Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 19
Capitulo 18 - Noah


Notas iniciais do capítulo

Aqui nesse mundinho fechado
Ela é incrível
Com seu vestidinho preto
Indefectível
Eu detesto o jeito dela
Mas pensando bem
Ela fecha com meus sonhos
Como ninguém
— Skank



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Fazia exatamente 5 minutos que a menina por quem eu estava apaixonado acabara de bater a porta em minha cara, e sair. E eu tinha a deixado ir. Meu coração estava em prantos, e eu não consegui me mover do lugar. Meus olhos estavam travado na porta de coloração branca que já estava desgastada, e eu só queria chorar. Meus Deus, eu queria chorar por uma menina.

Quando eu tinha redirecionado o meu olhar para seus olhos, fora a mesma coisa que levar uma pancada intensa no estômago. Eu sabia que o que tivera fora hediondo. Sentia nojo de mim mesmo. Estava desacreditado consigo mesmo. Queria poder me movimentar, correr atrás dela, pedir perdão. Mas eu tinha visto o seu olhar. O olhar de que nada. Nada Mesmo. Nenhuma coisa que eu tentasse fazer, faria diferença.

Como me sentia burro. Como ela tinha toda a razão de fazer aquilo, mas precisava tanto dela. Não acreditei que a tinha deixado sair do apartamento sem ao menos tentar me desculpar. Eu não acreditei que não larguei tudo. Toda aquela bobagem de não se apaixonar, e não corri atrás dela. Eu não acreditava que tinha sido tão burro a ponto de ter transado com Carla.

Tudo começara com aquela conversa, aqueles olhos sem maldade, aqueles lábios leves. Ela começou me dizendo tudo sobre ela, sobre como seus pais estavam a manipulando, como tudo estava complicado, e eu fiquei dando-lhes conselhos, não vendo a hora de subir para me encontrar com Sally. Mas toda vez que eu pensava nela, eu ficava em estado de transe, e percebia que eu estava apaixonado por ela. Tinha tido uma regra básica para a faculdade. Não me apaixonar. E quando menos vi, no meio da madrugada, Carla estava nua encima de mim, enquanto tudo que eu conseguia pensar, era como eu estava sendo um idiota.

Meu plano inicial, era acordar antes dela, e mandar Carla vazar, mas as vezes, quando o universo quer que tudo de errado, quer que você perceba que as vezes, em silencio, ele está mandando você parar de ser idiota, e começar a pensar em outra pessoa que não seja você mesmo. E eu comecei. Ela tinha entrado nos meus pensamentos, e parecia ser impossível tirar ela de lá.

Carla saiu do banheiro com um sorriso que parecia iluminar todo o apartamento, ela estava secando o cabelo e falando algo de como estava contente por nós dois estarmos juntos de novo. Quis soltar uma risada de escárnio. Não conseguia acreditar que ela estava mesmo achando que a gente voltaria. Esperava que não. Ela, por mais horrível que isso soe, fora apenas uma distração para eu provar para mim mesmo que aqueles sentimentos por Sally eram só carnais, que a falta de sexo estava causando aquilo em mim. Contudo, eu tinha levado um grande capote, quando tinha a visto bater a porta em minha cara, e sentido meu coração quebrar.

A voz de Carla parecia ampliar minha audição fazendo com que sua voz ficasse dez vezes mais alta, e que meus pensamentos fossem bloqueados, apenas conseguindo escutar aquele papinho que eu não estava nenhum pouco afim.

― Carla, você pode, por favor, sair da minha casa? ― Eu disse sabendo que soava grosso.

― O que? ― Ela perguntou como se não tivesse entendido.

― Eu quero, ― abri a porta e apontei para fora. ― Que você se mande.

― Mas Noah...

― Carla, por favor, só desaparece da minha frente. ― Eu disse quase estourando, e ela abaixou o olhar passando pela porta lentamente.

― Eu não entendo.

― Vou ser mais claro, quero que você suma do meu apartamento, e se possível da minha vida.

