All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 36
Orientation 02 of 02 - House of the Rising Sun


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós outra vez...

Sem enrolações, vamos logo a segunda parte...

Boa leitura!



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De pé em frente à entrada, Vincent Hall encarava o xerife. Suas mãos estavam amarradas e o prisioneiro era conduzido de perto por Leah Fisher, que segurava um punhal encostado na lateral de seu abdome.

— Senhor Grimes... – Os olhos da garota loira estavam avermelhados – O senhor precisa ouvir o que ele tem a dizer.

...

O xerife ouvira atentamente a todas as palavras proferidas pelo médico. Vincent discursara por cerca de vinte minutos, explicando-se a todo o momento sobre as decisões tomadas, tentando de alguma forma justificar sua traição. Grimes notara também que ele parecia tentar proteger o Garden e sua liderança, destacando o domínio dos Salvadores sobre a comunidade como forma de legitimar o plano de invasão.

Jesus e Leah não se manifestaram uma única vez durante a conversa. O diplomata do Hill Top parecia juntar as peças em sua cabeça enquanto que a garota aparentava estar totalmente desconfortável. O xerife notara que ela estava entristecida, e que de todas as maneiras evitava olhar para o cirurgião.

— Podemos dar o sinal pela manhã, logo cedo... Eles virão e então poderemos resolver isso disso uma vez! – Exclamara Hall, após um breve momento em silêncio.

Grimes sabia que não podia esperar, não podia empurrar um problema sendo que já havia outro, tão grande quanto, no seu encalço. A madrugada chegara ao seu ápice, não havia mais motivos para deixar para depois.

— Vamos fazer isso agora mesmo! – Dissera Rick assertivamente. Ele então tomara em mãos a pistola sinalizadora e o rádio comunicador – Essa Imperatriz me parece bastante desesperada. Não consigo enxergar como ela imaginou que esse plano pudesse dar certo!

Hall sorrira, irritando o xerife. Com toda a certeza o médico estava bastante modificado.

— Ele daria Rick. De uma forma ou outra. E mesmo que as coisas não saíssem como esperado, ela não tinha nada a perder... – Vincent virara de costa, erguendo a camisa e exibindo um longo ferimento, que cobria toda a extensão de suas costas. Uma cruz desenhada por uma lâmina lhe marcara a pele com dois centímetros de profundidade. O machucado parecia levemente inflamado, com marcas arroxeadas em suas bordas – Ela não é como você! Eloise já se desligou de sua humanidade há algum tempo... Não quero dizer que ela é má pessoa, afinal, quem sou eu para julgar isso... Ela só não se importaria com as baixas. Para ela valeria o risco!

Paul Monroe amarrara os cabelos, dando sua opinião logo após a deixa de Hall.

— Talvez vocês nem sejam tão diferentes assim... – Todos o olharam no mesmo instante – Quero dizer, você sabe do que Negan é capaz! O Hill Top é a grande prova do abuso dos Salvadores... Você viu o que eles fizeram com Crystal, obrigando o seu marido a tentar assassinar Gregory! Eles sempre pedem mais, chega uma hora que simplesmente se torna impossível pagar os tributos! Eu já vi acontecer Rick...

O xerife arqueara uma sobrancelha, olhando seriamente para Monroe.

— Aonde quer chegar? – Indagara.

Jesus juntara as mãos espalmadas, dobrando levemente o corpo para frente.

— Não precisa haver uma guerra entre Alexandria e o Garden, assim como não precisou ocorrer com o Hill Top! Precisamos focar no nosso inimigo comum, o Negan! É para ele que precisamos voltar o cano de nossas armas e as lâminas de nossas facas. Se conseguirmos a ajuda da Imperatriz e sua comunidade, ficaremos ainda mais fortes... Pense nisso Rick! Derrotar os Salvadores pode não ser um sonho tão distante assim!

— Nossa guerra é contra Negan! – Completara.

Grimes nunca tivera certeza a respeito de uma guerra contra os Salvadores, pois até o momento era claro que não havia como vencer. Saber a localização do Santuário e ter uma maneira própria de produzir munições era apenas o embrião da utopia de um possível triunfo sobre o déspota que matara Maggie Greene.

