Pray For Love escrita por Lizzie-chan


Capítulo 28
Extra: Every Breath You Take


Notas iniciais do capítulo

Eeeeee cá estamoos. Outro extra. Ooooutro extra depois de uma vida e meia, mas ainda assim, outro extra. Eu simplesmente amei escrever isso aí embaixo, é como um one-shot cheio de cenas diferentes, espero que vocês gostem de ler também :B Créditos à BunnyGirl pela sugestão que usei no capítulo, e é dedicado especialmente pra você, hein~ Espero que goste e que para todos tenha valido a pena a espera!!!

Boa leitura!!
(Ttítulo: Cada suspiro que você der)
➢ Dia 3: Every Breath You Take - The Police



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/591453/chapter/28

Lucy passou uma mão na testa, sorrindo para o formigamento e calor agradáveis que sentia na pele após o beijo de boa noite de sua mãe. Layla Heartfillia atravessou o quarto, seus chinelos quase inaudíveis contra o piso gélido, e a luz foi embora quando a porta foi fechada após sua saída.

A pequena garotinha observava com os olhos grandes enquanto a mãe deixava o cômodo, os dedinhos ansiosos apertando as cobertas. Assim que a luz se foi, colocou o nariz e a boca rosada para fora da roupa de cama e soltou uma baforada no ar da noite. Pela iluminação da lua, pôde ver com satisfação o ar se tornar branco com as gotículas de água de sua respiração. Embora a mágica durasse pouco tempo, era o suficiente para fazê-la sorrir antes de dormir. Esses pequenos atos sempre a faziam sentir que aquele grande quarto estava repleto de magia e felicidade.

Ela amava sua vida e gostaria de continuar a vivê-la para sempre, embora não soubesse disso ainda, numa idade tão tenra.

“A cada movimento que você fizer...”

~*~

— Oh, meu Deus, ele conseguiu destruir sete casas seguidas! — exclamou, sentindo uma urgência estranha de segurar a mandíbula, que se abrisse mais ia soltar dos outros ossos. O gato azul parado a sua frente não parecia muito preocupado com esses detalhes ínfimos enquanto sorria de orelha a orelha.

— Esse é o Natsu — contou, a voz soando orgulhosa. — Esse é o jeito que os magos resolvem as coisas.

— Eu não acho que todos os magos resolvam suas diferenças desse jeito... — murmurou para si mesma, observando enquanto o rosado partia para cima do falso Salamander uma última vez com o punho em chamas. Por algum motivo inexplicável, já podia imaginar fotos de Hargeon na capa do jornal matinal do dia seguinte, com destaque para a guilda causadora da confusão.

— Você disse alguma coisa? — Happy virou o rosto redondo para observá-la intrigado.

— N-nada não. — Era melhor não ficar se justificando, o gato também parecia meio maluco...

— Ei, Natsu, você acabou com ele! — cumprimentou o animal, acenando com as pequenas patas enquanto o garoto de cabelos cor de rosa se aproximava com as mãos fumegando. Lucy imediatamente ficou tensa, observando seus movimentos enquanto ele acenava de volta e deixava uma risada alegre sair dos lábios.

— Eu disse que ia fumar ele — pontuou satisfeito com a performance.

— Você meio que não fumou ele... — sussurrou, desviando o olhar quando o Dragneel levantou os orbes para encará-la.

— Ah, Luma, você ainda tá aqui — comentou displicentemente, parecendo avaliá-la de modo casual pelo que podia perceber da visão periférica.

— É Lucy — corrigiu rispidamente. Deixou os olhos correrem pela cidade, percebendo vários focos de fumaça pelos caminhos de destruição que o mago de fogo havia criado. — E você destruiu a cidade, seu louco!

— Hã? — Levantou as sobrancelhas, parecendo levemente surpreso. — Ah, is...

— Parados aí!

Os três se viraram a tempo de ver, ao longe, no começo do porto, um grupo de guardas correndo em sua direção, as armaduras de metal tilintando de forma desconexa à distância. Por um instante, tudo o que Lucy conseguiu fazer foi encarar atônita o brasão de Fiore em seus escudos grandes, mas logo isso desapareceu de seu campo de visão, quando uma mão quente agarrou seu pulso e começou a arrastá-la na direção oposta.

— E-ei! — conseguiu dizer, virando o rosto para perceber os cabelos rosados que se balançavam com o vento antes que Natsu virasse o pescoço para encará-la de esguelha.

— Você queria entrar pra Fairy Tail, não? — perguntou, a voz sendo levada pelo vento, não sem antes ser capaz de chocá-la. Encarou-o abobada enquanto esperava que continuasse. — Vem comigo.

Se era de confiança que precisava, já sabia que podia confiar nele após tê-la salvado daquele jeito. Se era de coragem que precisava, já tinha o suficiente guardado dentro do peito para aquele momento. Se era de força que precisava, poderia contar com a daquele garoto estranho, e por algum motivo sentia que poderia fazer isso para sempre.

Talvez fosse um pouco cedo para dizer que estava começando um conto de fadas, mas não precisava ser perfeito, porque com fadas ela já sabia que seria, e aquilo era suficiente.

— Sim!

“A cada passo que você der...”

~*~

— Você não pode fazer isso, papai — declarou, a voz estridente, como se pudesse reverberar nas paredes e entrar em seu coração. — Você não pode ameaçar meus amigos outra vez. Se fizer isso, nós iremos tratá-lo como um inimigo.

