim, são 4 anos em UMA história de fã. Eu sei que é muito coisa, especialmente com tão poucos capítulos, mas estou orgulhosa do quanto evoluí até aqui como escritora e das coisas que conquistei ao longo dos anos por causa dessa ideia tão genérica (e incrível) que é se tornar um ficwriter.

Então, espero que me perdoem pela IMENSA demora, prometo não repetir isso. Também agradeço aos que permaneceram, mesmo que eu saiba que não sejam muitos. Os poucos que restam, são maravilhosos, obrigada! ♥

E, ah, boa leitura!



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CASTIEL E EU adentramos o Sanatório West River e fomos recebidos por um senhor de meia-idade que guardava a portaria. Ele nos deu um sorriso educado e apontou a direção da recepção, que ficava no final do primeiro andar, não muito longe da entrada.

Nós nos apressamos até lá imediatamente. A atmosfera dali se mostrava cada vez mais tensa à medida que se observava mais do local.

Por todos os lugares em que se olhasse havia nada mais senão melancolia e depressão rodeando a todos ali, fossem médicos ou pacientes. O lugar em si inspirava uma certa tristeza. Instintivamente me abracei, respirando fundo. Senti a mão firme de Castiel sobre meu ombro, o anjo olhava para mim com um olhar de solidariedade em seu rosto.

— É a sua primeira vez em um lugar assim? — perguntou gentilmente.

Neguei com um aceno. Eu já havia visitado instituições como aquela antes; mais vezes do que gostaria, inclusive.

— Não, mas nunca fica mais agradável, sabe? — forcei um sorriso. — Algumas coisas simplesmente não foram feitas pra nos acostumarmos a elas.

Castiel assentiu, retirando a mão e firmando o olhar à frente. Ele não disse mais nada, apenas voltou a caminhar em silêncio. Fiz o mesmo, buscando encontrar a recepção o mais rápido possível. Enquanto seguia até lá, repassei o plano em minha cabeça mais algumas vezes, lembrando-me sempre de que tudo deveria ser feito com praticidade e discrição.

Encontrar os arquivos de Samirah. Coletar todas as informações possíveis. Repassar tudo aos Winchester. Solucionar essa droga de caso o mais rápido possível.

Particularmente, eu gostava mais do último item que dos outros.

— Certo, vamos logo com isso — falei, inspirando profundamente e caminhando em direção ao balcão.

Havia um homem lá, aparentando ter pouco mais de 25 anos. Possuía cabelos curtos e castanhos que cobriam-lhe um pouco os olhos. Ele lia uma revista calmamente, sem se importar com os acontecimentos ao seu redor. Sequer notou a minha aproximação, não fazendo questão alguma de erguer o olhar para conferir se havia alguém ali.

— Hum, oi — chamei, mas o sujeito não pareceu ouvir. Pigarreei para chamar sua atenção. Ele levantou o rosto e me fitou com surpresa, supus que não deviam receber muitas visitas por ali. — Olá.

O atendente sorriu educadamente, fechando sua revista e a colocando sobre o balcão, voltando sua atenção para mim.

— Bom dia. — Cumprimentou ele, me encarando. Seus olhos eram de um tom desconcertante de verde, como a grama na primavera. — Posso ajudar?

Sorri de volta enquanto retirava o distintivo falso de agente do bolso e mostrava ao homem. Abaixei a voz para lhe dizer:

— Sou a agente Sullivan, encarregada de tarefas resignadas do FBI. — Ele se mostrou ainda mais surpreso, rapidamente ajeitando a própria postura e adquirindo um ar mais sério enquanto alternava o olhar entre mim e o falso documento. — Esse é o meu parceiro de operações, agente Pierce. — Apontei para Castiel, que se limitou a acenar brevemente. — Estamos atrás de informações a respeito de um paciente internado aqui há alguns anos, digamos... 28 anos? — o homem arregalou os olhos. Ok, talvez eu esteja indo rápido demais ou ele é um novato por aqui, pensei. — Pode nos ajudar com isso?

