Well Away From Us escrita por Carol Dantas


Capítulo 1
Parte 1 - Katniss Everdeen


Notas iniciais do capítulo

Oi amores da minha vida!! Que saudade gigantesca de vocês. Amo muito, muito, muito vocês. Vontade de abraça-los. Oi para os leitores antigos e Olá para os leitores novos. Espero que gostem de mim. Trago uma fanfic nova para vocês e queria avisar que agora eu também estou com Originais no Wattpad. Lá estão Say Something (Não Me Deixe em Original) e Famous Love (Amor, Famoso Amor como Original). Espero que passem lá. Deixarei links lá em baixo.

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Queria deixar um grandíssimos beijo aqui para a linda da Raíssa e da Gabriele Neves que se mostraram muitíssimas interessadas neste novo projeto. O primeiro capítulo é dedicado para vocês.

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Sem mais objeções, boa leitura.



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Peeta Mellark era o homem da minha vida. Isso sem dúvida nenhuma eu podia gritar para todo o mundo ouvir. Conhecê-lo foi o momento mais importante de toda nossa jornada. Esta a qual, eu nem imagina que teríamos um dia.

— Novata, han? — pergunta um loiro jogando-se em uma das cadeiras vazias ao lado da minha. Pelo pouco que tinha visto do colégio, já pude perceber que todos aqui vivem em movimento. Todos são agitados e animados, como se não estivessem numa escola, ou, até mesmo, estivessem numa casa de praia nas férias. Eles parecem felizes.

— E você, com certeza, um veterano. — afirmo sem precisar de uma grande teoria para decifrar sua grande estadia no Colégio e Curso Sem Fronteiras.

Ele sorri. Um sorriso fácil no canto esquerdo da boca. Eu não me derreteria por esse sorriso, não mesmo.

— Animada para conhecer a escola, morena? — pergunta-me com os olhos azuis brilhando em direção a mim.

­— Não muito.

— Não?! — pergunta surpreso. Sua reação verdadeira desta vez.

Suas pernas jogadas em cima do encosto da cadeira da frente, suas mãos por trás da cabeça, braços abertos e a típica calça jeans caída sobre o meio do quadril. Qual o problema dos garotos de usar um cinto?

— Fale sério, morena. — ele sorri inclinando-se. O rosto quase junto ao meu. — Deixe-me lhe apresentar a escola. Posso te garantir que cada canto dos corredores tem uma história diferente.

— Sobre você, suponho. — digo inclinando meu rosto para mais perto do seu.

Recue Katniss, recue. Você ao menos sabe o nome do loiro a sua frente.

— Morena... Eu posso ser muito melhor do que o que você vê agora.

­— Mostre-me, então. — peço arqueando a sobrancelha direita e ajeitando meu corpo sobre a cadeira ao ver um homem bem mais velho e de roupa social entrar na sala. Nosso professor.

­— Você não perde por esperar.

Claro que Peeta Mellark foi ignorado por mim sempre que se dispunha a apresentar-me o colégio por sua perspectiva. Pude ver, conforme os dias passavam, que ele era realmente falado por todos os alunos e ao contrário do que achei, seu jeito de ser não se comparava a nada com os galinhas desrespeitosos que vemos em filmes americanos.

Peeta era incrivelmente gentil e prestativo.

— Não vai dizer-me seu nome, morena? — pergunta pela trigésima vez na semana. Eu sabia seu nome. Descobri pouco depois de me enturmar mais com as pessoas. Peeta tinha amigos em todo canto, não é possível que não saiba meu nome.

­— Você sabe meu nome, Peeta. — falo sentando-me em uma das inúmeras mesas redondas do refeitório. Puxo minha calça jeans um pouco mais para cima e arrumo as alças da camisa roxa do uniforme.

— Sei que seu sobrenome é Everdeen, mas não é como se eu fosse te chamar por ele toda hora. — diz ao meu lado como se isso fosse óbvio para todos, menos para mim. — Fala sério, morena. O que tenho que fazer para saber seu primeiro nome? Quero que ele venha da sua boca e não de uma fuxicada na lista de chamada dos professores.

— Você daria uma olhada na lista de chamada apenas para saber meu nome? — indago.

Sorrateiramente, Peeta aproxima seu corpo do meu e encaixou seu rosto entre meus cabelos. O loiro ás vezes ousa deste jeito.

Prendendo minha respiração, escuto-o sussurrar em meu ouvido:

­— Acredite. Segurei minha curiosidade por todos estes dias para não fazer mais do que perguntar seu nome, morena.

— Peeta... — ofego quando ele esfrega seu nariz em minha bochecha e afasta-se sorrindo. Um sorriso verdadeiro e não forçado.

Por este sorriso, eu me permito derreter.

— Se você pudesse escolher algo para comer agora, o que seria? — ele pergunta mudando de assunto e dispensando com um pequeno olhar um de seus amigos que chegava perto de nós.

— O que?

— Responda, morena.

— Panquecas. — digo a primeira coisa que vem a minha mente.

— Gosto mais de você agora, morena.

Ele levanta da mesa sorrindo misterioso e sai em direção a cantina. Sussurra algo para a cantineira e ela lança-lhe um grande sorriso, entregando para Peeta uma bandeja de plástico vermelha com uma tampa de prata por cima escondendo o que há em seu interior.

— Não abra ainda. — ele pede quando deixa as coisas sobre a mesa e volta correndo para a cantina, onde a mulher lhe dá dois copos e uma garrafa d’água. — Preparada?

­— O que você está aprontando, Mellark?

— Morena... — ele respira olhando-me. — Se você não quiser que eu te agarre bem no meio deste refeitório, não me chame de Mellark. O jeito que você pronuncia meu sobrenome abusa do meu auto controle.

