Cristiano

Me senti envergonhado com a atitude de Adriano, ele mal conhecia as garotas e já agia desse jeito. Saí com as garotas para dar uma volta e aproveitar para apresentar os arqueiros para Lucy, já que ela queria tanto. Geralmente isso não seria algo que eu fazia, sair com garotas, apesar que estou aqui já faz um certo tempo. Cheguei quando tinha nove anos com um sátiro chamado Jesse. Eu morava com meus tios, meu pai trabalhava no exército e eu raramente o via. Até então não conhecia minha mãe, só depois de um tempo descobri que era Deméter.

Como meu pai trabalhava no exército e minha mãe era uma deusa, acabou que nenhum dos dois esteve presente. Meus tios sempre foram ótimas pessoas comigo, e me tratavam como um de seus filhos, porém eles estavam ficando velhos e não iriam conseguir sustentar a família por muito tempo. Além de mim, moravam com eles seus dois filhos maiores de idade.

Eles viviam nas custas dos pais e como meus tios eram bonzinhos de mais, acabavam não insistindo na obrigação dos filhos — meus primos no caso.

Meus primos sempre reclamavam quando tocavam no assunto, falavam que meus tios não os queriam por perto — o que eu imaginava ser verdade —, depois se voltavam contra mim, diziam que se eu podia comer da comida deles, eles também podiam.

Isso me chateava muito, até que um dia, resolvi fugir de casa para evitar maiores problemas. Jesse era meu melhor e único amigo, ele estudava na mesma escola que eu e era dois anos mais velho. Quando ele soube do que eu acabara de fazer, me seguiu e não deixou que eu fosse sozinho.

Dias depois de vivermos vagando por aí, fomos perseguidos por alguns monstros estranhos. Jesse sempre me protegia da forma que conseguia, e dizia que deveríamos ir para o acampamento. Quando finalmente chegamos tivemos um imprevisto...

— Há quanto tempo você está no acampamento, Cris? — Perguntou Tatiana, me tirando dos meus pensamentos.

— Seis anos... — Respondi pensativo. — Nem parece que é tudo isso.

— E você já viu seu pai ou sua mãe? — Lucy perguntou.

— Duas vezes. E na verdade é mãe, sou filho de Deméter, a deusa da vegetação.

Nós andamos por um tempo passando pelo campo de morangos. As garotas se surpreenderam quando os morangos começaram a crescer mais rápido que o normal — assim como as flores —, ao notarem minha presença. Isso já era algo normal para mim, já que possuía grande afinidade com a natureza.

Andamos mais um pouco e chegamos até o campo onde costumávamos treinar. Um pouco mais pra frente os arqueiros, provavelmente filhos de Apolo, treinavam.

— Eu quero conhece-los! — Disse Lucy. Era possível notar um brilho em seus olhos.

— Bom... você pode conhece-los, só não sei se posso apresenta-los para você. Não tenho tanta amizade com os filhos de Apolo.

— Pode ir, a gente fica por aqui. — Tatiana sugeriu.

— Não tenho coragem... vamos comigo, por favor! — Pediu Lucy.

Concordamos então em ir com ela, apesar que isso não me agradava. Não gostava muito dos filhos de Apolo já que a maioria sempre fica por aí, cantarolando, fazendo piadinhas e brincando com outros campistas, porém são eles que animam os jantares perto da fogueira e as disputas.

Assim que nos aproximamos deles não consegui reconhecer ninguém, por sorte Danilo chegou para treinar, já havia o visto por aí antes e chegamos a trocar algumas palavras. Me senti um pouco mais confortável em ir falar com ele.

— Ei, Danilo. — Falei, cutucando seu ombro em seguida. — Essa é Lucy, ela é nova no acampamento e queria conhecer os arqueiros.

— Ah, certo. Oi Lucy. — Ele a cumprimentou animado. — Esses são meus irmãos, Jake e Logan.

