Os dias foram se arrastando com uma preguiça massacrante. TomTom aceitou bem o fato de nossa mãe ter viajado apesar de reclamar de saudades. Minha vida continuava como estava, mas agora eu tinha que me desdobrar com TomTom. Ia para a escola pela manhã e a levava para a dela, me esforçava nas aulas o máximo que eu podia, tentava não prestar muita atenção em Karina e Bernardo apesar de me sentir extremamente triste ainda por tudo. Tentava acompanhar a conversa dos meus amigos e dava sorrisos falsos quando precisava. Eles sabiam de toda a história é claro e até me ajudavam com TomTom, principalmente as meninas.

[...]

– Agora você me paga Solange! – Sol soltou um gritinho esganiçado e tentou correr, mas eu a agarrei por trás e coloquei a mangueira sobre sua cabeça deixando a água cair sobre ela.

Era começo de tarde e eu estava lavando meu carro com a ajuda de Sol e TomTom, quer dizer, elas mais atrapalhavam do que ajudavam e a prova disso é que ela pegou um balde cheio de água e sabão para jogar no carro e ao invés disso jogou em mim porque tem um senso de direção péssimo demais. Vocês podem estar pensando que ela fez de propósito, mas não, eu a conheço o suficiente para saber que aquilo foi muito sem querer. Uma vez ela foi jogar uma maçã para mim na hora do almoço na escola, eu estava praticamente em sua frente e a maçã foi parar do outro lado do gramado na cabeça do Wallace um grandalhão lutador de Muay Thai da escola, o cara só não ficou nervoso porque achava a Sol gata demais. Sorte a dela. Será que se fosse eu a minha beleza iria me salvar?

– Ahh Pedro, seu malvado, foi sem querer – Ela fez bico e eu não resisti e dei um beijo na ponta de seu nariz.

– Tá calor, é bom que te refresca agora.

Eu e Sol estávamos passando muito tempo juntos, praticamente vinte e quatro horas por dia, ela ficava mais na minha casa do que na dela e eu agradecia aos céus por eu ter aquela garota em minha vida. Nesses dias ela pegou uma amizade com Wallace e claro apresentou a gente. Todos nós nos demos muito bem ele até que não é tão esquentado para um lutador de Muay Thai. Eu e ele trocavamos bastante conversas conselheiras. Eu fazendo papel de gay denovo. Todo mundo sabia que Wallace tinha uma quedinha por Sol e ele não parecia muito feliz com a minha amizade toda com ela, mas eu logo tratei de conversar com aquele babaca e abrir seus olhos, dizendo que entre eu e Sol não acontecia nada, mas que qualquer gavião poderia chegar nela enquanto o urubu – no caso o Wallace – ficava catando carniça por ai. Não foi muito legal chamá-lo de urubu e nem educado chamar as meninas que ele pegava de carniça, mas não me importei. Ele queria Sol, então tinha que ir a luta, ela era muita areia pro pobre caminhãozinho quebrado dela, mas a esperança é a última que morre.

– Ela quer banho de mangueira Pedro, então vamos dar banho de mangueira na pestinha da TomTom – Apontei a mangueira para as duas e a água atingiu o corpo delas. TomTom ria com toda a felicidade do mundo como se não existisse preocupação nenhuma no mundo e aquela felicidade era o meu combustível de todos os dias. Larguei a mangueira e abracei as duas porque eu estava precisando muito daquilo e claro que eu tive o abraço retribuído com muito fervor.

– Olha! A Ka! – Me afastei do abraço e olhei por sobre o ombro vendo que Karina estava sentada nos degraus da varanda de sua casa e olhava para nós, assim que percebeu que eu a olhava, ela desviou o olhar – Eu quero falar com ela.

– TomTom, você ta toda molhada.

– Ahh Pe, você disse que eu poderia falar com ela depois

– Tudo bem – Ela sorriu. A rua que morávamos era grande e sem saída, mesmo assim olhei para os lados para vê se não vinha carro e soltei a mão de TomTom fazendo-a atravessar a rua. Eu preferi não acompanhá-la e dei as costas quando vi que Karina a abraçou - mesmo ela estando molhada - e sentou-a do seu lado.

Sol estava com os braços cruzados encostada no carro e olhava para uma árvore fixamente. Parei em sua frente e toquei seu rosto fazendo-a olhar para mim. Eu já sabia porque ela estava daquele jeito e não apoiava sua atitude.

– Quanto tempo você vai ficar sem falar com ela? – Perguntei.

– Assim que ela parar de ser idiota eu penso se volto a falar.

– Sol, eu fui o primeiro a errar e errei feio.

– Você é tão ingênuo Pedro, você não teria errado se ela não tivesse feito tudo o que fez, por favor né, que tipo de amizade era aquela dela com o Bernardo? Ela nem ligava para as suas reclamações e você reclamava com razão não é, porque ela está com quem agora? Você a traiu sim e escolheu uma péssima pessoa para essa traição, mas você nem transou com ela. Para de defender a Ka porque ela não está com razão nenhuma, claro que ela tinha o direito de ficar chateada e tudo mais, mas foi só um beijo cara, já perdoei meu ex por ter feito coisa muito pior e isso não me fez ser idiota ou coisa parecida.

– Tudo bem, vamos encerrar esse assunto, okay?

– É que eu não queria que ela estivesse fazendo nada disso com você.

– Eu acho que estou começando a superá-la, sei lá, ainda dói, mas não como antes e eu também não ando pensando muito nela, há dias que eu mal percebo que ela existe, estuda na mesma escola que eu e é minha vizinha. Isso deve ser bom, não é? – Sol sorriu fraco e assentiu.

– É o melhor pra você – Ela me abraçou e eu depositei um beijo em seus cabelos. Ficamos um tempo assim até eu sentir alguém abraçando a gente. Só podia ser TomTom

– Vocês vão se beijar? – Ela perguntou e eu e Sol nos entreolhamos e gargalhamos sonoramente.

– Claro que não, pequena.

– Ahh, eu pensei que ia – Deu de ombros – Pedro, eu estou com frio.

– Vamos entrar, Você toma um banho e eu vou preparar algo pra você comer.

– Eu também quero comer! – Sol piscou os olhos freneticamente e eu revirei os olhos.

– Esfomeada – Peguei na mão de TomTom e nós entramos.