Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 15
15. Fantasmas do passado, pt. II


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEY MY BABIES ♥

Sentiram minha falta? Eu senti muito a de vocês, tanto que até vim postar o capítulo mais cedo u_u me amem muito, ahsuhs.

Segunda parte de "Fantasmas do passado" fresquinha pra vocês, com direito a um pouco mais de flashbacks do passado da nossa caçadora e um pouco mais de Justin e Emma :3

Boa leitura a todos! ♥



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CHEGUEI EM CASA o mais rápido que pude, embora o trânsito não tivesse ajudado muito e eu, por pouco, não houvesse atropelado um ou dois pedestres.

Corri para dentro da casa e assim que cheguei na sala, avistei meu pai; ele estava sentado no sofá, os braços apoiados nas pernas e o rosto entre as mãos. Mesmo com as costas inclinadas e a respiração contida, pude notar que ele chorava. Isso me surpreendeu, afinal, eu nunca havia visto meu pai chorar, nem mesmo quando mamãe morrera. Vê-lo naquele estado era quase doloroso.

Caminhei até ele e me ajoelhei na sua frente, retirando suas mãos de seu rosto gentilmente. Relutante, ele ergueu a cabeça e vi que seu rosto — assim como os olhos — estava molhado e vermelho, e seus lábios tremiam.

Eu ainda não sabia o que estava acontecendo, mas naquele momento, entendi que era bem mais sério do que eu imaginara.

— Pai... — eu o encarei e segurei suas mãos aguardando uma explicação.

Ele respirou fundo e mordeu os lábios com força, parecendo lutar contra as lágrimas. Então fechou os olhos e disse:

— Dois anos... — ele começou com a voz rouca e falha, parecia não estar acreditando nas próprias palavras. — Dois anos e eu nunca desconfiei. Nunca imaginei nada, como isso aconteceu? Como eu pude ser tão cego?

Franzi o cenho enquanto o observava, confusa. Aquela conversava estava estranha demais.

— O que aconteceu? — perguntei.

Meu pai abriu os olhos e me encarou profundamente, o verde neles contido, o qual eu havia puxado e adorava, agora me passava uma sensação de desolação e tristeza.

— Alice fugiu. — Ele disse as palavras tão rapidamente que, por um momento, pensei ter escutado errado, até que ele as repetiu: — Alice fugiu, com Theo. Eu não entendi nada, M, nada. Ela simplesmente disse que estava cansada, que não queria mais essa vida, que não gostava do que fazíamos. — Ele deixou que as lágrimas escapassem mais uma vez, e tudo o que fiz foi ficar quieta, absorvendo o impacto de suas palavras e ao mesmo tempo oferecendo o consolo que podia. Lentamente o choro enfraqueceu e meu pai continuou: — Mas me diga, como isso é possível, se mesmo semana retrasada ela havia dito que adorava tudo isso? Que amava a “adrenalina” que as caçadas ofereciam e nunca iria querer nada além disso. Me diga como isso é possível, M.

Era verdade, Alice realmente havia dito aquilo. Quando tínhamos livrado uma casa noturna de um poltergeist e salvo uma família inteira, ela havia olhado em meus olhos e dito que amava o que fazíamos, que nunca abandonaria aquela vida.

Então como era possível o que meu pai estava me dizendo ser verdade? Os fatos não batiam.

— Onde ela está, pai? — eu respirei fundo enquanto meu pai dava de ombros, cabisbaixo.

— Como posso saber? Há uma hora, ela discutiu comigo e saiu batendo a porta, dizendo que nunca mais voltaria, que iria ter uma nova vida com aquele... aquele pirralho metido. — Disse ele. — Não tenho ideia de onde ela possa estar. Alice quer mesmo sobreviver ao mundo real com apenas dezoito anos? Digo, sei que ensinei muita coisa a ela, mas, mesmo assim... — suspirou.

Pensei um pouco, forçando o meu cérebro a estipular possíveis lugares para onde Alice pudesse estar.

— Ela saiu com alguma mala? Alguma bagagem?

Meu pai balançou a cabeça negativamente.

— Nada, só a roupa do corpo e o celular.

Então eu finalmente pensei no lugar certo, ou ao menos, no mais provável. Me levantei rapidamente e corri para meu quarto, no andar de cima, onde peguei as chaves do carro e — sabiamente — um casaco. Desci velozmente as escadas, indo direto para a garagem.

— Aonde você pensa que vai, mocinha? — a voz de meu pai surgiu na porta, desta vez seu tom era severo, desaprovador.

