All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 34
Ace Of Spades


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Olá galera! Como estão?

Primeiro gostaria de desejar a todos um feliz 2016! Parafraseando Negan: Que esse ano seja fodasticamente foda para caralho para todos nós! Heuheuehue... Espero que tenham curtido bastante as festividades de fim de ano!

Quero dedicar esse capítulo a memória de Lemmy Kilmister, um grande ídolo, que infelizmente se fora no último mês... Meus pêsames a todos os fãs desse monstro do rock, que assim como eu, sentirão eternamente a falta do vocalista e baixista do Motorhead... Ace Of Spades é totalmente dedicado a ele!

Quero também agradecer a Maritafan que recomendou essa humilde história! Lindas palavras, simplesmente adorei essa surpresa! Espero que prossiga acompanhando a fic e que siga curtindo a trama... Suas palavras surgem como um grande incentivo nesse momento! Kiitos!

Espero que gostem do capítulo. Não adiantarei os POVs, mas posso dizer que haverá bastante Negan por aqui, além de uma surpresa no final!

Boa leitura!



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— Vou deixar o mais claro possível, para que vocês possam entender! – Bradara Rick, as mechas loiro areia recaindo sobre os olhos – Eu não estou mais no comando, Negan está! E é assim que vai ser daqui pra frente!

O xerife dera as costas a Magna, que insistira em lhe perguntar o que o chefe dos Salvadores havia sussurrado em seu ouvido. Um aglomerado de moradores se juntara em frente aos portões, observando a partida dos hostis em seu caminhão militar.

O medo impregnado nos rostos começava a se transmutar em indignação na medida em que percebiam que seu líder, Rick Grimes, nada faria a respeito. O mandatário de Alexandria havia demonstrado sua força em situações parecidas, resolvendo o problema da grande invasão de errantes, e solucionando o caso dos misteriosos assassinatos, que outrora fora revelado terem sido impetrados por James Goodwin.

O problema era que, até o presente momento, não havia sinal algum de que ele se movimentaria para modificar o estado de submissão em que Alexandria se encontrava. Submissão essa causada por ele mesmo, ao subestimar o perigo que os Salvadores representavam.

Ele sabia que havia errado, e não havia um só segundo em que isso não rodeasse sua mente, espancando o seu cérebro em busca de respostas. O policial praticamente não dormia mais, passara a comer muito pouco, e até mesmo o seu desempenho sexual fora afetado por conta dos difíceis momentos vividos.

Rick ainda tinha Andrea, e vice versa. Era nela que ele se apoiava, e era nela que esperava encontrar forças para sair do buraco.

Jesus, o braço mais importante do único plano que havia conseguido traçar, e que o xerife torcia desesperadamente para que desse certo, ainda não havia retornado de sua missão. Rick começava a pensar que talvez tudo tivesse ido por água a baixo, e o pior já começava a se emoldurar em sua mente. Ele sabia que se Paul fosse descoberto de alguma maneira pelos homens de Negan, as coisas ficariam ainda mais feias.

Por mais incrível que parecesse, ainda havia como piorar.

Ele retornara para a sua casa, tentando não ouvir os comentários que se espalhavam pelas vielas da comunidade, reverberando como um grito em um cânion, todos vociferando em alto e bom tom o quanto o policial era fraco e despreparado.

Grimes precisaria ser justamente o contrário disso para conseguir suportar toda a pressão que só se ampliaria a partir de agora. Um verdadeiro líder sabe como, quando e de que forma agir, e agora o xerife precisava provar, nem que fosse para si mesmo, que estava preparado para encarar o maior desafio de toda a sua jornada.

Abrindo a porta de sua casa, Rick adentrara lentamente, fechando-a em um baque logo em seguida. Andrea estava coordenando um grupo para cobrir um perímetro maior, verificando se os homens de Negan não estavam preparando alguma surpresa desagradável. Além disso, também competia a ela escalar novas pessoas para revezarem na torre do campanário, e apenas os melhores atiradores, e também apenas aqueles que fossem de extrema confiança, poderiam realizar tal trabalho.

A preocupação maior do mandatário nesse momento era com o seu filho. Ele vira nos olhos de Carl o quanto ele se decepcionara com a atitude demonstrada por ele, alguém que sempre vira como um homem forte e que em hipótese alguma poderia ser desafiado. Fora assim com o Governador, fora assim com os homens que tentaram abusá-lo, e fora assim quando foram emboscados por um grupo de canibais.

Rick sempre resolvera as coisas. Sempre dera um jeito.

O garoto ainda estava muito sentido pela horrenda morte de Maggie Greene, tendo a cabeça esmagada diante dos seus olhos. E é claro, ainda muito confuso por conta do tiro recebido meses atrás, que lhe tirara um dos olhos, parte da memória e da própria personalidade. O xerife sentia que precisava estar mais próximo dele, que precisava não só apoiar como doutrinar e guiar o filho.

A loucura do mundo mal o deixava pensar.

Grimes subira os primeiros degraus das escadas. Estava decidido a ter uma esclarecedora conversa com Carl.

— Carl... – O xerife passara a mão esquerda em toda a extensão do rosto, enxugando a fria transpiração tensa – Carl! Desce aqui, precisamos conversar!

Alguns segundos se passaram. Nenhuma resposta.

— Carl! Desce aqui!

Arregalando os olhos e sentindo os batimentos explodirem em seu peito, Rick subira velozmente as escadas, olhando quarto por quarto, cômodo por cômodo, fazendo uma varredura completa por toda a casa.

Carl não estava ali. O seu filho havia desaparecido.

*****

Dwight fizera um pequeno gesto com a mão, assim que notara a chegada do comboio de Negan no horizonte. Obedecendo com o rabo entre as pernas, o velho Joe nem sequer olhara para o seu rosto, dirigindo-se rapidamente até os grandes portões do Santuário, e com alguma dificuldade, puxando-o e abrindo-o.

