Levi ia começava a se distanciar das casas quando ouviu o barulho da tropa voltando. Desceu do cavalo,esperando pelos outros que por sinal eram menos agora. Algo a mais tinha acontecido. Erwin foi o primeiro a chegar,passou por Levi e abriu a porta com força, sua roupa e manto estavam machados de sangue, Hanji vinha logo atrás dele sem os óculos, tinha sangue no rosto dela.

–O que aconteceu? – Levi perguntou

–Não sei bem se digo ainda bem por vocês estarem aqui ou lamento – Erwin começou dizendo, indo até o colchão – Aqueles titã conseguiram atrair pelo menos mais uns dez menores, porém rápidos – ele abaixou colocando a mão na testa de Petra,depois afastando os cabelos para olhar um pouco o machucado – Tivemos...seis baixas, e quatro estão feridos,não tanto,mas estão. Queria que estivessem lá porque com certeza acabaríamos com os titãs facilmente, mas... – ele levantou colocando a mão no ombro de Levi – Acho que estou, aliviado. Pegue-a, vamos ter que voltar agora mesmo.

Levi a tirou do colchão de novo, e desta vez a colocou na carroça onde estavam os feridos, o que fez seu coração se apertar.

Ele montou no cavalo de Petra, mesmo que Erwin não achasse uma boa idéia. Finalmente o caminho de volta foi calmo, como o esperado por Erwin já que todos os titãs que resolveram aparecer na região foram derrotados.

Levi virava de costas a cada cinco minutos pra checar se Petra estava bem, ou pra perguntar aos outros feridos se ela estava respirando.

Os portões da muralha se abriram como sempre, a multidão esperava curiosa e preocupada bem na frente. Os olhares curiosos vieram pra dentro da carroça,quando viram que eram vivos,alguns soltaram um suspirinho de alivio. Porém a mais atrás, com os corpos dos soldados mortos, a linha de frente pode ouvir alguns gritos e choros. Levi arriscou olhar pra multidão, não era algo que ele gostava de fazer já que todos o admiravam e olhavam pra ele. Mas ele precisava se certificar de que nenhum familiar de Petra a visse pra não causar desesperos. Depois de dispersar um pouco da multidão, eles partiram pra o castelo. Hanji ficou encarregada de chamar Dr. Jager pra cuidar dos feridos.

A enfermaria logo ficou cheia, então levaram Petra e mais outro para um quarto vago,até os outros se recuperarem. Quando o médico chegou junto com mais outro começaram a olhar os feridos.

Levi estava parado na porta do quarto com o pé apoiado na parede de onde Petra estava. Hanji estava sentada com a cabeça apoiada do joelho, Erwin havia brigado com ela mais uma vez sobre o assunto de capturar titãs. Auruo e Gunter também estavam lá, em pé, esperando notícias de Petra.

Minutos mais tarde o médico abriu a porta saindo,atrás dele o outro soldado também saiu,estava com o braço enfaixado e um lado do rosto também e o Capitão Erwin que sempre acompanhava os procedimentos.

–Ela está bem. – ele começou dizendo, Hanji soltou um suspiro de alívio afundando o rosto nas mãos, e Levi sorriu – Tenho algumas recomendações – Jager olhou para o capitão que assentiu deixando ele dar “as ordens” - Ela deve ficar em repouso,não a movam de lugar,deixem ela nesse quarto mesmo. Quando ela acordar o equilíbrio dela vai estar um pouco afetado então não vai ficar em pé muito bem sozinha,o machucado na cabeça foi causado por algumas farpas que entraram,creio que tirei todas, ele deve ser trocado toda manhã e façam ela tomar esse remédio,um por dia,pode ser na hora de trocar o curativo. É ruim, então certifiquem-se de que ela vai tomar mesmo,é pra fortalecer a imunidade dela. – ele tirou uma caixinha do bolso – Ela vai ter fortes dores de cabeça, quanto a isso deixo claro que não posso dar remédio algum,e nem vocês. Caso esteja se prolongando – ele tirou outra caixinha do bolso – isso é um sonífero. Dêem um copinho cheio ou mais.

–Ou mais? – interrompeu Hanji

–Sim, porque se ela precisar tomar, significa que está realmente doendo então... – ele respirou fundo - Preciso que alguém... fique responsável por todas essas coisas.

