A viagem para Michigan foi bem conturbada, primeiro nós tivemos uma discussão sobre a trilha sonora, então Sam disse que ninguém escutaria nada pois ele queria dormir, sendo assim, Dean começou a cantar e se empolgou.

– Dean, cale a boca! - Sam pediu, pela terceira vez.

– Você não estava dormindo? - Dean retrucou.

– Como? Você não fica quieto!

– Essa discussão tem algum propósito? - Castiel indagou.

– Não. - Claire respondeu sem esboçar nenhuma emoção.

– Eu quero descansar, nós vamos lidar com vampiros mais tarde.

– Nós vamos chegar em Reed City de madrugada, eu concordo que deveríamos descansar. - Eu falei.

– Sério? Para dar mais tempo aos vampiros? - Claire questionou.

– Eu concordo com a pirralha aí. - Dean assentiu - Nós damos conta.

Por fim, nós concordamos em seguir direto para a cidade, não podíamos arriscar que mais vítimas fossem feitas. O resto do caminho foi consideravelmente calmo, Sam revezou a direção com o loiro, Claire acabou dormindo no ombro do Cass, uma cena até fofa. Eu fiquei olhando para os dois e logo me veio à mente que eu tinha que contar sobre Caim. Ou talvez devesse esperar Gabriel surgir com novas informações. Mas seria perda de tempo, por mais que tentasse me convencer do contrário, eu precisava de ajuda.

Chegamos em Reed City por volta das duas da madrugada, segundo as informações do Garth, um ninho de vampiros estava instalado na cidade há cerca de duas semanas e usando a cidade como self service. Ele também disse que uma dupla de caçadores foi morta lá na semana anterior quando decidiram investigar. Não seria uma caçada fácil.

– Ok, de acordo com nossa fonte, não muito estável, eles só podem estar escondidos em um acampamento abandonado na região das florestas da cidade. - Sam informou durante o caminho para o local que os vampiros supostamente estavam.

– E vocês acham que eles vão estar lá agora? - Claire perguntou - Porque se eu fosse uma vampira, estaria me alimentando de madrugada.

– Faz sentido, mas aí poderemos pegá-los quando voltarem, elemento surpresa! - Dean alegou.

– Elemento surpresa? Vampiros podem escutar seu coração à distância. - Sam rolou os olhos e em seguida pegou um mapa da cidade - Essa floresta não é muito grande, assim que eles chegarem por perto, já poderão nos escutar.

– E vão achar que somos pobres pessoas que estão no lugar errado e hora errada, eles não saberão que somos caçadores. - Eu falei.

Paramos o carro na estrada, um pouco escondido, próximo à algumas árvores e pegamos as armas no porta malas. Cada um estava com duas facas enormes, exceto Castiel, ele só levava uma por precaução, mas ele não precisava disso. Caminhamos por alguns minutos e achamos o acampamento, na verdade eram três pequenos chalés no meio de uma clareira. Castiel entrou no primeiro, os irmãos no segundo e eu e Claire no terceiro.

O chalé não só estava vazio, como parecia abandonado há anos. Havia poeira sobre os móveis, cheiro de mofo, não tinha eletricidade ou água. Saímos e os rapazes disseram que os outros dois estavam na mesma situação. Peguei meu celular e liguei para o nosso informante.

– Ei ruivinha! - Ele atendeu, animado como sempre.

– Garth, você tem certeza que tem vampiros em Michigan? - O perguntei.

– Sim, eu tenho, nos arredores de Reed City, na floresta! - Ele respondeu com convicção - Eu estive aí, Meghan, mas você sabe... Um lobisomem contra um ninho de vampiros não iria terminar bem.

– Entendo... Mas não os encontramos, os chalés estão vazios e parecem desocupados há anos.

– Então vocês estão lidando com vampiros velhos e experientes que sabem como nos despistar, eles devem ter mudado de local quando os caçadores chegaram aí na semana passada... Tentem os galpões do centro da cidade.

– Por que eles se esconderiam no centro?

– Porque os galpões só são recarregados nos fins de semana, bobinha! - Ele soltou uma leve risada - Ninguém entra lá durante a semana, agora vão lá e acabem com esses malditos dentuços.

– Ok, obrigada Garth.