Meu Deus! Esse garoto não pode ter só quinze anos.

— Desculpa, acho... O que você esconde aí? ­— aponto para a bandeja depois que ele coloca água nos copos.

— Um, dois, três e... — ele faz um suspense e levanta a tampa apresentando-me uma pilha de seis panquecas coloridas. Azul, verde, amarelo e rosa. Alternando seus tons e lembrando-me um arco íris. Além de uma leve camada de chantilly bem branco com alguns, poucos, flocos doces e coloridos por cima. Uma pequena nuvem açucarada dos sonhos.

­— Você planejou isso quando? — pergunto rindo quando ele mostra-me dois garfos de sobremesa sobre uma tábua de madeira escura que sustenta todo o nosso ‘’café da manhã’’.

— Ontem de tarde. Eu já ajudei o pessoal da cantina quando faltavam algumas pessoas para trabalhar lá. Não era realmente um trabalho, mas fiquei feliz de ajudar quando precisavam de ajuda. Falei com a cozinheira e ela deixou eu usar a cozinha antes da escola abrir hoje.

— Isso é doce de sua parte.

— Obrigado.

Peeta responde olhando-me e como, ansiosa, um pedaço da panqueca rosa coberta do creme branco. Sorrio sentido o sabor gostoso inundar minha boca e fecho os olhos apreciando todo o esforço do loiro que foi transformado em algo tão macio.

— Você está suja. — informa ele, mas não tenho tempo de lhe perguntar onde, pois sua mão esquerda fica sobre meu maxilar e seu dedão limpa o canto do meu lábio inferior. Vejo uma pequena quantidade de chantilly em sua pele lisa e ele logo o leva a sua boca, chupando-o como se fosse a coisa mais saborosa de toda a sua vida.

— Katniss. — digo quando ele me encara. — Meu nome é Katniss.

Sorrio.

— É um belo nome, morena.

A partir daquele dia só conseguimos nos aproximar mais e mais, como se ficar longe de Peeta Mellark fosse impossível. Como se eu tentasse ignorar a gravidade e apenas flutuar por aí. O loiro foi meu melhor amigo desde que cruzamos nossos olhares. Estávamos fadados a viver em sintonia.

Fiz uma amizade com sua irmã gêmea, Madge. Não bastava a perfeição de um. Deus criou uma cópia de Peeta e eles não podiam ser melhores. Compartilhavam os mesmos gostos, mesmos interesses, carisma, carinho, tudo. Se não fossem irmãos, podiam ser um casal. Eram o espelho um do outro.

— Fale a verdade, Katniss. ­— implora Madge deitando-se ao meu lado em minha cama macia e confortável. — Você gosta do meu irmão, não gosta?

— Ele é meu amigo Mad. — repito o que já havia dito tantas vezes para ela. Parece que a loira do rosto bonito tem uma cabeça oca. As informações entram por um ouvido e saem por outro.

— Ele gosta de você. — segreda-me ela.

— Mad...

— Ah Katniss, fala sério! — ela quase grita sentando-se bruscamente na cama. — Todo mundo na S.F. vê os sorrisos que vocês trocam. Fica estampado na cara dos dois o quanto gostam um do outro assim que se veem.

— Você está enxergando coisas. — respondo-lhe colocando o travesseiro sobre o rosto. Uma verdade difícil de aceitar. Sete meses podem fazer você se apaixonar por um cara.

— Fico pensando se a cara que você faz para o Peeta é a mesma que eu faço quando vejo o Gale. Porque se for... Acho que tenho cara de tapada na maior parte dos dias. — ela diz rindo quando acerto o travesseiro em seu delicado e diminuto corpo. Sua paixão platônica por Gale, nosso colega de classe, já era sabedoria de todos do nosso lado até os confins de mundo. Madge precisa apenas de coragem para dizer-lhe o quanto o ama.

— Madge, ele é meu melhor amigo. Peeta, digo. — informo antes que ela deixe seus pensamentos vagarem para seu amor. — Não é como se eu pudesse chegar para ele e dizer que sinto algo diferente toda a vez que o vejo. Não posso dizer que meu coração bate mais rápido e que sinto que não vou conseguir respirar se ele se afastar de mim. Não posso dizer que minhas mãos suam e que arrumo todas as desculpas possíveis apenas para poder encostar meus dedos nos seus e abraça-lo.

Vejo pelo canto de olho a loira deitar-se novamente ao meu lado e colocar suas mãos sobre seu peito. Bem acima de seu coração. Ela suspira e continua olhando para o teto que parece muito sem graça agora, mas não é como se realmente estivéssemos prestando atenção em seus detalhes.

— É difícil admitir para eu mesma que tenho vontade de estar com ele cada segundo do dia. Com que cara eu chegaria perto de Peeta para dizer: ‘’Quero você para mim.’’?

— Amar é difícil. — Madge garante com a boa experiência que tem exalando seus poros.

— Estar perto de quem se ama todos os dias sem poder falar nada é mais difícil ainda.

Não foi de se estranhar quando, duas semanas depois, no jogo final de futebol do campeonato do nosso colégio, Peeta me beijou pela primeira vez. Madge e sua boca grande, surpreendentemente, não conseguem ficar quietas e caladas.

— Vai Peeta! — grita um grupo de meninas ao meu lado. As mais sem vergonhas e atiradas do lugar tinham que estar torcendo para o dono do meu coração.