Imaginar que o Garden poderia ser seu aliado nessa guerra começava a transformar a utopia em algo mais palpável. Mas será que valeria a pena traçar uma aliança com um inimigo em potencial? E se a Imperatriz e sua comunidade resolvessem atacar Alexandria ainda assim? Aparentemente Vincent resolvera voltar atrás em sua missão como espião, mas de qualquer forma, seria possível confiar nele agora? Será que ele estaria falando a verdade ou aquela era mais uma de suas mentiras?

Valeria a pena correr o risco, afinal de contas, Alexandria ainda era um recinto seguro, e com Vincent entregando os planos, a invasão se tornaria inviável. Mesmo que tentassem de alguma forma retaliar, o fator armamento e munição pesaria mais alto. O plano da Imperatriz precisava ser executado de forma furtiva para dar certo, só assim seria possível ultrapassarem a segurança da comunidade. Mas agora tudo se modificara, e Rick Grimes passara a assumir total controle da situação.

Vincent Hall disparara o sinalizador, iluminando o soturno céu da madrugada alexandrina. Tentando não chamar a atenção dos demais moradores, que aquela altura encontravam-se dormindo em suas residências, Rick, Michonne, Andrea, Jesus, Tom, Isaiah, Leah e é claro, Vincent, dirigiram-se até o lado de fora da comunidade, aguardando a chegada da Imperatriz e seus homens.

O sinal dado de forma precoce acabara deixando os soldados da Imperatriz confusos. Recebendo ordens de Rick, Isaiah, Michonne e Tom conseguiram capturar o sniper e os dois invasores do grupo, que tentavam se aproximar da comunidade ainda sem entender os motivos de Hall não ter entrado em contato com eles via rádio.

Tomados como reféns, os três foram enfileirados ao lado de Vincent, que a essa altura já estava com as mãos amarradas. Michonne segurava sua katana próximo ao pescoço do mais velho, um caipira com chapéu de cowboy e um rifle de caça. Tom cuidara do mais jovem, um rapaz de gorro e cara de assustado, dominando-o com sua glock. Isaiah tomara a única mulher do grupo tático, uma moça loira, ameaçando-a com sua faca de caça.

Rick ficara a frente do grupo, com sua pistola em mãos e a seriedade de quem já estava acostumado a lidar com grupos hostis. Grimes passaria por cima daquela situação da maneira que fosse necessário, pois faria de tudo para desanuviar a sua vista, focando apenas no desaparecimento de seu filho.

Não demorara muito para que o caminhão, uma velha carreta de transportes se aproximasse dos portões de Alexandria. Assim que aportara, o veículo tivera os seus motores desligados, mas os faróis altos permaneceram acesos, iluminando o time de elite da comunidade do xerife Rick Grimes.

A porta do veículo se abrira, e de lá desceram duas pessoas. O motorista, um homem de quase sessenta anos, mas com um porte físico bastante considerável para a sua idade, vide os seus quase dois metros e possivelmente mais de cento e dez quilos bem distribuídos. Da porta do carona descera uma mulher, a gritante prótese mecânica engenhada em seu braço esquerdo, com uma lâmina que tomava praticamente todo o espaço onde deveria estar o seu antebraço, chamava logo de cara bastante atenção.

Rick notara também que a Imperatriz era uma mulher experiente, não por conta dos seus mais de quarenta anos, mas por conta de sua postura, que de certo modo se assemelhava um pouco a do próprio xerife. A firmeza em seus passos, em sua forma de se direcionar a seus imediatos podia ser visto como uma pequena amostra de que a mandatária não sobrevivera e tocara sua comunidade por sorte.

Grimes não vira um Negan em Eloise. Era outra coisa, uma que ele não sabia nomear.

— Ora vejam só... É realmente uma pena Hanso. Acho que alguém me deve mil pratas!

O brutamonte que caminhava a seu lado, portando em mãos uma metralhadora MSG-90, abrira um sorriso de canto de boca. Grimes notara que a Imperatriz tentava não demonstrar frustração por conta da queda de seu plano. O rosto sereno da mulher careca, olhando para os seus soldados de forma totalmente natural, só ampliava a enigmática figura que agora se apresentara.

— Eu e o senhor Hanso aqui apostamos que Desmond não conseguiria completar a missão – Ela olhara diretamente para Hall – E por mais que eu tenha apostado que você fugiria como um cão covarde... – Ela erguera o indicador – Devo dizer que não esperava que me traísse com tamanha facilidade... – A mulher dera mais um passo, ainda ignorando a todos, seguindo com o olhar direcionado para Vincent Hall – Você estava certo sobre si mesmo. Não passa de um covarde, um lixo que foge sem pestanejar ao menor sinal do perigo!