Não era tão fácil assim liberar a entrada da comunidade, uma grande fábrica têxtil, abandonada como tudo assim que os mortos chegaram. Os portões de ferro, com seus quase três metros de altura, ganharam um pequeno complemento para a segurança quando, Negan, inspirado por alguma de suas referencias escusas, tivera a brilhante ideia de empalar dezenas de errantes em lanças de madeira, pondo-os nas grades de proteção, com o objetivo de afastar qualquer aproximação dos famintões, e também de qualquer outro que se atrevesse a tal.

Com a besta em mãos, como sempre, o braço direito do líder dos Salvadores dera mais algumas ordens, pedindo para que aqueles que haviam interrompido os trabalhos para observarem a chegada de seu chefe, retornassem as suas devidas funções.

Retirando o colírio de um dos bolsos, Dwight aplicara duas gotas sobre o olho queimado, sentindo um breve ardor, que se espalhara por toda a sua cabeça, principalmente na área cicatrizada. Apesar de doloroso, aquilo melhorava sua visão, tornando-a menos embaçada. O que era de suma importância para um arqueiro.

Ao seu lado, Tara, uma das poucas mulheres membro do grupo de elite dos Salvadores, aguardava a chegada de Negan com certo receio no olhar. Por vezes voltara-se para Dwight, fitando-o com os olhos arregalados como se esperasse que ele lhe dissesse algo. Mantendo a mesma pose altiva de sempre, o motoqueiro apenas refutava sua atitude, como que lhe dizendo para ficar tranquila.

A preocupação de Tara estava no fato de seu grupo ter conseguido capturar o diplomata do Hill Top, e que agora parecia também trabalhar para Rick maneta, quando o mesmo seguira Dwight após ter sido liberado pelo povo de Alexandria.

Negan provavelmente teria muitas perguntas a fazer ao barbudo, já conhecido por suas habilidades quase sobre-humanas no quesito combate corpo a corpo. O problema é que, após ser amarrado e posto na traseira do Jipe que levara os Salvadores de volta ao Santuário, Jesus simplesmente desaparecera, sem deixar nenhuma pista de como conseguira fazer aquilo.

O motoqueiro então pedira que nada fosse dito a seu líder, e que todos se comportassem como se nada tivesse acontecido. Era quase certo que Negan ficaria puto para caralho ao saber que seus homens haviam perdido um refém tão valioso. O melhor então era esconder esse segredo.

O comboio chegara com dois batedores em motos, abrindo caminho para o caminhão militar que vinha logo atrás. O som potente das motocicletas logo se ampliara, avisando a todos que o grupo havia retornado de mais uma coleta de tributos.

A comunidade era mantida pelos acordos firmados por seu líder. Dos mantimentos, medicamentos, água e demais suprimentos usurpados de outras comunidades, obrigadas a fazerem parte da rede. A população que ali residia, formada também por mulheres, crianças e idosos, e não somente por soldados Salvadores, precisava trabalhar duro, em um sistema de pontos criado por Negan, para que pudessem tem o que comer, vestir e se abrigar.

O sistema era duro, e impossível de ser quebrado. Uma vez lá dentro, as regras precisavam ser obedecidas. Apenas algumas mulheres, selecionadas a dedo pelo mandatário recebiam o poder de escolha de não mais viver sob o cruel sistema de pontos. E Dwight sabia mais do que ninguém, como essa exceção funcionava.

Aportando no pátio da fábrica, o caminhão tivera os motores desligados, e pouco a pouco os homens começaram a descer de sua carroceria, onde dividiam espaço com os colchões, roupas, mantas e caixas de medicamentos trazidos de Alexandria.

Saindo pela porta do carona do veículo militar, Negan descera, abrindo os braços e esticando as costas, exibindo sua velha companheira Lucille, muito bem segura entre seus dedos. Abrindo os olhos e voltando-se para Dwight, o líder dos Salvadores abrira um sorriso, sem conseguir esconder a surpresa em vê-lo ali, diante dele.

— Mas quem diria... – O mandatário se aproximara. O largo sorriso exibindo os dentes – Primeiro os mortos invadem a terra, e agora temos a porra de um fantasma?

O motoqueiro muxoxara em desdém, sorrindo de forma mais discreta.

— Ouvi dizer que os boatos a respeito da minha morte se espalharam muito rápido... Vocês são muito exagerados!

Negan dera dois tapas em seu ombro.

— Não se anime muito – O portador da Lucille mantinha o sarcasmo na voz – Podemos resolver isso fácil, fácil!

Deixando o seu imediato de lado, Negan bradara em voz alta, para que todos no pátio pudessem compreendê-lo.

— Levem as coisas pra dentro! E sejam rápidos! Daqui a pouco vai escurecer e eu estou a fim de tirar um puta ronco! E ainda tem que sobrar tempo pra meter em pelo menos duas das minhas putinhas! – O seu olhar se direcionara para Dwight – Vocês estão me entendendo? Essa noite eu quero trepar com as minhas meninas até o sol raiar!

O motoqueiro tivera que guardar o ódio dentro de si. Suas mãos começaram a tremer, mas o arqueiro respirara profundamente, procurando se controlar. Era humilhante não poder fazer nada. Era degradante ter de passar por tudo aquilo calado.

Obedecendo as ordens recebidas, dois dos Salvadores, Jack e Tara, dirigiram-se à carroceria do caminhão, começando a descarregar os tributos pagos por Alexandria. Dwight não iria ajudar, após verificar sua aljava, posicionou a besta em seu ombro e lentamente passara a caminhar de volta ao interior de sua comunidade.