O olhar dela foi tão magoado, que eu me senti culpado horas depois e até mesmo liguei para me desculpar, mas tudo que ela fez, foi apenas me xingar, e como eu já estava exaltado, ela não deixou de escutar umas.

Fechei a porta em um estrondo, e soquei tão forte que senti meu pulso doer, e começar a pulsar erraticamente, mas eu não ligava, só queria desacumular toda aquela raiva que estava presa dentro de mim. Quis chorar, mas não iria. Me sentia estúpido. Eu merecia sofrer, e não Sally.

Peguei meu celular, e disquei seu número, mas só caia na caixa de mensagem. Senti meu coração se desesperar. Eu sabia que nada. Nada mesmo faria eu trazer aquela menina de volta para mim.

✿ ✿ ✿

Três semanas se passaram e ela não me dava notícias. Ela simplesmente tinha sumido. Eu ia em sua casa e ela não estava, ligava, mandava mensagem, tentei de todos os meios encontrá-la, mas ela simplesmente estava me dando um voto total de silêncio. Sally parecia bem persistente quando queria.

Em todas aquelas semanas eu havia ido trabalhar, e até mesmo testemunhado no caso de Elliot. Perguntei sobre Sally, pois ela também seria testemunha, e todos disseram que ela tinha ido bem mais cedo.

Usamos seu desenho para rastrear, e conseguimos encontrar vários caras que estavam dipersos pela região. Eu mesmo teria que ir em uma cidade chamada Patrocínio para ter certeza que o nosso suspeito não havia se escondido lá, haviam alguns arrombamentos estranhos lá. Mas mesmo sabendo de todas essas coisas, eu ainda não conseguia parar de pensar em Sally.

Tentamos usar também o celular, mas ele fora esperto e nós só conseguimos pegar metade das coisas (que não eram tão importantes) e a outra metade, ele conseguira excluir pelo notebook. Deixando-nos novamente num ponto perdidos.

Uma tarde eu havia a ligado, e uma amiga dela atendeu o telefone; eu perguntei por ela, e a garota disse que Sally não estava ali agora, e que só voltaria mais tarde. Sabia que era caô, que ela estava sim ali, só estava me evitando, então resolvi ir até a sua faculdade pois aquele era seu horario de aula.

Perguntei para algumas moças da recepção onde ficava a sala de design, e elas ficaram me olhando de lado, mas depois que disse que faria uma surpresa para minha noiva, elas permitiram em menos de três segundos que eu pudesse andar na faculdade. Sorri para elas levemente, e comecei a vasculhar aquela faculdade toda, até encontrar a sala de design.

Haviam alguns alunos apresentando algum trabalho, e eu vi Sally com os olhos verdes límpidos, e sorridente conversando com um garoto que sentava a sua frente. Senti aquela pontada de ciúmes, mas sabia que não tinha o mínimo de direito de sentir aquilo. Ele era magrelo e usava um óculos. Seus olhos eram claramente verdes, como os dela, mas não tinham o mesmo brilho, ou até mesmo a mesma amargura que havia feito eu ficar fascinado por ela. Tinha também um cabelo cor de areia jogado para o lado, e estava usando uma blusa xadrez.

Esperei aquela aula acabar, e todos os alunos saírem da sala, mas para isso tive que ficar assistindo Sally rir daquele nerd estranho que nem deveria se aproximar dela. Bufei lentamente, e quando escutei o sinal, senti meu sorriso expandir os horizontes do mundo.

Ela fora a última a sair da sala, porque ficara conversando alguma coisa sobre algum trabalho com sua professora. Mas no momento em que ela saira da sala, segurei seu braço, e a trouxe para perto de mim. Ela me olhou assustada e os olhos brilhantes e sorridentes, pareceram se dissipar no momento em que encontraram os meus olhos cinzentos.

― Sally, olha a gente tem que… ― Eu disse, mas sua mão deslizou até meus rosto fazendo com que o barulho fizesse eco. Eu a libertei e a vi indo embora sem nem mesmo olhar para trás, sem nem mesmo ouvir o que eu tinha a lhe dizer.

