Era mais um dia naquele colégio em Hoenn, um colégio vulgar e normal onde estudavam pessoas vulgares e normais. Nada acontecia, apenas se viam alunos a andar de um lado para o outro de cabeça baixa, poucos se olhavam, poucos se conheciam. Sapphire era uma dessas pessoas. Mas por vezes, se perguntava.

“Conheço a escola quase toda, sei o nome de cada um de cor e sou capaz de o escrever de olhos fechados… Porque não falo com nenhum?”

Essa pergunta intrigava Sapphire. Será que intrigava os outros também? Isso era um mistério… Ou talvez ela fosse a única mente aberta daquele sítio…

— Oi, Sapphire! Tudo bem? – Platinum perguntou ao chegar perto da amiga.

— Oh, oi, Platinum! – Sapphire respondeu um pouco atrapalhada.

— Tudo bem com você? Cadê o livro que eu lhe pedi? – Platinum interrogou com um sorriso amigável.

— Oh, eu o coloquei aqui no meu cacifo, quer que lhe dê agora? – Sapphire perguntou sorridente colocando a mão no cadeado de seu cacifo.

— Sim, por favor! – Platinum sorriu de volta.

Dois, um, três, três, três, quatro, um. Esse era o código que Sapphire colocava todos os dias no seu cacifo para poder aceder ao seu interior. Prometera a Sapphire que lhe emprestava o livro “E tudo o Pokémon levou”, uma obra que já tivera sido adaptada para cinema pelos “Pokéstar Estúdios”. Sapphire esperava abrir o cacifo, pegar o livro e o entregar para Platinum, mas desta vez, algo de diferente aconteceu. Ao abrir o cacifo, viu um papelinho voar na direção de seus pés saindo do seu interior.

— Ups, – Platinum apanhou – acho que deixou cair isto.

Sapphire pegou o papel da colega um pouco confusa.

— Que foi? Não é seu? – Platinum estranhou.

— N-não… Eu limpei o cacifo há pouco tempo. – Sapphire tinha a certeza.

— Parece ter algo escrito. Talvez saibamos de quem é assim. – Platinum sugeriu indiretamente que lessem o papel.

Sapphire então abriu o papel e se deparou com uma declaração:

Wow! Minhas pernas tremem, todo eu cora,

Alguém especial chegou, é a Sapphire e sua joia

Livre me sinto quando chegas, prezo quando vais

Lá vou eu para a tortura, é que vem quando sais

Yei! Tu voltas-te e meu coração levaste.

Sapphire ficou chocada, aquilo com certeza era para ela… Mas quem o teria mandado? Teria sido Platinum para zoar de sua cara?

— Sapphire… Você tem um admirador secreto! – Platinum festejou emocionada.

Decerto não era ela, estava demasiado surpresa… Foi o que Sapphire pensou.

— Veja no papel! Tem nome? – Platinum perguntou.

— Não tem nada… - Sapphire buscou todos os cantos da folha.

— Hum, que pena… Seria legal se você soubesse quem era… - Platinum desanimou um pouco.

Então, ouviu-se uma voz elevada vindo do fundo do corredor, Ruby tinha chegado, e com ele, o pequeno Wally lhe carregando os livros.

— E foi assim que eu derrubei a elite quatro com um só Magickarp! – Ruby dizia com moral.

— E quando isso foi? Quando estava sonhando? – Wally disse tremelicando devido ao peso dos seus e dos livros do outro.

— Não se arme em engraçado, Wally! – Ruby pediu.

Sapphire olhou por instinto para a fonte do barulho, Ruby conseguia dar muito nas vistas.

— Oi, meninas! – Ruby piscou para as duas que conversavam.

Sapphire quase não ligou para o maior, ela estava mais preocupada com o pequeno Wally que carregava todo aquele peso.

— Oi, Ruby! – Platinum respondeu animada.

Então, Sapphire viu Wally se desequilibrar, caindo então sobre os livros que carregava e, provavelmente, caindo mal com um pé.

— Wally, foste provar o chão? – Ruby perguntou estranhando a queda do outro.

— Wally! – Sapphire se apressou a ir ter com o pequeno que acabara de cair.

Wally parecia meio atordoado, então Sapphire o ajudou a se levantar.

