Os irmãos chegaram um pouco depois que realizamos a cura na Claire, trouxeram o carro dela e a Sophie. Eu os contei tudo que aconteceu e eles disseram que era normal, logo a garota estaria melhor. Aproveitei o momento livre para contá-los sobre Caim.

– Então a única chance de matar Abaddon é com esse cara? - Dean questionou.

– Aparentemente, sim... Mas o Cass acha que não é uma boa ideia e que podemos resolver de outra forma.

– Eu concordo, mas talvez seja a única chance... Por falar no Cass, onde ele está? - Sam perguntou ao notar que o anjo não apareceu desde que chegaram.

– Hum, acho que está com a Claire... - Dei de ombros.

Os dois se entreolharam, ficaram calados por um segundo, até que o Dean resolveu perguntar:

– Está tudo bem entre vocês?

– Não muito...

– Não? Mas ontem mesmo vocês...

– Dean! - Sam o censurou - Megh, você quer conversar sobre isso?

Apenas balancei a cabeça negativamente, se eu conversasse com eles, teria que mentir novamente e eu não queria aquilo.

– Mas você sabe que se precisar, nós estamos aqui, certo? - Dean segurou minha mão e me mandou um sorriso solidário.

– Obrigada... - Respirei fundo e decidi mudar de assunto - E a viagem de volta? Tranquila?

– Claro, por que não seria? - Sam olhou de mim para o Dean, confuso.

–Nada, apenas perguntei... Aliás, cadê a Sophie? - Olhei ao redor da sala e não vi a loira, pensando bem, eu mal a vi entrando.

– Deve estar no quarto dela lendo, pegou uns 30 livros na casa do Bobby. - Dean revirou os olhos.

– Ah... Oi? Livros de quê? Monstros?

– Bom, isso ou o Bobby tem uma coleção de sagas tipo Crepúsculo, Harry Potter e 50 Tons de Cinza.

– Não se preocupe, Megh. - Sam soltou uma risada - Ela não vai virar caçadora.

– É, ela não tem o menor jeito para isso! - Dean virou-se para o irmão - Falando nisso, que tal você ir terminar a tradução daquele maldito livro para podermos despachá-lo junto com a loirinha?

– Dean! Vocês acabaram de chegar, deixa o Sam descansar um pouco! - Empurrei o ombro dele - Além do mais, tenho certeza que você não quer que a "loirinha" vá embora tão cedo.

– Meghan, calada! - Ele falou entredentes.

– O que houve? - Sam me perguntou, já imaginando que algo teria rolado entre os dois.

– Sr. Esquilo estava aos beijos com a mocinha na casa do Bobby, no meu quarto... Mas claro que não foi a única vez que aconteceu, não é, Dean? - Apoiei meu queixo em uma das mãos.

– Er... A conversa era sobre você, demônios, Caim e um livro! Não fuja do assunto! - Ele se levantou - Eu vou tomar um banho e descansar.

Dean saiu rapidamente da sala sem nem olhar para trás, em seguida o Sam também foi fazer o mesmo e eu decidi ir verificar nossa hóspede.

– Oi, posso entrar? - Bati na porta de Sophie e coloquei a cabeça para dentro.

– Claro, Meghan. - Ela estava cercada por livros e diários - Posso ajudar em algo?

– Não... Eu vim ver como você está, passou um dia inteiro na casa do tio Bobby, deve ter sido estranho.

– Foi bem diferente, mas eu gostei. Ele me contou tantas coisas, me mostrou tantos livros sobre criaturas horríveis... - Ela puxou um dos livros da cama e me mostrou - Dragões existem!

– É, eu matei dois! - Acabei rindo do entusiasmo dela.

– Ah, claro! Eu aqui tagarelando e você já deve ter lido cada livro desses!

– Na verdade, não... Essa parte de pesquisa sempre fica com o Bobby. - Sentei na cama e peguei um dos exemplares, era um livro sobre bruxas - Não sei o que faríamos sem ele.

– Vocês tem sorte em tê-lo, deve ser bom ter um exemplo de "pai" que apoia vocês e ajuda.

– O seu não é assim?

– Eu não sei... Não somos muito próximo, mas acho que você já notou...

– Realmente, você está aqui há um bom tempo e ele se contentou com uma ligação!

– Pois então, ele não liga muito para mim. - Ela franziu o cenho - Ele não liga para nada que não seja o dinheiro e seus bens. Quando minha mãe morreu, eu tinha 10 anos e você pode imaginar o que se passou na minha cabeça quando eu tive que ir ao funeral acompanhada por empregados? Ele nem foi ao funeral dela!

– E onde ele estava?

– Na inauguração de uma nova clínica dele!