– De nada, ruivinha... Ei! Como você está? Eu soube do que aconteceu durante esse ano e não pudemos nos falar antes... - Ele perguntou e eu notei um certo desconforto em sua voz.

– Eu estou bem, obrigada por perguntar, foi estranho mas já passou. - O assegurei - Temos que marcar alguma caçada juntos, colocar o papo em dia.

– Sim! Ou vocês podem jantar aqui em casa! - Ele sugeriu ainda mais animado - Minha esposa sabe cozinhar para humanos também!

– Oh, proposta tentadora! - Fingi mais entusiasmos ainda - Depois resolvemos isso, agora eu vou lá, você sabe, cuidar dos malditos dentuços... Tchauzinho, Garth.

– Tchau, Meghan! - Eu desliguei.

– O que houve? - Sam perguntou.

– Hum... Tenho uma possível localização e uma convite para jantarmos com lobisomens! - Dei de ombros, os irmãos fizeram uma careta de nojo, provavelmente imaginando o tipo de jantar que teriam.

Fomos para o centro da cidade o mais rápido possível, não foi muito difícil encontrar os galpões. Vistos de fora, pareciam vazios e abandonados, os portões eram enferrujados e as paredes estavam desgastadas. Tentamos entrar pelas portas laterais, mas estavam rangendo e isso acabaria com o elemento surpresa, decidimos entrar todos pelo teto, o problema era que haviam cinco galpões e não teríamos como saber qual era o certo.

Então nos separamos novamente e começamos a procura por qualquer coisa que indicasse uma atividade suspeita, os dois primeiros galpões foram descartados, Sam e Dean estavam no terceiro e alegaram ter encontrado manchas de sangue, mas como viram de longe não puderam confirmar e nem dizer que o local estava realmente vazio... Isso nos intrigou.

Invadimos pela porta lateral, vasculhamos o local por entre os containers e estantes de ferro, as manchas que eles viram era sangue realmente e Castiel confirmou que vampiros estiveram lá, então só precisávamos esperar que eles voltassem, mas antes que nós tomássemos nossas posições, vultos nos cercaram e em cerca de 3 segundos, haviam 13 vampiros ao nosso redor. Nenhum parecia alarmado, preocupado, nem muito menos em posição de ataque, mais importante ainda, não pareciam famintos.

– Caçadores... - Uma vampira que estava encostada despreocupadamente num container, comentou.

– Son of a bitch... - Dean sussurrou olhando para todos os monstros presentes.

Ok, estávamos preocupados em relação à quantidade... Mesmo com um anjo na jogada, não seria uma situação muito agradável.

– Winchester... - O vampiro que estava a frente no grupo se aproximou - Vejam só, os ratinhos mais difíceis de pegar caíram na nossa armadilha... Peguem-nos.

Então as criaturas nos cercaram, dois vampiros me puxaram pelos braços, um puxou a Claire para o lado oposto, ela tentou se debater e ele a deixou inconsciente com uma pancada na cabeça, cada um dos Winchester foi pego por três vampiros e os quatro que sobraram cercaram o Castiel, o desarmaram jogaram contra uma das estantes, a derrubando.

– Uma pena que chegaram depois do jantar... - O vampiro que parecia ser o líder comentou, ele estava com as presas a mostra sobre o pescoço da Claire - Mas sempre tem lugar para a sobremesa.

– Não! - Eu me debati, tentando me soltar de qualquer jeito.

Uma luz forte tomou conta de todo o galpão, era o Cass, suas asas estavam a mostra e os quatro vampiros foram lançados para longe dele. Aproveitando a distração causada pelo anjo, Dean conseguiu se livrar dos vampiros que o seguravam e conseguiu decapitar dois ao mesmo tempo com suas facas.

Joguei meu corpo contra um dos que me segurava e chutei o outro para longe, puxei uma das facas e decapitei os dois. Sam foi jogado contra a parede, mas antes que o vampiro o alcançasse, ele o atingiu fazendo a cabeça cair para um lado e o corpo para o outro, logo em seguida foi ajudar o Dean com o vampiro que tinha o erguido do chão e estava pronto para mordê-lo.

– Socorro! - Ouvimos o grito de Claire.

