Dazed And Confused escrita por venus


Capítulo 5
Floyd




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Floyd sentia a dor se alastrar pelo braço e se impregnar no quarto. Tudo ao redor dele era cruciante, desde o colchão pelado até as rachaduras na parede. Recentemente, ele tentara amenizar sua mágoa fumando os cigarros do pai e espirrando desodorante Teen Spirit no ar, mas falhou em todas as tentativas.

Um fluído verde pingava do teto e formava uma poça cloacal próxima da sua pilha de livros, cujas capas estavam rotas e amareladas. O colchão em que dormia exalava um cheiro de sebo e sangue. O ar do seu quarto era arrefecido e toda vez que ele olhava para as velas apagadas em cada extremidade, uma apatia preenchia sua caixa torácica.

Floyd gostaria de imaginar Raven ali, desnuda e deitada no colchão, segurando um incenso aceso com o braço estendido; mas sabia que eventualmente, a dor aumentaria até se estabelecer em seu peito. Ele havia a dispensado do trabalho naquele sábado e ela não quis perguntar o porquê. Para Raven, sua existência era indiferente e substituível.

Lembrou-se de quando ela pareceu genuinamente preocupada ao notar a ferida em seu antebraço, causada por inúmeras e consecutivas picadas de seringa. Lembrou-se do seu desconcerto e da estranha alegria que sentiu quando Raven perguntou o que era o machucado e lhe disse que aquilo poderia infeccionar; queria ser tratado como uma criança doente, queria ser embalado nos seus braços, queria que ela derramasse lágrimas de compaixão. E lembrou-se de como eles quase se beijaram num armário de vassouras, e de como Raven o ignorou com maestria por duas semanas.

Floyd, tremendo com desconsolo, pegou a caixa de tênis velha e catou o maço de algodão escondido no armário sob o espelho do banheiro. A princípio, ele hesitou, porém o logo da Nike grudado na caixa o convenceu (‘‘Just Do It’’) e extraiu uma seringa, um pote de morfina e outro de álcool. Esterilizou em vão a ferida no braço — grunhindo durante o processo — e injetou.

— Essa é a última. — prometeu a si mesmo.

Sentiu suas hemácias mamarem da agulha. Suas panturrilhas formigaram, para então, relaxarem. Ele fechou os olhos e um terceiro se abriu e Floyd observou, entusiasmado, Raven deixando a sua casa, um skate sob o braço e uma sacola pendurada no outro. Ela usava um vestido garrido que combinava com as suas rasteirinhas de couro, e quando dava impulso para ganhar velocidade no skate, a saia enfunava como um balão de ar quente. E a sua visão ia se aproximando; ele viu o seu rosto com mais detalhes, viu os cravos, os pelos, a gota de suor que descia pela sua testa, os poros, as células mortas, as artérias, e cada outro pedacinho que a compunha. E como uma câmera, sua visão foi se afastando até se encontrar no quarto, largado no colchão e com um cigarro apagado jazendo sobre uma folha de caderno amassada. Nela estava escrito:

‘‘raven é a marca de travesseiro no meu rosto quando eu acordo de manhã, ela é o sentimento entre estar acordado e estar dormindo, é uma carta suicida, uma floresta ardendo em chamas’’

— Jesus, eu sou um psicopata. — murmurou.

Checou o horário em seu relógio de pulso e percebeu que estava ligeiramente atrasado para festa de Doce Dezesseis de Allison Foster. Beauregard havia lhe emprestado um terno, uma camiseta social branca, um par de sapatos italianos, calças pretas e uma gravata de seda azul (mas como não sabia dar um nó, amarrou-a ao redor da testa). Ele se refrescou enfiando o rosto na pia com o ralo tampado e passou colônia masculina no pescoço. Pôs a franja loira para trás, mas quando viu um hematoma roxo estampado na testa, tornou a puxar o cabelo para baixo.

Saiu do quarto e passou pelos aposentos do pai. Pensou em entrar para ver se ele estava bem, contudo relutou e o espiou pela fresta da porta. O sr. Dolovan assistia à um episódio velho de Diff'rent Strokes enquanto bebericava uma garrafa de vinho direto do gargalo, rindo das piadas ensaiadas junto com a plateia. Não gostava de falar com o pai quando estava chapado, logo, atravessou o corredor cautelosamente e desceu as escadas que conectavam o andar de cima com a mercearia. Trancou a Pink's Grocery e se foi.