Rick colocara a mão no coldre. Ele deixara a situação prosseguir, ainda sem interferir. O xerife sabia que se um deles tentasse alguma besteira não obteria sucesso.

— Cala a boca! – Exclamara Leah, que tinha sua faca direcionada ao Doutor Hall – Cala a boca e se afasta!

Eloise dera um passo para trás, erguendo as mãos e arqueando uma sobrancelha. A adolescente Fisher respirava alto, parecia bastante irritada. Rick notara uma breve troca de olhares entre a garota e Vincent, seguida por um discreto gesto de mão.

— Calma menininha! – A Imperatriz seguia calma, totalmente serena – Não queremos que ninguém se machuque hoje, não é mesmo? – Seu olhar se direcionara pela primeira a Rick que, ainda com a mão no coldre, sorrira de soslaio – Você deve ser o oficial Rick Grimes, senhor de Alexandria... Desculpe o meu descuido, simplesmente esqueci de me apresentar.

A mandatária fizera um pequeno floreio, cumprimentando de forma respeitosa o líder de Alexandria, que não esboçara nenhuma reação.

— Eu me chamo Eloise McIntyre, também conhecida como Imperatriz do Garden – Ela insistia em agir de forma simpática – Recebi muitas informações a respeito de sua comunidade, senhor Grimes, e vendo pessoalmente, percebo o quanto elas condizem com a realidade! É realmente um belo lugar!

Rick não deixara o seu sorriso de esguelha desmontar, ainda tentava ler aquela mulher, identificar suas fraquezas, os seus modos operantes.

— Sim... Lutamos bastante para manter esse lugar. E seguiremos lutando, não importa qual seja o obstáculo! – Respondera Rick, um tanto frio.

Ela dividia os olhares entre os muros, os portões e o grupo que seguia enfileirado a sua frente.

— É claro! – Rebatera – Somos todos sobreviventes! Além disso, nós dois possuímos um particular peso nas costas... Precisamos manter dezenas de pessoas vivas, não importa o que seja preciso fazer, ou quantas mentiras precisamos contar... – Ela agora encarara diretamente o xerife – Você sabe muito bem do que estou falando não é, Rick?

— Não é qualquer um que consegue carregar tanto sangue assim nas mãos... – A medida em que ela se aproximava o seu tom de voz diminuía, chegando a quase um sussurro – Nunca é fácil tomar tantas decisões, ter de escolher quem vive e quem morre, carregar para sempre a culpa pela morte de quem amamos... Chega uma hora que você fica anestesiado, não é mesmo?

Rick largara o sorriso de sua face. A mulher ainda não havia desistido.

— Matar não se torna mais um problema... Na verdade, matar alguém acaba se tornando a solução para a maioria dos problemas, pois você sempre chega à maldita conclusão de que o mundo é assim... Ou você mata, ou você morre!

— E então aparece alguém cruel, destruindo tudo o que você construiu com tanto afinco, vendendo a própria alma ao diabo para manter de pé... – A Imperatriz matinha a mesma postura de quando aportara em seu caminhão – E quando você vence, quando finalmente o destrói, agradece aos céus por permanecer vivo, por ainda possuir discernimento... O problema, senhor Grimes... O problema é que entre você e o destruidor cruel que acabara de matar, não há diferença alguma!

— Nós sempre achamos que ainda não atravessamos o limite de nossa própria humanidade, que somos imunes à loucura e perversidade do novo mundo... Mas trago uma novidade para o senhor hoje, oficial... Estamos todos no mesmo barco. O mundo ainda é dos mais fortes, assim como sempre foi, mesmo antes de toda essa merda acontecer!

Eloise se afastara mais alguns passos, abrindo os braços logo em seguida.

— Eu também enfrentei muitos obstáculos, senhor Grimes, e assim como o senhor, ultrapassei todos, sem me importar com o que precisaria fazer... Isso não é algo que me dá prazer, e se não fosse estritamente necessário eu não o faria por escolha própria. Mas os tempos mudaram, e o mundo também mudou... Isso é o que tem que ser feito!