Quando viramos, o vampiro que estava com ela segurava seu braço esticado, onde estava uma marca bem profunda de mordida, e então ele fez cortes em seu próprio braço e passou sobre a ferida da Claire.

– Não! - Castiel gritou, correndo em direção aos dois.

Ele se chocou contra o vampiro, o ergueu pelo pescoço e com sua mão livre, literalmente, arrancou a cabeça do monstro. Corri até ela, Claire olhava horrorizada para a ferida em seu braço, os irmãos largaram o último corpo de lado e vieram até nós ficando igualmente surpresos, assim como anjo. Todos ali sabiam o que iria acontecer com a garota.

– Meghan... Eu não quero virar um monstro. - Ela choramingou.

– Calma, você não vai virar... - A ajudei a se levantar - Cass, você pode...

– Isso não. - Ele respondeu, tão desesperado quando nós.

– Er... Nós sabemos como ajudar. - Sam se pronunciou - Sabemos como curá-la.

– É, só precisamos do sangue do vampiro que te infectou. - Dean tirou um pequeno frasco de sua jaqueta e foi até a criatura despedaçada no chão.

– E outros ingredientes que temos no bunker. - Sam completou.

– Espera, como vocês sabem disse? - Eu quis saber.

– Oh, você não soube que eu já fui do time Cullen? - Dean veio até nós - Bons tempos...

– Minha nossa! Eu não sabia! - Exclamei - Como assim?

– Longa história... - Dean voltou até onde estávamos com o sangue em mãos - Em resumo: Sam estava sem alma, me deixou ser mordido, nosso avô chegou com a história de cura... E o resto você pode imaginar.

– Por que será que isso não me surpreende? - Rolei os olhos - Anda, vamos logo.

Dean deixou que eu, Cass e Claire pegássemos o Impala e seguíssemos direto para o bunker, eles roubaram outro carro e foram buscar a Sophie na casa do Bobby. A viagem de volta para o Kansas foi longa e perturbadora, tudo que tivemos que fazer foi impedir que a Claire tomasse uma gota de sangue humano.... É, foi complicado.

– Ah! Pelo amor de Deus! Desliguem esse rádio! - Ela pediu, tapando os ouvidos e se encolhendo contra o banco traseiro do carro - Que barulhos insuportáveis, que carro barulhento!

– Claire, precisa se acalmar! - Castiel pediu.

– Como? Tem algo batendo dentro dessa porta aqui atrás, um ruído horrível! - Ela apontou uma das portas traseiras do carro, lembrei-me que ali tinham umas peças de lego que os garotos colocaram quando eram criança e Dean nunca as tirou... Elas estavam presas mas, no entanto, Claire conseguia ouvi-las.

– Nós já vamos resolver, estou indo o mais rápido que posso! - Acelerei mais um pouco.

– AH! APAGA ISSO! - Claire gritou quando um carro na mão oposta passou por nós com os faróis altos - MEUS OLHOS!

– Cass... Você pode apagá-la? - Pedi ao anjo.

– Talvez não seja uma boa ideia. - Ele se virou para olhá-la - Claire, o que houve?

Só então vi pelo retrovisor que ela estava encolhida no banco, com os olhos vermelhos e me encarando.

– A Meghan... Eu posso ouvir os batimentos dela, o sangue correndo... Ah... - Ela escondeu sua cabeça contras os joelhos - Faça isso parar!

O resto da viagem foi caracterizado pela mesma tensão, Castiel foi o caminho todo tentando acalmá-la e eu fui dirigindo preocupada que ela pudesse pular no meu pescoço a qualquer momento.

Quando chegamos em casa, Castiel a levou para a masmorra e eu fui procurar os ingredientes que usaríamos, Sam havia me mandado uma mensagem com tudo que eu precisaria. Comecei a misturar as coisas e por fim coloquei o sangue do vampiro.

Ao entrar na masmorra, me deparei com Castiel segurando Claire pelos braços, ela se debatia loucamente e me olhava como se eu fosse o último pedaço de carne do mundo.

– Aqui, Claire... - Me aproximei lentamente - A cura pra você.

– Dane-se a cura, eu quero seu sangue! - Ela rosnou, algumas presas surgiram juntamente com os olhos vermelhos.

– Não, você não quer! Você não é um monstro!