***


Floyd não precisou tocar a campainha para entrar. A sra. Foster o recebeu com sorrisos e elogios, e mesmo que tivesse um medo natural de mulheres mais velhas — com as suas bocarras pintadas de vermelho e a mania de esfregar seus bustos avantajados durante abraços —, ela parecia uma mulher de meia-idade muito agradável e benevolente.

— Floyd, você cresceu tanto, querido! Olha só, já está quase me passando. E, minha nossa!, onde arranjou esse traje? É muito elegante; minha filha tem cada amigo bonito. — a sra. Foster o guiou casa adentro. Ele não conseguiu processar todos os detalhes da sala de estar, mas percebeu que havia muitas mandalas penduradas e máscaras africanas entalhadas em madeira. — Eles estão no jardim. Está quase todo mundo lá!

Park e Raven conversavam com veemência perto de um canteiro de hortênsias. Percy McKiddie ofereceu um cantil de prata para ela, mas Park, tempestuoso, afastou-o com um tapa e começou a discutir com o amigo, gesticulando e cuspindo enquanto vociferava. Floyd decidiu que não era uma boa hora para se aproximar dos amigos. Avistou Beauregard segurando um suco de tomate e mordiscando um talo de salsão.

— Oi, Beau. — saudou o amigo, que parecia um fidalgo naquele traje.

— Oi, Floydster. — falou desanimado. — Eu tô limpo há cinco dias. Cara, não tem sensação pior.

— É muita coragem da sua parte. Sabe, largar as drogas.

— É, minha mãe ameaçou me colocar numa escola militar. Eles iam cortar meu cabelo e tudo mais. Ela ficou muito puta quando encontrou o policial em casa. Ele tava querendo me prender por desrespeito à autoridade. Foi pesado, cara, foi muito pesado.

— Mas bem que o seu cabelo tava precisando de um corte, né?

Beauregard mostrou o dedo do meio e engoliu o resto do salsão.

— Ei, você viu o lance da Rae? — falou discretamente, olhando de esguelha para ela e seu irmão, que agora pareciam estar numa discussão fervorosa.

— Que lance? — franziu as sobrancelhas.

— Você percebeu que o Finny não tá aqui, né? Ele perdeu as estribeiras com a Allison e foi ‘‘oficialmente desconvidado’’.

— E o que tem a ver com a Rae?

— Bom, tão falando que no mesmo dia que ele fez isso... — fez uma pausa para gorgolejar a bebida. — A Rae deu um tapa no moleque.

— No Finn? — questionou, deslumbrado. Beauregard confirmou assentindo com a cabeça. — No Finn?

— É, cara, no Finn.

— Mas ela não tava a fim dele?

— E eu vou saber? — virou o copo dentro da boca. — Garotas são muito confusas.

— Será que ela tá puta comigo? — correu os dedos pelo cabelo loiro. — A Rae me ignorou a semana inteira.

— Não acha que ela tá envergonhada? — analisou o fundo do copo para ver se havia sobrado um pouco de suco. — Vocês se pegaram na festa do Percy e tal.

— Na verdade, eu não consegui...

— Puta merda, Floyd! — bradou Beauregard. — Vocês tavam sozinhos naquele armário. Não tinha nada, nadinha, pra atrapalhar. E mesmo assim, você fodeu com tudo. Eu tô impressionado com o seu talento de arruinar as coisas; é realmente mais impressionante do que o meu.

— A polícia chegou, porra. Não foi culpa minha.

— Tá bom, tá bom. Eu só acho que você devia conversar com ela.

Floyd suspirou quando percebeu que Beauregard tinha razão. Estava dando as costas para ele quando sentiu um cutucão em suas costas.

— Pega mais um suco pra mim? É o que me deixa distraído do álcool. O Percy trouxe um cantil com whisky e eu tô me segurando pra não roubar. Por favorzinho, cara. Eu não consigo me mexer porque tô muito a fim de dar uma mijada.

Floyd pegou um copo rosa e o encheu com suco de tomate. Depois de entregar à Beauregard sua bebida, seguiu na direção de Raven e Park, ambos em silêncio e se encarando com teimosia.

