Depois que conseguimos despistar os caçadores, continuamos a viagem normalmente para Nova York. Eu não comentei nada com o palerma na hora, mas aquele carro que nos seguiu me era muito familiar, me dava uma sensação estranha na verdade... Como se pudesse me atingir de alguma forma.

Pouco antes de chegarmos à cidade, Crowley nos chamou no Inferno, pensamos que ele iria reclamar pela perseguição, mas a culpa não era nossa se os caçadores nos perceberam ali. Quando entramos na sala em que o Rei do Inferno ficava, ele estava mexendo no celular, provavelmente jogando alguma coisa como ele sempre fazia quando estava entediado.

– Mandou nos chamar, Senhor? - Kyle fez uma reverência à ele.

– Sim! - Ele jogou o celular de lado - O que eu disse sobre ficar longe do Kansas?

– Não passamos nem perto do Kansas. - Eu respondi erguendo uma sobrancelha.

– E como aqueles malditos reconheceram você? - Ele esbravejou se levantando.

– Como assim me reconheceram?

– Sabe, minha querida, tem um motivo bem específico para eu não deixar você perto do Kansas, é onde os malditos Winchester estão! - Ele gritou evidenciando aquele sotaque charmoso.

– Ah... Winchester... - Não pude deixar de abrir meu sorriso maligno - Eu lembro deles, vagamente.

– Quem são esses? - Kyle se virou para mim.

– Pessoinhas de uma vida distante.

– Eles são perigosos, ainda mais com aqueles anjos de estimação! Quero que vocês fiquem aqui no Inferno até as coisas se acalmarem. - Crowley ordenou.

– O quê?! - Eu e Kyle exclamamos juntos.

– Vão ficar no Inferno.

– Não, Crowley... Por favorzinho. - Me aproximei dele fazendo uma voz dengosa - Nós estávamos viajando à trabalho... Deixa a gente continuar?

– Vocês não vão morrer se ficarem quietos um pouquinho. - Ele tentou falar com seriedade.

– Me desculpe, vossa majestade, mas nós podemos morrer sim. - Kyle se pronunciou.

De fato ele estava certo, nós precisávamos da energia que absorvíamos das vítimas, era mais do que simples prazer, era questão de sobrevivência.

– É verdade, tio... - Eu pisquei meus olhos escuros - Você não quer que nada aconteça com a gente, quer?

– Não... Mas se os Winchester acharem vocês...

– Eu dou um jeito neles! - Falei em um tom firme - Eles não vão me levar de volta para aquela vida ridícula.

– É tão lindo quando você fala assim. - Ele deu um sorriso gentil - Mas eu conheço bem aqueles dois e você também, apenas não se lembra.

– Eu lembro do que interessa... - Mordi os lábios.

– Eles são só humanos, pelo o que notei... Não podem contra a gente. - Kyle se aproximou.

– Vocês ouviram quando eu disse que eles tem anjos de estimação? - O Rei indagou.

– Pode deixar que eu lido com o anjo. - Respondi de forma convincente - Apenas nos deixe ir.

– E confio muito em vocês dois, mas não é tão simples assim. Agora sejam bons demônios e voltem para seus aposentos, vão torturar almas, sei lá! - Ele sacudiu a mão indicando para que saíssemos.

– Sim, senhor. - Kyle assentiu e se retirou.

Eu fiquei parada na frente do Crowley de braços cruzados e cara amarrada, aquilo era muito injusto.

– Não faça beicinho. - Ele falou sem olhar para mim, voltando a atenção para o seu celular - Está decidido, Meghan.

– Eu ainda tenho meu livre arbítrio, sei que você não vai fazer nada comigo. - Falei com um tanto de deboche.

– Livre arbítrio?! Desculpe querida, está procurando isso no lugar errado... Você é um demônio e eu sou o Rei do Inferno, não comece a agir como uma garotinha mimada achando que vai conseguir me dobrar. - Ele me encarou com superioridade - Sempre bancando a durona, não é?

– Ainda tenho uma personalidade... E acho que essa é sua preocupação comigo. Você acha que eu posso me revoltar. - Dei um meio sorriso - Acha que eu vou voltar a ser como era quando humana, não é?