— Quando decidi vir até aqui, quando fiz a difícil escolha de invadir uma comunidade, sabia que poderia ser uma missão sem retorno... Eu não tenho medo, senhor Grimes – Ela seguia de braços estendidos – Se tiver de tombar essa madrugada, será tentando, pois... Eu lutei muito para chegar até aqui! Fiz coisas, assim como você, das quais não consigo sequer pronunciar...

Ela voltara-se para o capanga ao seu lado.

— Hanso... – Ela falara mais baixo, ainda assim Rick pudera captar – Foi uma honra lutar ao seu lado...

O grandalhão erguera sua metralhadora, deixando-a pronta para o disparo.

Imediatamente Andrea sacara o seu rifle sniper, agachando-se e também se preparando para a batalha que se desenhara. A missão que já nascera com tendências suicidas, estava muito perto de encontrar o seu fim.

Seria um massacre. A Imperatriz e o seu imediato seriam abatidos com facilidade, assim como os prisioneiros, que não teriam chance alguma de defesa. Rick pedira que Andrea aguardasse, não queria um banho de sangue em frente aos portões. Estava na hora de acabar com as matanças desnecessárias.

Rick pensara bastante, nos poucos segundos em que tivera consigo mesmo, a respeito de tudo o que Eloise lhe dissera, palavras proferidas em um tom de quase confissão. O xerife sabia do peso de ser um líder, compreendia o ônus de ser responsável pela vida de toda aquela gente. De certo modo o Garden era um espelho de Alexandria, do que a zona segura poderia se transformar se seguisse sob o julgo de Negan.

Aquela mulher era realmente corajosa, e de certo modo, estava correta ao dizer que os dois eram parecidos. Grimes também não sentia orgulho de todas as pessoas que precisara matar, de todas as horríveis decisões que precisara tomar. Se um dia Alexandria chegasse ao extremo do Garden, talvez ele também tomasse a decisão de realizar uma missão suicida. Uma desesperada missão sem volta.

Retorno ao remetente. Agora finalmente tudo parecera fazer sentido.

— Ninguém irá sair vitorioso se começarmos a atirar uns nos outros agora... Vocês morrerão, nós morreremos, e no fim das contas a sua comunidade seguirá precisando enfrentar os mesmos problemas!

Agora fora Rick que caminhara em direção a Imperatriz, prosseguindo com mais um de seus discursos.

—Vincent realmente entregou todos os seus planos, mas a atitude dele passou longe de ser um ato de covardia... De certo modo ele abriu minha mente para um fato que agora se torna essencial.

Grimes seguira caminhando, acompanhado pelos olhares de todos que ali se encontravam.

— Ele me falou muito sobre você e o seu pessoal... – Continuara – Falou que Negan e os Salvadores subjugaram o Garden, e que você não pôde fazer nada para impedir! Ele me disse também que ele matou boas pessoas do seu grupo, e que a cada coleta vem aumentando os tributos, chegando ao ponto que se tornou impossível pagar!

— Você fez muitas comparações entre nós dois, e talvez você esteja realmente certa... Também sofremos com o domínio de Negan. Ele também veio aqui, matou boas pessoas do nosso grupo e está nos obrigando a ceder metade dos nossos mantimentos em troca de uma falsa proteção! Droga, ele até levou o meu filho!

Rick fizera uma breve pausa. Era nitidamente complicado para ele imaginar o que poderia estar ocorrendo com Carl, preso nas mãos daquele louco déspota.

A Imperatriz apenas o observava. Suas feições seguiam mansas, paralisadas.

— Podemos ficar aqui trocando bravatas e atirando uns nos outros... – Rick retirara a arma da cintura – E no fim das contas os dois perderão! Ou então podemos nos concentrar no nosso inimigo comum... Jesus me falou que sua comunidade realizava negócios com o Hill Top. Não podemos ceder mantimentos, pelo menos não agora... Mas podemos criar uma rede interna, envolvendo as três comunidades, nos ajudando a pagar os tributos até que estejamos prontos.

Eloise tombara a cabeça levemente para o lado direito.

— Prontos para o quê? – Indagara.

— Prontos para a guerra! – Bradara Grimes – Matanças por comida só fortalece ainda mais os Salvadores... Precisamos nos unir para enfrentar esse tirano, cortando o mal pela raiz! Precisamos derrubar Negan de uma vez por todas! Essa sim é uma causa pela qual vale a pena morrer!