As semelhanças entre os dois eram espantosas: desde os corpos esbeltos e os olhos puxados até as sobrancelhas grossas e as peles bronzeadas, Raven e Park eram idênticos. As divergências começavam nos cabelos — o de Raven era descomunalmente longo e Park usava um corte tigelinha — e terminavam nos narizes — o dele era mais adunco.

Mesmo que os efeitos da morfina ainda o abatessem, Floyd estava ansioso. Esfregava as mãos contra as coxas e suava a frio; engoliu a seco incontáveis vezes, desejando arrancar a sensação de ter um caroço entalado na garganta. E Raven estava com um vestido preto pendurado por alças de renda, que expunham suas saboneteiras. Ela havia amarrado um xale florido ao redor da cintura e calçava saltos envernizados — embora não afetassem na diferença notável entre suas alturas. Floyd nunca havia visto as suas clavículas, e quando se deu por si, estava suando a frio e admirando os ossos salientes de seus ombros.

— E aí? — regozijou Park, dirigindo-se à ele.

Floyd sorriu meio desastrado e acenou com a cabeça para Raven.

— Oi. — murmurou, curiosamente tímida. — Como a Didi tá?

Ele enrugou a testa. Não se recordava de ter mencionado alguma de suas ex-namoradas para ela.

— Bem, eu acho.

Didi Grindylow foi a sua preferida. Possuía os traços de uma musa de Botticelli e a pele tão negra quanto melaço, de modo que as únicas coisas visíveis em seu rosto fossem seus olhos âmbar. Usava tamancos de madeira — que a deixavam três centímetros mais alta que ele —, blusinhas amarelas, calças coladas nas pernas voluptuosas e crucifixos de ouro ao redor do pescoço. Didi era ótima no karaokê e vivia cantando para Floyd músicas do Lou Reed. Sua voz era forte e determinada, e soava em seus ouvidos como uma lareira farfalhante. Contudo, ele não podia amá-la como um homem ama uma mulher; seu amor era fraterno e passível.

— Hã... — Park estava constrangido. — Vocês querem beber alguma coisa?

— Uma água, por favor. — pediu Floyd.

— Um mojito pra mim. — solicitou ela, ironicamente.

— Duas águas, então.

Enquanto Park se distanciava com um andar altivo, Raven revirou os olhos para Floyd.

— Ele me deu um esporro porque o Percy me ofereceu whisky.

— Imagina se ele tivesse te visto na festa da semana passada. — eles riram meio desconcertados.

— Sobre isso, — iniciou ela, sem-graça. — eu queria dizer que não me lembro de nada do que aconteceu. E o Finn me contou que eu não parava de dar em cima de você, me desculpa, ok? Eu te conheço e sei que você odeia garotas atiradas. Então...

— Tá, eu entendi. — interrompeu-a, cabisbaixo. — Eu sei que você não tá a fim de mim.

Os balões de hélio e as toalhas de mesa esvoaçaram à medida que um vento gélido soprou e Raven desamarrou o xale florido e o pôs sobre os ombros, escondendo as suas clavículas primorosas.

— Essa festa tá bem parada. Topa mudar a música? — sugeriu ela

— Mas é claro. Essa Roxette tá me enchendo o saco.

Allison Foster estava ajoelhada na grama, mexendo distraidamente na vitrola a pilha. A saia do seu vestido — Floyd não sabia se era um azul muito claro ou um branco azulado — era feita de babados e a barra estava suja de terra. Allison usava uma coroa de louros tosca, que a deixava similar à uma ninfa da floresta ou alguma criatura mística que ela venerava.

— Ei, Alli. — chamou ele.

— Oh! Oi, Floyd. — ela abriu um sorriso largo e bondoso. — Você está muito elegante. Muito excêntrico o modo que usa a gravata.

— É, sim, obrigado.

— Alli, será que você podia deixar a gente ver a sua coleção de disco? — indagou Raven cautelosamente.

— Por quê? Vocês não gostam de Listen To Your Heart?

— Claro que sim, — mentiu ela. — mas você não acha que se a gente botasse Misfits ia ficar mais animado?

— Bom, eu não tenho Misfits aqui. — e completou: — Minha mãe acha o som muito violento. Agora, se me derem licença, vou aproveitar a minha festa.

Enquanto Allison se distanciava com um sorriso ingênuo no rosto, Raven arrastava uma pilha de LPs e Floyd os avaliava.