Quando voltei para o meu apartamento soquei a porta três vezes tão forte, que acabei deslocando mesmo minha mão, além de quebrar um pouco a porta. Cely veio correndo em socorro, e me levou até o hospital onde tive que colocar uma tala, ela me ajudou a voltar para casa, e o caminho todo não me fizera uma pergunta. Era isso que eu amava nela. Ela sabia o momento certo em perguntar, e em qual deveria ficar em silencio.

Chegamos em casa, e ela ficou sentada no sofá me olhando, até que eu começasse a falar. Disse tudo, contei desde o começo, contei como a havia conhecido, como tínhamos nos tornado bons amigos, e até mesmo o jantar. Disse tudo até o momento em que ela me dera um tapa na cara. Contei toda a nossa trajetória, e Cely apenas assentia, e as vezes falava alguma coisa, mas fora isso, ela apenas ficava me encarando. Quase chorei ao despejar todas aquelas coisas encima dela, mas me contive.

― Você é um mané. ― Ela disse por final.

― Obrigada.

― De nada. ― Ela sorriu. ― Noah, como você pode ser tão burro? Não, não é possível.

― Olha...

― Tudo bem, você queria esquecê-la, mas para que? Qual o verdadeiro motivo do porque você queria excluir ela de sua vida? ― Ela disse, e me olhou. ― Olha, Noah, sei que tem aquela regra estúpida, mas aquela garota gosta muito de você, tá explícito na cara dela, e você vai perder ela de uma vez só, se não correr atrás.

― Mas, olha Cely, eu sei, sei bem que ela é tudo pra mim, mas não estou pronto, não agora, não pra um relacionamento nessa magnitude. É isso que eu quero que ela entenda. Eu estou completamente apaixonado por ela, mas não to pronto pra dizer isso, entende? Ela é minha melhor amiga, e eu preciso dela só como isso, por enquanto.

― Entendo. ― Ela suspirou. ― Eu vou ligar para ela, e conversar, vou ver o que posso fazer.

― Obrigada, Cely, você é demais. ― Eu disse, e ela saiu.

Eu consegui ver o olhar no seu rosto, era um pouco decepção, não sabia que todos queriam tanto que eu ficasse com Sally, mas naquele momento era muito para mim. Não queria uma namorada agora. Precisava de Sally como minha amiga.

✿ ✿ ✿

No sábado acordei numa escuridão total, ainda eram três da manhã, passei a mão pelos meus cabelos, troquei o curativo de minha mão que já estava quase boa, e fui dar uma volta no quarteirão. Não era uma boa ideia para aquela hora, principalmente para quem estava envolvido em um caso com um criminoso assassino louco, mas eu precisava pensar e andar. Precisava jogar tudo aquilo, a morte de Elliot, a briga com Sally, Carla, precisava limpar minha mente dessas coisas. Eu estava sofrendo muita pressão.

Peguei a viatura, e acabei indo para o prédio onde eu havia conhecido Sally. Subi até onde ela estava, e me sentei exatamente onde ela estava sentada. Apenas fiquei olhando aquela cidade, tão silenciosa, com algumas luzes acesas, de lugares vazios e sem sentido. De uma mãe, talvez, que acordou agora para cuidar de seu bebê que está chorando. De um casal que pode estar brigando, e decidindo que isso não dá mais certo. De um apartamento onde uma mulher começa a ter contrações preste a ter uma nova vida, de alguém que pode estar morrendo ou até mesmo de uma criança ou adolescente, ou adulto, que tem medo do escuro.

Parando para analisar tudo, tudo isso, eu entendi o porque ela gostava de se sentar ali. Ela pensava melhor. Analisava as coisas melhor. Ela podia se sentar ali, e fechar os olhos, ou até mesmo ficar olhando para o céu e tentando entender aquela bagunça que nós, pequenas partículas insignificantes, poderíamos fazer.