Sua cabeça parecia que iria estourar. A marca da queimadura no rosto voltara a latejar, tamanho o estresse contido. Ele já se acostumara com o tratamento recebido por seu líder, e também conhecia muito bem as consequências caso tentasse enfrentar Negan.

Os seus passos foram interrompidos pelo inesperado. Uma saraivada de tiros fora disparada contra Jack e Tara, fuzilando-os e matando-os instantaneamente. Sangue jorrava por seus tórax e crânios totalmente esfacelados, os miolos espalhados pelo chão.

Dwight armara sua balestra, deixando-a pronta para disparar. Sorrateiramente ele se esgueirara até a lateral do caminhão, enquanto outros Salvadores, assustados, direcionavam-se até o local, esperando descobrir o que ocorrera.

O motoqueiro vira um garoto descendo do caminhão. Com um chapéu de cowboy e uma grande bandagem do lado direito do rosto, o menino que deveria ter onze anos, carregava nas mãos uma metralhadora HK 416, praticamente do seu tamanho. Dwight sabia que já havia visto aquele moleque em algum lugar, e deduzira que provavelmente ele viera escondido entre os colchões e cobertas.

O garoto demonstrava por seu único olho uma decisão com a qual o arqueiro nunca havia se deparado. Erguendo a arma com as duas mãos, ele apontara para os homens que se achegavam, e não parecia temer nada.

— Saiam do meu caminho! – Bradara.

Os Salvadores que ali se encontravam, com exceção de Dwight que seguia à espreita, largaram no solo seus machados e bastões, sabendo que daquela forma não poderiam encarar a potente arma que o menino trazia em mãos. Controlando a respiração, o arqueiro mirara em direção a testa do menino, aguardando apenas o próximo movimento para executá-lo.

— Eu só quero o Negan! Ele matou a minha amiga, então acho mais do que justo matá-lo também!

A bota de Negan batendo compassadamente sobre o solo se destacara em meio ao breve silêncio que fora feito após a aparição do misterioso garoto armado. O mandatário do Santuário se dirigira até o menino, mantendo no rosto o mesmo ar sarcástico já habitual.

A metralhadora fora apontada diretamente para o seu rosto, sendo firmemente apoiada pelas pequenas mãos do jovem atirador. Dwight também direcionara sua balestra para a face de Negan. Seria tão fácil acabar com tudo, ali mesmo, naquele exato momento. A flecha atravessaria sua testa, tirando aquele maldito sorriso de seu rosto.

Mas também seria burrice demais.

— Caralho, moleque... – Sua voz grave se destacara – Você é mesmo uma gracinha! O que foi, o seu papai te mandou aqui para me matar? – Ele voltara os olhos para a HK – Admita, você escolheu essa arma porque ela parece foda pra caralho, não foi? Puta que pariu! Ela é quase do seu tamanho, pivete!

— Olha, eu tenho que admitir – Prosseguira – Você me fez borrar de medo aqui! Agora é melhor você...

O menino resolvera não prosseguir ouvindo as bravatas proferidas por Negan. Erguendo o cano de sua metralhadora, voltara a disparar um infindável número de tiros, caindo para trás vide o coice que a pesada arma lhe dera. Os disparos então começaram a ser desferidos a esmo, na medida em que o garoto tentava erguer-se, reassumindo o controle do próprio armamento.

O deslize dera tempo suficiente para que Dwight disparasse uma flecha, acertando de raspão a mão direita do atirador, fazendo com que soltasse sua arma no chão. Em passos rápidos e silenciosos, o arqueiro se aproximara do menino, que tentava conter o sangramento pressionando o local atingido. Dwight chutara a metralhadora para o lado, armando novamente sua besta, e apontando-a em direção a testa do jovem alexandrino.

— Últimas palavras, moleque! – O dedo já estava pronto para disparar a derradeira flecha.

— Espera! Dwight!

Erguendo-se do chão, milagrosamente sem ter sido atingido por nenhum disparo, Negan pedira a seu imediato que não executasse o garoto. Limpando o casaco de couro, e tentando retomar sua habitual postura, o mandatário, sem um arranhão sequer, caminhara despreocupadamente em direção aos dois, erguendo a mão direita e sinalizando para que Dwight abaixasse sua arma.

Mesmo a contragosto, o motoqueiro obedecera.

— Mas que porra... – O líder gargalhara nervosamente, soltando um suspiro de alívio em seguida – Por favor, Dwight, não é assim que tratamos os nossos convidados, não é?

[...]

Negan olhara para as quatro vítimas que Carl Grimes fizera, em sua irracional investida. Todas mortas instantaneamente, fumaça ainda saindo pelos inúmeros buracos de balas em seus corpos. O sangue rubro que escorria, começava a formar uma poça uníssona, refletindo de forma espelhada, o medo que o filho de Rick agora sentia.

— Mudança de planos, rapazes! – Proferira a seus Salvadores – Queimem os corpos, terminaremos de descarregar amanhã! – Ele olhara novamente para Carl, sentado ao chão, a dor lancinante em sua mão produzia-lhe calafrios – E quanto a você... Vem comigo, quero te mostrar o lugar!

Ele puxara o jovem Grimes pela gola da camisa, obrigando-o a ficar de pé.

— É... – Ele abrira um novo sorriso, tão troçado quanto qualquer outro que já dera – Parece que não vou trepar com minhas meninas essa noite.

Deixando o pátio, Negan guiara Carl até o interior da fábrica. O local ainda estava bastante conservado, mantendo boa parte de sua estrutura original, como as máquinas e os antigos postos de trabalho. O lugar era imenso, dividido em diversos compartimentos e andares, com escritórios, refeitório, banheiros e alguns galpões nos fundos.

Logo após a entrada principal havia um detector de metal desativado, que deveria servir para verificar se algum funcionário da linha de montagem não havia tentado roubar alguma peça ou algo do tipo. Ao lado da velha máquina em formato de portal, um homem que aparentava ter cinquenta e tantos anos, parecia extremamente nervoso, principalmente ao se aproximar de Negan, dirigindo-lhe a palavra.