Danilo apontou para seus irmãos, que se preparavam para atirar uma flecha contra o alvo. Eles piscaram para Lucy antes de lançar a flecha.

— Prazer! — Disse Lucy empolgada. — Essa é minha amiga, Tatiana.

Danilo cumprimentou Tatiana — que fez o mesmo — e antes que falássemos alguma coisa, Jake e Logan se aproximaram com um largo sorriso no rosto.

— Então você gosta de arcos? — Jake perguntou para Lucy. — Vamos ver se é boa o bastante para nós. — Ele brincou, piscando em seguida.

— Começou... — Sussurrei para Tatiana, que deu uma risadinha. — Os filhos de Apolo são tão convencidos... nunca perdem uma oportunidade de zombar uma garota por tentar ser tão boa quanto eles no arco. Melhor sairmos daqui.

— Relaxa, Lucy é boa nisso. Ela vai acabar com esses convencidos. — Ela sussurrou de volta.

Tatiana se sentou em um banco que estava por perto, eu por outro lado optei por ficar em pé. Jake se posicionou de frente a um dos alvos e pegou uma flecha, e em seguida disse:

— Vou ir primeiro, só para você ver como é que se faz.

Ele então encaixou a flecha em seu arco, mirou no alvo e disparou acertando na parte azul. O alvo era composto por cinco cores, sendo a branca a externa seguida por preto, azul, vermelho e amarelo — que era o centro.

— É assim que se faz cara. — Danilo falou.

Jake desafiou Lucy e a chamou de amadora, típico de um filho de Apolo. Ainda não conseguia ver a necessidade dela se envolver com esses garotos.

Foi então a vez de Logan, ele acertou a parte vermelha faltando poucos centímetros para a parte amarela. Eles comemoravam felizes e se gabavam por aquilo ser normal para eles, Danilo seria o próximo.

Danilo era o conselheiro do chalé de Apolo e também o mais velho de seus irmãos. Ele facilmente acertou o centro e, diferente dos outros, não se gabou por conta disso.

— Agora é sua vez, senhorita. — Danilo disse, sendo simpático com Lucy. — Você tem duas chances.

Lucy parecia estar nervosa e estranhou de começo o peso do arco, ela nos olhou como se pedisse socorro e tremia. Para melhorar, Jake e Logan ainda diziam coisas para provoca-la e só pararam quando Danilo lhes repreendeu.

— Vai Lucy, você consegue. — Tatiana incentivou.

Ela suspirou e tentou se concentrar. De longe notei Quíron observando atentamente Lucy, que finalmente atirou contra o alvo.

Infelizmente a flecha não chegou nem perto do alvo, e quase acertou um campista que passava por perto na hora. Jake e Logan riram da garota que corou na hora, eu já estava ficando irritado com os garotos e quase desejei que brotasse um galho no “rabo” deles.

— Você tem mais uma chance. — Disse Danilo educadamente.

— O-ok.

— Fica calma Lucy — Jake começou. — Se você acertar dessa vez, prometo limpar seu chalé por um mês.

Jake riu debochando da garota, que agora parecia mais confiante. Ela respirava tranquilamente apesar de parecer desesperada.

Ela observava atentamente o lugar enquanto mirava no alvo, fechou os olhos — o que eu pessoalmente achei que não ia ajudar em nada — e atirou a flecha contra o alvo. Antes que eu pudesse ver onde a flecha havia parado, Tatiana gritou do meu lado:

— Lucy! Você conseguiu, acertou o centro!

Tatiana correu em direção a garota e lhe abraçou. Danilo parabenizou Lucy e a convidou para ir conversar em outro lugar, enquanto isso Jake e Logan a olhavam incrédulos.

— Bem... eu volto logo. — Ela avisou e saiu seguindo Danilo.

— Então só sobrou nós agora. — Tatiana disse.

Eu corei e percebi que ela notou, já que soltou uma leve risada.