Quando me senti melhor, voltei para casa, e voltei a dormir. Esperando que a própria bagunça do amanhecer chegasse e me encobrisse.

Acordei na outra manhã com uma batida tão forte na porta que eu pensei que alguém estava prestes a quebrar a minha porta. Coloquei uma blusa e uma bermuda velha, e corri até porta encontrando Will parado na porta com uma expressão séria e bruta, e sem mais nem menos, foi entrando no meu apartamento.

― Bom dia para você também, em que posso ajudá-lo? ― Bocejei sentindo meu hálito feder.

― Bom dia, onde você guarda as camisinhas? ― Ele disse procurando.

― Não, só pode ser brincadeira, você me acordou as, ― Olhei no relogio da sala, ― oito e meia, numa manhã de sábado, para pegar uma camisinha para trepar com a sua esposa? ― Eu revirei os olhos e fui até meu quarto, com ele me seguindo.

― Cara, a Celeste estava me dando um gelo de sexo a duas semanas, por conta de uma aposta besta, eu estou morrendo, então ajude, e rápido, tenho medo dela mudar de ideia.

― Pensei que vocês tinham o próprio estoque. ― Eu entreguei para ele.

― Obrigada, nós tínhamos, mas, não importa, tchau. ― Ele disse e antes de passar pela porta disse, ― Ah, e eu espero que você saiba que depois disso, teremos uma conversa sobre o que você fez com a Sally.

― Que ótimo, mal posso esperar.

Quando eu o vi parado na frente, estava pronto para ganhar uma lição de moral sobre como eu tinha sido um idiota com Sally, e tudo mais. Mas, parecia que ele tinha coisas mais importantes para fazer, então teríamos uma conversa mais tarde.

Tentei voltar para cama, mas não consegui dormir, então fui dar uma volta pelo centro.

Fui até uma loja de CD's que Will e Cely haviam me levado. Lá era super movimentado, e tinha os preços ótimos, além de você se perder lá no meio, e não ter que se preocupar com nada. O cara dono de lá, sempre parecia estar de bom humor, e pronto a te explicar e te ajudar com qual quer coisa que fosse. Eu o adorava, mas não o conhecia tão bem quanto Will.

Vasculhei a seção de MPB, e vi um CD da banda do mar, parecia ser um dos últimos e pensei em Sally na hora. Resolvi comprar e até mesmo escutar, mas o verdadeiro intuito era dar para ela de presente. Como uma oferta de paz.

Liguei para elas mais algumas vezes aquele dia, mas seu silêncio ainda era sua maior fala.

A noite resolvi encomendar comida chinesa, já que não precisaria ir para o trabalho aquela noite. Todos estavam muito focados em encontrar o cara, e só sairia amanhã a noite para ir atrás do cara. Ou talvez nem iria. Tudo dependia da confirmação de Carlos, um dos policiais.

Fui buscar a comida em um dos restaurantes do shopping, e meus olhos pegaram fogo quando eu a vi sentada em uma mesa bem afastada com aquele seu colega. Tentei ser o mais sutil possível ao passar pelos dois, e vi que ela me notara, mas apenas olhei para frente fingindo que nem ao menos notara sua presença, e fui até o balcão pegar a comida.

Senti o olhar nela queimando minha nuca, mas me forcei a continuar olhando para frente. Estava muito culpado pelo que tinha feito, mas ela tinha me dado um tapa na cara, ela não tinha o direito daquilo. Senti os saltos estalando contra o chão e tinha certeza absoluta que era ela quem estava ali.

― Noah? ― Ela sussurrou, rapidamente.

Me virei e fiz cara de espanto, mas me virei para frente de novo quando uma moça loira com os olhos esverdeados, mais escuro que os de Sally, me chamou para entregar o pedido. Ela estava usando a blusa do uniforme do trabalho bem apertada que deixava seus peitos bem marcados, e tinha um sorriso tão oferecido, que se não fosse por Sally ali, eu já teria a chamado para passar em meu apartamento mais tarde.