–Eu fico. – Levi falou sem nenhum entusiasmo na voz antes que qualquer pudesse se voluntariar,Erwin ergueu as sobrancelhas e Hanji teve de fingir coçar a boca pra não mostrar um sorriso.

–Ótimo, ouviu tudo não é? – perguntou o médico, dando as duas caixas na mão dele.

–Claro.

–Então, com licença. – ele se retirou, e Erwin ficou no corredor.

–Bem,ela vai dormir agora,se puderem ajudar descarregando os suprimento das missões...Os parentes dos mortos vão vir aqui. – Erwin falou com pesar

Todos assentiram e saíram do corredor, Levi entrou no quarto e deixou os dois remédios do lado da cama de Petra. Afagou de leve a testa dela e saiu.

Uma hora antes...

O médico parecia ter acabado de entrar,Petra não ouviu muito,ainda estava sonolenta e a visão bem turva. Mas a voz ao seu lado eram de Erwin.

–O cavalo a atingiu com força, mas não entendemos porque sangrou.

Alguém mexeu no lado da sua cabeça. O que parecia uma pinça começou a repuxar sua pele. Ela apertou o lençol de leve.

–Petra? – Erwin chamou

–Pelo menos está consciente, se apertou o lençol foi porque sentiu dor aqui,sinto muito querida – o médico falava com ela – mas ainda tem algumas farpas aqui.

Outras várias vezes a pinça repuxou o lado da cabeça dela. Sem perceber uma lágrima caiu do seu olho,escorrendo pelo lado esquerdo.Erwin esticou o dedão e secou a lágrima, Petra fingiu não perceber e fechou os olhos.

Levi ficou por dois dias trocando os curativos de Petra com ela meio aocrdada,meia dormindo, os reflexos dela não estavam bons,então ele chamava Hanji para segura-la,enquanto fazia os procedimentos.

No terceiro dia, por volta das cinco da tarde, Levi já estava livre dos seus afazeres. Havia acabado de ajudar Auruo e Gunter com a contagem de equipamentos. O que mais queria agora era um banho. Depois do banho quente, se lembrou de passar na enfermaria para trocar o curativo de Petra.

Abriu a porta devagar pensando que ela estava dormindo, mas ela estava sentada na cama, havia acabado de tirar o casaco da tropa e vestia uma regata cinza simples.

–Vejo que está melhor.

Ela continuou em silêncio. Ele apenas se aproximou e segurando a cabeça dela, começou a desenrolar a fita. Ela ainda permanecia muda. “É por causa de antes?” pensou ele “Por causa do beijo? Ou ela está mal ainda?”.

Aquilo mexeu com Levi de algum jeito, querendo ou não assumir pra si mesmo, ele queria que aquilo se repetisse, ele queria beijá-la de novo, mesmo que não devesse naquela hora, e ali, ou em qualquer circunstâncias, ele sabia que era arriscado.

Sabia que cada vez que os portões das muralhas se abriam pessoas não iriam voltar,sabia que era uma das regras não se envolver com membros,porque querendo ou não atrapalhava. O medo de perder... de querer proteger. Mas Petra... Ela o fazia se sentir feliz e vivo como a muito tempo não sentira. Ele balançou a cabeça de leve afastando os pensamentos. “Apenas amigos...”

Assim que acabou de desenrolar, viu o que o médico falara sobre as farpas, havia vários pontinhos de sangue do lado da cabeça dela, como se tivesse caído em espinhos. Pegou um algodão molhado com água e passou de leve no machucado, ela gemeu baixinho de dor, e ele não pode evitar de sorrir.

Depois de limpar, ele segurou por um tempo o algodão no lugar e ficou olhando de leve o rosto dela. As mãos dela apertavam uma a outra, e suas bochechas estavam coradas, ela tinha os lábios tão carnudos...

Petra não podia estar mais envergonhada. O que ela fizera antes?! Ele era um superior, ela tinha prometido não se deixar levar pelos sentimentos...Tinha prometido se concentrar nas missões,e em mais nada. Em dar o melhor dela pela humanidade, não havia lugar pra sentimentos, não agora. E talvez, não com Levi.

