Agilidade escrita por Diane


Capítulo 3
Capitulo 3 - Suspeitas




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Corremos na direção do som o mais rápido possível. O som vinha do corredor e foi para lá que fomos.

Congelei assim que vi o que tinha acontecido. Geralmente lustres são leves e feitos de vidro, mas os lustres do Campo de Treinamento não eram assim. Eram feitos de ouro, prata e metais pesados. Eram bonitos, mas pesados.

Um lustre tinha caído encima de um aluno. Não dava para distinguir quem era por que o lustre cobria o corpo, mas era evidente que o pobre coitado estava morto. Ninguém sobrevive depois de ser esmagado com algo tão pesado.

Uma grande quantidade de sangue escorria pelo chão. Ilithya teve que recuar para não molha o sapato.

Tragédias chamam a atenção das pessoas facilmente. Vários outros alunos estavam se acotovelando para chegar ao local e ver o que estava acontecendo.

Ilithya parecia em pânico.

— Vocês dois — a voz dela era quase um fiapo —, chamem Raphael agora mesmo.

Eu estava chocada. Como um lustre podia cair encima de um aluno? Sempre vi os lustres presos por correntes resistentes.

Comecei a correr na direção da sala de Raphael, Alec me seguia. Era estranho andar debaixo de vários lustres igual aquele, toda hora dava a impressão que iriam cair sobre a minha cabeça.

A sala de Raphael estava aberta, como sempre, ele nunca tranca a porta. A criatura estava dormindo numa poltrona. Estava tão cansado que estava babando. Eca! Normalmente eu acharia aquilo engraçado, mas depois do que vi hoje, duvido que vou achar qualquer coisa engraçada tão facilmente.

— Raphael! —Sacudi ele com minha habitual delicadeza.

— Hã?

— Um lustre caiu e esmagou um aluno. Ilithya está te chamando. E ah, o aluno morreu, só para constar.

— Hã?

Alec revirou os olhos. “Christine, sua delicadeza é admirável”.

Encarei o vampiro que estava me encarando como não se entendesse nada. O cansaço estava deixando ele tão lerdo quanto Damien, e olhe que Damien é a criatura mais lerda que conheço, vai ver os dois são parentes distantes.

— Traduzindo: Levante sua bunda dessa poltrona e vá ver o que Ilithya quer! — falei.

A criatura levantou a bunda da cadeira, embora não parecesse muito feliz com o meu comentário. Prevejo que terei que fazer mais mil voltas ao redor do campo.

Quando voltamos para o lugar da queda do lustre, percebi que a corrente que segurava o lustre no teto estava arrebentada. Como uma corrente resistente e de ferro poderia arrebentar?

Era um acidente estranho. Será que era mesmo um acidente?

— Você está lendo Agatha Christie demais, Christine — Alec observou em voz alta.

Na nossa frente Ilithya e Raphael conversavam. Eu realmente gostaria de saber o que eles estavam falando, mas o local estava muito barulhento. Vários alunos falavam ao mesmo tempo.

Eu estava ficando com dor de cabeça.

Resolvi sair dali antes que minha dor de cabeça piorasse.

[...]

Fui para o meu quarto. Estava sozinha lá, Vanessa saiu para não sei aonde, mas suspeito seriamente que foi para o quarto do seu novo namorado. Idia e Mingau estavam do lado de fora da janela tomando um ar.

Não contei para os felinos o que aconteceu. Eles estavam tão bonitinhos na janela que resolvi ficar quieta.

— Christine pode abrir a porta para eu e Damien entrar?

Estava tudo quieto demais para ser verdade. Abri a porta, Sam e Damien estavam lá, segurando pacotinhos de salgadinho.

Mingau olhou os sacos de doritos e os olhinhos azuis do gato brilharam.

— Doritooos! — O gato exclamou alegremente enquanto pulava da janela e ia à direção de Sam.

Sam me lançou um olhar de falsa comoção.

— Chris, sua garota cruel que não alimenta esse lindo felino — Ele agradou a cabeça de Mingau — Tadinho, quanto tempo será que ele não come?

Sam tirou um doritos do pacote e ofereceu para Mingau. Arranquei o salgadinho da mão dele antes que o gato comesse.

— Não. Mingau, isso te dá dor de estomago e depois quem tem que ouvir você choramingando a noite inteira sou eu.

O gato me encarou com aquela cara de gatinho de botas abandonado.

Inesperadamente, Damien pegou um salgadinho e deu para o gato. O truque dos olhos azuis tristonhos funcionou.