— As líderes de torcida que vemos em filmes americanos até que são legais e fazem seu papel de animar os torcedores, mas esses projetos de boneca são um saco! — exclama Madge batendo suas palmas em sua perna longa e grossa, mas logo enrolando o cabelo em seu indicador direito quando Gale, sentado no banco dos reservas, olha em sua direção e sorri.

— Sorte que o jogo já está no final. Foram três meses de disputa entre times daqui do colégio! Imagine se fizéssemos um Intercolegial. Seria um campeonato sem fim.

Madge concorda e puxa minha atenção para os dois cronômetros colocados recentemente perto dos gols do campo. Falta menos de um minuto e cada segundo é um tormento.

50... O jogador número dez da outra equipe corre por entre os jogadores do S.F. e sofre uma pequena falta ao tentar driblar Juan – um dos alunos do terceiro ano. 40... O juiz vestido de amarelo ignora o pequeno deslize e da continuidade ao jogo assim que o de camisa dezessete da nossa equipe segura a bola e avança no campo. 30... Ele passa a bola para seus colegas de equipe e todos acabam fazendo uma jogada esquisita, tentando avançar por entre os adversários assim que lembram-se do placar empatado. 20... Vejo Peeta pegar a bola para si e continuar avançando. Ultrapassando um, dois, três jogadores. Ele chega perto do goleiro e alguém do time adversário, forte e determinado, joga-se por cima dele. Um pênalti.

— Ai Deus! — ponho a mão esquerda sobre os olhos enquanto a direita vai parar no fim das costas. — Será que ele se machucou? Não consigo olhar, não consigo olhar.

— Relaxa, gata. Ele está legal. — diz algum dos garotos ao meu lado e consigo, com esta afirmação, voltar minha atenção para o campo. Vendo que todos já se preparam para o chute a gol e que o cronômetro está parado até o próximo apito do juiz.

— Me dê a mão. — exige Madge ao meu lado quando agarro-me a bainha da camisa do time com o sobrenome Mellark atrás. A mesma camisa que Mad usa.

Os segundos se arrastam assim que o som agudo e irritante do apito se faz presente por todo o lugar. Peeta respira fundo, de onde estou consigo ver seu pomo de Adão subindo e descendo loucamente. Ele se prepara, dá dois passos médios para trás e volta com tudo. Sua perna direita parece um foguete e, em disparada, a bola preta e branca voa para o canto esquerdo superior. Este o qual o goleiro não consegue segurar. Ganhamos.

— Conseguimos! — Mad sussurra e depois de minúsculos milésimos todos gritam animados e felizes vibrando em seus próprios corpos e lugares. Sustento meu olhar no da loira e, agarrando seus ombros, pulamos juntas com um sorriso de orelha a orelha.

Abraçadas, vemos todos que torcem para o grupo que Peeta montou correrem até o gramado parabenizar os integrantes daquele time.

Ao longe vejo Peeta dispersar-se da multidão ao seu redor e procurar algo com os olhos. Ele passa os dedos por entre seus cabelos molhados de suor e apenas consigo admirá-lo por toda a garra que foi tirada de sua alma para incentivar seu time que passou por certas dificuldades durante os meses de campeonato e treino.

— Vá. — aconselha a loira com um brilho nos olhos azuis empurrando-me para frente. — Ele está te procurando.

— O que você fez?

— Avancei o relacionamento de vocês. Estavam precisando.

— Madge...

Eu podia sentir meu corpo gelar em nervosismo. O que a loira diabólica disse ao irmão? Em que situação louca ela me meteu?

— Pare. Você vai se arrepender se não for até ele.

Com as mãos tremendo e um sorriso tímido nos lábios deixo-a seguir seu caminho para algum de seus pontos de encontro com colegas e giro meu corpo até que ele esteja parado de frente para o gramado verde vivo mais uma vez. Devagar, desço os três níveis altos da arquibancada de prata e assim que ponho meus pés, cobertos por um tênis branco e rosa, sinto-me ser puxada por alguém. Peeta Mellark.

— Morena. — ele sorri entrelaçando seus dedos aos meus.

— Parabéns! — digo-lhe jogando a porra para fora de mim. Sem nervosismo, Katniss. É o seu melhor amigo. — Eu até te daria um abraço, mas você está completamente encharcado de suor.

— Ah Kat... — ele ri enquanto avisto pelo canto de olho os jornalistas de uma faculdade qualquer tirarem fotos da nossa diretora segurando o troféu. — Pode ter certeza que se fosse do jeito que eu imagino, você ficaria muito feliz e satisfeita de me abraçar mesmo estando suado. Por outro motivo claro.

— Seus comentários maliciosos me deixam com vergonha. — sussurro sentindo minhas bochechas pegarem fogo.

— É por isso que os faço.

Ele ri de mim e, lentamente, leva minhas mãos para sua lombar. Atrevida, direciono meus dedos para de baixo de sua camisa molhada e acaricio as leves gotas que estão ali. Ele passa suas mãos por meus braços e coloca seus delicados dedos em minha nuca, deixando seus dedões em meu maxilar. Peeta o acaricia e, inevitavelmente, tombo minha cabeça para a esquerda em busca de mais do seu carinho.

— Eu conversei com minha irmã alguns dias atrás e... Deuses, morena. Eu não sei no que você me transformou. Só preciso ter você por perto cada minuto do meu dia, da minha semana — Peeta respira aproximando-se mais de mim. —, da minha vida.

— Eu não estou te entendendo. — suspiro quando noto minha respiração presa. Não havia momento melhor para dar uma de tapada.

— Você sempre entende, morena. Sempre entende tudo que me envolve.

— Peeta... — sussurro quando seu nariz rodeia o meu. Seu perfume sob o cheiro ácido do suor. — Diga.