– Não, isso nunca aconteceria... Não tem nem como voltar à isso, minha preocupação é o que os Winchester podem fazer com você... Te prender ou algo do gênero, isso te faria mal e atrasaria minha existência. - Ele rolou os olhos.

– Eles não vão fazer isso comigo, se me lembro bem daquela minha doce vida humana, eles comem na palma da minha mão... A começar pelo anjinho. - Me aproximei do Crowley - Deixa a gente voltar ao trabalho?

– Minha nossa! Que maldita teimosia! - Ele esbravejou novamente - Tá, vão logo! Mas fiquem longe daqueles malditos caçadores.

– Obrigada, tio! - Dei um beijo na bochecha dele e saí em direção aos corredores.

Passei pelas celas dos condenados que ficavam gritando desesperadamente atrás das grades enquanto eram torturados por demônios da classe baixa, cheguei na sala onde Crowley nos deixava e vi o Kyle de conversa mole com uma qualquer.

– Demônios não dão energia vital, humanos sim... Sai daqui, olhinhos pretos. - Fiz cara feia para a rebaixada que estava lá e ela saiu da sala rolando os olhos.

– O que houve, ruiva? - Ele se virou para mim - Estou começando a ficar entediado, só queria uma diversão.

– Quer diversão? Vamos cair na estrada. Não precisa apelar para os subalternos.

– O Crowley não permitiu isso.

– Quantas vezes eu preciso dizer que, com ele, eu me entendo? - Bufei.

– Tudo bem, se não me trouxer problemas...

– Não vai, agora vamos logo antes que eu mude de ideia... Você ainda não é minha companhia preferida.

Nós fomos até onde largamos o carro e seguimos o caminho até Nova York, com direito há algumas paradinhas, óbvio.

Ao começo da noite, nós dois nos separamos, muita atividade demoníaca em um mesmo lugar chamava muita atenção e eu prometi ao Little Demon que não chamaríamos a atenção de ninguém. Mas se bem que eu gostaria de ver a cara dos Winchester ao ver no que eu transformei a garotinha deles.

A adorável Meghan, altruísta, carinhosa e metida à salvadora de todos, ela morreu! Não sei bem porquê, provavelmente por algum motivo nobre, mas ela morreu e agora eu estou aqui; Poderosa, linda, sexy e perigosa.

Segui para uma boate no centro da cidade, estava usando um vestido roxo, justo e com uma fenda coberta com tecido transparente no decote... Perfeito para pescar os idiotas. O começo da noite era sempre mais complicado, os rapazes ainda não estavam completamente bêbados e era mais chato de arrastar os conscientes para a perdição.

Mas ao final da noite, tudo acabava bem e eu mandava muitas almas corrompidas para o Inferno, me sentia mais forte e pronta para outra. O dia se arrastava, era entediante demais! Kyle não deu as caras, pelo menos ele podia me distrair sendo um idiota. No começo da tarde, decidi sair para observar a humanidade, quem sabe conseguia algum servicinho extra, mas isso também não aconteceu.

Logo a noite seguinte chegou, eu tinha escolhido dois lugares para ir, primeiro iria à um clube noturno e depois para um restaurante Argentino onde as pessoas dançavam tango. Poderia encontrar uns carinhas diferentes e variar um pouquinho. Sem mais notícias do Kyle, decidi continuar com meus planos. Ao chegar no clube, já selecionei algumas vítimas potenciais. Me sentei perto do bar, pedi um drink e comecei à olhar ao redor, quase engasguei quando vi aqueles dois ratos entrando no clube.

Sam e Dean Winchester, ah sim! Agora muitas coisas ficaram mais claras na minha mente, minha garganta ficou seca como se eu estivesse com sede... E era aquilo que eu estava sentindo ao olhar para os dois, eu queria eles, consumi-los até sobrar apenas o pó, principalmente do loiro. Tinha algumas boas memórias dele.

Saltei do banco quando os vi se separarem, acho que estavam me procurando... Merda! O Crowley ia surtar com isso. Fui seguindo pelos cantos do ambiente, me escondendo atrás de várias pessoas e procurando uma saída alternativa, não podia deixar que eles me vissem ali, achei um corredor que levava até os banheiros, entrei no feminino que por sorte estava vazio, subi na pia e pulei a janela. Caí no beco que ficava atrás da boate, arrumei a roupa e estalei os dedos para substituir os saltos por coturnos, não gostava muito deles e pretendia sair caminhando pela cidade.

