– Meu Deus! Qual o problema de vocês garotos com a Zoe? - Esbravejou Maya de braços cruzados. - Como você caiu na conversa da sua própria namorada? - Ela pergunta para Ethan.

Pela cara dele não era a primeira vez que levava um sermão de Maya e dava pra ver que ele não gostava nem um pouco.

– Ei! - Digo. Maya apenas dá de ombros e continua.

– E você Matthew, como tira dois menores da sua casa sem o consentimento do responsável?

– Vai, admite que você ficou horas treinando essa frase. - Falo rindo. Maya apenas me ignora e fica olhando os dois, esperando uma resposta.

– E o meu sermão? - Pergunto fazendo carinha de cão sem dono.

– Eu nem vou gastar saliva com você, sei que é um caso perdido.

Levanto as mãos em sinal de rendição, realmente Maya estava irritada dessa vez. Era a segunda vez que ela estava preocupada por minha causa, tudo isso porque eu fui inconsequente.

– Me desculpa. - Digo pela primeira vez séria.

– Você se arrepende, mas não muda.

– Falando assim até me lembra minha mãe.

– Obrigada.

– Não! Estou falando dos momentos ruins em que ela só ficava gritando comigo.

Maya me fuzila com o olhar.

– Já liguei para seu pai, daqui a pouco ele deve chegar.

– Certo... Cadê o Bryn?

– Seu irmão foi te procurar, ele ficou muito preocupado essa noite. - Maya enfatiza a última parte e sei bem o porquê, foi lua cheia. - Até os Smiths estavam ajudando a procurar vocês.

O primeiro a chegar foi Noah, ele cumprimenta Matthew como se fossem grandes amigos, olho para Maya procurando alguma explicação, ela apenas faz sinal de que também não está entendendo nada. Depois Noah senta no sofá e diz para sua irmã:

– Vai pode falar, faça o papel da nossa mãe.

– Por que você deixou eles irem? - Ela pergunta. - Você sabia muito bem que dia era!

– O tal compromisso, né? - Pergunta Matthew. Péssima hora.

– É! E era muito importante. Você não faz ideia do que fez...

– A culpa não é dele. Quem tinha o compromisso era o Ethan e a Zoe! - Diz Noah.

– Agora a culpa é nossa? - Fala Ethan pela primeira vez.

– A culpa é de todos nós, essa é a verdade. - Diz Matthew dando de ombros.

Rhidian abre a porta e sua expressão não mostra nenhuma alegria em nos ver de novo.

– Você está ferrado. - Ele diz para Matthew.

– Como... - Matthew não tem nem tempo de terminar a frase, pois meu pai chega, o agarra pelo pescoço e encosta ele na parede.

– Vou fazer com você o que deveria ter feito com seu pai a muito tempo! - Grita meu pai. Só tinha visto ele gritar uma vez, depois disso ele saiu de casa.

Matthew já estava ficando vermelho e tentava em vão se livrar das mãos do meu pai.

– Solta ele! - Grita Bryn da porta.

– Pai, vamos sentar e conversar como pessoas civilizadas.

– Você sabe muito bem que não sou civilizado!

– E também não é um assassino, larga o Matthew. - Digo. Não sei o que meu pai viu em mim que o fez mudar na hora, talvez tivesse visto a mesma garotinha de quatro anos apavorada enquanto seus país discutiam ou talvez só tivesse recobrado o juízo. Mas ele soltou Matthew que caiu no chão ofegante.

– Ele está ajudando o pai dele! - Diz meu pai apontando para Matthew.

– Não está pai e você sabe que eu sei.

– Eu disse pra você se afastar dele...

– Eu sei, eu te desobedeci. Me desculpa...

De repente meu pai me abraça. Fico sem entender nada, mas o abraço de volta.

– Achei que ele tivesse pegado você e que te perderia...

– Isso não vai acontecer.

Matthew se levanta, ele já estava bem, só um pouco apavorado. Sai de casa e Maya vai atrás dele. Um minuto depois ele volta com todas as caixas que pegamos.

– Achei que iria querer elas.

– Obrigada. - Sigo Matthew até a porta. - Me desculpa.

– Não culpo seu pai de se preocupar com você.

– Sua mãe vai querer saber o que é isso no seu pescoço. Matthew tinha uma mancha vermelha em volta do pescoço.

– Falo que conheci uma garota um pouco mais bruta do que as outras.

– Vai mesmo mentir pra ela?

– Vou. Ela não ia gostar de saber que me machuquei, ia se sentir culpada, foi ela que me pediu pra vir aqui. Tchau.

– Tchau.

Quando fecho a porta meu pai só diz:

– Seis meses de castigo pra você e o Ethan.

– Por que o Noah só ganhou quatro?

– Ele foi a primeira vez, ninguém mandou você ir na segunda.

***

Estava muito calor domingo à noite, por isso decidi dormir com a porta aberta, mas tinha algo me incomodando: uma luz fraca parecia vir do quarto do Rhidian. Levanto e devagar chego ao quarto de meu irmão, como eu, ele também estava com a porta aberta.

– Faz tempo que não vejo você desenhando. - Digo. Rhidian larga o carvão e me observa.

– Só desenho quando preciso esclarecer as idéias. - Ele responde voltando ao desenho.

– Posso saber que idéias são essas?

Entro no quarto e sento na cama ao lado de Rhidian.

– Ano que vem é o último ano do ensino médio e eu e a Maddy estamos planejando o que vamos fazer depois da escola... Só que eu não sei o quero fazer.

– Você está falando de faculdade?

– Não! Estou falando de ficar na cidade ou não... Estou pensando seriamente em voltar para a floresta.

– E o quê a Maddy acha disso? - Não conversei com ela sobre isso... Mas acho que ela não vai gostar, o lugar dela é na cidade.

– Acho melhor então deixar você desenhar pra poder esclarecer suas ideias.

– Espera só um segundo... Aqui, este é seu!

Rhidian me entrega o desenho que acabou de terminar.

– Sou eu! - Meu irmão conseguiu me desenhar na forma de lobo só de ter a imagem na cabeça. - Obrigada.