— Você quer? — ele pergunta deixando-me pesquisar seus límpidos orbes azuis. — Passar o resto dos restos de nossas vidas comigo?

— Está me pedindo em casamento?! — controlo minhas cordas vocais para não elevar meu tom de voz.

Peeta afasta brevemente sua mão do meu rosto para tirar alguns fios de meus cabelos negros que grudam em meus cílios.

— Quem sabe daqui a alguns anos. Por enquanto, isto é apenas um pedido de namoro. — ele responde. Arfo com meu coração tremendo junto das labaredas de adrenalina em minhas veias. Peeta não precisava fazer um longo discurso para dizer o quanto gosta de mim. Seus olhos e sorrisos dizem tudo. Sempre disseram. Agora, não preciso de nada além dele para sentir-me feita e completa.

— Seria uma idiota se negasse um pedido desses.

— Ainda bem que sabe.

Peeta pisca rapidamente antes de puxar meu rosto para mais perto do seu. Sua respiração mistura-se à minha e preciso curvar meus pés em meia ponta para compensar nossa destoante altura. Seus lábios encostam-se aos meus levemente. Doce, macio e suave. Romântico. Agarro sua pele com meus dedos excluindo a vontade de leva-los até seu lindo e sedoso cabelo. Como reação junto meu corpo ainda mais ao seu como se fosse possível nos unirmos em um único corpo. Física maldita.

Sua língua passa por meu lábio inferior e por extinto entreabro mais minha boca, cedendo-lhe espaço para entrelaçar-nos ainda mais intimamente. Ultrapassamos limites jamais estipulados por nós.

— Você foi feita para mim, morena. Você me deixa louco. — confessa abraçando-me. Encaixo meu rosto na curvatura de seu pescoço sentindo-o desembaraçar com os dedos meu longo cabelo.

— Você que me deixa louca, Mellark. — respondo e meu namorado puxa-me para seu colo. — Ah!

— Estou... — ele diz pausadamente quando entrelaço minhas pernas em sua cintura largando meus braços em seu pescoço. — Um passo mais próximo de te mostrar o que acontece comigo quando você diz meu sobrenome, morena.

Conviver com Peeta cinco dias por semana era incrível, poder passar sábado e domingo ao seu lado então, nem se fala.

Esperamos as provas de final de ano passarem para podermos fazer, realmente, coisas de casal. Sair para ver um filme, passear de mãos dadas e apresentar aos pais.

Sr. e Sra. Mellark foram super gentis e me receberam de braços abertos como namorada de seu filho. Claro que já nos conhecíamos devido minha amizade com os gêmeos, mas oficializar meu romance com um deles tornava tudo mais real. Passei a ter a liberdade de passar na casa dos DNAs abençoados no momento em que eu quisesse e precisasse. Claro que abusar da gentileza e carisma deles não era meu foco principal.

Peeta, literalmente, tremeu na base quando fui apresenta-lo como meu namorado para meu pai. Minha mãe se divorciou dele quando eu tinha apenas quatro anos e desde então vivi em casas diferentes entre quinzenas até completar meus quatorze, quando comecei a ter mais responsabilidade e consciência para decidir morar definitivamente com minha mãe e visitar meu pai nos dias em que eu quisesse e por quanto tempo quisesse.

Dado essas circunstâncias, papai não viveu os inúmeros dias em que os gêmeos estiveram em minha casa. Seja para estudar ou apenas nos divertir.

Assim que pagamos o taxi e no colocamos diante da porta de madeira branca e detalhada da casa do meu pai, achei que Peeta fosse ter um ataque cardíaco ou qualquer coisa similar a isso. Ele tremia e suava da cabeça aos pés. O que ele devia estar imaginando? Talvez que meu pai fosse um marmanjo de dois metros e seus tantos, da polícia e com uma bela licença de porte de armas emoldurada e posta na parede de entrada. Um claro aviso para que não tentássemos nada perto dele. Ah! A espingarda marrom e preta ao lado do sofá também podia ser uma boa pedida para os pesadelos.

Tudo correu super bem quando Peeta percebeu que meu pai não era um Dementador como os dos filmes que ele tanta adora rever. Claro que havia toda uma superproteção acerca de mim por ser filha única, mas meu loiro sempre foi carismático e educado. Assim que pegou o jeito, meu pai estava no papo.

Nas férias pudemos nos livrar de toda aquela pressão escolar e nos libertar para novas experiências, sendo uma delas a minha tão temida cólica. Pela minha convivência com Madge pude ver que ela realmente não sentia nada. Inveja branca. Eu quase morria e, se não estivesse sentindo tanta dor riria, pois um Peeta preocupado era ótimo. Ele nunca havia presenciado algo como aquela tortura.

— Está tudo bem mesmo, Katniss? — escuto Madge pergunta­r quando encolho-me mais uma vez no sofá de casa. Mal­dito início de cólica.

— Eu só... Preciso ficar quieta e parada. — informo respirando fundo e fechando os olhos com força. Aperto a almofada sobre minha barriga e minhas pernas tremem por outra onda de dor e desconforto. Minhas costas gritando de dor. Não basta a cólica. O corpo todo tem que doer.

Com minha mãe numa conferência de urgência no trabalho eu não sei o que fazer. Justo quando se está sozinha, tudo vem em dobro, triplo... Chamar Mad para ficar comigo era a única chance de distração. Bom, não estava funcionando.

— Você precisa tirar este casaco. Está coberta da cabeça aos pés! — diz ela sentando-se mais perto de mim.

— Não toca, não toca! — choramingo, mas já é tarde demais. Madge já puxou-me para si e trouxe consigo outra rodada de dor. Achar uma posição que diminua a dor já é difícil. Conseguir voltar a ela é impossível. — Droga, Mad.

