Let Me Go escrita por Rosalie Potter


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Dedicando esse capítulo á divosa Lullaby que fez essa capa linda que vocês estão vendo.
Não ficou épica?
Nossa, estou até agora admirando aqui



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Quando a noite foi andando, cada um se dirigiu para os seus respectivos quartos. Quando entrei no meu com o lampião e tranquei a porta, mal acreditei que as coisas tinham dado certo. Na verdade, mais do que certo. Eu não estava acostumada á lidar com as pessoas. Sempre que minha mãe ia á lugares “cheios”, como o mercado, ia sozinha. Eu preferia ficar em casa. Talvez porque fosse mais fácil. Com essa coisa toda no meu peito, coloquei o lampião em cima da penteadeira e acendi as velas do quarto.

Sentei na cama que era imensamente macia, tanto que me surpreendeu. Eu já tinha guardado minhas coisas. Eram poucas então Gabriel, Katrina e Iara me ajudaram. Elas ficaram espantadas com a falta de roupas e acessórios, mas eu nunca fui muito dada á isso. Porém descobri que Katrina adorava desenhar roupas, costurar, incrementar. Tanto que ela havia pintado meu guarda roupa junto com meus outros irmãos, mas sozinha fizera os lindos detalhes que eu nunca me cansaria de olhar. Então á ver tão poucas coisas comigo, elas prometeram que me fariam mudar de idéia quanto à quantidade do que ter.

Os livros também foram outra inovação, mas essa eu já imaginava. Ler era difícil para camponeses. Uma mulher camponesa que lê era uma em um milhão e eu me orgulhava de fazer parte dessa exceção. Os três sabiam ler, mas porque Robert, assim como o meu pai, era diferente. Não se importava em ter suas filhas meninas e nem a vinham menor por isso. E valorizava o conhecimento, o saber. Aquilo só me dizia o quanto minha mãe sabia fazer escolhas sobre quem se apaixonava.

Tirei o vestido que usava. Era simples e azul, com espartilho por baixo. Eu não sou muito fã de espartilhos, mas como não me incomoda muito eu acho que pelo menos nisso eu posso seguir os padrões. Obviamente para dormir eu o tirei. No começo da minha vida eu tinha grandes problemas em tirar aquilo sozinha, mas agora era tão simples como respirar. E coloquei minha roupa de dormir, uma longa camisola branca e folgada. Era da minha mãe quando nova e ela passou pra mim. Não era algo novo, verdade, mas era a coisa mais confortável que eu já tinha vestido.

Soltei os cabelos também. Eu geralmente usava um coque bem firme na cabeça prendendo todos os meus cachos e ondas ruivas, embora geralmente um ou dois cachinhos dessem um jeito de escapar. Eles escorreram livremente pela minha cintura enquanto eu me acomodava na cama e pegava na penteadeira um pequeno caderno. Precisava escrever sobre o novo dia, sobre minha nova família e sobre a esperança de uma mãe feliz como era com o meu pai.

Eu escrevi tudo, detalhe por detalhe. Contei cada detalhe de Robert, Gabriel, Katrina e Iara. Falei sobre a casa e cada um de seus cômodos, sobre o que acontecera em todo o dia, sobre meus pensamentos sobre cada coisa e sobre como eu nunca estive feliz em tanto tempo. Parecia que algo se completava, eu só não sabia bem o que era.

Quando terminei, guardei meu caderno, apaguei as velas e o lampião e adormeci.

~X~

Acordei quando os primeiros raios solares bateram no meu rosto, como de costume. Eu não sabia como era a rotina daquela casa ou quais seriam os meus deveres, mas eu faria de tudo para ajudar e logo me encaixaria em tudo. As coisas se acertariam com o tempo, o começo era sempre mais complicado.

Tomei um banho rápido e gelado. Meu quarto luxuosamente tinha uma espécie de banheiro, coisa que eu só tinha visto em casa de gente muito rica. Vesti minhas roupas intimas, coloquei o espartilho e por cima me veio um vestido simples, creme. Prendi os cabelos ruivos no coque de sempre e nem praguejei quando o cachinho escapou e foi para o meu rosto. Coloquei as sapatilhas pretas, meu único par de sapatos. Arrumei minha cama e desci as escadas.

Quando desci, minha mãe estava já na cozinha e Katrina e Iara correram para ajudá-la, junto comigo obviamente.

–Meninas, no que posso ajudar durante o dia?

–A gente vai se acertando Atena. Pode começar ajudando aqui.

–O pai de vocês já saiu junto com Gabriel. –Minha mãe assinalou. –Provavelmente outra viagem vem chegando.

–Mas ele acabou de se casar. –Iara revirou os olhos. -Devia ter dado um tempo nos negócios.

Robert era um comerciante e até bem sucedido levando em conta a casa que tinha, no lugar que tinha. Mas a conseqüência óbvia é que tinha que viajar até os fornecedores. Apesar disso, deveria ser muito bom. Meu sonho era poder trabalhar, ser remunerada e poder sustentar uma casa e se pudesse fazer isso provavelmente seria comerciante. Poder viajar, conhecer novos lugares e novos tipos de mercadorias. E, se eu pudesse trabalhar, provavelmente escolheria não casar e viver apenas viajando.