— Você está bem? – Sapphire perguntou dando a mão ao mais novo.

Wally olhou para quem o ajudava, a sua mão era demasiado delicada para ser Ruby, então logo viu que era Sapphire. O esverdeado não cabia em si de emoção. As suas pernas tremelicaram, o seu rosto ficou rubro e a sua fala faltou como quase se esqueceu de respirar.

— Wally? – Sapphire o chamou, acordando o pequeno do transe.

Wally abanou a cabeça e caiu em si, Sapphire estava muito próxima dele, demasiado próxima! Então, numa tentativa de fuga, Wally fez pressão sobre o pé esquerdo, fazendo com que caísse de novo.

— Au, au, au, au! O meu tornozelo! – Wally queixou-se segurando o tornozelo.

— Ah, eu vou chamar a enfermeira Joy! – Platinum disse nervosa, com medo de que podia ter acontecido algo a Wally.

— Eu vou com você. – Afirmou Ruby antes de ambos começarem a correr em direção á enfermaria.

Sapphire continuou do lado de Wally, muito preocupada com o pequeno. O pequeno lacrimejava um pouco e tinha sua face rubra, isso lhe dava um ar tão kawai… Sapphire não conseguia retirar os olhos da fofura do amigo.

— Sapphire, não me olhe assim! – Wally pediu um pouco assustado.

— Hum? – Ela nem percebeu que o olhava tão fixamente.

— Me está assustando… - Wally disse baixando o rosto.

Então Sapphire reparou que o pequeno massageava o seu tornozelo magoado, coitado, tudo aquilo porque ele simplesmente aceitava ser o “escravo” de Ruby… Sapphire se inclinou perante o outro e lhe começou a desapertar o sapato, na tentativa de lhe aliviar a dor.

— O que está fazendo?! – Wally se assustou com o ato da maior.

— Seu pé tem de ter espaço. Acredite em mim, vai ficar tudo bem. – Sapphire sossegou.

Então Sapphire retirou o sapato do amigo, alguma vergonha dominou os sentimentos dos dois, Wally se sentia demasiado próximo dela e muito nervoso. Ela já teria lido o bilhete que ele deixou no seu cacifo? Será que descobriu que era ele? Talvez se ele não tivesse escrito seu nome no início de cada linha… Então Sapphire terminou, erguendo sua face até ao nível da de Wally.

— Pronto! Se sente melhor? – Sapphire sorriu para ele.

Wally não respondeu.

— Wally, se sente bem? – Sapphire estranhou a cara de choque do outro.

Wally olhou um pouco para baixo, estava nervoso pela proximidade e um pouco pensativo… Ele teria algo a perder?

— Wally? – Sapphire aproximou um pouco a sua face para ver se se passava algo.

Mas com esse ato, Sapphire não esperava que, num movimento rápido, Wally se chegasse para a frente e a beijasse ali, nos lábios… De um modo gostosamente inesperado. No início estranhou, mas acabou aproveitando e respondendo… Aquilo era algo bem gostoso, bem quente, reconfortante… E a timidez de Wally naquele momento era tão fofa que lhe dava mais gozo naquele momento.

— D-desculpe… - Wally disse quando se separou do beijo, bastante envergonhado.

— Wally… - Sapphire disse num tom doce, fazendo o outro a olhar.

Nenhuma palavra foi trocada, apenas um doce olhar entre os dois e ambas as mãos foram tocadas de um modo tímido mas gostoso e firme.

— Wally, chegámos! Não se preocupe, vamos curar você! – Platinum chegou alerta sendo seguida por Ruby e a enfermeira Joy.

— Está tudo bem agora, Wally, você vai poder carregar livros de novo mais depressa do que pensa. – Ruby tranquilizou.

Então, alheios do momento que os dois amantes compartilhavam, Ruby e Platinum ajudaram a enfermeira a colocar Wally na maca, separando a mão dos dois. Enquanto levavam Wally para longe de Sapphire, os olhares dos dois não se separavam, ficando em contacto até Wally desaparecer no meio da multidão de cabeças baixas e consumidas pela monotonia de suas vidas, completamente à parte do momento doce que decorrera.

“Quando a vida é monótona e nada acontece, erga a cabeça, vai ver, algo novo irá aparecer e será o seu refugio secreto de tudo em seu redor.”