— Senhor Negan, eu... Ouvi alguns tiros – A testa enrugada era recoberta por uma faixa branca, provavelmente cobrindo algum ferimento – Devemos nos preocupar?

— Está tudo sob controle – Respondera brevemente.

O homem voltara a falar. Parecia hesitante.

— Molly ainda está doente... Ela piorou nos últimos dias... Queria saber se algum dos medicamentos que o senhor trouxe poderia servir para ela.

O mandatário meneara a cabeça positivamente.

— Trouxemos bastante coisa... Catalogaremos mais tarde. Acho que você já possui pontos suficientes para pegar os remédios necessários.

O homem dera um sorriso aliviado.

— Muito... Muito obrigado senhor!

Carl notara o medo impresso no olhar daquele que se dirigira ao seu líder, assim como o aparente receio em cada palavra, em cada gesto. Todos ali pareciam temer Negan, e a sociedade que era agora apresentada ao jovem Grimes, claramente tinha os seus pilares moldados sob este ponto.

Após mais alguns passos, chegando até uma escadaria de ferro que levava aos andares superiores, os dois foram novamente interrompidos. Dessa vez fora um homem mais jovem, por volta dos trinta, usando um casaco de lã, cabelos curtos e negros e óculos estilo fundo de garrafa.

— Vi o seu caminhão chegando, senhor. Já estava indo ao seu encontro – Ele descia as escadas, o barulho dos passos sobre o metal se destacando – Precisamos nos preocupar com os tiros?

— Não, Carson. Tudo já foi controlado.

Carson estacionara em frente a Negan, arrumando os óculos nervosamente.

— Temos um problema, senhor...

— Espero que não esteja se referindo a Amber – Rebatera o líder.

Arrumando novamente os óculos, totalmente hesitante e ansioso, Carson respondera.

— Receio que sim...

Negan fizera sinal de negativa com a cabeça, suspirando em seguida, como se estivesse decepcionado com algo.

— Isso é realmente uma merda... – Lamentara – Eu irei falar com ela, resolveremos isso agora! Vá buscar o Mark – Ordenara – Mas não faça nada com ele ainda, só o prendam!

Carson respondera positivamente, deslocando-se rapidamente para executar a tarefa recebida. Carl seguia quieto, apenas acompanhando os passos de Negan, ainda sem saber o que o louco homem pretendia fazer com ele. O líder dos Salvadores parecia quase impossível de se ler, e por mais que tentasse, Grimes não conseguia prever quais seriam os seus próximos passos.

Assim que alcançaram o segundo andar, em uma área que outrora também servia a uma linha de montagem, Negan olhara para baixo, admirando as dezenas de pessoas que andavam de um lado a outro, trabalhando por sua sobrevivência, executando desesperadamente suas funções para que obtivessem pontos bastantes para conseguir o que comer.

— Negan retornou! – Bradara uma voz qualquer em meio à multidão.

Os olhares todos se direcionaram a seu líder, que de peito inflado, como um verdadeiro ditador, olhara para todos com desprezo, enquanto que no térreo os moradores ajoelhavam-se, evitando encará-lo enquanto o veneravam como se fosse um deus.

— Voltem aos seus postos! – Bradara, sinalizando com a mão direita para que se levantassem. Negan olhara novamente para Carl, que de olhos arregalados, surpreendia-se a cada segundo com o que se deparava – Viu, moleque? Isso é o que eu chamo de respeito! É disso que precisamos hoje em dia!

Carl respirara fundo antes de se manifestar pela primeira vez.

— O que você vai fazer comigo?

Negan descera de seu pedestal imaginário, dando um tapa nas costas do jovem Grimes e caminhando com ele a seu lado até o terceiro andar, subindo as escadas como se estivesse em um shopping.

— Primeiro de tudo... Não me faça mudar a imagem a respeito de você! Você é foda pra caralho, moleque! Não tem que se assustar com nada, então não se assuste comigo. Não quero me decepcionar com você... E segundo... Você acha mesmo que eu vou querer estragar a surpresa?

Uma risada curta se seguira. Ele parecia realmente se divertir com a situação.

Negan levara o filho de Rick até uma sala no terceiro andar, um grande escritório que agora servia a outros propósitos. As cortinas nas janelas, tapetes persas no chão, confortáveis poltronas com belíssimas almofadas, além de duas camas redondas, recobertas por estampadas colchas limpas.

No interior dessa mesma sala, seis mulheres em trajes ínfimos, acomodavam-se nas poltronas e camas. Uma delas lia um livro, três jogavam carteado e outras duas conversavam, sentadas próximas a uma mesinha de centro onde algumas bebidas repousavam.

— Tá vendo esses peitões, moleque? – Indagara Negan, cutucando Carl – Elas bem que parecem aquelas sapatões de meia idade, não é? Pode olhar, eu sei que você tá curtindo! Esses peitos ainda são bem firmes, acredita?

As mulheres eram todas belíssimas, e suas lingeries ressaltavam ainda mais suas curvas. Carl notara que as duas mulheres que conversavam, não pareciam tão à vontade quanto às demais. Uma delas, um pouco mais velha, de cabelos negros ondulados, tentava consolar a mais jovem, uma bela loira de curtos cabelos, que parecia ter lágrimas nos olhos.

— Pega leve com ela, Negan – A mais velha dissera, complacente – Você sabe o quanto esse período de adaptação é difícil para nós.

O portador da Lucille abrira os braços, como se demonstrasse indignação.

— Para de falar merda, Sherry! Eu por acaso já bati em alguma de vocês? Agora, por favor, a senhora vadia poderia sair do lado dela para que possamos conversar a vontade?