– Meghan? - Uma voz gentil me chamou, quando virei, lá estava o mocinho.

– Winchester? - Sorri para um Sam bem assustado.

– Você virou um demônio? - Ele deu um passo a frente, um tanto hesitante.

– Me diga você! - Exibi os olhos escuros.

– Como isso aconteceu? Nós... Podemos te trazer de volta. - Ele deu mais alguns passos em minha direção, eu ergui minha mão o parando antes que ele se aproximasse mais.

– E quem disse que eu quero voltar? Aliás, não tem o quê voltar... Essa sou eu agora. - Dessa vez eu me aproximei dele, o mantendo imóvel - Você cresceu nesse último ano, Sammy? Ou eu que estou te vendo com outros olhos agora?

– Meghan! O que você se tornou? - Ele murmurou quando agarrei seu rosto com uma mão.

– Apenas um pouco mais divertida, menos sentimental. - Dei de ombros - Mas como você é suculento, desse tamanho todo daria um bom jantar para mim!

– Não sabia que demônios devoravam pessoas.

– Não é devorar no sentido literal... - Mordi os lábios - Eu não sou um demônio qualquer.

– Meghan?! - A voz de Dean surgiu atrás de mim, antes que ele se aproximasse, movimentei minha mão o jogando contra a parede.

– Hum, com três é sempre mais divertido. - Me virei para o loiro que arregalou os olhos ao ver minhas órbitas escuras - Olá, Deanno!

– Son of a bitch... - Ele resmungou me olhando de cima a baixo.

Me aproximei dele, que estava chocado, tão lindo... Uma delícia! Aquelas sardas espalhadas pelo nariz e pelas bochechas o deixavam ainda mais bonito... Como eu queria acabar com ele ali mesmo, mas isso seria um problema. Crowley ia separar minha cabeça do corpo por uma semana só por estar no mesmo ambiente que eles.

– Que coisas mais deliciosas! - Soltei um rosnado baixo próximo ao ouvido do Dean.

– O que raios aconteceu com você? - Ele franziu o cenho.

– Sei lá! Mas acho que estou bem melhor agora, você não acha? - Joguei meu cabelo por cima dos ombros.

– Não! E esse cabelo? A nossa Meghan morreria, mas não mudaria o cabelo.

– Mas foi justamente isso que rolou... A Meghan de vocês morreu, já era, virou purpurina na noite!

– Como o Crowley te transformou em demônio? - Sam indagou.

– Você acha mesmo que eu me lembro? - Rolei os olhos - Ai, vocês são muito tentadores, mas o titio não vai gostar de me ver aqui com vocês.

– Titio?! - Os dois questionaram juntos.

– Sim, tio Crowley... Estou indo lá, garotos. Sugiro que mantenham distância, na próxima vez não irei me conter.

Estalei os dedos e sumi do beco, fui até o outro lado da cidade e decidi seguir direto para o Restaurante Argentino, estalei os dedos e já estava com um vestido preto longo com uma fenda na perna esquerda que ia até o meio da minha coxa. Mudei até minha maquiagem e o cabelo, o deixei preso em um coque.

Passei a maior parte da noite sozinha, só observando, na verdade minha garganta ainda queimava de sede pela energia que os Winchester tinham, eu queria eles e nenhum homem presente no local parecia ser tão interessante.

Então eis que surge uma coisa interessante, um moço bem alto que estava chamando bastante atenção, era ele que seria o meu prato principal da noite. Me levantei quando ouvi uma música nova começando e fui desfilando até ele que me deu um meio sorriso. Assim que cheguei perto, ele já puxou minha mão para a pista de dança.

Eu não estava muito interessada em dançar, mas poderia ser divertido, ele era muito habilidoso e me guiava com muita facilidade, tinha tudo para ser o ponto alto daquela noite. Então eu o beijei só para começar, suguei um pouquinho de sua energia. Ao largá-lo, eu estava com os olhos escuros e algo em meu cérebro estava mandando um sinal de alerta.

Olhei por cima do ombro do rapaz e vi aquele par de olhos azuis familiares me encarando...Oh! O anjinho... Castiel.