–O bom é que ficaremos só as meninas. –Katrina jogou os cabelos para trás exageradamente o que nos fez rir.

–Ela tem razão. –Minha mãe também riu enquanto colocávamos a mesa.

Comi pouco. Um pedaço de pão com geléia de amoras já foi o suficiente para que o meu estômago enchesse na parte da manhã. Eu não era de comer muito, com exceção para doces. Doces eu era apaixonada, especialmente pudim. Coloque um pudim na minha frente e você terá uma Atena feliz.

–Então que a rotina comece.

Seis meses depois:

Acordei no mesmo horário de sempre, quando o sol nasceu. Tirei a camisola, tomei meu banho, vesti-me, enfim, a rotina de sempre que eu tinha me adaptado. Era simples e fácil, “rotina de mulher”. Apesar de eu não me sentir satisfeita. Eu gostava de casa e amava minha família. Era perfeito, mas eu sabia qual seria meu futuro. Logo eles começariam a prometer as meninas em casamento. Para minha sorte eu seria a última. Katrina e Iara estavam satisfeitas, mas eu não. Não queria casar e ficar cuidando de casa para o resto da minha vida.

Arrumo minha cama. As coisas haviam se encaixado tão bem na minha vida ali que eu nem acreditava. Aprendi logo como as coisas funcionavam, a me locomover na floresta dos arredores que eu tanto amava. Também sabia que tinha que evitar o Duque e seus filhos. O Duque dominava toda aquela região, com exceção das terras de Robert. As terras do meu padrasto vinham da família há muito tempo e eram muito preciosas sentimentalmente para todos eles, portanto o Duque tentou comprar de todas as formas, mas não conseguiu. Desde então, as duas famílias não se dão bem.

Desci as escadas já para a cozinha quando ouvi a porta se abrindo. O gritinho que saiu da minha boca foi quase inevitável, enquanto minha mãe corria para abraçar Robert e eu e as meninas abraçávamos Gabriel. Depois, foi ao contrário.

–Finalmente! –Exclamei quando abracei meu padrasto. –Estava com saudade.

–Acredite, eu também princesa.

Eu e Robert nos aproximamos bastante. Por ele viajar, conhecia muitas línguas e eu pedi para que ele me ensinasse algumas enquanto estivesse em casa e com tempo. Nessas aulas a gente acabava conversando. Ele me contava sobre os filhos quando eram pequenos, sobre as viagens, sobre os produtos, sobre coisas interessantes e até mesmo sobre Angelina, a primeira esposa dele e mãe de Gabriel, Katrina e Iara. Eu, por minha vez, contava sobre o que gostava, o que fazia, sobre a minha mãe, sobre quando aprendi a ler, sobre sonhos, idéias feministas e de vez em quando sobre o meu pai. Robert me surpreendeu. Ele gostava de quando eu falava de como era antes quando minha mãe era viúva. Contei-lhe sobre como convivi pouco com o meu pai, foram só seis anos e até confessei o quanto era bom ver minha mãe sorrir novamente daquele jeito apaixonado.

–Vamos lá meninas, eu trouxe os presentes. Pra todas.

–Mas eu não pedi nada. –Pisquei várias vezes.

–Eu sei. –Ele e Gabriel disseram juntos e eu revirei os olhos, rindo.

Ele colocou uma mala em cima da mesa e começou a tirar. Os olhos de Katrina brilharam a ver os vestidos que ela pediu. Eu sabia que não era nem tanto pelo vestido e sim pelo tecido. Se eu conhecia bem minha irmã, ela iria encher de retoques e viraria uma obra de arte. Ela tinha um dom tão grande com as roupas que eu me espantava.

Iara quase morreu a ver as telas de desenho. Mais tarde eu fui descobrir que a loira pintava maravilhosamente bem. Ela tinha insistido em fazer um quadro meu, já que já tinha do pai, da mãe, da madrasta, de Gabriel e de Katrina, mas eu não quis. Não era muito fã da minha aparência então pedi para que eu não precisasse posar, não ainda,

Minha mãe ganhou algumas jóias, uma mais linda que a outra. Suzanne não tinha muitas vaidades, mas tinha um penhasco por jóias bonitas.

–E para a Atena, olhe o que eu e o Gabriel achamos. –Ele me estendeu um livro e eu olhei a capa mordendo o lábio. Estava em latim, a língua que estávamos aprendendo. Eu tinha aprendido um pouco do francês quatro meses antes.

–Acha que eu consigo ler? –Perguntei lendo o título de cara, sem dificuldades.

–Do jeito que você aprende rápido... –Ele me olhou com um sorriso e eu me deslumbrei. Pelo visto levando em conta a capa e o título, eu lerei aquele livro rapidamente.

–Tenho certeza que ela vai... –A voz da minha mãe foi entrecortada bruscamente quando ela caiu apagada no chão.


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