— Cara, ela só tem vinil de mulheres de meia-idade sexualmente frustradas. — comentou ele e ela riu.

— Vê se você acha David Bowie.

Floyd fez uma careta de desgosto.

— Que foi? Você prefere pôr Dancing Queen? Porque eu aposto que ela tem.

— Ok, ok...

Ele encontrou o disco e deu uma olhada na capa: o raio vermelho cruzando seu rosto meramente simétrico, fazendo-o parecer com uma figura mística do Universo. Fitou as letras de ‘‘Aladdin Sane’’ até que o degradê vermelho e azul queimou em suas pálpebras e Floyd sentiu seu antebraço latejar. Largou o vinil na grama ao apertar a ferida com a outra mão e Raven soltou uma exclamação.

— Floyd? — ele não respondeu. A dor o afrontava, quase num ar desafiador, espiando-o atrás de Raven. — Ei, você tá bem?

Ela delicadamente esticou o braço dele e tirou o seu blazer. Dobrou a manga de sua camiseta até o cotovelo. A ferida pulsava num amarelo esverdeado e as veias que a rodeavam brilhavam num roxo vívido.

— Ah, Floyd, o que você fez?

— Eu me injeto, Rae. — murmurou num tom plangente.

— Você quer ir prum hospital ou alguma coisa assim? Tá doendo muito?

— Nunca doeu tanto.

— Eu acho que tá infeccionado. — ela examinou as pequenas crateras causadas pelas picadas de agulha, todas enegrecidas. — Floyd, eu acho que é coisa séria. Vou chamar a mãe da Alli pra levar a gente prum hospital.

— Eles vão achar que eu sou um junky e vão me botar num reformatório, Rae. — choramingou desesperado.

Beauregard rugiu ao longe. Floyd espiou por cima do ombro de Raven para ver o que estava acontecendo; Beau havia virado o galão cheio de suco de tomate sobre a cabeça. Em seguida, tirou o cantil de whisky das mãos de Percy e bebeu todo conteúdo, como um bebê tomando leite da mamadeira.

Park, o único que não estava hipnotizado pela cena de Beauregard, percebeu Floyd nos braços de sua irmã e disparou até eles — a água dentro dos copos que segurava foi despejada acidentalmente na grama durante a sua corrida.

— O que tá pegando? — perguntou ele.

Alguém — cuja voz se assemelhava com a da sra. Foster, só que mais furiosa — berrou, dirigindo-se à Beauregard: ‘‘Percival, saia daqui agora!’’

— Olha, Park. — Raven mostrou a ferida para o irmão. — Dá pra fazer alguma coisa, além de levar pro hospital?

— Deixa eu dar uma olhada. — ele examinou o braço de perto e o apertou em alguns pontos. — Não sei, não. Você ferrou os seus vasos sanguíneos, cara. Alguém vai ter que consertar isso com uma cirurgia. E eu tenho certeza que é gangrena; se a gente não for prum hospital, talvez tenham que amputar.

— Não, não, não. Isso não pode acontecer. — murmurou Raven, apreensiva.

O conflito entre Beauregard e a sra. Foster alcançava ao seu ápice. Seu esmerado terno da Armani estava ensopado de suco de tomate, que continuava a pingar dos seus cabelos. Ele tentou agarrar Allison e até conseguiu chapar um beijo em sua boca, contudo recebeu um tapa em contrapartida.

— Eu vou levar o Floyd pro hospital e você tira o Beau daqui. — ordenou Park para a irmã.

— Não é mais fácil você tirar o Beau? É que eu não sou tão forte. — contrariou.

— Você é melhor com palavras. — e já estava dando as costas quando ela trovejou:

— Ele tá fora de si, Park. Ele não vai ligar pro que eu disser! Vai você levar ele pra casa.

— Ok, então você leva o Floyd pro hospital à pé. — cruzou os braços persistentemente.

— Seria mais rápido do que ir com o seu Dodge 330.

— Porra, Raven, é só tirar o Beauregard daqui!

— Por que eu não posso ir junto?

— Porque hospital não é lugar de garota e você tá me enchendo o saco.

Raven retrucou com uma resposta ácida e Park sibilou uma ofensa. Os dois continuaram a discutir, férvidos de raiva, e tudo o que Floyd via por trás das lágrimas de dor eram silhuetas vertiginosas agitando os braços no ar violentamente.

