A Alma de minha Vida... escrita por AoRingo


Capítulo 3
Capítulo III - A Clareira das almas...


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo uhull o/
Confesso que, mesmo sendo uma fic curta, envolvi-me legal nela, pois é a primeira que faço nesse estilo... Mas tudo que começa, tem um fim, então, aqui está, minna!

Agradeço todos os reviews recebidos e não quero saber de leitores chorando, ein?! kk'

Espero que gostem, leiam as notas finais, ok?
Boa leitura o/



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Quem se aproximasse da cama, perceberia o volume em cima dela. Poderia ser apenas travesseiros ou realmente um corpo. Para as pessoas, que mesmo no escuro, prestassem atenção, reparariam no leve movimento que o vulto possuía, comprovando uma alma viva.

Chegou em casa, jogando sua mochila em um canto qualquer do chão. Ouvira sua mãe o chamar, porém decidiu ignorar, dirigindo-se ao banheiro. Observou seu rosto no espelho, o hematoma em seu olho esquerdo estava chamativo demais. Despiu-se e entrou no chuveiro, a água quente lhe causou um arrepio, os músculos doloridos relaxando aos poucos.

Os cortes em sua boca ardiam. Iria se vingar daquele Hyuuga metido, ninguém mexia com ele e saía ileso. Pegou a primeira toalha que encontrou e enrolou na cintura, deixou o banheiro para trás indo até seu quarto:

– Querido, vamos jantar? – a matriarca surgiu no corredor – Sasuke, o que houve com seu rosto?

– Nada...

– Você se meteu em outra briga? – havia desgosto na voz feminina – Por que você não pode ser o garoto querido de antigamente?!

– Por culpa de vocês, okaa-san!

Fechou a porta do quarto com força, trancando-a. Jogou-se na cama, o corpo ainda dolorido. Apertou os olhos, impedindo as lágrimas de saírem, não choraria mais por causa daquilo. Olhou ao redor, tentando se acostumar com a escuridão do cômodo.

Encontrou o que procurava em cima do guarda-roupas. Largara-o lá depois do primeiro ano na casa nova, acabando por o esquecer conforme o tempo passava. Levantou com calma, pegando uma cadeira para alcançar lá, agarrando a pelúcia.

Sentou-se no chão, a cabeça encostada na parede gélida. Não se importava de ainda estar apenas de toalha, não sentia frio. Observou o brinquedo em suas mãos, estava da mesma forma que se lembrava, como se o tempo esquecido não o tivesse destruído:

– Kurama... – o nome da raposa escapou por seus lábios.

Seu peito se comprimiu, a lembrança daquele sorriso tão quente voltando à sua mente. Pensava que havia deixado para trás, afinal, já faziam 5 anos desde que se mudaram. Tornara-se um adolescente bonito, a pele ainda extremamente clara, músculos definidos. No entanto, perdera o brilho de alegria que, antigamente, tinha em seus olhos.

O primeiro ano fora horrível para si, não houvera uma única noite em que não se lembrava daquele dobe. Que não se lembrava deles. E como aquilo o corroeu por dentro, até que não restasse mais nada. Tornara-se o garoto frio e ignorante de agora, um rapaz de 17 anos que não se importava com nada nem ninguém.

Abraçou a raposa com força, deitando a cabeça nela. Como queria voltar no tempo, se ele tivesse sido mais forte nunca que Itachi o teria levado longe. Não teria quebrado a promessa que fizera, perdido o único amigo verdadeiro:

– Naruto... – as lágrimas já rolavam sem controle – Droga!

Por que tinha que se apaixonar por alguém morto? Por que, justo ele, conseguira ver o louro apesar de morto? Nunca respondera aquelas perguntas, nem mesmo o psiquiatra, ao qual sua mãe o levara, parecera capaz de responder.

Levantou-se e colocou a raposa em sua cama. Vestiu uma peça de roupa qualquer e saiu do quarto, sendo pego pelo aroma de comida. Estava com fome e dolorido. A dor o lembrava do inútil do Neji, a raiva fazendo seu sangue ferver.