― Pode ficar com isso também. ― Ela disse e me entregou um papel com seu número de telefone. ― Não faço muito isso, mas, eu saio do trabalho depois da meia-noite.

Eu sorri para ela.

― Vou me lembrar disso. ― E me virei para Sally que me fuzilava com os olhos.

― Vai transar com ela também? ― Ela disse diretamente.

― Talvez, ainda não sei. ― Eu disse sério, tentando soar como ela estava soando.

― Você é mesmo um idiota.

― Sim, eu sou, agora se não se importa, eu vou comer minha comida chinesa. ― Eu disse saindo, sabendo que ela não me deixaria terminar a conversa daquele jeito, mas, na verdade, eu só a estava atraindo para uma armadilha.

― Sabe…

― O que? ― Eu disse saindo do restaurante, passando por um atalho que logo dava no estacionamento.

― Você…

― O que? ― Eu disse bravo.

― Você é um idiota. ― Ela jogou as sobrancelhas.

― Já disse isso, agora vai me dar outro tapa na cara? ― Eu joguei as sobrancelhas como ela, e vi os olhos culpados.

― Olha, ― ela soltou um suspiro, ― me desculpe por aquilo, eu sei que não deveria ter te batido, e você não deveria ter puxado meu braço daquele jeito.

― Estava me evitando…

― Eu ainda estou, só não sei pra que fui estúpida o bastante pra vir falar com você. ― Ela tentou se virar, mas eu segurei seu braço com minha mão boa.

― A gente precisa conversar… ― Eu disse, e ela riu.

― Não quero conversar, e nós não vamos conversar. ― Ela tentou se soltar, mas não me deu escolhas.

Peguei sua cintura, e a joguei por cima do meu ombro. Ela soltou um grito, e ao mesmo tempo uma risada que me fez sentir nostalgia do tempo em que ela não me evitava. A carreguei até o carro, e a coloquei la dentro, trancando a porta para ela não sair. Ela ficou se debatendo dizendo que não iria comigo, e fiquei com medo de alguém pensar que estava fazendo alguma coisa ruim com ela, mas não tinha ninguém, e eu não estava fazendo nada, então apenas entrei no carro, e dirigi até meu apartamento, escutando Sally falar e falar para sempre, o como eu estava sendo um idiota.

Chegamos no apartamento, e novamente eu a tive que carregar porque ela se recusou a conversar comigo. Ela era bem pesada para uma menina magrinha, mas eu mesmo assim persisti em levá-la pelo elevador até a cobertura.O

Senhor Oliveira, um homem que tinha aparência de setenta anos e morava no andar debaixo ao meu com sua mulher, a Dona Joana, que me adorava, estava no elevador e olhou para a gente assustado, como se fossemos loucos ou algo assim, eu sorri para ele levemente e ele ficou encarando Sally.

― Senhor, você tem que me ajudar ele é louco, está me sequestrando.

― Boa Noite, senhor Oliveira. ― Eu sorri.

― Noah, o que está fazendo com a garota? ― Ele disse.

― É só um jogo.

― Não é um jogo.

― Ela esta perdendo, e fica assim mesmo quando perde. ― Eu disse, e ele assentiu.

Assim que chegou em seu andar, ele se despediu da gente, e disse bom jogo para nós. Eu comecei a rir, e Sally continuava se debatendo em meus braços.

― Isso é perda de tempo. Eu fiz treinamento para a polícia. Fiz academia. Você mal faz cócegas.

― Me solta, Noah. ― Ela disse desistindo de se chocalhar.

― Não, até você conversar comigo. ― Disse saindo do elevador, e pegando a chave com a mão torcida, que doeu bastante para abrir a porta.

Quando entramos, a joguei no sofá e fui até a porta trancando-a. Sally ficou me encarando com olhos de raiva e eu apenas a fitava de volta. Ela estava tão linda que perdi a concentração por alguns minutos quando ela virou o olhar para a janela da sala.