O mandatário se agachara, olhando diretamente para os olhos da jovem loira.

— Amber, meu bem... – A voz do cruel homem passara a um assustador tom brando – Você não precisa ter medo, afinal, você está aqui de forma voluntária, e sabe muito bem que eu não gosto de forçar ninguém a nada, não é?

Mirando o solo, Amber respondera de forma positiva.

— Então... – Retomara – Você sabe que se quiser voltar para o Mark, para a sua antiga vida no sistema de pontos, tendo que trabalhar para caralho para obter comida e serviços, eu não impedirei, certo?

Uma nova resposta positiva.

— Mas sabe também que terá que renunciar a todos os seus privilégios, certo? Privilégios esses que só são concedidos as minhas esposas, correto? Você pode fazer isso, fique a vontade... Mas Amber, o que você não pode fazer?

Com a voz trêmula, e lágrimas já escorrendo por sua face, a mulher respondera.

— Tra... Trair você...

Negan erguera-se, ampliando a grave voz.

— Isso mesmo, porra! Você não pode me colocar o caralho de um par de chifres! – Todos os olhares se voltaram para o expansivo mandatário. Carl assistia a tudo ao largo – Acho que você já teve tempo suficiente para pensar na merda que fez. E então o que vai ser? Vai voltar para o Mark, voltar para o sistema de pontos? Ou vai ficar aqui, mantendo toda essa vida boa que eu dou a cada uma das minhas putinhas?

A mulher soluçava enquanto chorava, os olhos avermelhados e arregalados gritavam em horror.

— Eu... Eu vou ficar... Eu te amo, Negan...

Negan abrira um novo sorriso, dessa vez um totalmente malicioso.

— É claro que ama! – Zombou – E você sabe o que vai acontecer com o Mark, agora que você decidiu ficar, não é?

Ela apenas meneara a cabeça, outra vez de forma positiva.

— Beleza então! Sherry! – Ordenou, já dando as costas, indo em direção a Carl – Vá chamar o Carson, diga a ele que prepare o ferro!

Amber seguira chorando, sendo agora amparada pelas demais garotas.

Após saírem do harém de Negan, o Salvador levara Carl até outra sala, ao lado de onde suas esposas estavam instaladas. O lugar, que também deveria ter servido como escritório, ou sala de reuniões, quando a fábrica ainda funcionava, estava ornado tão suntuosamente quanto o aposento de suas mulheres. O estilo era bastante semelhante, as cortinas, a impecável limpeza, confortáveis poltronas. Carl notara que aquele deveria ser o recinto particular do mandatário do Santuário.

— Feche a porta, garoto.

Negan sentara-se em uma poltrona paralela a uma grande janela de vidro, onde era possível enxergar toda a extensão do pátio, além do horizonte desolado da periferia de Washington. Um breve sinal fora dado, Carl olhara para os lados, antes de sentar-se de fronte ao líder.

— Elas todas são suas...

Negan o interrompera.

— Esposas? Sim... Eu sempre quis ter uma porrada de mulheres, afinal de contas, para quê devemos seguir as leis chatas do antigo mundo? Devemos sempre tentar tornar a vida mais interessante! – Carl não respondera. Seguia encarando-o, engolindo as palavras e tentando digeri-las – Espera... Você sabe do que eu estou falando, não é?

O filho de Rick respondera que sim.

— Eu já sei sobre essas coisas de sexo...

O mandatário coçara a cabeça, continuando com a prosa.

— Mas nãos vamos falar sobre essas merdas... Vamos começar garoto, quero te conhecer melhor – Ele aprumara as costas, buscando uma posição mais confortável – Primeiro preciso dizer que você é esperto pra caralho! Porra, você vem aqui e mata quatro dos meus homens com um caralho de um trabuco gigante! E mais ainda! Você andou por toda a extensão da fábrica e não tentou porra nenhuma contra mim. Você é esperto, moleque, esperto pra caralho... Você sabia que se tentasse me foder mais uma vez, eu iria quebrar esse seu pescocinho, não é?

— Eu... – Carl não sabia o que responder, estava assustado demais.

Foda-se, tanto faz! – Após a interrupção, Negan dera seguimento – Você matou quatro dos meus homens... Não posso te deixar sair impune dessa!

O jovem Grimes seguira o encarando. Ele sabia que Negan queria assustá-lo, e apesar de em partes seu objetivo estar sendo cumprido, Carl não queria dar esse gosto a ele. O Salvador assassinara Maggie, e isso jamais seria esquecido.

— Mas que porra, garoto! Parece que eu estou falando com uma caixa de presente! Por que você não tira essa porra da sua cara? Quero ver o que tem dentro da embalagem!

Carl Grimes permanecera calado. Não estava disposto a tirar as bandagens, não queria ser humilhado por aquele sujeito.

— Quatro homens mortos... Você não vai sair daqui sem punição, então é melhor me obedecer, garoto! Vamos, tire logo essa porra da sua cara!

Apesar de relutante, Grimes resolvera obedecê-lo, temendo que Negan se voltasse contra ele caso insistisse em não fazê-lo. A postura do líder o intimidara, e por saber do que ele era capaz, vide o que já fizera outras vezes, o garoto preferira jogar o seu jogo, ainda sem ter nenhuma ideia do que aquele fim de tarde ainda o reservaria.

Após retirar o chapéu, pondo-o no colo, Carl começara lentamente a retirar a bandagem de sua face, revelando a horrenda marca que o tiro deixara em seu rosto. Assim que o ferimento ficara totalmente exposto, o menino, envergonhado por ter de mostrar algo que a tanto permanecia escondido, olhara diretamente para Negan, que parecia hipnotizado, fitando fixamente o seu ferimento. Os olhos arregalados, surpresos, admirados.