– Ah meu Deus... - Fiz uma expressão de nojo, sim! Eu estava com nojo daquele homem e agradeci pela cadeirada que o Dean deu nele.

– Desde então, eu cresci por minha própria conta, porém sob as ordens dele... Claro que ainda amo o meu pai, ele sempre me deu tudo que eu quis também... Mas ele foi ausente demais e se achava no direito de me controlar à distância. - Ela deu de ombros - Estou aproveitando enquanto estou aqui, estou vendo coisas que nunca vi antes e estou amando! Todo esse conhecimento é magnífico!

– Você fala como um Homem das Letras, no caso, Mulher das Letras. - Eu ri.

– Isso é ruim?

– Não, é ótimo, na verdade... Não é a toa que vive batendo de frente com o Dean. - Ergui uma sobrancelha - Vocês são tão diferentes, mas parece que os opostos se atraem.

– Ah, você vai insistir nisso, não é?

– Claro que vou! Não percebeu que só vou parar quando vocês admitirem que sentem algo um pelo o outro?

– Meghan, isso não vai acontecer! - Sophie me assegurou - Mesmo que acontecesse, estou indo embora em alguns dias.

– É... Bom, eu vou te deixar curtindo sua leitura aí... Fico feliz que esteja gostando de ficar com a gente. - Eu disse antes de sair.

– E eu fico feliz de ter essa oportunidade, obrigada. -

Assenti e saí do quarto, andei pelo corredor até ver a porta do quarto da Claire semi aberta, pelas vozes que vinham lá de dentro, ela já deveria ter acordado e estava conversando com o Castiel.

– Não se preocupe, tenho certeza que a Meghan não está chateada com você! - O anjo falava com convicção.

– Eu tentei atacá-la, Cass... Estou me sentindo péssima com isso!

– Você estava virando uma vampira, Claire!

– Ah, eu sou uma péssima caçadora! - A voz dela estava perceptivelmente triste - Fui pega por um vampiro e ainda deixei que ele me transformasse!

– Você não é péssima, só está começando... Você ouviu quando o Dean disse que já aconteceu com ele!

– Mas...

– Ah, chega dessa ladainha! - A interrompi e entrei no quarto - Claire, eu não estou chateada, triste ou com raiva de você! O que aconteceu foi uma fatalidade, coisas que podem rolar numa caçada... Pare de se punir por isso.

Andei até a cama e sentei ao lado dela.

– Eu podia ter te machucado. – Claire insistiu.

– Não, não podia! Você nunca iria machucá-la. - Castiel se aproximou e tentou tranquilizá-la.

– Como vocês podem confiar tanto em mim desse jeito?

–Porque nós sabemos que você é melhor do que imagina.

– Eu... Eu... - Claire não sabia mais o que falar - Eu vou tomar um banho, estou horrível.

Ela jogou os lençóis para o lado, pegou suas roupas e sua toalha e foi para o banheiro.

– Ela tem problemas em aceitar que a tratemos bem. - Eu olhei para o anjo e ele assentiu - Cass?

– Sim, eu concordei, ela tem problemas! - Castiel falou em um tom rude.

– Ok, você está chateado... - Me levantei e fui até ele - Cas, você tem que confiar em mim...

– É difícil se você fica me escondendo as coisas... Você sabe o que o Gabriel está aprontando, o que vocês dois estão aprontando. – Ele se levantou e fez menção de sair do quarto, mas o impedi.

– Se você está tão desconfiado assim, pergunte ao seu irmão o que ele está escondendo... Não garanto que ele vá te contar, mas isso tem que sair da boca dele.

Castiel ficou parado por um segundo, então continuou seu rumo até a porta. Aquela situação estava acabando comigo, não tinha nada pior do que aquele olhar triste e decepcionado do anjo para cima de mim.

Eu estava determinada a acabar com aquela palhaçada de uma vez por todas, fui em direção à garagem, peguei meu carro e saí do bunker, parei no meio da estrada e decidi chamar aquele arcanjo.

– Gabriel! Apareça agora ou da próxima vez que eu te vir, vou enfiar óleo santo pela sua garganta e tacar fogo em você!

– Que agressão é essa? – Gabriel surgiu no banco de carona – O que eu fiz?

– Seu idiota, o Cass está mais do que desconfiado! Você precisa contar a ele...

– Meghan...

– Ele não vai matar o moleque! Estamos falando do Cass! – Eu esbravejei.

– Tudo bem! Eu falo! – Ele respondeu no mesmo tom.

– Ótimo, vamos para o bunker...

– Não, espere! – Ele pediu – Antes eu tenho uma coisa mais importante para falar com vocês... – Ele esboçou um sorriso amarelo e eu sabia que ali tinha armação.

