O Preço da Traição escrita por Massie


Capítulo 19
Capítulo 18




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Caminhava pelas ruas desertas enquanto os pensamentos me perturbavam. Eu tinha a noção de que meus olhos estavam inchados e possivelmente avermelhados por conta do choro, mas não me importava. Meus pés doíam um pouco já que a casa onde eu estava anteriormente ficava consideravelmente longe da minha própria casa. Cheguei á rua que eu morava e achei estanho o carro do meu pai não está parado de frente para minha casa, ele sempre o deixava ali porque meu carro e o de minha mãe ocupava toda a garagem. A porta estava escancarada e a luz da casa estava acessa. Um desespero me assolou diante da cena, por isso eu corri para dentro de casa encontrando minha mãe ajoelhada no chão da sala chorando copiosamente. Eu rapidamente me aproximei dela, perguntei o que estava acontecendo, mas ela não me respondia, apenas chorava. Então me estendeu um bilhete que estava meio amassado, reconheci a letra de meu pai e li o que no papel dizia.

“Desculpa, mas não dá mais”.

Apenas isso, uma curta frase, cinco palavras e vinte letras e eu já sabia o que significava.

Ele havia ido embora.

Durante os últimos tempos eu estava trancado de mais em meu próprio mundo para perceber o que acontecia em minha volta. O casamento dos meus pais nunca foi perfeito e meu pai estava longe de ser um cara presente e atencioso e o que aconteceu foi que ele deixou a família pra trás como se não significássemos nada para ele e eu desconfiava que realmente não significávamos. Meus pais andavam brigando muito ultimamente, não sei a última vez que eu e ele tivemos uma conversa descente, eu mal sabia se ele via Tom Tom direito. Minha mãe estava inconsolável, chorou por horas em meus braços e quando finalmente dormiu eu a levei até sua cama, a cobri e depositei um beijo em sua testa. Sai de seu quarto deixando a porta entre aberta. Fui para meu quarto, arranquei os tênis de qualquer forma e me atirei em minha cama. Sentia que tempos difíceis aproximavam-se, eu não estava psicologicamente preparado para isso, mas o que eu poderia fazer?

Eram problemas demais para um adolescente de 17 anos.

Passei três dias sem ir para a escola, os caras me atazanavam, ligavam toda hora tanto para minha casa, como para meu celular. Cansados de serem ignorados, resolveram aparecer por minha casa e eu expliquei tudo, expliquei que meu pai tinha ido embora, que minha mãe está entrando em depressão e mal tomava o chá que eu preparava para ela, e que eu não sabia como ficaria tudo. Os caras disseram que eu poderia contar com eles para tudo que eu precisasse, as garotas também foram muito solidárias e o melhor, em suas feições eu não vi nem um pouco de pena.

Os dias arrastavam-se preguiçosamente para o meu completo azar. Humor péssimo, preocupações em alta. Ahh sim, Bernardo e Karina? O famoso casal espalhava todo seu romance diário pelos pátios e corredores da escola, desfilando abraçadinhos, de mãos dados e constantemente trocando selinhos. Percebi que Karina se exibia bastante quando eu estava por perto. Eu sempre desconfiei que ela fosse vingativa eu só não achava que seria tanto, mas sinceramente, aquele amargoso romance não era a mais grave das minhas preocupações. Minha mãe ainda não demonstrava sinal de recuperação, muito pelo contrário, estava visivelmente mais magra, abatida, não comia nada além de chá, biscoito ou sopa. Chamei um médico, mas ele deu uma receita qualquer de antidepressivo que não ajudou muito. Meu medo era que ela cometesse algo contra a própria vida, eu não suportaria aquilo. E no meio daquilo tudo ainda tinha Tom Tom que perguntava diariamente pelo pai e pela mãe. Eu disse que nosso pai havia viajado e ficaria fora por muito tempo e que nossa mãe estava doente e precisaria descansar, eu evitava que ela a vise, ela poderia desconfiar de algo, e não suportaria aquilo tudo.