Adentrou a cozinha, sentia o olhar de Mikoto e do irmão sobre si, porém apenas ignorava. Pegou um prato e sentou-se à mesa, servindo-se e comendo em silêncio. Percebeu que Itachi parecia querer falar algo, sem realmente saber como começar. Encarou-o, uma sobrancelha levantada, indagando o que tanto queria dizer:

– Otouto... – parecia pensar nas palavras – Se quiser, posso te dar as chaves da antiga casa...

– Por que isso agora? – seco como sempre.

– Amor, nós estávamos discutindo isso há um tempo já e, talvez, fosse bom para você voltar lá, ver que tudo não passou de uma brincadeira da sua mente... – Mikoto parecia temer sua reação.

Mordeu os lábios com força, sentindo a pontada de dor nos cortes que já possuía. Era sempre assim, eles tentando o provar que nada fora real. Chamando-o de louco, mesmo que nunca admitissem. Pegou as chaves que seu irmão oferecia, deixando o apartamento logo em seguida, ignorando os chamados da mãe.

Estava surpreso por ainda lembrar em que rua morara e, acima de tudo, em como chegar lá. Caminhava devagar, reparando em como as casas pareciam abandonadas. Talvez algumas estivessem, depois que saíra de lá, muitos conhecidos também se mudaram. Ao fim da rua, sabia que encontraria sua antiga morada, porém antes queria ir a outro lugar.

Entrou na floresta onde brincava quando criança, ali as árvores pareciam exatamente iguais. Sorriu, minimamente, com esse pensamento. Tentou se lembrar como chegar à clareira, no entanto, por mais que andasse, não conseguia a encontrar.

Sentia-se nervoso, tinha certeza que era por ali. Bagunçou os fios negros, olhando ao redor preocupado. Não poderia ter sido imaginação, as risadas, o som do coração dele, os toques, beijos, não poderia ser tudo fruto da sua mente. Correu por meio das árvores, vez ou outra, tropeçando em alguma raiz elevada.

A medida que o tempo se passava, sentia os pingos de chuva caindo, engrossando. Se estivesse certo, deveria ser próximo das 21:00 horas já. Jogou-se, cansado, no chão coberto de folhas. Suas lágrimas se misturavam à chuva, a respiração ofegante, o peito comprimido. Não sabia no que mais acreditar:

– Dobe... – chamou sem esperanças.

A brisa gélida balançou seu cabelo, causando-lhe um arrepio. Ergueu os olhos para o céu escurecido, imaginando o quão bom seria ver aquele sorriso enorme e aconchegante que o louro possuía. Suspirou, fechou os ônix, sentindo os pingos frios em seu rosto. Teve a sensação de algo quente encostar em sua bochecha, mas ao abrir os olhos, nada viu.

Levantou-se e limpou a calça. Colocou o capuz do casaco que usava e voltou a andar, dessa vez saindo da floresta. Quem olhasse para si agora, veria a expressão sem vida e decidida que o acometia.

Quem ousasse acender o abajur ao lado da cama, tornando a olhar o corpo, empalideceria. Tornar-se-ia uma estátua aos pés do móvel, os olhos arregalados presos na cena. Aqueles tomados por essa coragem, deparar-se-iam com um rosto, antes belo, desfigurado. Os lençóis, antes brancos, tingidos pelo vermelho vívido do sangue.

Chegou à sua antiga casa, procurando as chaves no casaco. Estava indeciso, seria correto voltar a entrar ali? Balançou a cabeça, afastando aquela dúvida. Abriu a porta, ouvindo-a ranger pelo tempo sem uso. O ar de mofo atingiu com tudo seu rosto, fazendo-o contrair o nariz em desgosto.

Adentrou o local, tirando o casaco molhado e colocando-o atrás da porta. Da mesma forma, tirou os calçados, deixando-os de qualquer forma no chão. Tudo parecia exatamente igual, lembrava-se de terem deixado todos os móveis na casa. Caminhou devagar, observando ao redor, a sensação de nostalgia o atingindo.