O atendente — Robert, pelo que se lia no crachá em seu peito — levou as mãos ao rosto, assobiando baixinho. Por algum motivo, eu sentia que ele não estava tão surpreso quanto demonstrava. Será que a gerência já esperava por uma visita das autoridades devido aos arquivos de Samirah?

— Posso ver suas identificações outra vez? — pediu ele em tom casual.

Era perceptível a desconfiança em seus olhos, mas, uma vez que não passava de um simples atendente, jamais seria capaz de perceber a diferença entre um distintivo falsificado e um legítimo. Dei um sorriso calmo e entreguei os documentos que eu e Castiel usávamos. O anjo permanecia calado, nenhuma palavra dita desde o saguão, embora sua atenção estivesse focada na cena que se desenrolava à sua frente.

— Hum... Tudo bem. — Robert me devolveu os distintivos, aparentemente satisfeito com a própria análise. — Eu não sei porque precisam de documentos tão antigos, mas suponho que não seja da minha conta perguntar — alguma coisa brilhou em seus olhos enquanto falava... ironia, talvez? — De qualquer modo, receio não ser muito útil pra vocês. Sou novo por aqui, comecei esse mês. Ainda não conheço muito da política e organização do lugar.

Na mosca, pensei. É claro que nos depararíamos com um novato, a sorte está sempre contra nós nessas situações, é incrível.

— Entretanto, sei exatamente quem pode cuidar do seu problema, senhorita — ele pareceu um tanto confuso nessa hora, como se não tivesse certeza de como deveria me chamar. — Felizmente, essa pessoa está aqui hoje.

Alguém pigarreou impacientemente atrás de mim. Dei uma olhada em Castiel, mas a atenção do anjo estava em Robert.

— Vá chamar essa pessoa, então — ordenou ele ao homem atrás do balcão. Sua voz estava estranhamente séria.

Robert assentiu, olhando para Castiel com um ar ligeiramente ressentido.

— É, cara, eu já estava indo fazer isso — ele se virou para mim antes de continuar, com uma expressão mordaz: — Volto em alguns minutos. Aguardem aqui, por favor.

Assenti, cruzando os braços. O homem então saiu em direção a uma porta às suas costas sem dizer mais nada. Suspirei, me virando para Castiel.

— Tudo bem, vamos conversar. — Falei, ganhando sua atenção. — O que tem de errado? — perguntei. Sua postura me parecia demasiado na defensiva.

O anjo olhou ao redor, como se procurasse por algo.

— Esse lugar... está repleto de proteções. Inúmeras, contra todos os tipos de criaturas; demônios, ghouls, vampiros... Posso sentir cada uma delas — disse ele, me pegando de surpresa. — Isso aqui é quase uma fortaleza, Emma.

Proteções? Ali? Aquilo era definitivamente algo inesperado. A única forma de círculos de zelo estarem gravados naquele lugar seria se algum caçador estivesse por perto, e eu e os Winchester éramos os únicos nas redondezas. Bom, pelo menos até onde eu sabia.

Eu não conhecia muito da cidade, então, o que me levava a crer que não havia outros caçadores por ali? Era até algo comum, na verdade. Embora, devo dizer, eu não tenha ficado muito contente com a notícia.

— Que tipos de proteções, Castiel? — perguntei.

O anjo deu de ombros.

— Barreiras reforçadas de todas as formas. Servem apenas para afastar, nada mais. Não sei dizer quem as lançou, mas seja lá qual for sua identidade, posso afirmar com certeza que é um trabalho recente.

Suspirei profundamente, pensando.

— Sendo assim, é possível que haja outros caçadores trabalhando neste caso — ponderei, Castiel concordou. — Não é algo incomum esbarrarmos com colegas de equipe durante caçadas como essa, alguns casos interessam mais que outros. De qualquer forma, teremos de avisar os garotos mais tarde.