— Desculpe. Eu não sei lidar com este tipo de cólica, mas te ver de casaco, moletom e meias neste calor está me dando nos nervos.

— Eu estou com frio. — choramingo outra vez com o lábio inferior tremendo. Meus olhos passam nos seus e vejo a aflição ali.

Agarro a almofada rosa de croché novamente e engatinho do sofá até o grande tapete de pelos artificiais cinza.

— O que eu faço, Katniss? — escuto, mas sei que a pergunta não é realmente para que eu responda e sim, apenas, um pensa­mento em voz alta.

Estico-me de bruços no tapete e coloco a almofada sob o meio da barriga, jogando meu peso sobre ela e deixando a gravidade fazer o resto.

O pequeno alívio vem de imediato e coloco meus braços por cima do rosto tentando tapar alguns faixos de luz da tarde e esvaindo um pouco dos calafrios.

— Peeta já está vindo para cá. — ela sussurra acariciando meus cabelos. ­— Se eu não sei o que fazer, ele também não saberá, mas gêmeos pensam melhor quando estão juntos.

Em alguns instantes a mesma posição volta a irritar e então trago minhas pernas para a altura da almofada formando com meu corpo um casulo desajeitado para o objeto acolchoado. Apoio minha testa no tapete e fico parada.

— Você quer alguma coisa? Precisa me dizer para que eu possa te ajudar. — ela pede com o desespero tornando-se cada vez mais evidente em sua voz.

— Liga o ar condicionado. — peço e percebo que a loira irá protestar. Corto-a antes disso. — Só faça, Mad.

Minutos e posições mais tarde Peeta aparece ofegante em minha casa. Como se tivesse vindo correndo. Neste exato momento eu estou deitada sobre as pernas de Mad, com a cabeça apoiada na almofada. A loira, angustiada, joga seu corpo para trás e deixa suas costas penderem no sofá.

— Não se mexe muito. — sussurro e ela se desculpa.

Eu amo sua paciência, Madge.

— O que está acontecendo? — Peeta pergunta agachando-se perto de nós.

— Cólica. — Madge responde.

— Nós fazemos o que? — indaga ele beijando minha testa quando remexo-me violentamente.

— Eu não sei. — respondo sentindo a dor me consumir e levantando para, em seguida, deitar novamente com o corpo virado para cima. — Ai, Peeta.

— Me diz o que você faz quando sente essa dor, Katniss. — ele exige apreensivo com o rosto quase grudado no meu.

— Não sei muito bem. — digo respirando fundo e deixando algumas lágrimas inundarem meus olhos. — Geralmente é só um remédio, mas hoje está doendo demais.

— Dona Clara está trabalhando. ­— Madge informa para o irmão citando o nome de minha mãe. — Por isso que Katniss pediu para eu vir para cá, mas você sabe que eu não sinto essa dor então não sei o que fazer.

— Liga para ela. — Peeta diz como se fosse sua meta de vida. — Liga agora. Sei que pode atrapalhar, mas ainda assim é a filha dela que não se aguenta de dor.

Madge corre para alcançar o celular e pela primeira vez no dia, paro para concentrar-me em Peeta. Bonito e com os cabelos bagunçados como sempre. De camisa simples e lisa laranja junto de sua usual calça jeans preferida.

— Vai passar. — ele sussurra puxando-me para seus braços. — Vamos cuidar de você, morena.

Abraçando-o e sentindo seu carinho extravaso uma parte do incomodo em lágrimas. Peeta beija meu pescoço e informo que também sinto dor nas costas.

Pouco tempo depois Mad aparece com um pote de comprimidos brancos, uma bolsa d’água roxa ainda vazia e um frasco de creme em mãos.

— Sua mãe disse que só precisa tomar um desses aqui. — ela estende o pote de remédio para Peeta. — Coloquei água para esquentar e aí você pode colocar a bolsa sobre a barriga, sua mãe garantiu que vai aliviar a dor. Esse creme é para fazer massagem nas suas costas e se você conseguir dormir, será melhor ainda.

Escuto suas informações entrecortadamente, mas Peeta balança a cabeça confirmando que fará e seguirá todos os passos ditos pela irmã.

— Vamos subir. Precisa ficar mais confortável.

Erguendo-me em seu colo, Peeta segura meu corpo firmemente enquanto Madge volta para a cozinha prometendo levar o copo de água para que eu tome o remédio em instantes.

Ligando o ar condicionado e direcionando o vento para cima, Peeta nos coloca sobre a cama e envolve minhas pernas em sua cintura quando apoia suas costas na cabeceira branca de algodão.

— Tira as meias. — peço e meu namorado logo faz o que pedi. Encaixo meu rosto em seu pescoço e sinto seu tranquilizante cheiro.

— Beba. — ordena Madge oferecendo o copo e o remédio.

— Obrigado. — agradeço engolindo a cápsula e pedindo mentalmente um mágico e extraordinário efeito veloz.

— Levante os braços. — ela manda e eu os faço. Olhos fechados e fraqueza no corpo. Ela tira meu casaco e em seguida minha blusa colorida. Sem a mínima vontade de sentir vergonha fico com o sutiã vermelho quase na cara de Peeta. Ele não consegue prestar atenção. Incrivelmente, a preocupação sobrepõe um possível desejo.

— Deite de bruços na cama, Katniss. — Peeta pede movendo-se para dar-me espaço.

— Não. — sussurro abraçando seus ombros. — Aqui está confortável.