— O tempo de nuvens negras e medo constante precisam acabar! Nossas comunidades poderão prosperar dignamente, se ajudando entre si em uma verdadeira rede! Não vamos mais precisar tomar decisões que corrói quem somos por dentro! Negan estará morto e os Salvadores não serão mais uma ameaça... – Nova pausa, também breve – Vamos voltar a cuidar do nosso povo, se valendo do suor dos nossos rostos para sobreviver e não de acordos com tiranos assassinos!

— E se qualquer um de nós tombar no campo de batalha... Morrerá com honra por ter lutado por algo realmente importante!

A Imperatriz o encarara por breves instantes, olhando para Hanso, que seguia com a metralhadora em punho. O seu olhar desfilou pelas faces de todos os prisioneiros, aparentemente perdidos em mares de pensamentos e possibilidades que envolviam sua tomada de decisão.

— Pois bem... Você tem um ponto, senhor Grimes, e soube explaná-lo de forma perfeita! Tudo o que você falou realmente faz muito sentido, mas acredito que precisarei de mais do que isso para firmar uma irmandade com Alexandria... Poderia nos ceder um sinal, apenas o suficiente para que possamos sobreviver por enquanto.

O xerife meneara a cabeça. Estava realmente disposto a ceder, desde que evitasse definitivamente qualquer tipo de conflito sem sentido.

— Tudo bem – Respondera – Isso não será um problema. Estamos organizando grupos de busca, justamente para que possamos começar a juntar o necessário para a próxima visita de Negan. Poderei ajudar... Com pouco.

A mulher ampliara o sorriso em sua face.

— No fim das contas ninguém morreu... Hoje poderemos dormir com a consciência limpa, oficial! – Rick preferira manter-se calado – Então temos uma aliança! – Ela começara a desenganchar sua prótese, retirando a parte ligada as costas e em seguida a peça inteira, entregando-a a Hanso, que a essa altura já havia guardado sua arma. Eloise então estendera o braço defeituoso – Irmãos de guerra, senhor Grimes?

O policial já sabia o que fazer. Rick tocara o braço da Imperatriz com o coto, firmando de forma oficial o acordo entre as duas comunidades.

— Irmãos de guerra! – Respondera assertivo.

A Imperatriz mantinha-se sorridente. De certo modo parecia aliviada com o desfecho que toda a trama havia tomado.

— Se você não fosse comprometido com a loira sardenta ali – A mulher apontara para Andrea – Que agora está me fuzilando com os olhos... Eu até chamaria o senhor, policial, para um planejamento mais íntimo na minha choupana no Garden, mas acho que é certinho demais para isso, não é? – Rick apenas mantivera-se simpático, já estava com problemas demais para criar mais um – Que pena... É realmente uma pena...

[...]

Os negócios se deram de forma muito rápida. Assim que o acordo entre as duas comunidades fora firmado, Rick permitira que Hanso e J.J. ajudassem a carregar algumas poucas caixas de mantimentos para o Garden, cumprindo com o sinal exigido por Eloise.

Antes de partir, Hall caminhara brevemente pelos gramados da comunidade, ainda pensativo sobre o dia que talvez fora o mais explosivo de sua vida. Partindo em uma missão praticamente suicida, ajudando a acordar uma aliança entre duas comunidades, revelando os seus sentimentos a Leah, e descobrindo que a mesma está grávida de Tom Price, o mesmo homem que o julgara por dormir com ela, tempos atrás.

A vida seguia dando voltas, mas a história de Vincent Hall parecia ser cíclica. Ele não sabia nomear o que estava sentindo, a dor se tornara tão familiar para ele que aquela altura não passava de um sentimento... Corriqueiro. Amargura, arrependimento, tristeza... Seu corpo agora parecia composto por dezenas de mazelas, todas consumindo os últimos suspiros do médico, que não sabia mais o que fazer.

Pela primeira vez o silêncio o incomodava. Ficar preso em seus pensamentos poderia enlouquecer-lhe mais rápido do que as vozes que o rondava.

Ele queria Leah em seus braços, agora mais o que nunca estava claro que a amava com todo coração e alma, mas ainda assim, algo conspirava para que esse relacionamento não pudesse fluir. Vincent não se sentia traído, pelo menos não por Leah, na verdade era como se tudo isso fosse um grande castigo por conta de todos os erros que outrora cometera.

O novo mundo era o seu purgatório. E era nele que o cirurgião deveria encontrar sua redenção.

— Vincent...