O anjo me encarou e pude notar que em seus olhos havia uma certa reprovação insistente, como se não gostasse do que estávamos fazendo. Franzi o rosto por um momento. Parecia que Castiel tentava me dizer algo, mas se estivesse, estava falhando miseravelmente em sua linguagem de sinais.

O que há com esse cara, afinal?

— Não deveríamos tentar descobrir quem é? — perguntou ele. Fiz que não com um aceno. Aquilo não era uma opção viável.

— Não temos tempo pra isso — expliquei. Tentar encontrar esse suposto outro caçador só nos atrasaria ainda mais, e eu não podia lidar com atrasos naquele momento. — Na pior das hipóteses, esse cara é só mais um idiota inexperiente sem ideia alguma do que está fazendo, e o trabalho pesado vai ficar todo pra nós. Nada novo sob o sol. Não há necessidade de encontrá-lo. 

Castiel não parecia muito confiante em minhas palavras, mas não estendeu o assunto. Eu podia ver através da sua postura rígida que ele ainda receava deixar nossa mais recente descoberta de lado, contudo decidira depositar um pouco de fé em mim.

O quão estranho é afirmar algo assim se tratando de anjos?, pensei.

Nesse momento, a porta detrás do balcão da recepção se abriu outra vez, com Robert passando por ela rapidamente, sendo seguido por uma mulher alta e esbelta, que eu supunha ser sua superior.

— Agente Sullivan — ele chamou. Mais uma vez, notei algo estranho em seu tom ao pronunciar aquelas palavras, como se ainda desconfiasse de sua veracidade. Ele se afastou um pouco para dar lugar à mulher que viera em sua companhia. — Essa é a Dra. Fallon, responsável pela gerência da Instituição West River. — A mulher abriu um sorriso amistoso, cumprimentando a mim e Castiel com um aceno discreto enquanto Robert nos apresentava. — Dra. Fallon, estes são os agentes de que falei.

A Dra. Fallon deu um passo à frente, olhando diretamente para mim. Havia algo imponente em sua postura, mas perceptivelmente proposital. Retribui seu olhar com firmeza, recebendo outro sorriso em troca.

— Ora, acho que não esperava por uma visita dessas tão repentinamente — falou saindo detrás do balcão e alcançando seus visitantes. — É um prazer tê-los aqui, meus caros. Me chamo Miranda Fallon e ocupo a administração deste lugar. — Ela estendeu a mão para que eu a apertasse, e assim o fiz. — Bob me disse que estão atrás de alguns arquivos antigos.

Assenti, sorrindo minimamente. A mulher me fitou com certa curiosidade estampada em seus olhos incrivelmente negros.

— Me chamo Amy Sullivan e sou responsável por alguns casos especiais designados pelo FBI, incluindo este em particular. — Ela concordou silenciosamente. — Eu e meu parceiro aqui, agente Pierce, estamos atrás dos arquivos pessoais de uma paciente internada no ano de 1987. Imagino que a senhora possa nos ajudar nisso.

A Dra. Fallon fez um muxoxo para a palavra 'senhora', como se não lhe agradasse. De fato, apesar de sua postura madura e discreta, ela tinha uma aparência bastante jovem.

— Claro, temos todos os arquivos datados desde a fundação deste prédio até os dias atuais. Todavia, arquivos mais velhos ficam no segundo andar — a mulher fez um meneio em direção aos elevadores no final daquela ala. — Se importariam se eu perguntasse o que o FBI busca com arquivos tão antigos?

Ela também emanava um leve ar de desconfiança, embora este fosse mais discreto que o de seu funcionário, Robert.

— Assunto confidencial, sinto muito — expliquei. A Dra. Fallon assentiu com um sorriso. — Contudo, posso revelar que tem ligação com os assassinatos que andam sendo reportados na mansão Axefire.

Algo iluminou o rosto da mulher, ao passo que a mesma se mostrou surpresa diante da minha declaração.