— Cuidado para não se queimar. — avisa Madge aparecendo ao nosso lado com uma toalha e a bolsa d’água devidamente cheia. Ela coloca a toalha bem fina sobre minha barriga, um travesseiro na de Peeta e em nosso meio a bolsa roxa. Suspiro ruidosamente com o contato quente e, ainda assim, confortável.

Concertando-me em seu corpo, Peeta esfrega o creme branco em suas mãos e o deposita sobre o centro de minhas costas. Esfregando principalmente minha lombar e a coluna vertebral. Seus dedos macios fazem um belo trabalho e posso, apenas, agradecer em um último resquício de lucidez o trabalho dos gêmeos. Minha salvação.

— Durma, morena. Eu prometi que melhoraria e estou fazendo meu melhor para isso. Descanse... — ele confirma em minha orelha plantando em meu ombro um delicado beijo.

Chega de preocupações.

Peeta parecia aprender cada vez mais como moldar e entrelaçar-se a mim. Ao meu coração. Cada dia mais sincero, fofo e romântico. Conhecíamos as mais diversas vontades, desejos, pesadelos e sonhos um do outro. Estar ao lado dele era como alinhar todos os planetas ao mesmo instante, unificar os batimentos cardíacos, respirar como um só.

Nossos meses de namoro passaram como uma estrela cadente. Voando. Já estávamos no final do segundo ano e vivíamos agarrados, de mãos dadas, nos abraçando e beijando-nos sempre que possível. Um imã negativo e outro positivo. Juntos e dificilmente separados.

— Agora que trocamos nossos presentes, que tal comermos a pizza que eu trouxe? — pergunta meu loiro vestindo a camisa que dei a ele de presente por um ano de namoro. Bem ajustada ao seu corpo e seus novos músculos nada exagerados, os dizeres: ‘’Tenho a melhor namorada do mundo’’ estão em preto e ele não parecia sentir vergonha nenhuma de usá-la. Até porque estamos apenas nós dois dentro de casa.

— Vamos! — grito animada levando meu corpo para perto da mesa já preparada para nosso lanche da noite.

— Essa pizza foi feita especialmente para o dia de hoje. — ele avisa erguendo a tampa da caixa. — Pizza em forma de coração.

— Oh meu Deus. Peeta, como você conseguiu isso? — pergunto colocando as mãos sobre minha boca, incrédula.

— Paguei um pouquinho mais, porém consegui fazer você sorrir. Valeu a pena. — Peeta fala encostando seu ombro esquerdo no meu direito.

— Você é um fofo. — digo-lhe abraçando seu corpo e apertando-lhe as bochechas.

— Isso porque te amo. — fala encarando meus olhos. Vejo meu reflexo no seu e é impossível não notar o sorriso.

— Eu também te amo, Peeta. — retruco buscando sua boca com a minha fortemente. Desta vez, eu tenho o melhor namorado do mundo.

Foi no aniversário de dezoito anos de Peeta que tivemos nossa primeira vez. Estávamos na casa de praia dos avós dele há três dias. Sozinhos. Sob a luz das estrelas e ao som das ondas do mar. A janela de frente para a lua era nossa única fonte de claridade, o vento esvoaçava as persianas brancas de chiffon e tudo se resumia ao cuidado, carinho, paciência e amor.

Peeta beijou carinhosamente todo o meu rosto enquanto acostumava-me com seu membro em meu interior. Ele secou com seus dedos os filetes ralos de minhas lágrimas, acariciou minha bochecha, deixou-me confortável quando esse era um dos principais focos da noite. Não o prazer, mas o descobrimento de nós mesmos, de nossos corpos, do turbilhão de sentimentos novos e da confiança.

Vê-lo tomado pelo prazer foi incrível apesar de não ter sido o mesmo para mim, mas pelo resto da semana pudemos aprender a dar o necessário um para o outro. Arranhões nas costas, chupões no pescoço, mordidas nos ombros... Foi sensacional.

Porém como nem tudo podem ser flores, os dezoito também trouxeram preocupações. Peeta e eu fizemos concursos para entrar na faculdade e com a espera do resultado, ele foi obrigado a se alistar no Exército. Eu não queria perder a bela imagem de bom moço que meu amor tinha, não queria perder seu sorriso carinhoso e seu rosto angelical para vê-lo segurando armas e balas. Mesmo que a roupa camuflada pudesse ficar bem em seu corpo, eu não queria vê-lo vestindo esses trajes diariamente. Não queria pensar na possibilidade de receber a notícia de que Peeta havia sido atingido pelo tiro de alguém irresponsável.

Mas, também, era impossível rejeitarem meu namorado. Peeta tinha todos os requisitos necessários para uma aceitação. Forte, inteligente, alto, sem problema algum de visão... Porque meu loiro tinha que ser tão perfeito aos olhos de outros além dos meus?

— Fiz minha inscrição hoje. — diz Peeta sentando-se ao meu lado no sofá. Vejo meus sogros e minha mãe preparando o almoço enquanto Madge cisma em arrumar-se para a reunião em família.

­— Eu sei.

Abaixo a cabeça segurando com a ponta dos dedos o cordão de ouro que ganhei dele em nosso primeiro aniversário. Peeta pega minha mão livre para si e a acaricia.

— Você quer entrar? — pergunto-lhe recebendo um singelo beijo na têmpora. Este é um assunto delicado.

— Na verdade se eu entrar, não terei escolhas e opções, acho, mas deve ser legal ter a oportunidade de ir crescendo no Exército até o ponto de poder proteger o país. — explica, mas posso sentir que ele contém sua ansiedade. Peeta quer entrar. Milhares de homens passaram por lá. Meu loiro quer ter esta experiência também.

— Não quero que você proteja país algum se isso permitir que você se machuque.

— Katniss...

