– Não precisa jogar na minha cara que o Ethan e a Zoe estão separados por minha causa! - Diz Noah irritado.

– Então que filme a gente vai assistir? - Pergunto tentando mudar de assunto.

– Com esse clima deveríamos assistir uma comédia... Que tal Morte no funeral? Eu vi que vai passar daqui a pouco na Sony. - Diz Matthew tranquilamente.

– Pode ser. - Responde Maya.

O microondas apita três vezes, o segundo pacote de pipoca já estava pronto. Despejo tudo num pote gigante, quando vou procurar aonde foi parar o primeiro pacote, encontro Bryn comendo a pipoca escondido na sala.

***

Depois do filme Noah foi para o computador, Bryn foi na casa de um amigo e Maya tinha ido pegar alguma coisa no seu quarto. Eram sete horas da noite e estava quase na hora do meu pai chegar.

– Acho melhor você ir embora agora. - Digo para Matthew. Seus dedos estão brincando com uma mecha do meu cabelo.

– Você está me mandando embora? - Ele pergunta sorrindo.

– Está quase na hora do meu pai chegar.

– E?

– E que ele não pode te ver.

– Por quê?
– Porque não quero que meu pai desconfie quem você é.

O sorriso de Matthew desaparece.

– Esqueci a nossa ligação... por algumas horas eu era somente um garoto assistindo uma comédia besteirol com os amigos. Nada de trabalhos da faculdade, nada de interrogatórios policiais, nada de me sentir culpado por algo que eu não fiz...

Olho nos olhos de Matthew e ele para de falar de repente. Ficamos assim por um bom tempo. Sabia exatamente o que ele estava pensando: se me beijava ou não. Só não sabia o que eu pensava sobre aquilo.
O som da porta se abrindo assusta nós dois, Matthew larga a mecha do meu cabelo e olha para trás. Ethan nem olha para Matthew, apenas fixa seu olhar em mim e fala:

– Desculpa se estou atrapalhando alguma coisa.

– Não se preocupe, você não atrapalhou nada. - Diz Matthew se levantando. Eu me levanto também. - Obrigado, por me ouvir.

– E obrigada pelo presente.

Matthew se despede de mim e vai em direção a porta, mas um pouco antes de fecha-la ele grita:

– Tchau Maya!
Ela aparece correndo, mas ele já tinha fechado a porta.
– Não acredito que não ganhei nem um beijinho de despedida. - Diz Maya de braços cruzados na frente da porta. Indignada ela se vira e volta para o quarto.

– Aposto que a tarde foi boa sem eu aqui. - Diz Ethan baixo para não ter o perigo de ninguém ouvir.

– Você some toda tarde depois da escola pra não ter que olhar pra minha cara o dia inteiro! - Digo brava.

– Não mude de assunto.

– Não estou mudando, só estou dizendo que enquanto você faz de tudo pra se afastar de mim, o Matthew faz de tudo pra me ver melhor.

– Que presente é esse que você agradeceu?

Eu queria estar nos braços de Ethan em vez de brigar com ele e essa necessidade estava me deixando irritada.

– Acho que não te devo satisfação nenhuma.

– Você tem toda razão.

Vou em direção ao meu quarto, mas o medo de essa conversa ser um ultimato, me faz virar e dizer mais uma coisa:

– Fique sabendo que eu já pensei sobre a gente, quando quiser saber a resposta é só ir me ver.

Entro no meu quarto e bato a porta. Ainda consigo escutar os passos de Ethan chegando até a minha porta, parando por alguns segundos e seguindo frente.

Por que eu tinha que ser tão complicada? E por que Ethan conseguia ser tão chato quando queria? Essas e outras perguntas borbulhando na minha cabeça. Precisava urgentemente me acalmar e nada melhor do que um pouco de música. Tiro o iPod do bolso e começo a baixar algumas músicas: Hey Jude, Yesterday, I Want to Hold Your Hand, Twist and Shout... Me lembro de minha mãe cantando essa música, melhor dizendo gritando essa música.

Well, shake it up, baby, now (shake it up, baby)

Twist and shout (twist and shout)

Come on, come on, come on, come on, baby, now (come on, baby)

Come on and work it on out (work it on out)

Well, work it on out (work it on out)

You know you look so good (look so good)

You know you got me goin' now (got me goin')

Just like I knew you would (like I knew you would)

Vamos lá, garota (vamos lá, garota)

Dance e grite (dance e grite)

Vamos, vamos, vamos, vamos lá, garota, agora (vamos lá, garota)

Mande brasa (mande brasa)

Mande brasa (mande brasa)

Você está tão bonita (está tão bonita)

Você me deixa louco (me deixa louco)

Eu sabia disso (sabia disso)

Escuto batidas na porta, é o meu pai.

– Entra!

Ele abre a porta exibindo um sorriso no rosto.

– You know You look só good. - Canta meu pai. Acabo dando risada, ele não é nada afinado. - O que foi?

– É que pensei que você cantasse melhor.
Meu pai senta na cama com cara de bravo, sabia exatamente o que ele estava pensando em fazer.

– Não! Eu não tenho mais quatro anos.
Não adianta. Ele começa a cutucar minha cintura, bem acima do osso, meu ponto fraco. Começo a gargalhar tanto que sinta falta de ar. - Para... Para, por favor.

Meu pai para.

– Você sempre vai ser minha menininha.

Então ele olha para meu criado mudo e vê o iPod, igual ao que minha mãe me derá, mas novo.
– O que foi pai? - Pergunto tentando me passar por desentendida.

– Onde você conseguiu esse iPod?

– Ganhei. - Isso era a verdade, mas não toda.

– De quem?

– Sorteio.

– Sorteio?

Concordo com a cabeça. Para minha salvação Rhidian aparece na porta.

– Pai, já cheguei. Precisa que eu faça alguma coisa?

– Ta ouvindo essa música?

– To. É twist and shout. Por quê?

– Ta tocando do novo iPod da sua irmã.

– E?

– E que ela disse que ganhou da Laureen.

Não... Eu conhecia aquela jogada do meu pai e Rhidian iria cair direitinho. Meu irmão deve ter sacado que ganhei o iPod do Matthew e acha que disse que ganhei da Laureen.

– É isso mesmo.

– Obrigado, pode ir.

Rhidian pisca para mim quando nosso pai esta de costas para ele, minha vontade era de bater nos dois.