— Ah, é claro, o caso Axefire! — ela estalou os dedos, como se compreendesse tudo a partir dali. — Sendo assim, suponho que estão atrás dos arquivos de Samirah Langdon, certo? — assenti, recebendo outro sorriso em troca. — Claro, claro. Me sigam, por favor!

Enquanto Miranda caminhava a passos rápidos e decididos para o elevador, não tive outra alternativa senão segui-la. Lancei um olhar para Castiel, que me encarou como se dissesse "O que se pode fazer?". Dei-lhe um sorriso e então entramos os três — eu, ela e o anjo — no espaçoso compartimento de metal. Aguardei até que apertasse os números para nossa subida e me recostei na parede do elevador, alternando o olhar entre o teto e meus companheiros.

A Dra. Fallon suspirou baixinho.

— Acho que devia ter imaginado que algo assim aconteceria, considerando a situação atual — disse ela quando as portas se fecharam silenciosamente. — Ouvi falar dos assassinatos, um tanto quanto brutal demais, se querem saber. Espero que descubram logo os monstros que andam fazendo isso.

Encarei a mulher ao meu lado. A Dra. Fallon tinha uma expressão clara de descontentamento em seu rosto.

— Monstros? — perguntei, ela se virou para mim e ergueu uma de suas sobrancelhas perfeitamente desenhadas. — O que te faz pensar que não seja apenas um responsável, srta. Fallon?

— Por favor, sei que são agentes, mas me sinto em um interrogatório deste modo. Me chame apenas de Miranda, sim? — pediu ela.

Assenti.

— E então?

— Eu não sei. Mas não é difícil imaginar, certo? — disse a mulher, abanando as mãos como se aquela fosse uma pergunta desnecessária. — Corpos dilacerados e queimados? E não um, mas vários? Eu não consigo imaginar um lobo solitário dando conta de tudo isso sozinho. — Concordei silenciosamente. Era um modo sensato de se pensar.

Atrás de nós e recostado à parede, Castiel se mantinha calado, apenas observando. O anjo estivera estranhamente quieto nos últimos minutos, o que me fazia sentir desconfortável. Uma virada em sua direção e seus olhos intensamente azuis encontraram os meus. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas senti que seu olhar transmitia uma mensagem bem clara: precisamos conversar.

Fui retirada de meu transe quando as portas do elevador se abriram outra vez, nos deixando no segundo andar. A Dra. Fallon passou por elas rapidamente, deixando que eu e Castiel a seguíssemos outra vez e assim fizemos.

— Tem algo para me dizer? — sussurrei para Castiel uma vez que Miranda estava consideravelmente longe.

O anjo balançou a cabeça, como se dissesse "agora não".

Após percorrer alguns poucos corredores, Miranda enfim parou em frente a uma porta onde se lia "SALA DE ARQUIVOS — C". Ela retirou do bolso um pequeno molho de chaves e enfiou uma delas na fechadura, fazendo sinal para que eu e Castiel a seguíssemos para dentro da sala.

— Aqui estão datados arquivos da década de 50 à 80 — disse a mulher, formalmente. — Creio que os papéis que vocês procuram estejam bem... aqui — ela vasculhou uma gaveta próxima à porta por alguns segundos e retirou de lá uma pasta ligeiramente empoeirada, mas conservada.

A Dra. Fallon me entregou o documento.

— Aí há tudo o que temos sobre Samirah desde sua internação até o ano de seu falecimento — explicou, então uma expressão triste cruzou seu rosto, me pegando de surpresa. A mulher suspirou e disse: — Sinceramente, eu vejo as ligações, mas não as razões. Sei que tudo parece conectado, mas não há como um caso de 33 anos ter influência sobre assassinatos atuais.

Assenti. Eu compreendia sua linha de raciocínio. Se ao menos você soubesse, pensei comigo mesma.

— Acredite, eu mesma sei a loucura que essa investigação toda parece. — Ela sorriu. — Mas meus superiores parecem certos de que há algo nessa linha do tempo que seja uma pista concreta.