A voz doce fora reconhecida no mesmo instante. Leah Fisher resguardava as mãos nos bolsos do casaco, evitando o frio da longa madrugada. Com os cabelos soltos e os olhos brilhando em lágrimas que não encontravam mais forças para escorrer, Hall vira que ainda havia espaço para um último diálogo, antes que o médico partisse de volta ao Garden.

— Tem certeza que não vai ficar? As comunidades são irmãs agora...

Apesar de tudo pelo que havia passado, apesar de todas as cicatrizes que o médico lhe causara, a adolescente ainda conseguira manter sua aura jovem. Sua hesitação era jovial, assim como sua essência, ainda mantida em seu interior.

O médico abrira um sorriso. Nenhuma palavra naquele momento era mais expressiva do que o olhar que demonstrava.

— Leah... – Ele tocara o rosto de Fisher, sentindo sua pele suave. Suas mãos estavam frias, mas seu peito fervilhava – Eu preciso te pedir perdão... – A menina parecia querer dizer algo, mas Hall a impedira, tocando os seus lábios com o indicador e prosseguindo – Eu prometi te proteger, prometi que cuidaria de você, mas... Eu nunca fui realmente capaz de cuidar de ninguém. Nem mesmo de mim. Preciso que perdoe os meus deslizes... Preciso que me perdoe por todas as vezes que eu te machuquei...

— Esse plano... Vir até aqui... Eu estava com medo, estava com medo do que poderia ocorrer com as pessoas que ainda estão no Garden. Assim como aqui há muitas pessoas boas por lá! Gente que não merece sofrer pela falta de mantimentos, ou pelas mãos de Negan... Eu não sabia o que fazer, não sabia como agir. Deixei essa ideia maluca da Eloise fluir, pois parecia ser a única maneira de concertar as coisas!

O médico respirara profundamente.

— Quando eu cheguei aqui... Quando vi você outra vez... Sabia que não poderia permitir que essa ideia estúpida fosse posta em prática! A Imperatriz parece já ter passado por muita coisa, e acredito que ela estava realmente disposta a se sacrificar... E a nos sacrificar... Mas eu não podia deixar que nada de ruim acontecesse com você, Leah!

— Me perdoe por ter hesitado, por ter posto a sua vida em risco... A do seu filho... Acha que pode me perdoar?

A garota desviara o olhar por breves instantes, iluminando o rosto assim que voltara a encarar o médico.

— É claro que eu te perdoo, Vincent! Eu estava muito confusa... Ainda estou, mas...

Hall a abraçara forte. Leah não precisava dizer mais nada, receber o seu perdão já era o bastante para aliviar o seu coração.

— Acho que nossas histórias são paralelas, andam sempre lado a lado, mas no fim nunca se cruzam... – Hall acarinhava o rosto da jovem, que mantinha os olhos cerrados – Eu quero ter a chance de cuidar de você uma última vez, Leah... Quero acompanhar sua gravidez, e quero fazer o seu parto. Devo isso a você... E devo isso ao Tom também...

Fisher não contivera as lágrimas. Ela parecia tentar falar algo, mas não encontrava forças para tal.

— Eu vou voltar para o Garden, tenho trabalho a fazer por lá, acho que poderei voltar a ajudar as pessoas... Há um grande risco da gripe dos porcos passar para os moradores... Mas eu não vou te abandonar de novo! Eu não sei quais consequências essa guerra vai gerar, mas... Não vou deixar que nada de ruim ocorra com você e com o seu filho! Eu prometo, e dessa vez irei cumprir!

A garota o abraçara ainda mais forte.

— Vincent, eu... Achei que você estava morto... Você simplesmente desapareceu e eu... Eu estava com tanta raiva! As coisas que eu te disse...

— Não precisa dizer mais nada – O médico a interrompera outra vez – Ainda nos veremos mais vezes... Ainda não acabou! – Hall beijara sua testa – Você é minha luz, Leah! Sempre vai ser...

A garota o puxara para si, dando a Vincent um demorado beijo, entre as lágrimas que escorriam pelas duas faces. Hall então caminhara, afastando-se de Leah Fisher, despedindo-se dela mais uma vez. Mas não uma última vez.

Ainda não havia acabado.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Alexandria acabara de firmar uma poderosa aliança para a guerra contra os Salvadores, mas será que isso é o bastante para vencerem? E quanto a Vincent, o que acharam?

Quero saber suas opiniões nos comentários... Nos vemos por lá!

Moi moi.



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