Puta que pariu! Era por isso então que essa porra estava coberta! Isso aí tá nojento pra caralho, moleque! Você já se olhou no espelho? Já deu uma olhada no puta buraco que tem na sua cara? Eu não te culpo por esconder essa merda aí... Caralho! Dá pra ver o buraco do olho! Dá pra ver até o crânio... Eu posso tocar? Hein? Posso?

Carl não conseguira segurar as lágrimas. O seu interior estava despedaçado, cada caco espalhado pelo chão daquela sala.

— Espera aí, garoto... – As feições de Negan se modificaram – Porra, eu não queria magoar você... Foi mal, acho que me empolguei um pouco. É muito fácil esquecer que você é só uma criança... Você tem o quê, onze, doze anos?

O jovem Grimes enxugara as lágrimas com o dorso da mão. Naquele momento, a dor do ferimento impetrado por Dwight não mais lhe incomodava. Apesar de ainda aberto, o rasgo não sangrava mais, o fluxo fora controlado pelo próprio garoto.

A porta da sala fora aberta. Um sujeito magricela, cabelos loiros desarrumados sobre uma cabeça estranhamente desproporcional para o seu esguio corpo, adentrara o local, trazendo Lucille em mãos.

— Desculpe interrompê-lo, senhor Negan... – Assim como todos os outros, o magricela também se encontrava aterrorizado – O senhor deixou Lucille no pátio, então resolvi trazê-la até aqui.

Negan ergueu-se, caminhando em direção ao sujeito.

— Mas que porra, eu nunca me esqueço dela! – Ele estendeu a mão, recebendo o taco – Pelo visto um garoto com uma metralhadora é uma puta distração! – Ele olhara novamente para Carl – Escrotizações a parte, você está foda para caralho! Não cobriria isso se fosse você... Bom, não será um sucesso com as mulheres, mas tenho certeza que ninguém mexerá com você, moleque!

Assim que recebera sua Lucille em mãos, Negan a observara, como se estivesse diante de uma obra de arte. Após o breve momento catártico, o líder dos Salvadores voltara-se novamente para o magricela, que parecia aguardar por novas ordens.

— Você foi gentil com Lucille? – Seu rosto fechara-se em seriedade.

— Sim... Sim, senhor! – Os olhos do magricela pareciam querer saltar de suas órbitas.

— E você a tratou como uma dama? – Voltara a indagar.

O sujeito parecia prestes a entrar em colapso.

— Sim senhor!

Negan dera mais um passo a frente, praticamente colando o rosto com o de seu capanga.

— Você comeu a boceta dela como se ela fosse uma dama?

O homem ficara totalmente sem reação, sem saber o que responder. O suor nervoso escorrendo em sua testa já estava totalmente visível. Quebrando o clima por completo, Negan passara a gargalhar, cerrando os olhos enquanto mergulhava em seu próprio senso de humor sombrio.

— Eu estou de sacanagem contigo, porra! Eu sei que um bastão não tem boceta! Agora cai fora daqui, idiota!

Sem pensar duas vezes, o estranho homem saíra em um pique, praticamente correndo ao deixar a sala. Negan então voltara sua atenção outra vez a Carl, que segurava o chapéu de Rick Grimes firmemente em seus dedos. Por mais que fosse autoconfiante, por mais que achasse que já estava pronto, que já havia crescido e amadurecido o bastante... Tudo o que o garoto mais queria no momento era a presença de seu pai.

— Gentilezas à parte... – Até mesmo a voz de Negan era intimidadora – E convenhamos, eu fui gentil pra caralho com você até agora... Você matou uma caralhada dos meus homens, então nada mais justo do que você fazer algo para mim em troca – Ele ficara em silêncio por breves instantes – Cante uma canção para mim, garoto.

Carl assustara-se com o pedido. Aquele homem aparentava ser muito maluco, era impossível prever os seus passos, pois a qualquer momento ele poderia apresentar uma nova excentricidade. Mover de forma insana uma peça no tabuleiro.

Talvez fosse por isso que ele sempre estava próximo ao xeque-mate.

— Eu não posso... Não conheço nenhuma...

— O caralho que não conhece! – Vociferara – Sua mãe nunca cantou pra você? Você nunca ouviu rádio no carro com o seu pai? Nunca cantou na escola, naqueles corais babacas?

Carl precisara mais uma vez engolir o próprio ego, pois estava diante de outra ordem que não poderia recusar. Respirara profundamente e revirara sua mente, em busca de alguma canção fácil da qual pudesse se lembrar em um momento tão estressante. Uma então brotara instantaneamente, trazendo junto lembranças de sua mãe. Recordações tão embaçadas que pareciam fazer parte de outra vida.

Ele então limpara a garganta e começara.

From this valley they say you are leaving... We shall miss your bright eyes and sweet smile. For you take with you all of the sunshine... – Negan começara a golpear o ar com o seu taco, movimentando-o de um lado a outro – That has brightened our pathway a while...

A imagem de sua mãe estava muito presente em sua cabeça. Cada estrofe, cada parte da canção o transportava para outra época. Uma em que as preocupações e responsabilidades eram infinitamente menores.

Carl interrompera a canção, abismado com a imagem do homem lutando contra o invisível, atacando o ar com a mesma força e ódio com a qual esmagara a cabeça de Maggie.

— Me ignore! Continue a cantar – Vociferara.

O garoto então obedecera.

Then come sit by my side if you love me... Do not hasten to bid me adieu. Just remember the Red River Valley... – Sua voz embargara. O olho já estava tomado por lágrimas – And the cowboy that's loved you so true...

Negan sorrira.

— Essa foi uma canção do caralho! Lucille adora canções, sabia? É o que ela mais gosta depois de esmagar cabeças. Estranho, não? – Carl fechara os olhos, não queria chorar na frente daquele homem – O que foi? Sua mãe cantava essa música pra você? E onde ela está agora? – O silêncio permanecera – Saquei... Morta.