– Tarde demais para mim, ruiva... Eu não tenho vocação para fazer coisas certas, serei uma problemática eternamente.

– Claire, me escuta. - Pedi e tentei parecer calma - Você não é um monstro, você não vai me atacar, vai tomar essa cura e voltar a ser o que era, ok?

Ela não me respondeu, Castiel olhava de mim para ela sem saber exatamente o que fazer.

– Solte-a. - Pedi.

– Mas...

– Solte-a, Cass!

Apesar de hesitar, Castiel largou os braços dela e se afastou um pouco, eu estirei o copo com a cura e ela a puxou da minha mão, fez uma careta ao sentir o cheiro mas bebeu tudo corajosamente em seguida. Colocou o copo em cima da mesa, respirou fundo alguns segundos e depois correu para o lixo mais próximo e começou a vomitar violentamente.

– O que está acontecendo? - Perguntei ao anjo.

– Acho que está dando muito certo ou muito errado.

Claire jogou a cabeça para trás, todas as presas estavam expostas, seus lábios estavam roxos, seus olhos estavam vermelhos e cercados por olheiras. Ela gritou e agonizou com a dor, até que caiu inconsciente no chão.

– Deu certo? - Questionei quando Castiel se aproximou lentamente dela.

– Creio que sim... - Ele a pegou nos braços - Vou levá-la para o quarto.

Cass saiu da masmorra e a levou em direção aos corredores, mandei uma mensagem para o Sam avisando que tudo correra bem, na medida do possível e ele disse que chegaria em uma hora.

– Ela está bem... - Castiel apareceu na sala - Como você está?

– Aliviada... Ai, quanta coisa na minha cabeça... - Levei uma das mãos até a testa.

– Eu posso imaginar, Megh... Você parece estar ainda mais preocupada, aconteceu algo? - Ele se aproximou de mim e me encarou, decidi que aquele era um bom momento para contá-lo sobre Caim.

– Eu descobri uma coisa... - Dei uma pausa e ele assentiu para que eu continuasse - Não foram os arcanjos que mataram os Cavaleiros do Inferno, isso é o que queriam que vocês e nós acreditássemos.

– Então... Quem os matou?

– Caim...

– Não é possível! - Castiel arregalou os olhos - Como você descobriu isso?

– Gabriel me contou... Qual o problema com Caim? - Indaguei ao notar que a preocupação no olhar do anjo aumentou.

– Ele é o Pai do Assassinato, ele é o demônio mais poderoso de todos!

– Oh, isso não é nada bom... Então devo desconsiderar a hipótese de pedir uma pequena ajudinha à ele... - Cruzei os braços.

– Meghan, você não deve nem chegar perto dele! - Castiel se aproximou ainda mais de mim - Você me entendeu? Ele é uma criatura muito poderosa e perigosa.

– Eu entendi... Mas e se for nossa única opção?

– Nós vamos lidar com Abaddon sem precisar disso, você verá.

– Ok. - Dei de ombros - Bom, eu vou tomar um banho para descansar... Faz mais de 24 horas que eu não sei o que é dormir.

– Tudo bem, vou esperar a Claire acordar... Ah, Meghan! - Ele me chamou - Você disse que o Gabriel te contou isso... Quando exatamente?

– Ontem... Um pouco antes de sairmos para caçar os vampiros, ele disse que me ajudaria, eu expliquei a situação e ele me contou isso. - Dei de ombros.

– Ah sim... - Castiel estreitou o olhar- Só conversaram sobre isso?

– Sim.

É, eu menti na cara do anjo, de novo! Estava odiando, mas agora mais do que nunca, Gabriel precisava que eu guardasse o segredo dele... Só não sei por quanto tempo mais aguentaria aquilo.

– Tudo bem... - Ele baixou o olhar e foi até o quarto da Claire.

Eu me odiei quando o vi daquele jeito, era óbvio que ele sabia que eu estava mentindo, mas o segredo não era meu! Eu não podia trair o Gabe daquele jeito, além do mais era um assunto muito sério.

De qualquer forma eu estava tentando convencer ao arcanjo de que seria melhor se ele contasse o que estava acontecendo pelo menos ao Cass, tenho certeza que ele nunca faria mal ao filho do Gabe... Ou faria?