Seus cabelos estavam soltos em cachos, os olhos delineados por uma maquiagem dourada bem-feita, que acompanhava um batom vermelho marcante. Ela usava um vestido preto de tubinho social, e tinha uma meia calça cor de pele nas penas.

Peguei na gaveta da sala os meus curativos da mão, que doía muito naquela altura, sentei-me no sofá de frente para ela, e tirei levemente as fitas e até mesmo a tala que tinha se trincado quando eu a forcei duas vezes para meu ombro, e de ficar segurando-a enquanto ela se debatia. Peguei uma tala reserva, que ele tinha me dado para caso isso acontecesse, pois sabia que eu era policial, e isso poderia acontecer no meio do trabalho, e coloquei meu braço apoiado nela, mas não conseguia enfaixar novamente, então, Sally veio lentamente, se nem mesmo soltar uma palavra, e começou a arrumar para mim.

― Como fez isso? ― Ela perguntou quando estava terminando.

― Sei lá. ― Eu olhei para a janela, para fugir dos seus olhos verdes, e encarou a porta.

― Você socou a porta, não foi? ― Ela disse.

― Talvez. ― Eu sussurrei.

― Prontinho. ― Ela disse, e eu olhei para o curativo recém feito.

― Obrigada. ― Eu disse, e nós voltamos aquele silencio desconfortável.

Ela se levantou e foi até a porta, e ficou me encarando como quem dizia “posso ir embora, agora?”. Eu não podia a deixar ir embora. Tinha tanta coisa para dizer para ela, não podia simplesmente deixá-la ir novamente.

― Sally nós precisamos conversar. ― Eu me levantei e caminhei até perto dela.

― Eu não quero conversar, Noah. ― Ela estourou, e gritou brava dentro do meu apartamento, fazendo eco.

― Tudo bem, você não quer conversar. ― Eu a prensei contra a porta. ― Então não vamos conversar. ― E grudei meus lábios aos seus.

Sua boca estava tensa e firme no começo, mas logo se soltou e deixou que a minha encaixasse perfeitamente a sua. Minhas mãos desceram lentamente pela lateral de seu corpo até chegar a sua cintura, fazendo que todo seu corpo se arrepiasse. Minha boca dançava contra a dela, enquanto eu sentia meu coração, e o seu coração bater rapidamente, descompassadamente, numa batida que só nós dois entendiamos. Uma batida com uma necessidade carnal e sentimental inexplicável. Meu estômago se revirava, sentia o frio, sentia minhas mãos suando, sentia a necessidade de possuí-la totalmente aquele momento. Precisava dela.

Suas mãos passarem pelas minhas costas, puxando minha camiseta, prendendo-me a ela, grudando cada vez mais meu corpo ao dela, demonstrando-me que ela também precisava de mim.

Passei a mão por suas pernas, a soergui, e a levei para o sofá. Batemos em tudo antes de conseguirmos sentarmos. Derrubamos o abajur, a mesinha onde ficava o telefone, um negocio de flores que Cely tinha me dado para decorar a casa. Mas finalmente nos sentamos ali, e ela ficou sentada no meu colo, com as pernas fazendo um W. Sua língua invadia lentamente a minha boca, e as pequenas mordidas de leve que ela dava no meu lábio inferior fazia com que toda a minha pele se arrepiasse. Beijá-la era melhor do que tudo que eu já tinha feito com cada mulher na vida, eu já tinha beijado tantas, mas o frio na barriga, aquela vontade, uma vontade pura, sem maldade, sem tchau no dia seguinte. Eu a queria para a minha vida.

Desci minha boca até o seu pescoço, e dei beijos de leve no começo, para depois começá-lo a morder, e sugar. Sua pele toda estava totalmente em êxtase, e eu sentia como se aquilo fosse tão simples e funcionasse de um jeito que nada mais funciona. Parei de morder seu pescoço, e fitei seus olhos verdes que sorriam para mim. Passei a mão lentamente pela borda de seu vestido, e o deslizei lentamente para cima. Demorou um pouco para passar por conta de ser bem colado ao corpo, mas consegui tirá-lo. Ela estava usando um sutiã preto, com uma calcinha branca, o que mostrava que ela não estava preparada para uma situação como essa com aquele cara, o que me deu mais alívio e mais vontade de beijá-la.