— Park, deixa a Rae ir, por favor. — insistiu numa voz fraca.

Ele o encarou com um olhar irado.

— Eu acho melhor não. — balbuciou ela num tom desistente. — Vou levar o Beau pra casa. De qualquer forma, boa sorte.

Raven o beijou na bochecha rapidamente. Um ardor repentino se espalhou pelo seu corpo e a dor se dispersou por um momento. Quando ela se afastou, levando consigo o perfume de Teen Spirit, a ferida palpitou de agonia.

— Vamo, cara. — rumorejou Park.

Ele o puxou pelo braço não dolorido e os dois caminharam em silêncio até o Dodge 330.

***

Floyd franziu o nariz ao aspirar o ar pesado que cheirava a vinagre. Havia se acomodado numa cadeira de plástico que rangia toda vez que apoiava suas costas no espaldar. Park tamborilava os dedos no joelho e constantemente perguntava se ele estava bem.

— Cara, eu não tenho tanta grana pra pagar isso. — disse Floyd, apertando o braço contra o corpo.

Park suspirou e olhou para parede alva diante dele.

— Eu posso pagar. — afirmou calmamente.

— Não, não pode. A gente não ia conseguir pagar a cirurgia nem fazendo uma vaquinha. E ainda tem os medicamentos, os outros exames...

— Floyd, eu acabei de dizer que consigo pagar. — repetiu num tom impaciente. — Eu tenho o dinheiro.

Uma enfermeira rechonchuda entrou no corredor com uma prancheta. Suas bochechas roliças e avermelhadas estavam empapadas de suor e ela arfava a cada passo que dava.

— Dolovan, Lloyd. — chamou com um ar entediado.

— É Floyd. — corrigiu ele.

Levantou-se e ela fez um gesto para que a seguisse. Park continuou esperando na cadeira, esfregando as costas da mão contra a testa.

— Bom, sr. Dolovan, nós vamos extrair algumas veias para que a infecção não se espalhe para os órgãos internos. O doutor também vai tentar reparar algumas artérias estouradas. Ele te indicará algumas pílulas para amenizar a dor. Preciso que assine aqui. — entregou a prancheta para ele e disse, encarando seus sapatos de borracha: — Não sei o que você andou fazendo, mocinho, porém te asseguro que se não tivesse vindo para cá hoje, teríamos que amputar o seu braço.

— É. — terminou de escrever o seu nome numa letra disforme. — Eu sou muito sortudo mesmo.

A enfermeira pegou a prancheta de volta e os dois andaram até uma sala pequena, onde só havia uma maca, um banquinho e um balcão cheio de embalagens de remédios. Ela desembrulhou uma seringa de um pacote e pegou um pote que continha um líquido transparente.

— Deite na maca que eu vou aplicar uma anestesia local. — arregaçou a manga do braço bom.

A penetração da agulha em seu antebraço já lhe era familiar. Floyd desejou que Didi Grindylow estivesse ao seu lado, cantarolando ‘‘You Are My Sunshine’’ para acalmá-lo. Pensou em Raven e em como ela sussurraria em seus ouvidos o seu horóscopo (‘‘Você é Virgem, não? Vamos ler a nossa combinação astral, Escorpião/Virgem: atração quase instantânea. Bom, isso é meio constrangedor”).

Floyd quis que houvesse alguma coisa bonita diante dele. Assim, a única coisa que ele veria antes de apagar não seria um relógio quadrado tiquetaqueando eternamente numa parede branca.


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Notas finais do capítulo

oi gentee!! quando eu percebi que a última vez que tinha postado foi em maio, fui correndo terminar o capítulo... foi mal pela demora :(

por isso, eu quis colocar umas curiosidades/pistas sobre a história:

* pra quem não sabe, Beauregard se pronuncia Bouregard (não é uma curiosidade mas eu não sabia disso até uns meses atrás)

* Wakahisa (o sobrenome do Park e da Raven) significa ‘‘Forever Young’’ em japonês. interpretem do jeito que quiserem.

* a leitura de cartas de tarô do capítulo anterior contém muitos spoilers

* Park, Beauregard e Floyd têm 17 anos, enquanto o Finn e a Rae têm 15

(por favor não coloquem as suas conclusões nos reviews)