— Desculpe. Eu não quero te desanimar nem nada, mas não quero você lá. Sei que pode ser motivo de honra para você, porém eu não consigo gostar da ideia de ter de ficar afastada, Peeta. — confesso.

— Vai passar rápido. — ele diz puxando-me para seu colo. Abraço-o forte.

— Vai ser tudo, menos rápido. A Junta de Serviço Militar é longe daqui. Bem provável que você arrume uma casinha no meio do caminho para não precisar ficar indo e voltando todos os dias. — suspiro a ideia pela qual ainda não tínhamos conversado, mas sabíamos ser a mais concreta. — Passarei para uma faculdade e viveremos separados por meses. Isso se o alistamento não for uma desculpa da vida de nos separar para sempre.

— Não será. Eu prometo que não será.

Peeta fez os testes necessários para avaliação e enquanto isso recebi a notícia de que fui aceita para duas faculdades de Arquitetura e escolhi a mais bem falada delas. Uma semana antes de oficializarem os chamados para ingressar no exército, Peeta e eu tiramos uma noite para nós. Minha mãe viajava e com sua autorização pude trazer meu namorado para passar a noite comigo. Talvez fosse nossa última noite juntos.

O sexo tinha cheiro de despedida como se já tivéssemos aceito a partida de meu homem para longe de mim. Sentiria falta de seus gestos, de suas carícias, de seus tortos sorrisos, de suas manias. Principalmente a de cutucar minhas costelas e cheirar meu pescoço.

Naquela noite não nos importávamos com nada além do prazer de ambos. Nada além de termos um ao outro por completo uma última vez. Nada parecia mais importante do que o delicioso vai e vem de nossos corpos. Éramos apenas isso. Dois corpos em busca de prazer absoluto e distrativo.

Hoje, no dia do resultado Madge e eu estamos desatentas a tudo e preocupadas em ocuparmos nossas cabeças com outras coisas.

— Nervosa? — pergunta ela com as pernas dobradas como as de índios. Concordo com a cabeça e levo-a até a janela. Observo a tempestade cair e balançar as árvores. Uma noite nada agradável nos rodeia.

— Você não? — retruco vendo seus ombros erguerem-se rapidamente.

— A quanto tempo será que estamos esperando Peeta chegar e dar-nos a resposta? — ela indaga com os dedos sobre o rosto.

— Duas ou três horas acho.

— Então vá logo. Diga o que está na sua cabeça. Você está inquieta com a outra coisa. Pensou direitinho? — ela interroga-me quase batendo palmas.

— Pensei sim. Preste bem atenção.

Esfregando minhas mãos como uma criança arteira levanto da cama e fico de frente para ela sorrindo. Viro para o espelho e tomo folego.

— Sei que não somos tão íntimos quanto gostaria que fossemos, mas tenho palavras entaladas em minha garganta a anos. Não é simples nem complicado, porém é muito difícil de admitir se não sei se sou correspondida por você. — digo em voz alta para meu reflexo e Madge está com um belo sorriso, gostando de minha introdução. — Te observei por dias e dias a fio com medo de que você olhasse-me ao mesmo tempo e descobrisse o que eu fazia em suas costas. Analisei cada gesto seu, anotei em minha memória a quantidade de vezes em que você encostou em mim. Mesmo que tenha sido por um segundo e sem querer. Imaginei e sonhei com o momento em que sua boca encostaria na minha, o momento em que eu teria livre acesso para entrelaçar meus dedos nos seus, acariciar seus braços fortes e chamar-lhe de meu.

— Isso é lindo. — Mad comenta quando faço uma pausa para colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha como se estivesse envergonhada e toda aquela declaração para o espelho fosse para, na verdade, o amor de minha vida.

— Me apaixonei por tudo que você é e pelo que não é. Apaixonei-me pelo seu sorriso, pelo seu carisma, pelo brilho em seus olhos negros e pela maneira como se comunica comigo. O amor é uma ponte e você está do outro lado dela. Eu posso ir até você? — indago para meu reflexo e sorrio orgulhosa por ter criado algo tão profundo e bonito. — Criei planos para nós e basta você aceitar vive-los comigo. Podemos aprender muito sobre o outro. Desvendar mistérios e segredos juntos. Quer aprender comigo? Estou disposta a tentar tudo agora porque a função da minha vida é decair de amor todos os dias por você. Quer viver o seu para sempre comigo? Porque eu quero viver o meu com você, Gale.

— Você quer o que, Katniss? — escuto a porta se abrir num rompante e Peeta aparecer vermelho de raiva. Olhos em confusão.

— Que susto! — exclamo vendo Madge recuperar-se da combustão repentina de adrenalina. — Você podia ter batido na porta.

— Bater? — ele franze as sobrancelhas. A noite escura e sombria mostrando suas forças janela a fora. — Para perder esse show lindo que você estava fazendo?!

— Peeta... Eu não sei o que você está querendo dizer com isso. — respondo visivelmente confusa, mas ainda assim com o coração batendo mais forte e mais rápido.

— Ah não sabe? Fazer essa belíssima declaração para outro garoto que não é seu namorado é super comum. — ele diz batendo a porta com força sem se importar com nada além do que acha que aconteceu.

— Peeta, não é nada disso que você está pensando. — Madge afirma o que eu já iria dizer. Seu corpo aparece diante do meu e posso ver seu irmão respirando mais rápido.

— Não se mete! — ele manda entredentes empurrando-a para o lado e avançando sobre mim.

— Você está me assustando. — confesso encarando seu rosto. Suas veias saltando e tenho medo de que ele vá explodir. — Isso é só um mal entendido.