Lancei um olhar fulminante á Damien.

— Até você está se bandeando para o lado deles? — perguntei.

— Mas ele é tão fofinho...

— Fofinho seria se ele se transformasse em tigre gigante e devorasse os dois... junto com doritos e molho de pimenta.

Mingau se sentou e lambeu as patas.

— Eu nunca faria isso.

Damiem sorriu, comovido com a lealdade do gato.

— Claro que não, somos amigos não é? — Ele pegou o gato no colo e começou a acariciar ele.

— Na verdade, eu não devoraria vocês por que me daria indigestão.

Fiquei feliz por Damien e Sam estarem sentados na beirada da cama, pois se estivessem de pé...bom eles teriam caído de cara no chão.

— Gato traidor! — Damien murmurou.

Eu ri maldosamente da reação deles.

— Mingau sempre fora meio sociopata... — Falei rindo.

Mingau franziu os bigodes.

— Eu não sou uma pata social — Ele protestou.

— Eu falei sociopata.

Ele franziu os bigodes novamente mas resolveu ficar quieto e devorar doritos. Sam e Damien ainda olhavam para o gato.

— De qualquer forma, não viemos aqui para falar do Mingau.

Ergui uma sobrancelha

— Na verdade viemos falar do acidente do lustre.

Todos naquela escola estavam comentando sobre o misterioso acidente. Isso se foi um acidente mesmo. As pessoas são coisinhas engraçadas que adoram uma tragédia, mal o coitado morreu e já estavam fazendo fofocas.

Revirei os olhos.

— Francamente, todos já sabem que o lustre caiu e bláblá. Pelos deuses, vocês não vieram aqui para fazer fofoca, certo?

— Eu não acho que foi um acidente.

Olhei para Damien um tanto atônita. Ninguém fora eu naquela escola tinha duvidado que fosse um acidente. Ninguém nunca pensaria em uma tentativa de assassinato.

— Cara, tu está lendo jornais demais — Sam falou enquanto devorava um cheetos.

— Não estou.

Aquela teoria até que podia ter um fundamento. Lustres não caem do teto tão facilmente, principalmente aquele que era segurado por correntes enormes.

— Ele pode estar certo — confessei.

Sam se engasgou com o salgadinho.

— Até você? Poxa vida, eu vim aqui para ver você zoar da cara dele...

— Mas fala sério, você não acha estranho um lustre cair do teto bem encima de alguém? — falei.

— Tudo bem, mas como alguém vai subir até o teto para derrubar um lustre e depois sair sem deixar vestígio? — disse Sam.

Aquilo também fazia sentido. Uma das primeiras providencias de Ilithya depois da identificação do corpo era ver se não foi um assassinato, mas não tinha nenhuma prova ou digital. As câmeras não gravavam o teto, e as marcas de rompimento na corrente pareciam naturais.

Imediatamente me lembrei de duas coisas estranhas. A primeira foi que no mesmo dia minha moto pifou, depois de Raphael examina-la foi provado que não tinha nenhuma sabotagem, mas mesmo assim era estranho. A segunda coisa era que o corpo era de Ethan Stwel, um garoto que era conhecido por seu charme com garotas, e também por usa-las.

Mas se foi alguma garota usada que de um modo inexplicável montou essa armação para se vingar dele, por que tentar provocar um acidente comigo?

Isso não fazia o menor sentido.

— Lembram-se da falha no motor da minha moto? — perguntei.

Pude ver os neurônios deles se esforçando para ligar isso ao acontecimento.

— Claro que sim — Idia falou da janela.

Sorri. Idia sempre presta a atenção em tudo, mesmo quando não parece.

— Mas o que isso tem haver com o acidente? — Damien perguntou, só para variar ele não entendeu nada.

— Vocês não acham meio estranho acontecerem dois acidentes em um único dia?

Ponto para mim.

— Mas foi só uma coincidência — disse Sam.

— Coincidências não existem — falei.

Com essa frase, encerramos o assunto. Estranhamente ninguém queria mais falar sobre assassinatos, parecia bem inconveniente no momento.

Só então reparei em uma coisa estranha.

— Estranho — murmurei — Não estou ouvindo os pensamentos de Alec.

Depois de um ano sem privacidade mental, até acho que me acostumei, e quando ele ficava quieto, era absolutamente estranho.

— Vai ver ele pegou no sono na reunião com Ilithya — Damien falou despreocupadamente.

Um instinto se alarmou em mim.

