CAPÍTULO 02

— Chamem o Dr. Relief! — Gina exclamou se referindo ao medi bruxo responsável pela castanha na gravidez. Draco pareceu ser acordado de um transe depois da frase da ruiva e seguiu, aparentemente impassível, na direção da lareira que ficava num canto do quarto frente ao sofá e a estante repleta de livros.

— Filha, o que exatamente você se lembra de estar fazendo ontem? — a Sra. Granger perguntou, se aproximando da castanha de forma preocupada.

— Bem, eu estava me preparando para os NOM’s que iriam acontecer hoje, às nove e meia. Passamos a tarde inteira estudando... Até Rony estava com umas anotações bem extensas sobre feitiços! — ela falou enquanto sua mente lhe exibia as cenas do dia anterior, e logo todos os pensamentos relacionados ao que já tinha acontecido foram varridos para longe quando uma pergunta lhe assolou. — E o que a senhora está fazendo aqui?

— Ora, você me chamou para ajudar com os bebês, é claro — A Sra. Granger falou a frase como se a filha tivesse perguntado qual a cor do céu. Sua expressão mudou para um meio sorriso ao concluir a frase. — Vim para cá mesmo com seu pai protestando dizendo que não poderia ficar longe de mim por muito tempo... — Hermione pareceu não ter assimilado a parte que se referia ao Sr. Granger e a única coisa que lhe passava a mente era o plural colocado em “bebê”, ela estava prestes a fazer uma pergunta, quando foi interrompida pela ruiva que parecia pensar.

— Mas... Mi, o seu quinto ano já acabou. Na verdade, você já acabou todo o seu estudo em Hogwarts há pelo menos sete anos. — A confusão nos olhos da castanha era clara e ninguém mais tinha ideia do que poderia falar, fato que ocasionou um longo silêncio.

Segundos depois, ele foi quebrado por Draco saindo apressadamente da lareira de pedra branca, que tinha como decoração uma série de porta retratos mostrando um casal feliz. Junto dele veio um homem idoso com óculos redondos lhe cobrindo os pequenos olhos semelhantes a um par de amoras. Seu cabelo era branco e não lhe cobria toda a cabeça, ficando detido às laterais da mesma. O corpo dele era rechonchudo, coberto por um jaleco branco.

O homem idoso, sem nenhum tipo de cerimônia, se aproximou da castanha que o encarava em análise e logo lhe dirigiu a palavra enquanto abria uma maleta e explicava, falando um tanto apressadamente.

— Hermione, vou precisar que se sente na cama para fazer um exame geral sobre como estão você e as crianças, então vou usar o feitiço legilimens para ver como está sua memória e tentar descobrir o que aconteceu. — Ela assentiu em concordância e sentou-se na cama esperando o medi-bruxo começar a examiná-la.

Depois de cerca de uma hora e meia de exames e feitiços de busca sendo destinados para a castanha, o bruxo, que logo a castanha descobriu se chamar Gregório Relief, declarou que tudo estava bem com os bebês e aparentemente com ela também. Mas a sua memória estava confusa e a última lembrança que ela possuía era de dez anos atrás.

— Mas... Então, o que aconteceu? — A castanha perguntou com confusão sendo demonstrada através do olhar, e, se alguém prestasse a devida atenção, seria possível até mesmo ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando.

— Seria possível que alguém entrasse na mansão Malfoy para lançar um obviliate nela? — Gina perguntou, pensando alto e com o dedo indicador na ponta do queixo, os olhos destinados ao teto. Hermione não prestava atenção em nenhuma palavra, seus olhos estavam vidrados em um lugar aleatório do quarto.

— Achei que tinha dito que a segurança era impecável, Draco... — a Sra. Granger concluiu, com o olhar avoado, assim como o da ruiva. — Certamente temos que descobrir por que isso aconteceu com você, querida... — Ela completou, direcionando-se a Hermione, que ainda parecia estar longe daquela conversa.