Busca-la, sei onde ela está — respondi enquanto entrava no carro sem nem esperar por uma resposta. Pisei fundo no acelerador e já estava com os dedos no celular, direto na discagem rápida. Eu precisava achar Alice a todo custo.

Precisava achar minha irmã.

Mas o que eu não sabia era que os piores acontecimentos daquela noite ainda estavam por vir.

***

Lutando contra a minha raiva, vontade de me debater freneticamente e xingar todos os palavrões conhecidos pela humanidade — em todos os idiomas conhecidos —, assim que acordei permaneci calma e quieta.

Não demorou muito para que eu recordasse os últimos acontecimentos e não posso dizer que me alegrei com eles. Fiquei de olhos fechados, procurando não demonstrar que estava desperta; o lugar em que me encontrava estava silencioso, mas eu nunca poderia confirmar isso de olhos fechados, considerando que vampiros são criaturas sorrateiras e silenciosas.

Ouvi o som de uma porta se abrindo, seguido pelo banque de uma batida forte.

— Ela ainda não... — ouvi uma voz feminina familiar se pronunciar, para logo depois ser interrompida.

— Já, sim. Pode abrir os olhos, Emma, sabemos que está acordada. — Disse uma voz masculina, Justin. Senti meu sangue ferver no mesmo instante, embora tenha permanecido na mesma posição, sem mover um músculo. Bom, isso até sentir mãos agarrarem meu maxilar com força, me fazendo abrir os olhos, surpresa. — Se eu já tinha certeza antes, agora tenho mais ainda. Seus batimentos te denunciaram, amor. Eu sabia que iria adorar ouvir a minha voz de novo.

— É sério, o que vocês têm contra o bom e velho “poderia me acompanhar, por gentileza?” — perguntei irritada. — Não precisavam me apagar daquele jeito.

Justin riu, voltando a apertar meu queixo.

— A sua capacidade de fazer piada em momentos de considerável perigo sempre me surpreende, Emma — ele sorriu, largando meu queixo.

— Quem disse que era piada? — resmunguei, flexionando o maxilar dolorido.

O moreno gargalhou alto, balançando a cabeça e se virando para uma garota ao seu lado que me observava com atenção. Eu a reconheci como sendo Mandy, a sanguessuga ruiva de estimação de Mitchell e Justin.

Mais uma vez, examinei o lugar em que estava. Um galpão, provavelmente; não muito grande, mas nem tão pequeno assim. Algumas caixas e móveis de madeira velhos e empoeirados estavam empilhados e inutilizados em um dos cantos e um pouco à minha frente se encontravam janelas enormes, com vista panorâmica para o resto da cidade, o que me fazia crer que seja lá onde estivesse, tinha mais do que um andar.

Eu também estava — de novo — amarrada a uma cadeira nada confortável, salvo que, desta vez, minhas pernas não estavam atadas.

— Mitchell disse que eu era uma moeda de troca — comentei após alguns segundos de silêncio. — Ele nunca mencionou nada sobre eu ser uma mobília. Até quando vão ficar me levando de um lugar pra outro?

O vampiro revirou os olhos e suspirou audivelmente.

— Aquele sugador idiota, não sabe manter a língua dentro da boca. — Ele balançou a cabeça. — Mas não se preocupe, esse aqui é seu destino final. Em breve, seus amiguinhos vão chegar e se entregar, e então você poderá ir pra casa e continuar sua busca dramática pelo seu velho, ou seja lá o que quiser fazer.

— Por quanto tempo fiquei apagada? — perguntei, ignorando seu comentário.

— Algumas horas, o suficiente pra ter passado a noite dormindo como um anjo. Você é mais simpática quando não está acordada, sabia? — ele sorriu. — De qualquer modo, já fazem quase quarenta e oito horas desde que te trouxemos.

Arregalei os olhos. Dois dias? Aqueles desgraçados haviam me mantido em cativeiro por dois dias?! Ah, eles iam pagar caro.

Como se estivesse apenas esperando a deixa, meu estômago roncou alto. Encarei Justin com uma sobrancelha erguida.

— Pretendem me fazer definhar de fome antes de me libertarem? — indaguei com sarcasmo. — Porque, se sim, estão no caminho certo.

Mandy enfim se manifestou, sem tirar os olhos de mim:

— Vou buscar algo pra ela — falou para Justin, com um olhar frio.

— Faça isso, sim. — Ele concordou com um aceno, a ruiva saiu apressadamente do lugar, batendo a porta atrás de si. O vampiro me encarou com um sorriso malicioso. — Agora que estamos sozinhos, pode perguntar.

Justin era observador, disso eu sabia.