–Cabo, eu ... – ela começou a dizer ainda com a cabeça abaixa, ele levantou seu queixo e a encarou com a mesma expressão fria da outra vez que ela o beijara, mesmo assim ela sentia o rosto se avermelhar, e um tremendo calor tomar seu corpo. De leve ele puxou seu queixo pra frente e a beijou de nos lábios, como antes, os dois de olhos abertos. Ela estava espantada. Ele voltou a beijá-la desta vez de olhos fechados. Saiu um ar quente da boca dela quando ela retribuiu o beijo que fez ele se aproximar mais, passou a mão livre pela sua nuca, ela segurou o colarinho do casaco dele. Ele teve de soltar o curativo quando os beijos começaram a ficar mais intensos, e afagou as coxas dela subindo a mão pela cintura...

Do corredor veio um barulho de botas, chamou sua atenção. Levi abriu os olhos, e parou de beijá-la apoiando a testa em seu ombro.

–CABO! Erwin chama o senhor para dar o Relatório. - Petra se assustou e abriu a boca pra falar, mas ele a tampou com a mão. – era a voz de Auruo.

– Sim, vou assim que terminar.

Então as botas se afastaram.

Ele estava apoiado no seu ombro, ainda com a mão em sua boca. Olhou de canto de olho para a regata, perto dos seios, mas desviou o olhar rapidamente, e tirou a mão da boca dela devagar, acariciando os lábios e a bochecha. E voltou a olhá-la. Seus olhos estavam espantados e brilhosos.

Ele pegou o resto das bandagens e começou a enfaixá-la de novo. Em silêncio. Quando acabou, pegou o copinho e deu o remédio, Petra o pegou nos dedos e cheirou.

–Pode tomar. – Levi alertou. Ela virou o conteúdo do copo num gole, e levou a mão a boca sacudindo os pés – Vamos... – e então ela engoliu dando o copinho pra ele.

–Eca.

Ele afagou a cabeça dela e saiu. Sem dizer nada.

“O que... eu acabei de fazer” pensou

Tratou de ir logo à sala do capitão fazer o relatório. Quando abriu a porta o capitão o esperava olhando pela janela.

–Capitão...

–Cabo... – ele se virou – Petra está melhor?

–Sim, está até acordada.

–Bem, vou deixar ela descansando por hoje posso fazer o relatório com ela amanha,mas vou dar uma passada lá.

Levi se sentou pronto pra começar o relatório.

–Você demorou. - Ele arregalou os olhos.

–Não reparei na demora, senhor.

–Hm, - Levi ia começar a escrever, mas levantou os olhos para o capitão, ele o encarava sentado na mesa – vocês são uma boa dupla. Mesmo que tenha sido arriscado, sinto que devo... lhe agradecer por ter salvado ela.

–Eu só, estava ajudando um colega, senhor.

– É um tanto desperdício ela ter que ser apenas nossa colega não acha? – Levi se espantou, uma leve pontada de ciúmes o pegou desprevenido, ele levantou os olhos do papel. Erwin lhe olhava seriamente – Afinal, não é bom termos relações com colegas, sabe como funciona não é?

Aquilo não era para lhe causar ciúmes. Era um aviso.

–Sim senhor.

–Já deu seu relatório, cabo. Pode ir.

Era só isso?Ele só queria dar esse aviso. Levi fechou a mão em punho, e se levantou saindo da sala.

“Realmente, o que foi que eu fiz...” se perguntou. Ninguém podia desconfiar que ele sentia algo pela Petra, ainda mais depois do que acontecera na enfermaria. Qualquer coisa, ele teria que omitir tudo.

Era de madrugada quando Levi escutou fortes batidas na porte dele. Estava de calça moletom quando abriu a porta. Gunter também vestido do mesmo jeito estava parado com uma cara assustada. Ele nem ao menos bateu continência para Levi, foi direto ao ponto.

–É a Petra,cabo.

Levi arregalou os olhos e fechou a porta atrás dele,saindo vestido como estava. Atravessou o corredor que separava os dormitórios, e já podia escutar o problema. Hanji e mais outras garotas estavam fora do dormitório. Levi passou por elas, indo até a enfermaria, Petra estava sentada na cama a cabeça entre os joelhos, gritando alto. Erwin estava do seu lado, tentando acalmá-la.

–O que ... – Levi começou a dizer

–Ela precisa do remédio. – disse Erwin em tom de ordem – Acho que é um caso de urgência.

–Não... – Petra sussurrou entre dentes – Não quero, já vai passar.

–Petra... – Erwin foi colocar a mão no ombro dela, mas ela se afastou

–Desculpa, acordar vocês. – ela levantou a cabeça do joelhos, os olhos estavam vermelhos de chorar, o lábios inferior estava cortado com marcas de dente... Ela o mordera pra não gritar. – Já passou.

