Meus olhos se abriram devagar. Esperei pela dor, mas ela não veio. A cor vibrante da realidade assustou meus olhos desacostumados que fizeram um pequeno esforço – bem menor do que eu esperava - no intuito de discernir sonho da realidade. Tudo era nítido demais, limpo, claro, vivo demais para ser mais um de meus sonhos.

Um odor forte invadiu minhas narinas, indefinido, me alertou de que não estava morta, não ainda. Não reconheci o local em que estava deitada, mas o cheiro que me atingia - familiar e estranho ao mesmo tempo – me deu a certeza de que estava viva, e que não estava mais sozinha. Tive a impressão de estar num museu muito bem cuidado, todas as peças do local pareciam obras de arte, inclusive a cama e as peças de uso pessoal. A cama era de marfim, com flores esculpidas em cada curva e todos os outros moveis pareciam de madeira maciça e pesada. As almofadas ao meu redor eram bordadas a fios de ouro e prata, sempre com imagens gloriosas de batalhas ou cenas de amor entre criaturas místicas. O aroma do local lembrava jasmim fresco com toques amadeirados como se colocassem uma arvore bem no centro do quarto.

De repente senti que havia alguém do meu lado esquerdo, mas não me virei para ver quem era. Essa presença me dava uma incrível sensação de conforto e segurança. Tinha certeza de que era alguém familiar e em quem eu confiava muito. Meus olhos se fecharam novamente, temendo que essa fosse somente mais uma ilusão. Fiquei alguns segundos tentando saber se eu estava mesmo sonhando ou acordada. Quando finalmente consegui abrir os olhos encontrei o rosto de Jake debruçado sobre o meu, chorando e sorrindo, aliviado e feliz. Seus lábios se aproximaram dos meus e ao me tocarem o mundo deixou de existir. Para mim, naquele momento só existia Jake, Jake e eu.

Um ruído rouco me trouxe de volta. Tinha mais alguém ali. Alguém limpava a garganta ruidosamente, desconfortavelmente. Um esforço tremendo foi necessário para que meus lábios, minhas mãos, meu corpo todo se afastasse de Jake e procurasse a origem daquele som embaraçoso. Olhei de volta para seus olhos atentos em mim, foquei toda a minha atenção naqueles belos olhos castanhos e a profundidade de sua pureza me hipnotizou. Sua pele bronzeada cintilava sob os raios do sol que lhe tocavam tão carinhosamente quanto meus dedos desejavam poder fazê-lo. Seus lábios emborcavam um sorriso tímido. Nem sei quanto tempo fiquei ali. Parada. Hipnotizada. Só me dei conta da realidade e da platéia ansiosa que nos observava quando senti os braços fortes de Seth em minha cintura. Dando-me um forte e esmagador abraço. Era bom saber que estava viva.

- Oh, Angel! Que bom que você acordou!! Senti tanto a sua falta... – a voz chorosa de Seth parecia tão sincera, quase infantil.

- Angie? – Jake, já de pé ao lado da imensa cama, me chamou como se pedisse permissão, as palmas de suas mãos agora viradas para cima – Amor, você está bem? Você me reconhece?

“Como assim? Se eu te reconheço? Você é meu Jacob!” - Eu tentei responder, mas o som da voz de Jake soava como musica em meus ouvidos e todo o resto parecia um sonho. Jake estava ainda mais bonito do que eu imaginava. Seu corpo, sua pele, seus lábios, tudo chamava por mim.

- Oww!!! Amor... – senti Jake se contorcendo levemente sobre mim, antes mesmo que eu pudesse descobrir como é que eu havia chegado tão rápido até ele – só porque eu me curo rápido não quer dizer que não sinto dor...

Eu procurei seus olhos novamente enquanto tentava manter meus braços calmos ao lado do meu corpo. Jake sorria seu confortante sorriso maroto para mim.

- Dê-lhe um momento Jake – reconheci o timbre da voz de Theodore – como você esta se sentindo Angel, minha querida?

- Humm, eu... – parei quando ouvi o som da minha própria voz, não parecia minha. Procurei minhas mãos e elas também não pareciam minhas. Minhas mãos tinham um tom dourado, meus olhos subiram pelos braços e vislumbraram todo o resto do meu corpo visível sob o fino tecido da camisola que eu usava. Minha pele toda resplandecia sob o pano branco e transparente. Tentei decifrar o que havia acontecido, o que tinha mudado. Sentia que alguma coisa havia mudado em mim, mas não podia dizer o que era – o que... eu...