Dirigi de volta para o bunker, Gabriel disse que falaria o que era a tal coisa importante quando chegássemos lá.

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– Deuses? Aqueles Deuses que Lúcifer matou? – Dean questionou após Gabriel nos falar o que estava acontecendo.

Ele simplesmente chegou dizendo que os tais Deuses que Lúcifer, supostamente, matou antes do Apocalipse estavam de volta! Na verdade, eles nunca morreram, tudo aquilo foi uma encenação para o demônio.

– Ah, vocês acham mesmo que Lúcifer seria capaz de matar Deuses? Óbvio que foi um truque para que eles fugissem. – Gabriel falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– É, vocês “Deuses” gostam de um truque, não é, Trickster? – Cruzei os braços e me voltei para o Arcanjo.

– Gente, que história é essa? E quem é esse? – Sophie, que até então estava calada e escutando tudo atentamente, perguntou.

– A senhorita deve ser a Sophie! – Gabriel puxou a mão dela e depositou um beijo – Muito prazer, Gabriel.

– Ah! O arcanjo baixinho! – Ela sorriu para ele – A Meghan me fala muito de você.

– Claro que fala... Enfim, vamos pegar meus amiguinhos? – O arcanjo se voltou para nós bem animado.

– Eles podem nos matar, não? – Sam indagou – Até porque foi nossa culpa o que aconteceu da última vez.

– E como eles podem nos ajudar? – Castiel também perguntou.

– Eles sabem a localização de Caim. – Ele deu de ombros – Não importa a cultura ou religião, o Pai do Assassinato é reconhecido em todas.

– Então nós chegamos lá na reunião anual da galera dizendo que queremos informações do velhaco e eles vão dizer de boa? – Claire questionou – Isso não parece seguro.

– Até mesmo porque você não vai. – Castiel falou para a garota – Ainda está se recuperando.

Claire se limitou a rolar os olhos, ela não discutiu porque sabia que não adiantaria ou porque realmente não se sentia pronta para algo daquele porte.

Aquela discussão se estendeu pela noite, Gabriel achava que podia ser seguro ir sozinho para arrancar as informações dos Deuses, mas nós acreditávamos que eles guardavam rancor pela mentira que ele escondeu por muito tempo e o matariam sem nem pestanejar. No entanto, parecia uma possibilidade melhor do que enfrentar Caim diretamente... Fala sério, não tinha como ele ser tão ruim assim... Ou será que tinha?

– Vocês não entendem! É perigoso levar vocês, meros “mortais”, para lá. – Gabriel fez aspas com as mãos.

– Como você mesmo fez questão de enfatizar, nós não somos exatamente “mortais”. – Dean ressaltou, imitando o gesto do arcanjo.

Notei que Sophie ficou um tanto perturbada com aquela afirmação, fiz uma nota mental de explicá-la sobre o fato dos Winchester não serem muito adeptos à morte... Mas achei que não seria um problema, uma vez que ela mesma já havia passado por aquilo.

– Nós vamos e ponto final! – Eu me levantei – É só se preparar bem, levar umas coisinhas que nos protejam... Uns pedaços de carne humana para jogar pra eles...

– Meghan! – Castiel me repreendeu.

– É brincadeira, calma. – Eu ri da face assustada do anjo.

– Certo, eu sabia que vocês iriam de qualquer jeito... Então é bom que se preparem mesmo, partiremos amanhã de tarde. – Gabriel tirou uma barra de chocolate da jaqueta, abriu e deu uma mordida – Só tentem não bancar os caçadores lá, estamos indo apenas pelas informações.

– Não vamos. – Sam o garantiu.

– É, eu não vou tentar arrancar nenhum dos vários braços da Kali. – Provoquei o Gabe.

– Isso é ótimo, ela é muito boa com as mãos... Com todas elas. – Ele retribuiu no mesmo tom.

– Ok, vamos nos preparar! – Sam falou, ele levantou-se e foi até a estante de livros – Quem sabe o que nos aguarda?

– Eu achei algo sobre Deuses em um dos livros que peguei com o Bobby. – Sophie informou – Eu vou buscar.

Assim que a loira saiu, Dean fez questão de revirar os olhos e fingir desprezo em relação à ela.

Depois de deixarmos tudo pronto, com direito à alguns rituais gravados no celular, armas diferentes e o que mais pudemos encontrar, fomos dormir. Gabriel sumiu novamente, sem contar aos outros o que estava acontecendo com ele, e Castiel não apareceu no meu quarto. O anjo ficaria me dando um gelo até que eu o contasse o que estava acontecendo... Um anjo mimado, ninguém merece!