Erwin cruzou os braços e saiu do quarto, Hanji sentou ao lado de Petra colocando a cabeça dela no seu colo. Levi sentou-se no chão na frente das duas, o rosto cansado. Era difícil,e até um pouco surpreendente ver como Levi estava preocupado com ela. Ela escutava os rumores de um soldado forte,e excelente em batalha. E ela confirmava todos os fatos, mas até agora não conseguia ver o “frio Levi” que todos falavam,e desejava não ver. Tirando as discussões, ao ver dela, ele apenas estava fazendo seu trabalho. Como quando a pegou na floresta, antes que ela pudesse rir com a lembrança, outra pontada de dor, atingiu sua nuca, ela encolheu as pernas, apertando as mãos na cabeça.

–Me desculpe... – Hanji disse

–Não vai começar Hanji , a culpa não foi sua. – disse Petra entre dentes – Não liga pro Erwin.

–Não fala assim.

–Eu não devia ter deixado você ir com aquele cavalo – Levi falou.

–Ei, vocês dois, já passou. Eu vou ficar bem – ela disse sonolenta soltando as mãos da cabeça e caindo no sono.

Ela não acordou o resto da noite. Levi dormiu no chão, e Hanji na cama agarrada em Petra. De manhã, ele a chamou as duas pra acordar, alguns recrutas estavam pra chegar da segunda chamada. Todos tinham de recebê-los.

–Vou deixar vocês se trocarem. – ele falou saindo quarto.

–Está bem mesmo Petra? – Hanji queria se certificar – Não precisa ir se não estiver bem.

–Preciso ir, meu irmão vai vir com eles, é meu dever ir. – ela sorriu

Enquanto as duas se trocavam, Petra pensava sobre as noites anteriores. Ela havia beijado Levi, duas vezes... e Erwin tinha tido uma atitude carinhosa até demais. Ela precisava falar com alguém sobre.

–Hanji... – Hanji se virou calçando as botas - Eu ... Você, você pode manter segredo de algo?

–Não preciso guardar um segredo que já sei. – Petra abriu a boca pra lutar contra, mas ela a interrompeu – Você gosta do Levi.

–Eu ,eu não gosto dele Hanji , eu beijei ele é dife- - Petra se calou. Hanji se virou com uma expressão como se Petra tivesse falado que capturou um titã especíme raro de 15 metros com tendência nível 3 a aprendizado e fala.

–O QUE?!! – ela gritou rindo e pulando

–Hanji, Hanji! Xiu!

–Eu sabia... Eu estava certa, eu sempre estou. Apesar de que eu achava que Levi gostava de rapazes...

–O que?!! –foi a vez de Petra gritar

–Ou que ele fosse uma pessoa assexuada, juro mesmo.

–Hanji!!

–Oi. – ela voltou o olhar a Petra – Ah sim, desculpe. Quer desabafar é?

–Eu só estou com medo, e confusa, e... Cheia de todos os sentimentos possíveis e... sim,acho que gosto um pouco do Levi...

–Um pouco... se os titã fossem nessa quantidade desse seu pouco estaríamos realmente ferrados e extintos.

Então Petra descreveu o maximo que pode de todos os acontecimentos, não omitindo nada. Disse tudo sobre os beijos, o jeito que Levi a fazia se sentir, o jeito que Erwin a tratava e o que ele fizera na enfermaria. Hanji ouviu tudo em silêncio, e quando Petra parou de falar. Ela limpou os seus óculos e o colocou no rosto.

–É. Que situação... Eu vou te dar um conselho Petra, siga se quiser. Como amiga eu te dou todo apoio do mundo pra ficar com o Levi, mas,como soldado,eu digo pra esquecer. Não podemos nos envolver com membros da tropa... – ela afagou os cabelos da amiga – Erwin deve estar tentando fazer a mesma coisa com você agora...

–Não quero esquecer ele...

–Eu também não queria esquecer uma pessoa...- ela ficou perdida olhando as janela - mas eu tento. – Hanji sorriu. – É melhor nos arrumarmos, e nos recompormos. Temos que estar bem para receber os recrutas.

Petra enxugou uma tímida lágrima que caiu do lado esquerdo do seu olho. Ela não estava disposta a desistir tão fácil assim.