— Realmente... Mas o obviliate tem de ter sido modificado por algum fator externo e ainda mais que-... — a ruiva foi interrompida mais uma vez naquela manhã pela voz confusa de Hermione, que finalmente acordou do transe no qual se encontrava.

— Não! Vocês não entenderam! O que aconteceu para que eu me casasse com a Doninha? Onde está Rony? Como ele pôde permitir isso? Ou pior, como EU me casei com ELE?! — falou com nojo, aumentando o tom da voz enquanto apontava para o homem silencioso num canto do quarto, que automaticamente se sentiu ofendido.

— Ainda me compara com ele? Pelos céus, Hermione! Sei que não se lembra, mas posso lhe garantir que você mesma comprovou o fato de eu ser bilhões de vezes melhor que aquele pobretão cabeça de cenoura. — o loiro falou parecendo controlar a raiva, e um sorriso maldoso surgiu nos seus lábios.

— Merlin, Malfoy! Achei que já tivesse superado isso! — Gina falou, se sentindo levemente ofendida pelo xingamento ao irmão, ao passo que o Malfoy revirava os olhos com desprezo — E Hermione, acalme-se! Logo vamos lhe explicar tudo da melhor forma possível. Por hora precisamos saber o que aconteceu para que perdesse a memória e descobrir como reverter essa situação.

— Ah! E enquanto isso, esperam que eu aceite tudo e me sente calada do lado do meu... marido? — ela falou a última palavra em um tom de nojo, que também era demonstrado através de uma careta. A frase fez com que o loiro puxasse o ar para recomeçar a discutir, mas foi interrompido pela sogra.

— JÁ CHEGA! Hermione, tenho certeza que você foi devidamente educada, prove isso e comporte-se! — Jane Granger pôs fim no assunto enquanto passava a mão na testa pressionando as têmporas de forma cansada, ato que a deixou impossibilitada de ver o rosto de Hermione se tornar triste e envergonhado. — Agora, Dr. Relief, por favor, explique-nos o que aconteceu. — se dirigiu pela primeira vez para o homem idoso que observava tudo com um olhar de susto e a boca levemente aberta. Quando viu que todos os olhares estavam destinados a ele, tratou de esconder o susto, limpou a garganta e falou com a voz levemente trêmula:

— Bem, eu... A verdade é que não sei! Não faço ideia de como Hermione pode ter perdido a memória, nunca vi nada assim. Certamente que poderia fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto e tentar achar uma resposta, mas por hora não tenho nenhuma solução plausível. Talvez seja necessário o mesmo tratamento dos Longbottom, mas também pode ser que ele só piore tudo. Enfim, como já disse, não tenho como garantir nada por agora. Mas se puderem esperar...

— Ainda mais essa! Já não basta terem quase posto em risco a vida dela e dos meus filhos? — Draco falou, se referindo a um acontecido de meses atrás.

O loiro lembrava-se bem do desespero que sentiu ao ver sua mulher começar a vomitar sem parar e depois de tomar um remédio, recomendado pelo Dr. Relief, piorar mais ainda. Lembrava-se de ter simplesmente enlouquecido diante da possibilidade de perder a castanha e também da raiva que foi direcionada à equipe médica, que, a seu ver, era responsável por não encontrar uma solução rápida para o problema de sua esposa. Ele sabia que era dever de um medi bruxo se dedicar totalmente aos seus pacientes quando estava em serviço, ele mesmo fazia isso! Felizmente, logo uma medi bruxa trouxe uma luz às ideias de todos no lugar, lançando a possibilidade da castanha estar esperando um filho.

— Sr. Malfoy, insisto em dizer que aquilo não teve nada a ver com ninguém da equipe médica. Não imaginávamos que a Sra. Malfoy estivesse grávida por que até então nenhuma consulta tinha sido feita. O senhor como medi bruxo deveria saber que um dos procedimentos básicos nos casos de mulheres que comecem a vomitar é a consulta e...