A mulher concordou com um aceno.

— Eu entendo, ou quase — disse, por fim. — Bom, acho que isso é tudo. Infelizmente, não há mais nada aqui referente a esta mulher. Podem levar este arquivo se quiserem, mas receio não poder ajuda-los em mais nada.

Ela fez menção de sair do cômodo, mas chamei seu nome outra vez. Miranda se virou com uma expressão curiosa em seu rosto.

— Mais uma coisa, srta. Fa... Miranda — pedi. Ela assentiu em minha direção. — Sei que não gerenciava este lugar naquela época, mas há algo em relação às sessões de Samirah que você possa nos contar? Qualquer informação é útil.

A mulher pensou por alguns instantes, batucando as unhas no queixo por alguns segundos. Por fim, seu rosto pareceu se iluminar.

— Bom, tem algo, mas não sei se é realmente relevante.

— Qualquer coisa é relevante, Miranda, espero que entenda.

Ela assentiu.

— As histórias viajam por aqui, é uma coisa comum entre os mais velhos — disse ela. — As de Samirah são as mais famosas. Contam que ela era uma mulher demasiado histérica e agressiva quando chegou aqui, mas que após alguns meses seu comportamento mudou completamente. Ela se isolou inteiramente de tudo e todos.

Franzi o rosto, aquele não deveria ser um comportamento estranho dada a situação pela qual Samirah havia passado. Miranda pareceu ler minha expressão e se apressou em explicar:

— Sei o que está pensando, mas não é bem assim. — Começou, balançando a cabeça. — Dizem que ela se isolou por conta de visitas que começou a receber de uma mulher que se dizia sua amiga. Ela era a única pessoa a visita-la, até que por motivos desconhecidos parou de vir. Dois meses depois, Samirah sofreu uma parada cardíaca e foi levada ao hospital local, mas não resistiu à viagem.

Sua declaração me pegou totalmente de surpresa. A aparição de uma suposta nova testemunha mudava totalmente o rumo das coisas.

— Quem foi essa mulher? — perguntei, já adivinhando a próxima parada que teria de fazer.

— Seu nome era Eleanor Woods. Alguns dizem que ainda está viva e mora na cidade, mas eu não sei nada sobre ela — Miranda sorriu tranquilamente. — Como eu disse, são apenas histórias e não creio que seja uma informação relevante, mas isso não cabe a mim decidir.

Assenti, sentindo que aquela história toda se facilitava aos poucos. A aparição de uma nova testemunha alterava bastante os detalhes que eu e os garotos havíamos planejado, mas, se essa tal Eleanor ainda estivesse viva — e eu torcia para que sim —, nosso caminho se encurtava consideravelmente. Era um trunfo que eu não poderia desperdiçar — e nem iria.

Me virei para a Dra. Fallon com um sorriso de gratidão. Suas informações haviam sido imensuravelmente valiosas.

— Se a Sra. Woods ainda está viva, não será problema para nós encontrarmos sua atual localização — falei. Ela assentiu sem dizer nada. — Obrigada por sua ajuda, Miranda. Esses foram detalhes importantes.

A mulher deu de ombros, abrindo um sorriso simples.

— Vou dizer a Robert que vasculhe nosso livro de visitas. Felizmente, temos todas as edições guardadas aqui, inclusive as mais antigas, ele não deve demorar a encontrar uma das assinaturas de Eleanor — ela sorriu outra vez. Apesar de sua postura ainda ser superior e emanar uma alto confiança avassaladora em tudo, eu começava a enxergar aquela mulher de uma forma mais amistosa. — Farei com que lhe entreguem as devidas informações na saída do prédio. Isso é o máximo que posso fazer para ajuda-los.

Assenti agradecidamente. Aquilo já era mais do que eu imaginava conseguir ali.

— Muito obrigada. O FBI agradece a sua cooperação.

Miranda sorriu.