— Oh não. Eu entendi muito bem o que você disse. Ouvi muito bem você dizendo que ama outro cara! — ele grita. — Porra Katniss!

— Eu não fiz nada. — digo notando em seguida que ele já não está mais no quarto. — Peeta!

Sinto Madge em meu encalço enquanto corro nos degraus da escada sem, realmente, me importar de sair rolando neles.

— Onde você vai? — minha amiga pergunta quando encontramos Peeta preparando-se para sair de minha casa. Sem guarda chuva nem casaco.

— Você sempre soube! Sempre soube que eu odeio mentiras. Que odeio que traiam minha confiança. — ele murmura empurrando minha mão recém pousada em seu ombro.

— Eu não te trai.

— Aquela porra foi o que então?! — berra.

— Peeta, não fale assim com ela. — intervém Madge encolhendo-se de frio. O vento bate com força em nossos rostos e sinto-me estúpida por não ter lembrado de fechar as janelas assim que a chuva começou a cair.

— Cala a boca! Não se mete.

— Você está muito nervoso. Entendeu tudo errado. Se acalme antes que faça alguma coisa pela qual irá se arrepender depois. — Madge enfrenta o irmão de igual para igual. O mesmo tom de voz e o mesmo jeito de mandar.

­Com o coração acelerado minhas mãos tremem e acho uma pequena mala encostada na parede. Tão escura que nem parece estar ali.

— Que mala é essa? — pergunto atraindo a atenção de Peeta que engole em seco, mas ainda exibe sua impaciência e decepção.

— Vim avisar que estão me recrutando. Querem todos lá ainda nesta madrugada. Passei nos meus pais antes e despedi-me deles para vir aqui e ficar um pouco com, as que foram, mulheres da minha vida.

— Você vai embora agora? — concluo sentindo meu coração parar e meu rosto perder a cor.

— Depois do que ouvi minutos atrás? Já devia ter ido há tempos. É perda de tempo continuar perto de você. — conclui abrindo a porta de madeira com força e quase correndo para fora de casa.

­— Não! — grito puxando-o e jogando seu corpo contra a parede marfim da varanda de entrada. — Você não pode ir embora sem deixar-me explicar. Vamos conversar, Peeta. Por favor.

— Não temos nada para conversar.

— Temos sim!

— Katniss, me solta.

­— Não. Fique aqui. Peeta, vamos conversar sobre isso.

De supetão ele agarra meus ombros e inverte nossas posições batendo minhas costas com força na parede em que ele estava. Assustada, posso sentir as lágrimas correrem por meu rosto e quase não consigo focar o rosto surpreso de Mad ao meu lado.

— Não temos nada para conversar. Você me traiu e quebrou minha confiança. — ele afirma nervoso e puto da vida.

— Não... — sussurro com o pouco de voz que consigo encontrar.

— Não quero ouvir sua voz, não quero ouvir seu nome, não quero te ver e nem saber de você. Acabou de quebrar meu coração, Katniss. — ele grita meu nome. — Vá para o inferno.

— Volte aqui! — escuto alguém próximo a mim gritar, mas já não consigo concentrar-me em nada além de ver Peeta correr por entre os fortes pingos d’água e os sonoros e amedrontadores trovões.

­— Não, Peeta... — escorrego até o chão. Meu corpo pesado e o coração sangrando. — Não!

— Shh. — sinto o corpo molhado de Madge me abraçar e posso imaginar que ela tenha corrido atrás do irmão.

Como ele pode? Como Peeta conseguiu ir embora sem dar-me a chance de explicar? Como ele conseguiu cortar nossos laços e deixar-me sem se despedir?!

— Não! — berro repetidas vezes sem ligar para os vizinhos que já dormem. Não sou mais eu. Não sou mais Katniss. Sou apenas dor e tristeza. Apenas sangue e coração partido. — Não! Peeta... Volta.

Dois meses depois...

— Filha, você precisa ir para a faculdade. Mad já está te esperando faz quase dez minutos.

— Não consigo. — arrasto minha voz e sinto meu coração pesar mais uma vez.

— Eu sei que está triste, mas você precisa seguir. Esse tempo separados pode ser bom para colocar a cabeça em ordem. Tanto você quanto Peeta.

— Me deixe, mamãe. — peço sentindo uma delicada e salgada lágrima solitária passar por minha bochecha. Dói só de ouvir o nome dele.

— Vamos, Katniss. Temos que sair.

Minha melhor amiga puxa meus braços, ergue-me da cama e acaricia meu rosto marcado e bagunçado quando fico de pé.

— Vá tomar banho e não esqueça de tomar o remédio para cólica antes de irmos. — lembra quando procuro uma roupa no armário branco de quatro portas. — Você engordou nessas últimas semanas.

— E não me lembro de tê-la visto menstruar no mês passado. — observa Dona Clara e todas congelamos no lugar. Respirações travadas e mentes paradas.

­— Mãe...

— Você não está grávida, está Katniss?

‘’Somos uma sociedade de pessoas com notória

infelicidade, solidão, ansiedade, depressão,

destruição, dependência;

Pessoas que ficam felizes quando matam o

tempo que foi tão difícil de conquistar.’’

(Erich Fromn)


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Notas finais do capítulo

E aí? Como foi? Como ficou? Bom, ruim, chato, interessante?! Me digam amores!

Espero que tenham gostado e que me acompanhem por essa jornada nova. Não muito longa, mas grande o suficiente para aprimorarmos nossos laços afetivos, não?

Próximo capítulo só no fim de semana que vem! Comentem, favoritem e será que é cedo demais para pedir uma recomendação? Faz tempo que não recebo uma.

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Abraços, amo vocês!