— Não tentem justificar sua incompetência com argumentos mal feitos e que me colocam a culpa! — Draco começou criticando o medi-bruxo e também a equipe do mesmo, que tentava inutilmente fazer o loiro parar de falar, ao mesmo tempo em que tinha medo de irritá-lo mais ainda e acabar perdendo o cargo no hospital.

— Nossa! Agora eu entendo por quê Hermione sempre se metia na conversa nessas horas... — Jane comentou, se aproximando de Gina aos cochichos, porém alto o suficiente para que a castanha ouvisse.

— Mione, querida, você não tá afim de fazer seu marido parar de reclamar, não? Você é a única que consegue fazer isso sem despertar uma ira maluca que surge sei lá de onde e que o faz querer matar todo mundo — Gina falou tudo como se ele fosse um psicopata louco que a qualquer momento fosse dar uma crise e gesticulou exageradamente, assustando a castanha.

— Ele pode dar uma crise e querer matar todo mundo e vocês querem que EU fale? — Ela perguntou um tanto alto demais, ato que despertou a atenção do loiro — Vocês sabem que nós nos odiamos, certo? — completou ignorando o fato dos gritos irritados que vinham de certo Malfoy terem repentinamente acabado.

— Hm... Na verdade, da última vez que os vi, vocês pareciam se amar. E muito. Isso foi antes dessa manhã, é claro. Mais precisamente ontem à noite. — Gina argumentou tendo um olhar pensativo e rapidamente emendou outra frase — Na verdade, vocês pareciam bem ansiosos para ir “dormir”, se é que você me entende — a ruiva proferiu com um olhar malicioso, que foi acompanhado por um sorriso de canto. Hermione abriu a boca para responder, mas nada saiu e ela só balbuciou meias palavras procurando completar uma frase com sentido. A Sra. Granger, ao ver a reação da filha, segurou o riso com a mão e ficou repentinamente séria ao bater o olhar no Dr., localizado num canto do quarto.

— Bem, Dr. Relief, muito obrigado por ter nos atendido tão rápido. Esperamos que assim que tiver uma resposta entre em contato conosco, por favor — Jane Granger falou, tentando expulsar o senhor de forma educada. O mesmo só assentiu e seguiu para a lareira, ainda mostrando irritação quanto ao outro homem no cômodo que lhe lançava olhares nada amigáveis.

Depois da saída acanhada do medi bruxo Jane virou-se irritadíssima na direção dos Malfoy lançando-lhes um olhar que Hermione conhecia bem: era o olhar usado para dar broncas. Tentando prevenir uma “vergonha”, a castanha começou a argumentar desesperadamente, como uma adolescente de 15 anos que estava de castigo, mas queria ir ao baile da escola. O que provocou em todos os outros presentes na sala uma clara confusão.

— Mi, o que deu em você? — Gina perguntou tentando segurar uma risada que provavelmente sairia exagerada.

— É... Eu... — a castanha sorriu sem graça com o rosto esquentando — Então... e-eu... — ela ainda tentava achar palavras e seu rosto ficou completamente vermelho, inicialmente por vergonha e depois de raiva ao de escutar uma gargalhada proferida pelo loiro.

— O que raios deu em você? — ele repetiu a pergunta feita pela ruiva, ainda rindo — Seu pai não te deixou tomar sorvete antes do jantar? Ou você foi flagrada aprontando alguma? — e riu mais ainda, puxando o ar para tentar se controlar — Têm consciência de que está agindo feito uma criança?

— Ora seu ser arrogante e irritante! Eu estava sob efeito de Imperios quando casei com você? Que pergunta! É claro que estava, afinal, ninguém o faria em juízo perfeito!

— Na verdade, você o fez. — e riu mais ainda por ter provocado a castanha, que desistiu de discutir e partiu na direção da porta do quarto, pisando firme no chão como uma criança mimada.