— Espero que consigam finalizar esse caso o mais rápido possível. Até mais, srta. Sullivan.

Eu e Castiel nos despedimos dela enquanto deixávamos a sala de arquivos. Uma vez que sua ajuda não era mais necessária, a Dra. Fallon nos deixou sozinhos e se dirigiu para suas próprias tarefas diárias.

Já que tínhamos o necessário para prosseguir na investigação, era hora de dar o próximo passo. Fiz menção de entrar no elevador, quando senti mãos agarrarem meu pulso de repente e instintivamente puxei o braço, me virando para trás com um olhar de interrogação.

Castiel me encarava confuso.

— Eu te machuquei? — perguntou ele.

Franzi o rosto. O que?

— Ah, não, me desculpe — ele pareceu surpreso com a minha reação. Não era eu quem devia estar surpresa?, pensei. — O que foi, Castiel?

O anjo me encarou por um momento, piscando. Algo em sua expressão me dizia que não estávamos prestes a ter uma conversa simples.

Instantaneamente me lembrei de sua postura no elevador minutos antes, enquanto a Dra. Fallon nos guiava até a sala de arquivos. Parecia que Castiel queria me dizer algo, mas aquele não era o momento. Aparentemente sua hesitação chegara ao fim.

— Eu quis te contar mais cedo, na pousada — começou ele, sério. — Mas não pareceu um bom momento, especialmente com a atmosfera que estava entre você e Dean. Acho que agora é uma boa hora para lhe dizer.

Fiquei tentada a retrucar a parte sobre a "atmosfera entre mim e Dean", mas a curiosidade falou mais alto em minha cabeça.

— Certo, o que você precisa me contar? — perguntei.

Castiel estava estranho, eu me perguntava o porquê de tanto suspense. Aquilo tudo estava me deixando extremamente ansiosa.

— É sobre seu pai — ele disse abruptamente. — Tenho notícias... dele.

Eu senti meu coração falhar algumas batidas com aquelas palavras. Encarei o anjo, pensando se aquela não era uma brincadeira de sua parte. Mas Castiel nunca faria algo assim, ainda mais considerando o assunto. Deixei que ele continuasse a falar, mas agora sentia minhas mãos tremerem ao lado do corpo.

Castiel respirou fundo, se preparando para continuar.

— Aparentemente, Adam está atrás de alguém — ele disse, me encarando. Seus olhos azuis estavam fixos nos meus, lendo minhas reações. — Não consegui descobrir o motivo, mas sei que já fazem meses desde o início de sua busca.

Franzi o rosto, confusa. Aquelas informações não faziam muito sentido para mim.

— Atrás de alguém? — repeti, perplexa. — Mas... quem?

Castiel encolheu os ombros, ficando em silêncio por um momento. Foi a minha vez de ler sua reação. Engoli em seco, temendo até onde aquela conversa levaria.

Ele havia dito que a busca do meu pai datava de meses antes, mas quantos, exatamente? Eu estava com os Winchester há pouco mais de dois meses até então. Isso significava que ele estava nessa caçada em particular desde que eu começara a procurá-lo? As dúvidas começavam a inundar minha cabeça, eu me sentia cada vez mais apreensiva à medida que aquela discussão continuava.

— Castiel. — Chamei seu nome, séria. O anjo permaneceu inabalável e silencioso, mas sua expressão era de quem preferia não estar ali naquele momento. — Atrás de quem, exatamente?

Ele suspirou, coisa que eu raramente o via fazer. Como já mencionei antes, Castiel tinha o hábito de ser direto, nunca enrolava com nada. Entretanto, era exatamente isso que ele estava fazendo.

— Você não vai gostar de saber.

Balancei a cabeça, ignorando suas palavras.

— Fale.

Ele assentiu, ainda que meio relutante.

— Um alvo. — Respondeu, e por um momento fiquei completamente perdida. Que diabos aquela frase deveria significar? Então ele completou: — Seu pai está atrás de um alvo. Não tenho nomes, sinto muito. Mas tenho uma ponta solta... Remanescentes.

