Let Me Go escrita por Rosalie Potter


Capítulo 4
Capítulo Quatro




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–Não vamos conseguir todo esse dinheiro em um mês! –Falei sem conseguir me conter. A dívida era gigante e eu sabia que o Duque teria imposto juros para deixar tudo ainda mais difícil para a gente.

Vi que Robert apertou as mãos e eu, depois de seis meses naquela casa, reconheci aquele gesto:

–Robert, o que não está nos contando? –Perguntei diretamente. Se tivesse algo para piorar nossa situação era melhor sabermos o quanto antes. Talvez juntos poderíamos lidar com aquilo.

–Existe uma terceira opção, mas ela não é viável. –Ele se apressou em dizer, como se não quisesse que ouvíssemos.

–Conta pai. –Gabriel insistiu por mim.

–Gabriel...

–Robert, por favor. –Pedi o olhando com os olhos azuis suplicantes. –Precisamos ter noção de todas as nossas escolhas, de todas as nossas opções, para sabermos o que fazer.

–Não é viável, mas... O Duque e sua família têm uma dívida com o palácio. Para pagar ele tem que mandar um filho para servir de soldado por seis anos e a filha mais nova para servir de criada por seis anos. Claro que ele não vai mandar os filhos dele, portanto, eles querem os meus. Se eu mandar Gabriel e Atena, a dívida estará paga.

Meu queixo caiu enquanto a notícia entrava pela minha mente. Nós tínhamos uma terceira opção para não ficarmos entre a cruz e a espada, mas pra isso eu e Gabriel teríamos que suportar seis anos de serviço gratuito no palácio. Logo pensei que, se aceitássemos aquilo, eu só sairia com vinte e um anos e Gabriel com vinte e quatro.

–Nem pensem nessa opção! –Robert exclamou, principalmente quando viu o olhar de espanto da minha mãe com a possibilidade de ter dois filhos tirados de sua casa. E eu sabia que ela se sentia culpada, o que era uma besteira. Que culpa ela tinha de ter ficado doente?

–Teremos que trabalhar dobrado se não quisermos que nossas terras sejam perdidas então. –Eu disse. –Eu posso ir á cidade e ajudar escribas e curandeiros, é o que eu sei fazer.

–Eu e Iara podemos começar á concertar roupas, pegar roupa pra lavar, coisas do tipo. –Katrina se pronunciou. –Eu costuro tudo desde que tenho agulha e linha.

–Eu... –Suzanne começou, mas Robert pegou suas mãos com carinho.

–Não, amor. Você acabou de passar por uma doença e eu prefiro entregar até a minha roupa do corpo á deixar você se esforçar. –Todos nós assentimos com a cabeça, concordando com o meu padrasto. –Eu e Gabriel partiremos em viagem duradoura e voltaremos ao fim do mês, dois dias antes da cobrança do Duque, com tudo que conseguirmos. Vocês tentem juntar aqui.

–Vamos dar um jeito. –Eu falei olhando para todos. –Essas terras são da nossa família e ninguém vai tirá-las.

Vi que eles gostaram da forma com que eu falei “nossas”. Mas era verdade. Se aquele local era importante para eles, lutaríamos com unha e dentes para mantê-lo. Custe o que custar.

~X~

Os dias passaram voando. Gabriel e Robert haviam partido no dia seguinte á notícia e eu, Katrina e Iara fomos à cidade procurar algo para o que fazermos. Eu tive um pouco mais de dificuldade já que o que eu sabia fazer não era considerado “coisa de mulher”, mas no fim da tarde consegui achar um senhor escriba que estava traduzindo inúmeros livros para a nossa língua e precisava de ajuda. E um curandeiro que também não era orgulhoso de arriscar seus pacientes por machismo e que reconheceu que precisava de alguém, independente de idade ou sexo.

Eu dividia minha semana com eles. Passa quatro dias com o curandeiro e três com o escriba. O primeiro, Wagner, me explicou a doença da minha mãe estava pegando muito por aquele lado e por eu ter cuidado dela e ter experiência, seria bom me ter por perto. Os remédios estavam rareando e nós dois estávamos procurando algo que fosse alternativo á aquele porque era muito caro e o estabelecimento era para pessoas pobres. Eu passava os dias lá alternando entre o cuidado com os pacientes e entre pesquisas com plantas e livros.