— Como pretende trazer aqueles dois até aqui? — ele arqueou as sobrancelhas, como se eu estivesse fazendo uma pergunta desnecessária demais. — Sejamos sinceros, Justin, Sam e Dean prezam muito mais a segurança um do outro do que a minha, não rola de nenhum dos dois colocar a família em perigo por mim.

O moreno sorriu divertidamente.

— Eles virão. Isso não é um palpite, é uma certeza, amor.

— Como pode estar tão certo disso?

— Simples: é por causa deles que você está nessa situação, e isso é algo que nenhum dos dois vai deixar passar. Ainda mais pelo tempo que você esteve com eles.

Franzi o cenho.

— Do que está falando?

— Querendo ou não, você criou um vínculo com os Winchester nesse meio tempo em que esteve fora, Emma. — Ele me encarou. — Aqueles irmãos se importam com você, e é evidente que você também se importa com eles.

Abri a boca para falar algo, mas simplesmente não saiu. O que eu diria? Que não me importava com Sam e Dean? Claro que me importava com aqueles idiotas, não era tão estúpida a ponto de não ver isso; mas não seria boba de admitir.

Tá aí uma coisa que nem me matando vão conseguir, pensei.

Justin levou meu silêncio como uma confirmação para o que acabara de dizer. Ele abriu um sorriso vitorioso no momento em que a porta se abriu novamente e Mandy passou por ela, carregando um copo com água e uma vasilha com sanduíches. Senti água na boca só de olhar para a comida, estava faminta.

— Vou deixar vocês duas fazendo companhia uma a outra enquanto eu vou... resolver os assuntos diplomáticos. Sejam boas meninas — aquele projeto de deus grego com olhos azuis me lançou uma piscadela e saiu, fechando a porta atrás de si.

A ruiva me direcionou um olhar de tédio, como se eu não valesse seu tempo. Abri um sorriso falso em resposta e ela caminhou na minha direção, deixando os sanduíches para trás e trazendo a água.

— Você ouviu, seja uma vadia boazinha — disse se aproximando de mim e segurando meu maxilar como Justin fizera, só que com mais força. — E talvez assim eu te alimente com os restos que merece — ela forçou o copo na minha boca e abriu um sorriso maquiavélico. Como aquele rostinho de anjo havia passado para uma expressão demoníaca em questão de segundos?

Chutei-a com toda a força que consegui acumular; a atitude a pegou desprevenida, fazendo com que largasse o corpo com o susto, que se espatifou em vários cacos pelo chão.

Mandy respirou fundo, contando até dez. Abri um sorriso convencido e ela me lançou um olhar de tanto ódio que era quase possível tocar.

— O que eu disse... sobre ser uma boa garota? — ela caminhou até mim novamente. Senti seu tapa antes mesmo que me atingisse, ao mesmo tempo que uma ardência insuportável tomou conta do lado esquerdo do meu rosto. Então ela olhou para o chão, para os milhares de pedaços de vidro espalhados e abriu um sorriso sádico. — Esse era seu truque, então? Cortar a corda com um dos cacos, sério? Que pena, achei que fosse mais inteligente que isso, querida.

Cerrei os punhos e me mantive calada, o que fez a ruiva gargalhar.

— Sinto muito estragar seus planos, mas... — ela chutou os cacos para longe de mim. — Não posso deixar que escape, temos um acordo a cumprir.

— Vá se ferrar! — cuspi, Mandy sorriu.

— Claro, depois que limpar essa sujeira que você arrumou aqui — ela pegou os pedaços de vidro do chão, deixando apenas migalhas que não me serviriam para absolutamente droga nenhuma. Então caminhou até a porta, se virando para mim no último segundo: — Não saia daí, caçadora. Acho que prefere continuar com sua medula intacta, certo?

A garota saiu do quarto gargalhando, parecendo exatamente com a bruxa psicopata e maquiavélica que era.

Esperei alguns minutos até que o recinto ficasse novamente silencioso e respirei fundo. Quando julguei que não havia ninguém por perto, levantei o pé direito do chão, revelando um caco intacto e bom o suficiente para me livrar daquelas amarras em questão de segundos. Abri um sorriso vitorioso, erguendo o pedaço de vidro com os pés e o levando até minhas mãos por debaixo da cadeira. Depois de um certo esforço, meus dedos o alcançarem e me pus a cortar as cordas.

Acho que sou mais inteligente do que você pensou, querida Mandy.

***

Era uma questão de tempo até que a sanguessuga voltasse para o galpão. Tempo que eu não tinha.

