Começo a desacelerar. Ethan já está na minha frente ainda correndo feito um louco. Parecia que ele nunca se cansava.

– Espera, não sou tão atlética assim. - Grito.

Ele desacelera um pouco e ficamos lado a lado.

– Não vai me dizer que isto não é muito melhor que andar de carro? - Pergunta Ethan com os olhos amarelos e as veias saltadas e escuras.

– Só segura um pouco os ânimos aí, não posso chegar na cidade junto com um lobo.

– Tudo bem.

Paramos ofegantes num semáforo vermelho.

– Agora só faltam mais três quadras.

– Eu ainda poderia correr a noite toda.

– Eu sei, estou falando isso pra me tranquilizar mesmo.

Quando chegamos na rua da casa de Matthew, estou tão cansada que sento na esquina e encosto num poste.

– Você sabe qual é casa? - Pergunta Ethan, faço sinal com a cabeça negando. - Ele nem falou, né? Tinha certeza que chegaria primeiro que a gente.

– Homens e seu orgulho. - Digo rindo.

– Mulheres e suas loucuras.

Um carro para ao nosso lado e buzina.

– E aí quanto é a hora? - Grita Matthew de dentro dele.

– Cala boca. - Grito de volta.

Ethan nos olha meio confuso, mas decide não perguntar nada.

– Uau! Que fôlego, em. A minha casa é aquela verde ali.

Vou até a casa verde arrastando os pés. Matthew sai do carro olhando espantado para Ethan.

– Ta olhando o quê? - Pergunta Ethan.

– Parece que você andou um minutinho no máximo, não meia hora. O que você faz no seu tempo livre? Maratonas? Você Ta suando menos do que quando tava dentro do carro.

– Agora da pra abrir a porta? Porque eu to quase morrendo aqui. - Digo.

Matthew rindo faz o que eu pedi. A casa de Matthew era igual a qualquer outra casa britânica, ela deveria ser bastante aconchegante antes, mas vazia ela era um pouco assustadora.

– Lar doce lar... As caixas estão no porão, vem a porta é por aqui. -

Seguimos Matthew indo até o corredor e descendo as escadas. - Só não liguem para a bagunça e a sujeira.

– Um pouco difícil.
O sótão tinha um cheiro horrível de mofo e barata. E a bagunça era enorme.

– Eu nem imagino em qual caixa esteja então temos que procurar.

Abro a primeira caixa que encontro, nela há vários livros. Vou para a caixa de baixo e encontro um monte de DVD's.

De repente escuto Ethan gargalhando, olho nas mãos dele e tem um anuário antigo.

– Onde você achou isso? - Pergunta Matthew preocupado.

– Estava aqui no chão. - Responde Ethan sorrindo.

– Eu disse pra minha mãe jogar fora e ela guardou. Não acredito nisso.

– Deixa eu ver! - Digo e vou puxar o anuário da mão de Ethan, mas Matthew é mais rápido.

– Nunca. Esse negócio vai para onde ele deveria ter ido anos atrás, pro lixo.

– Ah, Matthew... Para de ser estraga prazeres.

Sorrio docemente e aos poucos ele parece ir mudando de ideia. Matthew me entrega o anuário relutante. Quando olho a foto entendo toda sua preocupação. Matthew deveria ter uns 15 anos e no lugar do corte estilo vintage com um grande topete, ele usava o cabelo igual ao do Justin Bieber no começo da carreira. Isso mesmo que estão imaginando, uma franja bem "vaca lambeu".

– Eu sei, eu já segui modinha e essa foi uma das piores.

– Me lembro de ter um menino loiro na minha antiga escola que quando o Justin lançou o seu primeiro álbum ele cortou o cabelo igual o seu e todas as meninas se apaixonaram por ele.

– Não foi bem assim comigo...

– Eu tinha dez anos na época, só ficava pensando como aquela franja devia incomodar.

– Incomodava e muito por sinal, ela vivia caindo no meu olho. Mas foi com esse penteado que tive meu primeiro beijo, então não posso reclamar muito.

– Teve seu primeiro beijo com 15 anos?

– 14 na verdade, mas qual é o problema? Só comecei a me dar melhor quando fiquei mais musculoso que meus amigos. Nem todos tem a sorte de ter duas garotas brigando por você com 15 anos. Ainda estou esperando a minha vez.

Inesperadamente Ethan ri da brincadeira de Matthew.

– É você tem razão, tive muita sorte mesmo. - Ethan olha diretamente pra mim quando diz isso. Sinto minhas bochechas corarem.

– E você Zoe quando teve seu primeiro beijo? - Pergunta Matthew.

– 12.

– Não acha que era muito nova?

– Tenho quase certeza que meu pai ficou em Stonebridge. Mas concordo com você, eu era muito sozinha naquela época então qualquer um que viesse falar comigo eu não descartava, tinha medo de não achar outro.

– Achei! - Grita Ethan em algum lugar do sótão. Ele se levanta e mostra um poster do One Direction.

– Com certeza isso aí não é meu. - Diz Matthew.

Corro para o lado de Ethan e olho o poster bem de perto. No rosto de todos os garotos tem uma marca de batom.

– Nossa...

– Como você teve coragem de rir de mim? - Pergunta Matthew rindo.

– Me deixa!

Abro a caixa e começo a procurar outras coisas. Acho várias roupas minhas e da minha mãe, porta-retratos, documentos...

– Você é a única pessoa que conheço que a foto do RG é bonita. - Diz Matthew me mostrando meu RG. Eu deveria ter uns cinco anos na foto e o pouco cabelo que eu tinha estava preso num rabo de cavalo torto, mas isso só me deixava mais fofa.

Levanto uma foto onde está eu, meu pai e minha mãe. Eu tinha uns dez anos e meu pai e minha mãe estavam ao meu lado um encarando o outro irritado. Adorava aquela foto ninguém fingiu gostar de ninguém nela, todos estavam autênticos.

– Seus pais não iam com a cara um do outro. - Diz Matthew.

– Eles se amavam, só faltou confiança no relacionamento deles.