Visualizou a estante da sala de jantar, trancando a respiração assim que prestou maior atenção. Em cima da mesma, um porta-retratos possuía uma foto sua quando criança. Ao seu lado, encontrava-se Naruto, abraçado a si e sorrindo. Tinha certeza que era do seu aniversário de 6 anos, o que significava que ele já havia visto o Uzumaki antes do acidente.

Aproximou-se hesitante, tomando a foto em mãos. Dedilhou o rosto bronzeado do amigo, confuso com aquela revelação. Como nunca vira aquela foto? Abriu o porta-retratos com a intenção de a retirar dali, porém parou ao ver a escrita na parte de trás. A letra parecia infantil, sem nenhum cuidado com a aparência da letra:

– Hoje o dia foi muito legal, okaa-san deixou que eu fosse no aniversário do nosso vizinho. Ele tem a minha idade, o que me deixou muito contente! – engoliu em seco enquanto lia – Sasuke acabou batendo a cabeça e desmaiando, isso não foi nenhum pouco legal, sabe? No outro dia, ficamos sabendo que ele esquecera de algumas coisas. Eu fora uma dessas. Tia Mikoto me deu essa foto para que eu também não esquecesse!

Apertou os olhos. Lembrava-se de ter batido a cabeça naquele dia, claro. Voltou a olhar a foto, indagando como ela fora parar ali se, como aparentava, pertencia ao louro. Deixou-a onde encontrou, virada de cabeça para baixo de forma a não ver aquele sorriso novamente.

Estava com fome. Sua sorte que passara em um mercado antes e comprara algo para comer de noite. Foi até a cozinha, esquentando a lasanha à bolonhesa. Enquanto esperava, observou ao redor. Mesmo ali, a casa possuía um ar mórbido. Suspirou cansado; se nunca tivessem ido embora, ainda poderia ser chamada de lar.

Pegou a comida, voltando à sala. Retirou o máximo de pó que conseguiu da mesa e se sentou. Embora estivesse faminto, comia sem muito ânimo. Toda aquela sensação sufocante de nostalgia, incomodava-o. Junto a isso, havia os pensamentos obscuros que rodeavam sua mente. Não haveria lugar melhor no mundo, do que ali, para pôr um fim a tudo.

Ao acabar de comer, levantou-se, deixando as louças jogadas na mesa. Subiu as escadas com pressa, notando o quão empoeirado estavam. Observou o corredor, surpreso. As madeiras das portas estavam lascadas, algumas quebradas. Poderia jurar que a casa foi invadida para tamanho estrago.

Chegou em frente ao seu antigo quarto, as lembranças da última vez que estivera ali, voltando à sua mente. Sua porta era a mais intacta de todas, detalhe que o causava um arrepio. Abriu-a lentamente, observando a escuridão no cômodo. Quando adentrou, a lufada de ar trouxe um perfume que conhecia bem.

Ainda existia o aroma cítrico do Uzumaki em seu quarto, era quase como se pudesse sentir a presença dele ali, embora estivesse sozinho. Adentrou na escuridão, recordava-se exatamente onde estava cada móvel, tornando-se fácil encontrar sua cama. Jogou-se nela, a poeira acumulada subindo com o seu peso.

Quase podia sorrir naquele momento, se não fosse pelo cheiro de Naruto, impregnado em todo o quarto. Sentia um nó se formar em sua garganta. A vontade de chorar era enorme, porém nada saía de seus olhos. Virou-se na cama, a última visão do louro tornando em seus pensamentos.

O corpo bronzeado marcado por si, uma prova de que era apenas dele, mas e ele? Fora apenas do menor? Quantas garotas levara para casa, apenas para provocar sua mãe? Tornara-se alguém sujo, nunca que aquele dobe o aceitaria de volta. Essa verdade encheu sua mente, trazendo um desespero iminente. Era quase como se pudesse ouvir a risada de todos, rindo de sua desgraça.

Levou as mãos aos fios negros, puxando-os. Tentava, a todo custo, fazer aqueles risos cessarem. Mordeu os lábios novamente, o gosto metálico de sangue enchendo sua boca. As unhas arranhavam a tez pálida, provocando marcas profundas. Em seus olhos ônix, apenas se enxergava o desespero:

– Naru...