Duas leves batidas na porta foram ouvidas. Negan autorizara a entrada e, Carson, que aparentemente era um dos homens de confiança do déspota, adentrara, outra vez arrumando os óculos antes de falar.

— O ferro está pronto, senhor.

— Ótimo! Reúna todos, estaremos lá em um minuto.

O assassino de Maggie Greene pedira que Carl se levantasse, dizendo ter algo para mostrar a ele. Algo que aparentemente ele iria gostar para caralho. Os dois desceram até o térreo, onde um grande número de pessoas já os aguardava.

Assim que chegara, Negan fora novamente recebido com toda a pompa e circunstância. Após o protocolo cumprido, o mandatário levara Carl até o local que se referira como sendo a “área VIP fodasticamente foda”. O Salvador pedira que ele permanecesse em um dos postos de trabalho, onde teria visão privilegiada de mais um de seus shows de horrores.

Ao lado de uma fornalha tinindo em funcionamento, um homem debatia-se, amarrado a uma cadeira. Próximo a ele, sendo amparada por Sherry, Amber chorava, escondendo o rosto no abraço que sua amiga lhe dera. Negan caminhara até o homem, voltando-se para a multidão que se aglomerava, brigando por espaço para assistir o discurso de seu líder.

— Acho que já estão todos aqui... Segura pra mim, moleque!

Negan estendera Lucille a Carl, que a recebera em mãos, sem nem sequer entender o que estava fazendo.

— O que veremos agora será bastante desagradável – A voz do déspota reverberava pelas paredes da fábrica – Não precisava acontecer dessa forma... Eu não queria que fosse dessa forma. Mas essas são as regras, e as regras precisam ser cumpridas! E vocês sabem por quê?

Todos responderam em uma só voz.

— PORQUE AS REGRAS NOS MANTÉM VIVOS!

— É isso mesmo... Nós sobrevivemos, proporcionamos segurança a toda nossa rede de comunidades... Recriamos a civilização. Nós somos os Salvadores! – Negan mais parecia um político, discursando com fervor para seus eleitores – Não dá para viver sem as regras... Tudo isso aqui só funciona graças a elas!

Ele chamara Carson com um gesto discreto. O homem de óculos fora até ele, entregando-lhe uma luva, parecida com aquela de cozinha, própria para manusear coisas quentes.

— Não importa se os tropeços forem mínimos ou ínfimos... As regras devem ser cumpridas sob qualquer circunstância – Negan arrumara as luvas em suas mãos – Quando eu escolho uma nova esposa, deixo sempre bem claro que o processo é totalmente voluntário! É uma honra estar ao meu lado! Deixar de viver sob o sistema de pontos... E isso requer apenas um preço. Devoção total a mim!

Outro de seus homens dirigira-se até a fornalha, retirando de lá um varão de metal que continha em sua ponta um estranho objeto. Carl precisara aprumar a visão para atestar que se tratava de um ferro de passar roupa.

— Ao que parece isso não é muito fácil para algumas de vocês. Mas ou é isso... – Negan segurara o ferro, aproximando-se ainda mais do homem preso à cadeira – Ou então encaram o ferro quente!

Carl percebera o que iria ocorrer. Seu coração disparara.

— Foi mal Mark, mas as coisas são assim!

Negan segurara Mark pelo queixo, impedindo que pudesse movimentar a cabeça. Com a mão direita pressionara o ferro quente sobre o lado esquerdo de seu rosto, provocando uma queimadura de quarto grau em boa parte de sua face. Ao levantar o ferro, parte do tecido viera junto, grudado no utensílio doméstico, deturpado pela mente brutal de Negan.

— Viu? Já acabou – O déspota ainda encontrava espaço para troçar – O que foi, desmaiou? – A cabeça de Mark tombara para o lado. Ele apagara, não suportando tamanha dor – Viadinho!

O mandatário erguera o ferro quente, como se fosse um troféu.

— A conta está quitada. Tudo foi perdoado! Mark carregará para sempre a marca de sua vergonha! Todos sempre saberão o que ele fez! Espero que tenham aprendido uma lição com isso... Pois eu realmente não quero ter de repetir essa merda toda!

Carl notara que Amber se desesperara ao ver seu ‘marido’ fazer o que fez. Ela chorava copiosamente, e até tentara ir até Mark, mas fora impedida por Dwight, que também assistia a tudo. Grimes agora finalmente entendera o porquê da queimadura no rosto do arqueiro. E pela troca de olhares, e da forma como se trataram, notara também que Sherry deveria ter sido sua namorada, ou esposa.

O menino entregara Lucille de volta a seu dono, assim que fora solicitado. Ele e Negan passaram então a se dirigir de volta aos aposentos do mandatário, subindo outra vez as escadas de ferro.

— Isso foi do caralho, não foi? – Negan parecia bastante empolgado. Sua loucura aflorava por seus poros – Agora vem comigo, ainda não decidi o que vou fazer com você.

Carl seguia de cabeça baixa.

— Posso colocar os meus curativos de volta? – O garoto estava bastante incomodado por ter de expor o seu ferimento para todos os moradores do Santuário.

De fronte a porta, com a mão na maçaneta, o Salvador respondera.

— É claro que não, porra!

Grimes o olhara, sua irritação alcançara um nível que não mais conseguia conter.

— E por que não posso, caralho? – Indagara, sem medo de encará-lo.

Negan erguera as mãos espalmadas, em sinal de rendição.

— Opa, opa... Olha só, o senhor culhões de titânio voltou! – Os dois adentraram a sala. Negan fechara a porta, achegando-se a Carl – Você não pode porque eu ainda não terminei com você – Ele agora estava realmente sério, mal lembrando o sarcástico de outrora – Você realmente achou que bastava cantar para mim que tudo ficaria bem?