Voltei a invadir sua boca com a minha língua, enquanto ela passava a mão por toda as minhas costas, chegando até a passar pelo abdômen, o que em poucos minutos me fez tirar a camiseta. Desta vez, ela começou a beijar meu pescoço, e acariciar de leve minha nuca, fazendo com que eu já estivesse estourando. Eu precisava tanto daquela mulher.

Continuamos nos beijando, eu sabia que não poderia fazer aquilo com ela. Não ali naquele sofá, nunca faria aquilo com ela no sofá. Então achei melhor ficarmos só naquilo, mas quando eu menos esperava, ela pegou as minhas mãos, e as levou para o fecho do seu sutiã. Deslizei-o lentamente, e consegui tirá-lo, mas neste exato instante Will e Cely abriram a porta para saber o que estava acontecendo ali. Isso era a droga do problema de eu ter dado uma copia da chava para aqueles dois.

Gritamos para eles, e os dois fecharam a porta rapidamente. Sally e eu começamos a rir, mas logo que percebemos tudo aquilo que fizemos, e a que ponto estávamos indo, e colocamos as roupas de volta. Consegui-a ver o rubor na cara de Sally e que me fazia ter vontade de rir, mas apenas me virei, e fingi que nada estava acontecendo.

Celeste e Will voltaram a entrar depois, e nós ficamos ali encarando os dois, em silencio, como dois adolescentes que foram encontrados dentro de um closet se pegando, pelos seus próprios pais.

― Bem... ― Will disse encarando nós dois. ― Agora sabemos que você não estava quebrando o apartamento por sentir saudades dela, igual você fez com a porta.

Senti meu rosto queimar mais do que antes, e vi um sorriso surgir no canto da boca de Sally.

― Vamos deixar vocês a sós. ― Eles disseram e saíram.

Ela olhou para mim.

― Olha Sally, me desculpe, acho que passei dos limites.

― Obviamente, você não passou dos limites sozinho. ― Ela sorriu levianamente, e eu ri.

― Sally, me desculpe por tudo isso, me desculpe pelo negocio da Carla, por ter acabado de abusar de você, ― ela riu, ― mas agora eu não posso ter uma namorada, entende? Eu preciso da minha melhor amiga, só isso. Eu tenho esse tanto de sentimentos por você, e eles são tão fortes, mas eu preciso entender cada um deles, antes da gente começar alguma coisa, entende?

Ela me analisou, tentando ver se eu estava ou não falando a verdade.

― Sabe que eu nunca ficaria com você só por curtição. ― Eu disse sinceramente.

― Você é um idiota. ― Ela sorriu, e deu um soquinho no meu braço.

Eu a envolvi em um abraço e as mãos dela rodearam minhas costas. Depois que nós soltamos, fiquei encarando seus olhos por algum tempo, mas ela disse que precisava ir embora, para sua casa, que teria alguns trabalhos para fazer.

― Você tem aula essa semana?

― Será mais fechamento de notas, e algumas atividades de bônus para o currículo, mas semana que vem tenho quatro trabalhos para entregar.

― Então ótimo, passo as sete da noite na sua casa amanhã para sairmos novamente pela jornada.

― Vamos voltar para Uberaba? ― Ela perguntou com decepção.

― Não, vamos para Patrocínio.

― Tudo bem então, te vejo amanhã. ― Ela disse e saiu sorrindo.

Sentei no meu sofá, o sofá em que eu havia acabado de ficar com Sally, não era o mesmo sofá que eu tinha dormido com Carla, por isso, sentia que nada poderia estragar aquela noite. Nada. Eu sabia que essa viagem seria um problema, mas mal esperava para passar cada segundo com Sally.


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Notas finais do capítulo

( ͡° ͜ʖ ͡°)



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