Pov Kate

O relógio no meu pulso marcava seis horas da madrugada. Abri a porta de minha casa cuidadosamente. Não tencionava acordar as feras: Jim e Johanna Beckett- os meus pais. A verdade é que hoje começam as aulas e eu tive a noite toda na farra com Lanie e com o resto do pessoal: sim até mesmo aquele babaca do Castle. Credo! Eu não suporto aquele anormal. Ele até pode ser charmoso e tudo mais, mas a verdade é uma: ele é insuportável.

–Katherine Beckett! – Ouvi a voz furiosa de minha mãe e parei de imediato, fechando os olhos, preparando-me para o que aí vinha.

–Mãe… - Acenei para ela, assim que me virei. – Acordou cedo hoje. – Sorri meia a medo e depois engoli em seco.

–Onde é que você andou?! Sabe quantas vezes é que eu lhe tentei ligar assim que percebi que o que estava na sua cama eram almofadas? – Merda! Fui descoberta.

–Eu estive com Lanie, mãe. Nem imagina como ela estava. Chorou a noite toda. – Disfarcei e fiquei aliviada assim que vi o rosto da minha mãe mudar para uma expressão de preocupação.

–Porquê, o que aconteceu?

–O Esposito rompeu com ela. Sabe como é. É da praxe, tive que ir ter com ela. Não se volta a repetir, desculpe.

–Isso não explica o motivo de não ter respondido às minhas ligações. – Voltou a falar com um tom mais desconfiado.

–Eu sei, desculpe. É que depois eu e Lanie acabamos por fazer uma maratona de filmes e eu nem ouvi o celular tocar. – Menti. Eu odeio mentir, principalmente aos meus pais, mas neste caso teve mesmo de ser.

–Ok, só não quero que se volte a repetir e da próxima vez avisa-me. Agora vá tomar um duche antes que chegue atrasada às aulas.

–Contou para o pai? – Perguntei antes de virar costas.

–Não, mas da próxima contarei. Não pensei que eu acreditei nessa história da Lanie. Você cheira a álcool que tresanda, Kate. Agora despache-se. – A minha mãe torceu o nariz. Eu nunca conseguirei enganar a minha mãe. Ela me conhece muito bem. Fui rápido tomar um duche, arranjar-me e preparar-me emocionalmente para o regresso à escola.

Pov Castle

A minha cabeça começava a latejar de dor. Mas devo admitir: foi a melhor despedida de férias de sempre.

Entrei no loft rindo, relembrando da noite anterior. Aproveitei que a minha mãe estava a dormir e fui tomar um duche. Troquei de roupa e quando dei por mim já estava quase na hora de ir para a escola: para o pesadelo.

Vi o celular piscando e li no ecrã: Meredith. Essa garota consegue ser tão chata às vezes. Ainda à pouco estivemos juntos. Ou deverei dizer antes, ela esteve junto de mim?

–Oi…

–Oi, gostoso. Aceita carona para a escola? – Perguntou, alegre.

–Sim, obrigada. Quando chegar me manda uma mensagem. – Pedi.

–Ok, amor. Ate já. – Sem mais demoras, desliguei a chamada.

Bateram à porta.

–Bom dia, mãe. – Sorri.

–O pequeno-almoço está pronto. – Disse cheia de alegria.

Já eu não podia dizer o mesmo. Estava com sono e com uma ressaca.

Desci para o pequeno-almoço e o tempo passou num instante até receber uma mensagem de Meredith a dizer que estava à minha espera.

–Já vai? – A minha mãe perguntou, assim que me viu arrumar a minha louça.

–Sim.

–Boas aulas. Te amo. – Beijou a minha bochecha e eu repeti o gesto.

Vi logo Meredith. A sério que ela tinha que vir com o mordomo?! A Meredith é aquele tipo de garota mimada. Rica com a mania que é superior a toda a gente, mas é gostosa e isso é o que importa. Entrei no mercedes cinzento com os vidros pretos.

–Bom dia, George. – Cumprimentei o mordomo. Logo depois recebi um beijo no canto do lábio.

–Bom dia. – Sorriu, olhando-me através do retrovisor.

–Estava com saudades. – Deu um risinho.

–Eu não… - Murmurei para mim mesmo.

–O que disse?

–Nada. – Evitei o assunto e em cinco minutos chegámos à escola.

Ainda não tinha tocado para a primeira aula, mas Ryan e Esposito já estavam brigando na entrada da escola, junto ao portão. Decidi ir ter com eles e para meu descontentamento, Meredith, veio comigo. A verdade é que não posso dar bola a nenhuma garota ou então serei perseguido.