— Você é um garoto esperto. O que acha que eu devo fazer? Não posso simplesmente deixá-lo ir... Não depois do que fez! – Negan caminhara em direção a sua poltrona, sentando-se e coçando o queixo, fazendo uma breve pausa enquanto refletia – Devo matá-lo? Ou seria mais justo apenas marcá-lo com o ferro?

Carl Grimes prosseguira de pé, ouvindo todas as palavras com um nó na garganta. Estava difícil engolir a própria saliva.

— O que me sugere?

Retirando coragem do seu âmago, o filho de Rick resolvera incorporar o próprio pai, imaginando o que o seu velho diria ao assassino naquele momento.

— Acho que você deveria se matar, para me poupar o trabalho de acabar com você!

O mandatário caíra na gargalhada.

— É... Você é realmente um moleque foda pra caralho! Não para de me impressionar... Grande garoto! – Ele fitara o rosto do jovem Grimes, que não desviara o olhar – A grande merda que fode tudo é que eu olho pra você, e não consigo imaginar nenhuma punição que te foda mais do que o mundo já te fodeu! Mas não se preocupe – Ele se inclinara na poltrona – Pensarei em algo especial.

*****

— Ok... – Magna segurava sua lanterna, apontando para os lados enquanto mantinha a pistola firmemente em sua mão direita – Você pode me explicar só mais uma vez por que diabos estamos aqui depois do pôr do sol?

Tom caminhava a seu lado, juntamente a Yumiko e Aaron, todos iluminando a relva próxima a Alexandria com suas lanternas, tentando deixar o local o mais seguro possível. Price tinha uma Glock na cintura e uma machadinha na mão direita. Yumiko trazia o seu arco, e Aaron, que cobria a retaguarda, utilizava um facão para se proteger.

— Carl desapareceu, o Rick pirou e resolveu mandar a gente mata a dentro para procurar alguma pista do moleque... Ele, Andrea, Michonne e o restante do time de elite seguiram pelo outro lado... E aqui estamos nós! Ou morremos, ou encontramos o garoto!

O soldador sorrira, olhando para Magna, que zombara de sua resposta sarcástica.

— Muito obrigada, Tom! Agora sim, estou muito mais tranquila! – Troçara Magna. Yumiko rira, assim como Aaron, que apesar do temor, não conseguira se conter.

O grupo seguira caminhando. A asiática, mais acostumada a rastrear, já que era caçadora em seu antigo grupo, tentava encontrar pistas a respeito do paradeiro do filho de Rick. Até então ainda não se sabia se ele havia sido sequestrado, ou se fugira da comunidade.

Price, que agora liderava a fila, sabia dos riscos de sair à noite em meio à floresta tenebrosa. Ele até entendera o desespero de Grimes, mas sabia que sua ideia fora totalmente idiota e impensada. Ele estava pondo em risco os seus melhores homens e mulheres.

O som dos animais a noite era facilmente confundido com os grunhidos dos errantes, que se tornavam ainda mais perigosos com a ausência de luz solar. Até mesmo para os ouvidos mais treinados era necessária total atenção, pois um deslize, um descuido, poderia significar suas mortes.

Aaron parecera escutar algo, estendera a mão direita, pedindo silêncio a todos. O grupo então parou de caminhar, fazendo com os olhos e ouvidos, uma varredura completa por todo o perímetro, em busca de respostas para o que teria chamado à atenção do recrutador.

Um impacto fora ouvido, dessa vez por todos. Passos em meio à mata, vindos de todas as partes, confundiram totalmente os sentidos dos integrantes do grupo, que já estavam com as armas prontas para entrar em combate.

De repente tudo cessara. O silêncio voltara a imperar. Tom tomara a iniciativa, dando três passos em direção a oeste, de onde deduzira que o impacto tivera origem. Seus pés toparam com um pacote. Algo grande, maciço, muito parecido com um corpo humano. Magna direcionara sua lanterna, e após iluminar atestara se tratar de um grande saco de lona, com um zíper em toda a sua extensão.

O pacote se mexia, se debatendo, movendo-se de um lado a outro. Price pensara se tratar de um errante, mas ainda assim, muita coisa ali não parecia fazer sentido. Observando o pacote com maior atenção, notara que no mesmo encontrava-se escrito: “NÃO É UM MORTO-VIVO, LEIA O BILHETE”.

O tal bilhete estava colado com fita adesiva, logo abaixo da mensagem grifada com pincel negro. Tom o retirara, aproximando o envelope dos olhos, tentando ler o que ali fora escrito.

“DA IMPERATRIZ DO GARDEN PARA RICK GRIMES, SENHOR DE ALEXANDRIA.”

Abaixo do remetente havia um selo, estilo colonial, daqueles feitos apenas com um anel. Price então abaixara-se, olhando por mais alguns segundos o debater do pacote, antes de abrir o zíper, revelando o seu conteúdo.

Yumiko, Magna e Aaron apontavam suas armas em direção ao saco de lona, pareciam nervosos, tão espantados e curiosos quanto Tom Price.

Seus dedos puxaram o zíper. Seus olhos se arregalaram. Ele não conseguira conter a exclamação de espanto.

— Mas que porra... Doc? Doc, é você?


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram?

Negan e Carl... Clássica passagem das hq’s que eu adorei adaptar por aqui!

O que acharam da surpresa no final?

Nos vemos nos comentários...

Moi moi.


~ ERRATA ~
Quero agradecer a minha grande amiga Menta por me apresentar a canção Red River Valley, utilizada nesse capítulo na parte em que Carl canta para Negan... Essa música me marcou bastante, principalmente ao escutar uma especial interpretação da mesma, portanto, Kiitos! Obrigado Menta, os devidos créditos são todos seus!



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