Já com o escriba, Jonas, era até divertido quando pegávamos livros do qual não fazíamos idéia nem por onde começar já que era uma língua desconhecida pelos dois. Mas pela nossa experiência com outras parecidas conseguíamos pegar o contexto e começar a traduzir. De vez em quando tínhamos que apelar para algum livro de tradução de palavras, mas como não conhecíamos a língua ás vezes passávamos dias à procura de algum dicionário.

Katrina e Iara eram atarefadas até o pescoço. Katrina costurava o dia inteiro, concertando peças de roupas e de vez em quando até fazendo algumas encomendadas. Iara pegava roupas para lavar, sapatos, trabalho doméstico e até cuidava de crianças ás vezes.

Minha mãe cuidava de casa, apesar de nem eu e nem as meninas gostarmos da idéia, tínhamos que reconhecer que não havia tempo para fazermos os serviços domésticos dentro da nossa própria casa, já que todas nós passávamos o dia trabalhando e cada centavo era poupado.

Naquele dia que eu acordei, risquei mais um dia no calendário que eu tinha ao lado da cama. Fazia exatamente quinze dias que Robert havia dado a notícia, metade de um mês. E apesar de estarmos trabalhando muito, não havíamos conseguido muita coisa. Ainda mais por sermos mulheres, acabávamos recebendo menos do que um homem se fizesse aquilo e as nossas ocupações já não ganhavam muito por elas mesmas. Eu estava torcendo para que Robert e Gabriel tivessem maior sorte.

Vesti-me naquele dia simples como sempre, a cor do vestido era azul. Prendi os cabelos no coque firme de sempre, calcei as sapatilhas, arrumei a cama e desci as escadas. Como estava sempre apressada, apenas peguei uma maçã enquanto andava para o estábulo. Comi rapidamente e subi em Crystal, minha égua.

–Tena, espera. –Iara vinha chegando. Montou-se no nosso alazão e veio para o meu lado. –A casa que vou hoje é perto da cidade, talvez possa te acompanhar até perto do caminho.

–Seria ótimo. –Sorri e começamos á cavalgar.

–Acha que vamos conseguir Atena? Temos tido tão pouco até agora.

–Nós temos que conseguir Iara. –Suspirei.

–Essa casa era muito importante pra minha mãe. –Ela suspirou também e então comecei á prestar mais atenção no que a loira falava. Eu sabia que era importante, mas não sabia o motivo. Talvez ela me contasse. –Essa casa vem da família do meu pai há séculos, mas quando minha mãe a viu, ficou deslumbrada. O tamanho das terras era enorme, a casa era linda, ela achou tudo perfeito. Apegou-se ao lugar no mesmo instante em que pisou aqui e pediu para ser enterrada aqui também. O túmulo dela é nos limites da propriedade, tem uma macieira em cima. Se pegarem esse lugar, tomarão também o túmulo da minha mãe.

Meu queixo caiu. O valor sentimental era ainda maior do que eu pensei. Angelina estava enterrada naquelas terras. Eu não imaginava que chegava á tanto. Agora eu percebia que a tirada daquelas terras estava completamente fora de cogitação. Não importava o que quer que fosse acontecer, o Duque não colocaria as mãos naquilo que era da minha família. Naquilo que era tão importante para eles.

–Eu viro aqui Atena.

–Até mais tarde Iara. Não se preocupe, vamos conseguir.

–Eu sei que vamos.

~X~

–O que houve Atena? –Jonas perguntou e então eu percebi que havia parado de escrever mais uma vez. Suspirei. Aquele livro era em francês, a primeira língua que Robert havia me ensinado, então para mim não havia problemas em ler e traduzir, mas a minha cabeça ainda estava nos problemas.

–Não é nada. Estou bem, só um pouco distraída.

–Parece uma garota apaixonada. Temos um pretendente para essa mocinha?