— Que reunião?

— Sei lá, na última vez que o vi, ele estava na sala da tia dele com Raphael. Estavam falando de algo que não deu para escutar. — disse Damien.

Aquilo definitivamente dera estranho. Não escutei nada vindo dele depois que entrei no quarto e ele entrou na sala com Ilithya, foi como se do nada a nossa conexão mental estivesse sumido.

“Alec, está aí me ouvindo?” pensei.

Nada. Silêncio absoluto.

Por um momento, me desesperei. Se algo estivesse acontecido? Então lembrei que se algo estivesse acontecido eu já sentiria.

Era como se tivesse uma parede mental entre nós.

Uma parede mental.

Igual aquela que Ilithya ensinou á criar. Então caiu a ficha que algo estava acontecendo e que Alec criou uma parede para me ocultar algo. Bom, quando eu ver essa criatura vou soca-lo.

Resolvi ficar quieta. Não era necessário que ninguém soubesse que ele estava escondendo algo de mim. Fiz o máximo possível para mudar de assunto.

— Ah, Sam, esqueci de te falar que Mary me contou que aceitaria ir á um restaurante com você — eu disse.

Funcionou perfeitamente o minha tentativa de mudar de assunto. Na última semana ele me pediu para fazer algumas perguntas a Mary para tentar ajuda-lo á ter algo á mais com ela.

O elfo ficou tão feliz com a resposta de Mary que começou a pular na cama... na minha cama

— Ei, seu filho de uma elfa natalina! Não pule na minha cama, pule na da Vanessa!

Pensei que ele iria sentar novamente, mas ele realmente foi para a cama de Vanessa e começou a pular alegremente.

Eu e Damien nos entreolhamos.

— E depois dizem que sou eu que preciso de psiquiatra — falei.

Aparentemente existia mais gente louca ali, Vanessa entrou no quarto gritando de raiva. Não posso culpa-la, é bem difícil manter a calma quando se tem um elfo pulando no seu colchão.

Ela expulsou Sam enquanto batia nele com almofadas e travesseiros. Foi bem engraçado, ele e Damien saíram correndo do quarto. Pena que não tive uma câmera na hora.

— Você acha que foi um acidente?

Parei de rir na hora e encarei os olhos azuis da gata. Idia estava sentada aos meus pés, com uma expressão séria para um felino.

— Não sei. Mas se for alguma tentativa de assassinato vai ter outras, sempre tem.

Perspectiva de Damien.

Damien esbarrou em Alec no corredor.

Ele parecia bem pálido, mais que o normal. Estava irritando Ian enquanto caminhavam para os dormitórios, mas mesmo assim Damien não conseguiu afastar a impressão que Alec estava preocupado com algo.

— Boa noite cara — Ian falou enquanto passava por ele.

— Boa noite — Ele falou com o máximo de polidez e educação que ele estava acostumado á usar, mas tinha um toque de frieza quase imperceptível. Ninguém notou.

Os outros dois continuaram caminhando o mais longe possível do outro e Damien seguiu na direção do seu dormitório.

Ele não ia com a cara de Ian. Não que tivesse algo contra ele, o garoto parecia ser legal, mas era um pouco de ciúmes e rivalidade. Ele nunca gostou dos namorados de Vanessa, já que sempre teve uma queda pela ruiva.

Por um momento o feiticeiro ficou olhando o teto. O que ele esperava ver? Bom, nem ele mesmo sabia, mas talvez fosse algo que confirmasse suas suspeitas sobre o possível assassinato.

Não tinha nada no teto, e felizmente os outros lustres não pareciam que iam cair.

Desistindo de ficar olhando para o teto branco, ele resolveu entrar logo no seu quarto. A porta estava entre aberta. Aquilo era estranho, ele não se lembrava de ter deixado ela aberta.

Mesmo assim ele abriu a porta e a atravessou. Foi aí que uma coisa estranha aconteceu. Ele viu algo metálico caindo, e antes de poder processar o que estava acontecendo, se jogou para trás, como uma vez Christine tinha ensinado em uma das demonstrações de defesa pessoal.

Então ele notou que estava vivo por um milagre. Caída no chão, estava um bola rodeada de lâminas de cobre que se assemelhava ao aspecto de um ouriço do mar.

Parecia uma brincadeira infantil, onde uma criança colocava um balde de água apoiado sobre a porta entreaberta esperando alguém entrar para o balde cair. Mas no caso, era uma bola de lâminas mortal.

Era um milagre ele estar vivo.


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