–Bom dia, rapazes. Grande noite ontem! – Ri, me juntando a eles.

–Oi, bro. – Esposito esboçou um largo sorisso.

–Foi mesmo, pena que não consegui dormir. – Ryan, protestou.

–Bom dia, meninos. – Lanie chegou, divertida.

–Bom dia. – Esposito e Ryan a olharam ao mesmo tempo e quase babaram. Sim, é isso mesmo que estão pensando, esses dois estão apaixonados pela Lanie.

Ouvi um grande estrondo vindo do passeio que desviou todas as atenções.

Quem mais poderia ser para além daquela desastrada? Beckett bateu com toda a força com a roda da mota no passeio.

–Que é?! Nunca viram? – Olhou para as pessoas que a estavam encarando, assim que tirou o capacete. Essa garota não se manca mesmo! Para além de ter um feitio intragável ainda é uma sem noção.

Os alunos pararam imediatamente de olhar, menos eu. A verdade é que eu adoro provoca-la.

–Algum problema? – Caminhou na minha direção.

–Estava gostosa ontem à noite, Kate. – Sussurrei junto do seu ouvido.

–Vai tomar no…

–Kate! – Lanie abraçou-a, interrompendo-a. Ri da cara de anormal dela ao fazer o dedo do meio para mim.

Triiiim

Bufei ao ouvir o toque para entrar. Hoje é o primeiro dia e eu já tenho saudades das férias.

Pov Kate

Despedi-me de Lanie e Esposito e fui com Ryan até à nossa sala.

O idiota foi com Meredith. Esses dois são da minha classe, dá para acreditar? Já não basta ter que aturar o Castle e ainda tenho que levar com as provocações daquela fútil da namoradinha dele, a Meredith. Um dia quebro a cara dela. Já faltou menos.

O dia não podia estar a correr pior: para além de a minha cabeça doer, da minha mãe me ter apanhado a mentir, de quase ter furado o pneu da minha querida mota, de ter de levar com o anormal do Richard Castle o professor anuncia assim quando entramos na sala:

–Senhora Beckett o seu lugar é junto do senhor Castle.

–Não dá para escolher outro? – Tentei convencer o professor de português mudar de ideias.

–Sabe como é que eu me chamo? – WTF? Essa eu não percebi.

–Sim, porquê? – Encarei-o, confusa, franzindo as sobrancelhas.

–Então diga o meu nome, por favor. – Pediu.

–Professor Michael Klein. Porquê? – Respondi.

–Sem perguntas, senhorita Beckett. Sabe que manda aqui? O professor Michael Klein, por isso não me irrite e vá JÁ para o lugar que eu lhe indiquei. – Puxa, que este homem às vezes assusta-me. Sem o contradizer, fui sentar-me e já lá estava o idiota.

–Bom dia. – Falou em tom irônico.

–Só se for para si. – Rematei olhando-o nos olhos.

–Estava mais alegre ontem. Bem mais… - Provocou, suspirando. Revirei os olhos, ignorando. – Porque é que está tão irritadinha? – Continuou a provocar-me até que me voltei para ele. A minha vontade de dar cabo deste babaca crescia a cada dia.

–Dá para não me chatear? Não estou para aturá-lo! – O meu tom de voz subiu um pouco.

–Ah, já percebi tudo… - Abanou a cabeça. – T.p.m?

–Não, anormal. T.p.p ! – Respondi de imediato, prestes a entrar em loucura.

–T.p.p? – Perguntou confuso, já rindo da minha impaciência.

–Tenho Pouca Paciência. – Respondi e deu um sorriso irónico.

–Pouca conversa! – O professor gritou, silenciando toda a classe.

Depois de quase toda a aula de o Castle me aborrecendo, o professor quase organizou uma revolução contra ele mesmo ao dizer:

–Bem, quero dar-vos um trabalho de grupo.

Os alunos começaram a gritar feitos uns animais.

–POUCO BARULHO! – O professor gritou em plenos pulmões, chocando todos os alunos da classe. – Eu vou dar-vos os guiões do trabalho. Quero grupos de dois e para não haver problemas de quem fica com quem, o par com quem ficarão será o colega de mesa.

–O quê?! – Quase berrei quando percebi que iria ficar com o Castle.

– O dia não podia estar a correr melhor. – Bufei, murmurando para mim mesma. A sério que terei de fazer um trabalho de grupo com o Richard Castle? Com certeza vai correr bem.