Dei uma gargalhada gostosa. Quem dera fosse. Na verdade, eu quem dera fosse nada. Pelo que eu havia lido nos livros pessoas apaixonadas meio que ficavam mais tolas e tudo que eu menos precisava era de tolice na minha vida.

–Passou longe. –Respondo rindo. –Mas me fez rir, isso é bom.

–Mas você logo vai chegar à idade de se casar, sabia disso?

–Sério que você consegue me imaginar confinada á uma casa, com uma penca de filhos, cuidando de serviços domésticos e esperando meu marido voltar? –Pergunto olhando o senhor. Jonas já tinha uma certa idade e eu e ele viramos amigos com o tempo, ele parecia mais um padrinho ou algo do tipo.

–Não precisa ser assim, jovem.

–E como será? Posso trabalhar agora que sou jovem e olha que já é difícil de arrumar um oficio. Se eu quiser permanecer solteira ou quiser permanecer independente com o tempo é capaz de me crucificarem.

–Talvez as coisas possam ser diferentes. Você pode encontrar alguém diferente.

–Pra começar, não posso nem escolher meu noivo. Mas uma coisa eu te digo, não casarei por contrato. Se um dia eu tiver que ser levada ao altar, irei por amor. –Como se eu tivesse alguma escolha. –Mas agora esse problema é um futuro e eu tenho alguns atuais para pensar e são mais urgentes.

–Problemas esses que não quer me contar.

–Não quero te preocupar com nada. Eu ficarei bem, prometo.

–Promessas têm poder garota. Espero que essa tenha.

~X~

O calendário ao meu lado marcava vinte e quatro dias desde a notícia. Era meu dia de ir ao hospital e faltavam quatro dias para Gabriel e Robert voltarem. O clima da casa estava começando a chegar ao desespero. O que estávamos juntando era muito pouco, o prazo se apertava e não recebíamos noticias freqüentes de Gabriel e Robert.

Eu havia acabado de chegar em casa. Já era noite, todo mundo estava na cama, mas eu não estava com sono. Na verdade, não estava com a mínima vontade de dormir. Não sabia se conseguiria.

Saí do meu quarto, peguei Crystal e saí aos galopes floresta á dentro. Eu sei que a floresta para muitos era perigosa, principalmente á noite. Mas naqueles seis meses eu a tinha explorado de cima á baixo e sabia aonde ir e onde não, mesmo a noite. Acabei chegando num certo ponto onde simplesmente parei.

Estava sozinha, repleta de árvores ao meu redor. Prendi Crystal á uma árvore e sentei no chão mesmo, encostada á outra. Coloquei o rosto entre as mãos, pensando no que fazer. Faltava pouco para as coisas apertarem e o Duque vir cobrar. E aí eu não fazia idéia do que faríamos, não fazia mesmo. Senti muita vontade de chorar.

Por muito tempo eu e minha mãe vivemos sozinhas. Eu era acostumada com a solidão, com exceção do tempo que ajudei á cuidar de doentes. Mas depois que entrei nessa família, descobri o quanto às coisas poderiam ser boas. O quanto amar e ser amado é bom, o quanto é bom ter uma casa e pessoas á quem se quer bem. Apesar de ainda não ter nem um ano, não me imaginava longe dos meus irmãos ou do meu padrasto. Como poderíamos ser enxotados? Como eu poderia deixar que isso acontecesse?

Não podia. Simplesmente não podia.

~X~

No dia vinte e oito como prometido Robert e Gabriel voltaram. Era noite e eu tinha acabado de chegar em casa quando ouvimos o som da porta se abrindo. Corremos todas para receber os dois.

Todos nós nos abraçamos, mas no fim acabamos na sala de estar, contando o dinheiro que todos nós arrecadamos. Contamos e revisamos mais de uma vez, mas a verdade estava ali na nossa frente. Foi minha mãe, que suspirando profundamente e com profundo pesar no olhar, expressou aquilo em palavras:

–Não é o suficiente.


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Notas finais do capítulo

Aquele momento de puro desespero que eles saem de uma roubada e entram em outra XD



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