- A transformação terminou Angel... a dor acabou – Theodore se aproximou lentamente e postou suas mãos gentis sobre meus cabelos – e agora você esta... adorável! Ainda mais bela do que imaginei que ficaria! Tão...

- Linda! – Jake completou – Linda como o sol!

Eu esperei pelo desconforto que as palavras carinhosas de Theodore me causariam, mas o calor em minhas bochechas que sempre sucediam um elogio dirigido a mim não veio. Confusão e embaraço tomaram minha mente. Procurei por Jake novamente e timidamente levantei meus ombros, implorando por explicações.

- Amor... você não se lembra? – não respondi, apenas franzi a testa e balancei a cabeça esperando que Jake me explicasse – você... bem, eu... você foi atacada por Giacomo... sim, com certeza foi esse desgraçado que... – seus olhos temerosos procuraram se acalmar e a expressão de Jake voltou a ficar serena – Angie, Giacomo atacou você na floresta. Ele ia te matar... mas Alice te salvou. Tenho que agradecer aquela baixinha de novo...

Alice?!? As imagens começaram a vir como borrões; e as lembranças não pareciam minhas. Eu me esforcei e tentei retroceder alguns dias. Eu podia me lembrar, mas tudo parecia um filme antigo que passava em minha cabeça com péssima resolução, como se aquela vida, a minha vida, tivesse sido há muito tempo atrás. Mas Alice... a visão de Alice se esquivando no escuro da floresta ainda estava viva em minha memória, seu pequeno e frágil corpo se chocando contra aquele monstro grande e forte que tentava vir em minha direção... e então os dentes, as garras e os olhos... os olhos do assassino ficaram nítidos. As negras pupilas dilatadas pulsavam contra o tom dourado daqueles olhos famintos – que em qualquer outra ocasião me pareceriam muito agradáveis e belos – eram tudo que minha fraca memória me permitia visualizar. Um som gutural atingiu meus ouvidos, senti a cama tremer levemente, e a expressão temerosa de Jake e Theodore me fez perceber que eu estava causando aquilo. Meu corpo instintivamente se contraiu em resposta àquela lembrança. Então aquele era Giacomo, Giacomo o assassino. Minhas mãos fechadas em punho ansiavam pela vingança.

Quando me dei conta havia mais seis pessoas no recinto, não apenas três. Quill, Embry, Jared, Brady, Collin e Paul ladeavam Jake e Theodore. Seus braços abertos e corpos curvos se preparavam para me imobilizar quando Seth sorrateiramente se desviou da muralha de homens (e mulheres) aflitos e se aproximou de mim.

- Calma aí gente! É só a Angie! – ele disse se pondo no meio de nós e dando as costas para mim – ela esta bem! Você esta bem, não esta Angie? – Seth perguntou baixinho e piscou sorrindo.

- Arran... – foi o que saiu da minha boca aberta com a surpresa daquela cena. Tentei me acalmar e uma onda de paz percorreu meu corpo provocando uma sensação agradável de relaxamento.

- Uau! Como foi que você fez isso? – Embry perguntou ao se aproximar curioso desfazendo a posição de defesa que ainda mantinha os outros imóveis ao meu redor.

- Fez o que?

- Isso!! – Embry ainda confuso insistia – Isso Angel! Como você conseguiu parar a... como você conseguiu se acalmar assim, tão rápido assim?

- Humm... eu... eu não sei!

- Ora, Embry! – Seth novamente se punha ao meu lado – eu já disse... é a Angel, a nossa Angel! Eu sabia que você conseguiria Angie! – ele sorriu largamente e postou um beijo carinhoso em minha bochecha – se Bella conseguiu com tanta facilidade era obvio que você também conseguiria! Eu sabia!

- Mas isso é impossível – Theodore exclamou – não é possível! Levam-se anos para adquirir tamanho auto controle. Isso não é possível!

- Nada é impossível para as Swan Theodore! – Jake afirmou empurrando Seth do meu lado e tomando seu lugar – nada é impossível para minha Angel!