Eu congelei instantaneamente. Aquela era a segunda notícia chocante do dia que eu recebia, ambas em menos de 5 minutos.

— O-o que?

O anjo suspirou outra vez. Eu sabia, ele havia lido minha mente, por isso sabia mais do que ninguém o que aquele nome significava para mim. Estava escrito em seus olhos o quanto aquilo tudo era desconfortável para ele.

— Adam está em busca de alguém que é alvo dos Remanescentes, Emma. Achei que devesse saber disso. — Ele me olhou solidariamente. — E tem mais. Este alvo está em Sioux Falls.

Franzi o rosto, desacreditada.

— Sioux Falls? — perguntei, mas minha voz nada mais era que um sussurro. Pigarreei, continuando em um tom mais audível: — Você está me dizendo que tem uma isca perfeita para encontrá-lo e ela esteve embaixo do meu nariz esse tempo todo nos últimos dias sem que eu soubesse?

Castiel balançou a cabeça. Por um momento, sua expressão se fechou para mim.

— Não é uma isca, é outra pessoa, Emma. — Corrigiu, sério.

Fiz um gesto de mãos, ignorando suas palavras. Eu não estava ouvindo a tudo o que ele dizia claramente, e não me importava muito, na verdade. Eu havia parado de prestar atenção quando ele mencionara que o Alvo estava em Sioux Falls.

— Considerando que os Remanescentes estão atrás dessa pessoa... — pensei um pouco, minha mente estava frenética. — Não pode ser outro humano, eles não perderiam tempo com algo assim. Eu diria que é um lobisomem... ou talvez um dos vampiros do clã de Justin.

Castiel deu de ombros.

— É uma escolha sua voltar para lá ou continuar aqui e ajudar os garotos, mas, Emma... — ele me encarou fixamente, percebi que queria dizer algo importante.

Me virei para ele e ergui uma sobrancelha, como que incentivando-o a continuar. O anjo crispou os lábios para falar.

— Se você voltar, deve dizer a Sam e Dean o motivo e, mais importante, quem são os Remanescentes. — Eu estava pronta para recusar, mas ele me interrompeu. — Estou falando sério, Emma. Pare de esconder as coisas, isso não te levou a um bom caminho da última vez. Eles merecem saber...

— Castiel — cortei-o. Ele me encarou, sua postura emanava reprovação, mas não recebi uma palavra a mais sobre o assunto. — Esse assunto não diz respeito a nenhum de vocês, está bem? Já chega.

Castiel não demonstrou reação diante de minhas palavras. Apenas permaneceu me encarando, ainda com o semblante de reprovação em seu rosto. Respirei fundo.

— Olhe, quero que leve esses arquivos para a pousada e os entregue a um dos garotos, para que examinem as informações aí dentro, está bem? Se puder, é claro — acrescentei. — Preciso pensar um pouco sobre... bem, tudo.

Ele não disse nada, estava claro que eu não desejava sua companhia nas próximas horas e o anjo não foi contra tal atitude. Silenciosamente, ele pegou os papéis que eu segurava e me lançou um olhar melancólico.

— Tome cuidado — foi tudo o que disse. E então eu estava sozinha no corredor, cercada por meus próprios pensamentos conturbados e furiosos.

Suspirei. Os últimos minutos haviam sido suficientes para transformar meu dia em um completo tornado, girando com tantas informações que eu facilmente me perdia tentando assimilar todas elas.

— Não resta muito mais o que fazer, então... — dei de ombros, rumando outra vez para o elevador e, então, a saída.

Enquanto caminhava, lembrei das palavras de Castiel outra vez. O anjo estava insistindo tanto nessa história de contar tudo aos irmãos que chegava a me irritar. Tudo bem que ambos mereciam a verdade, mas... eu também não merecia a opção de privacidade? Fala sério!