Procurava por algum sinal do Uzumaki, mas apenas ouvia as risadas. Os deboches direcionados a si, jogando em sua cara o quão ridículo fora todos aqueles anos. Debateu-se na cama, sua respiração estava entrecortada, a pele pálida. Apalpava os bolsos da calça, procurando por algo que sempre carregava consigo.

Encontrou o antigo canivete suíço de seu pai. Observou o brilho da lâmina, quase podendo sorrir de satisfação. Finalmente daria um fim àquelas risadas. Não zoariam mais de si, nunca mais.

Sentia a sensação da lâmina entrando e saindo de sua carne, o cheiro enjoativo de sangue preenchendo o local. A dor era disfarçada pelo seu próprio riso. Perfurou uma, duas, três, quatro vezes seu peito, no entanto, perfurou apenas uma vez seu pescoço. Engasgava com o sangue, sem parar de rir. As írises ônix antes serenas e belas, agora estavam tomadas pela loucura.

Enquanto agonizava, teve a impressão de que alguém adentrara o quarto. Não importava de qualquer forma. Fechou os olhos, deixando-se sorrir em meio ao cenário de terror que criara.

Quem fosse inteligente o bastante, correria para fora do cômodo. Seria nítida a consciência de que aquela alma já não havia como ser salva. Os sábios, calar-se-iam pelo resto de suas vidas, pois saberiam e temeriam a verdade. Afinal, os mortos ainda estão ao nosso lado.

Caminhava devagar, seu corpo parecia ter vontade própria. Adentrou a floresta, essa mergulhada na escuridão. Deixara sua antiga casa sem sentir nada, sabia que seu corpo ficara lá. Não se arrependia do que fizera, até achava que fora a melhor coisa desde que se mudara.

Observou ao redor, notando em como algumas árvores pareciam ter trocado de lugar. Óbvio que não, aquilo não seria possível. Reparou em um caminho mais espaçado e correu para lá. Sentia o nervosismo tomar conta do seu ser a cada passo mais próximo.

Encontrou-se na clareira em que o conhecera. Sorriu, como há anos não sorria, ao vê-lo ali, sentado na beira do lago. Estava de costas para si, os fios dourados balançando ao vento da madrugada. Crescera também, tornando-se o adolescente mais lindo que já vira. Aproximou-se devagar, não querendo o assustar.

Assim que chegou perto, sentou na grama, os olhos presos no reflexo da lua na água. Não queria olhar para o lado, com medo que fosse tudo imaginação. Ouviu um arfar de surpresa e, novamente, sorriu.

Olhou o garoto ao seu lado, os ônix encontrando-se com as safiras azuis. Como sentira falta daqueles olhos, daquele rosto. Era palpável a confusão que o outro sentia, no entanto, apenas acariciou as cicatrizes em sua bochecha:

– Okaeri, Naruto...

– Sasuke... – fora abraçado com força – Você é louco ou o que? O que você fez, teme?!

– Cumpri minha promessa, dobe...

Afastou-se do louro, secando as lágrimas que o mesmo já derramava. Puxou o rosto bronzeado para si, unindo os lábios em um beijo carente. Como sentira saudades daquele contato. Quando a falta de ar se fez presentou, encerrou o ósculo, distribuindo beijos pelo rosto bronzeado:

– Eu falei que nunca te deixaria, Naru... – sussurrou ao ouvido do menor.

– Eu te amo, Sasuke...

– Também te amo... – puxou-o para um novo beijo.


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Notas finais do capítulo

SIM! O Sasuke se matou kk'

E, caso alguém ainda estivesse perdido... Sim, o Naruto já estava morto desde o início.
O Sasuke conseguia ver ele, pois esse seria o rumo correto da vida de ambos, se não fosse o acidente que matou os Uzumakis. Como se houvesse um buraco na história, por isso a alma do Naruto ainda estava ali. E a clareira na floresta era o que unia o mundo terreno ao astral.

Espero que tenham gostado ^^'
Até a próxima fic!
Bjos da Tama :3



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