Já fazia alguns minutos desde que eu me libertara e a estava esperando ao lado da porta para emboscá-la, mas a ruivinha não voltava de jeito nenhum. É claro que eu já tentara sair antes disso, mas como era de se esperar, a porta estava trancada, então não me restavam muitas opções.

Quando eu já estava a ponto de desistir e esmurrar a porta até que alguma alma viva aparecesse, eis que esta se abriu e garota passou por ela como um vulto, pálida e assustada. Pareceu pior ainda quando não me viu amarrada na cadeira; estava tão alarmada que nem se deu conta de que eu estava bem atrás dela.

Sem perder tempo, pulei em suas costas e afundei o caco de vidro que usara para me libertar em seu pescoço, enquanto puxava-o e rasgava sua garganta lentamente, ouvindo Mandy gritar. Porém, foi lentamente demais. Senti mãos agarrando meus ombros e no momento seguinte fui arremessada contra a parede como se não pesasse mais que dez quilos. O impacto arrancou o ar dos meus pulmões e me fez engasgar na tentativa de recupera-lo.

— Maldita! — ela gritou, correndo na minha direção com as mãos ao redor do pescoço ensanguentado. — Acha que pode acabar com alguém mais forte que você? Você não passa de uma humana. Simples, mortal e estúpida humana! — ela chutou minhas costelas e soltei um grito agudo de dor, enquanto era mais uma vez impulsionada para trás.

Arrastei-me até os móveis velhos que estavam empilhados de qualquer jeito na parede e os usei como apoio para me erguer. Assim que senti a presença de Mandy logo atrás de mim, puxei uma cadeira da pilha e arremessei contra seu rosto, fazendo-a cambalear alguns passos para trás, momentaneamente atordoada. Chutei sua barriga com força e assim que ela se encolheu, bati mais uma vez com a cadeira, fazendo despencar no chão. Meus olhos correram pela sala, aflitos por algo que eu pudesse usar como arma final, mas não havia nada, absolutamente nada.

Me distraí por um segundo precioso, o que fez com que a vampira chutasse minhas pernas, me fazendo perder o equilíbrio e desabar no chão com tudo. Mandy subiu em cima de mim e pressionou minha garganta com força, eliminando todo o ar e me sufocando.

— Eu te disse para ser uma boa menina — disse enquanto eu me debatia e socava seus braços inutilmente. Não tinha chance nenhuma contra sua força. — Mas não se preocupe, você terá a honra de ser morta por alguém com olhos mais bonitos que os seus. — Ela sorriu friamente e pressionou ainda mais as mãos.

Sabe aquele papo besta de que quando se está prestes a morrer uma luz branca aparece para você, te guiando para a paz eterna, ou seja lá o que for? Pois é, essa história não passa disso: besteira. Naquele momento, enquanto eu assistia a mim mesma ser morta lentamente, eu só conseguia enxergar escuridão, nada mais. E o mais doloroso não era a pressão na garganta, me sufocando; o mais doloroso era saber que eu partiria com assuntos inacabados.

Sinto muito, Mory, Sam, Dean, Cas, Ally... não consegui me despedir de vocês, pensei.

Sinto muito, pai.

Fechei os olhos, apenas aguardando pelo momento em que tudo terminaria e eu finalmente teria a tão inalcançada paz.

Mas esse momento nunca chegou, porque um silvo cortou o ar próximo a mim e senti o aperto de Mandy se afrouxando, ao mesmo tempo que seu corpo tombava para o lado. Abri os olhos, vendo sua cabeça rolar em direção à porta como uma bola de boliche, e seu pescoço jorrar uma quantidade surpreendente de sangue.

Mãos agarraram meus braços e me puxaram para cima. Minhas pernas bambearam por um momento e senti que teria outro encontro desagradável com o chão, mas braços firmes me mantiveram de pé em um aperto seguro.

— Estou começando a achar que você tem um desejo meio suicida de ser salva por mim — disse uma voz rouca bem próxima.

— Dean...? — resmunguei, erguendo a cabeça e o encarando.

— A cavalaria chegou, princesa — o loiro abriu um sorriso, passando um de seus braços pela minha cintura e um dos meus por seus ombros. Na mão livre, ele tinha um enorme facão ensanguentado, o mesmo que acabara de usar para matar a sanguessuga ruiva. — Agora, tente se manter de pé por mais alguns minutos, temos alguns vampiros furiosos pra matar.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Alguém simpatizou com o Justin? E que tal com a Mandy? (AHSHSAHUS tá, parei).

Próximo capítulo sai no início do mês que vem, não percam!

E se quiserem, deixem um review e façam uma autora feliz u_u

Até a próxima, amores! :3



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