Estava imersa em meus próprios pensamentos e mal vi quando uma mão agarrou meu ombro, me parando a poucos metros da porta de saída do Sanatório.

— Mas que merd...? — eu voltei ao presente apenas para me deparar com Robert, o cara do balcão da recepção, me encarando com uma expressão curiosa.

Boa, Emma. Assim você vai acabar se passando por uma doida e talvez eles resolvam te internar aqui também, pensei.

— Você... eu não te vi. — Respirei fundo, engolindo a exasperação. Uma pontada de irritação me atingiu naquele momento, mas busquei não demonstrar nada além de profissionalismo.

Robert deu um sorriso sem jeito.

— Minhas sinceras desculpas — pediu, mas não parecia totalmente sincero. O que havia com aquele sujeito, afinal? — Apenas vim lhe entregar isto a mando da Dra. Fallon — ele depositou um pequeno papel cuidadosamente dobrado em minhas mãos. — É o endereço de Eleanor Woods. Espero que lhe seja útil.

— Obrigada — agradeci, lhe dando as costas e me preparando para sair daquele lugar o quanto antes.

Foi quando sua voz fez meu corpo congelar onde estava.

— Eu realmente sinto muito por antes — disse ele, um tom divertido na voz que pela primeira vez pareceu sincero. — Não esperava que fosse tão fácil deixar Emma Grace assustada.

Suas palavras me atingiram com uma precisão avassaladora e eu me virei imediatamente, chocada.

— O que você disse?

O homem sorriu. Um segundo depois ele estava diante de mim, seus olhos verdes me encarando profundamente. Mas que droga está acontecendo aqui?

— Você ouviu bem, não?

Balancei a cabeça, rapidamente recobrando a postura. Analisei um pouco a situação; ele não representava ameaça aparente, mas eu me mantinha em alerta, nem um pouco confortável com a repentina proximidade entre mim e aquele estranho que por acaso sabia demais.

— Quem é você?

O moreno deu de ombros descontraidamente, como se saber meu verdadeiro nome não fosse nada demais em uma situação como aquela.

— Você quer conversar? Por mim tudo bem, estou em horário de intervalo mesmo — disse, passando por mim e saindo do prédio sem dizer mais nada.

Por um momento, fiquei apenas estática, totalmente surpresa. Então, um milhão de dúvidas irromperam em meu cérebro: quem era ele? Como sabia meu nome? O que estava fazendo ali? Se ele me conhecia, sabia que eu não era uma agente e, consequentemente, que todas as minhas perguntas à Miranda haviam sido falsas. Nesse caso, por que não dissera nada?

— Hum... — eu olhei para a silhueta do homem, que desaparecia aos poucos conforme ele tomava distância do prédio.

Bom, só havia uma maneira de descobrir. Silenciosamente e ainda bastante chocada com toda aquela situação, eu me vi saindo daquele lugar e seguindo pelo mesmo caminho que Robert, o suposto atendente.

Me peguei imaginando o que me esperava a partir dali. Seria ele um inimigo? Talvez não passasse de um intermediário, algum subordinado querendo passar uma mensagem — nesse caso, quem seria seu superior?

Assim que virei a esquina que dava para a instituição, vi alguns metros à frente que Robert se encontrava encostado na parede de uma cafeteria, me esperando. Ele abriu um sorriso quando me viu, fazendo um sinal para que eu entrasse.

— Só pode ser brincadeira — sussurrei para mim mesma. Mas já havia tomado minha decisão.

Como coração acelerado e pensamentos frenéticos em minha cabeça, segui em sua direção.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Emma tem uma conversa com Robert a respeito de suas intenções e acaba por descobrir novas informações sobre o caso Axefire. Dean confronta a caçadora em busca de respostas mais uma vez, enquanto Sam permanece em meio ao fogo-cruzado. Restam duas alternativas: voltar a Sioux Falls em busca de detalhes sobre o Alvo e sua relação com Adam ou continuar ajudando os Winchester no caso atual. O que Emma irá escolher?



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