Cheguei mais uma vez da escola depois de uma manhã que eu quase não comi, quase não estudei, quase não falei e quase não vivi, nesse quase só não se enquadrava Karina e Bernardo porque esses eu via até demais. Ainda não sabia por quanto tempo eu suportaria aquilo, eu errei, sei que foi um erro muito grave, mas aquele preço estava alto demais, não teria como eu pagá-lo e foi por isso que eu desisti, isso, desisti, pode me xingar, chamar de trouxa, viado, a coisa que for, mas é que o peso já estava insuportável. Ela queria ficar com Bernardo? Que ficasse então. Dizem que quando amamos temos que libertar o nosso amor, agora ela estava livre e eu procuraria não cruzar mais seu caminho. Encontrei minha mãe sentada no sofá, o que foi uma grande surpresa diga-se de passagem. Ela estava arrumada e suas mãos estavam entrelaçadas sobre o colo, um sorriso triste emoldurava seu rosto. Meu coração pesou diante a cena.

– Senta aqui meu amor – Bateu no lugar vago ao seu lado. Larguei minha mochila no pé do sofá e sentei olhando-a apreensivo.

– Você está bem?

– Não, mas eu vou ficar, vou ficar bem por você e por Tom Tom, mas eu preciso de um tempo meu filho. Sua tia veio aqui, disse tudo que eu precisava ouvir e me convenceu a ficar um tempo fora. Eu preciso disso, preciso de um novo lugar, novo ares, um motivo para seguir.

– Vamos viajar? – Franzi o cenho e minha mãe suspirou.

– Não meu amor, eu vou. Eu não quero que você e sua irmã se prejudiquem por minha causa, vocês são novos demais, tem amigos que gostam de vocês, estão no meio do ano e seu vestibular está logo ai, sei que você vai precisar se dedicar bastante.

– Você tem certeza que quer ir sozinha, mãe?

– Tenho meu bem e não se preocupe, eu não farei nada contra mim. Eu posso parecer querer parar de viver, mas eu jamais, jamais deixaria você e Tom Tom sozinhos. Vocês dois são as melhores coisas que aconteceram em minha vida – Lágrimas escorriam pelo rosto de minha mãe e eu a abracei apertado e como um garotinho medroso, indaguei:

– Você vai voltar não é mamãe? – Ela afagou meus cabelos e sorriu carinhosamente para mim quando eu me afastei.

– Claro que vou meu amor, vou voltar melhor pra vocês – Sorri fraco – Só serão vocês dois por pouco tempo, se você quiser pode deixar Tom Tom aos cuidados de sua tia, você é jovem, precisa aproveitar enquanto pode.

– Não, ela já perdeu o pai e a senhora vai passar um tempo fora, eu quero estar perto dela.

– Tudo bem, mas qualquer coisa que você precisar pode falar com sua tia.

– Tudo bem.

– Eu não posso demorar muito, já chamei um táxi e ele não demorará a chegar. Eu queria muito me despedir de Tom Tom, mas se eu fizer isso, vai ser mais duro, para mim e para ela, por isso eu quero que você diga a ela que eu fui viajar por um tempo, pra ela não ficar triste porque volto logo e cheia de presentes. Tudo bem? – Assenti. Nos levantamos e minha mãe me deu um abraço apertado. Senti vontade de chorar, mas me segurei porque eu teria que ser forte, não que lágrimas seja sinal de fraqueza, porque não é, mas minha mãe precisava ver que eu estou bem, mesmo eu não estando. Ela se afastou, pegou sua mala e me olhou mais uma vez – Não precisa me acompanhar até a porta. Fique bem querido – Me deu as costas e partiu e a única coisa que me restou fazer foi atirar-me no sofá e chorar mais uma vez por minha vida ter mudado tanto e em um tempo tão curto.


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