Toda a força de suas palavras foi refletida nas íris castanhas incrédulas que observaram seus movimentos enquanto rasgava aquele bonito vestido rosa. O tecido se desfez sob seus dedos, como se fosse mágica, mas dessa vez ela sabia que não era. A mágica real estava fora daquela casa, num lugar com cheiro de bebida alcoólica e felicidade.

Em algum momento em sua vida, descobriu que se deixar levar pelo fluxo não a levaria onde queria chegar. O verdadeiro caminho era aquele em que desgastava a pele macia pelo esforço, em que colocava sua coragem à prova pelos desafios, em que permitia que seu coração se quebrasse para que pudesse consertá-lo. Ela não poderia ter tudo em seu futuro perfeito e a escolha fazia parte do processo, então ela escolheu.

Escolheu se virar e seguir até a porta, abri-la e fechá-la exatamente como sua mãe fizera anos antes, e deixar o pai viver naquela grande casa sem o consolo da magia, ou de qualquer sorriso gentil.

“A cada laço que você quebrar...”

~*~

Bocejou, arrumando seu cabelo na lateral como fazia todas as manhãs. Já estava vestida, as chaves no cinto, a bolsa de viagem preparada ao lado da porta de saída com algumas mudas de roupa para os três ou quatro dias que iria durar sua viagem com Natsu, Gray, Erza e Happy.

Na verdade, estava surpresa que ninguém havia invadido seu apartamento durante a noite ou de manhã para apressá-la. Por algum motivo, todos eles pareciam levar bem ao pé da letra o cumprimento universal de “faça-se em casa”, mesmo quando ele absolutamente não era dito!

Bufou para si mesma com o pensamento de que já devia ter alguém marchando para sua casa em busca da loira. Embora parecessem ter aversão a acordar cedo, os quatro sempre madrugavam quando tinham algum lugar para ir.

Naquele dia, iam para um resort cujas entradas lhes haviam sido dadas por Loki. Parecia que não haveria problemas exóticos. Depois de seus últimos trabalhos — um não remunerado, para sua infelicidade — em que se envolveram com uma flauta mágica de Zeref e com o demônio Deliora, não estava mais tão preocupada com sua segurança. Pior que aquilo com certeza não podia ser!

Quer dizer, podia sim, só que ela ainda não sabia.

Satisfeita com o penteado, saiu do banheiro. Seguiu até a janela do quarto e a fechou, e quando se virou, seus olhos recaíram sobre a carta selada sobre sua escrivaninha. Com um sorriso pequeno, aproximou-se, pegou-a nas mãos e alisou o papel com os dedos.

— Mamãe, vou te contar os detalhes assim que eu voltar, tá bem? — sussurrou antes de guardar a carta com as outras e deixar o apartamento.

“A cada dia...”

~*~

— Foram palavras muito bonitas, sabe — comentou o rosado, puxando a gola de sua roupa azul e amarela.

Lucy olhou-o por cima do ombro, ainda chocada que estivessem usando roupas combinando. Virgo e suas indiretas estavam começando a dá-la nos nervos, deveria dizer, mas até que ficava feliz que o rosado não parecesse se importar com isso — nem com o grande coração formado pelas linhas em seu peito.

— Quais palavras? Uranometria?

— Hã? Que é isso? É de comer? — Inclinou a cabeça para o lado enquanto falava, o vento bagunçando seus já desgrenhados cabelos conforme andavam na direção do pilar de luz que mudara de cor recentemente, observando a amiga com uma expressão inocente.

A loira bufou, virando o rosto para o outro lado e ignorando o fato de que sua mente maluca conseguia pensar que ter os cabelos ao vento o fazia parecer atraente. Quer dizer, eles eram melhores amigos, ele invadia sua casa, ignorava suas críticas e a arrastava pelo céu e inferno: os dois deviam se odiar como se fossem um par de irmãos briguentos — o que, de certo ponto de vista, realmente pareciam.

Mas não, sua mente insana estava processando coisas como a palavra atraente recentemente. Bem, isso não vinha ao caso de qualquer jeito.

Em face de seu silêncio irritado, Natsu decidiu prosseguir:

— Não. O que você disse e fez pelos seus espíritos, é disso que eu estou falando. Não usá-los como armas, tê-los como amigos e lutar por eles e ao lado deles. Isso foi muito bonito — explicou, a voz calma, diferentemente do tom normal. Arriscando uma olhadela, Lucy percebeu a expressão séria com que ele encarava o foco de luz ao longe. — É isso que temos que fazer. Salvar o Happy e a Wendy, nos unir pra isso, todos nós, e queimar o traseiro desses caras.

A garota baixou o olhar por um instante, observando seus sapatos azuis combinando com os dele. Estava tão entretida em pensamentos levianos enquanto Natsu mantinha o foco no objetivo que chegava a sentir um pouco de vergonha — mas apenas um pouco, afinal, ela também tinha o direito de pensar o que quisesse, e na verdade o pensamento bipolar era sua característica marcante, de qualquer modo.

— É claro que nós vamos salvá-los, você nem tem com o que se preocupar — resmungou após um tempo, permitindo que um sorriso confiante surgisse em seu rosto.

“A cada palavra que você disser...”

~*~

— Luce, você tá bem? — perguntou ele, a voz rouca, quando a garota escorregou os braços para longe de seu abdômen após abraçá-lo por trás. Seu rosto se virou para encará-la seriamente de sua altura avantajada. — Ninguém te machucou, Rogue do futuro não tentou te matar outra vez, ou na prisão, algum guarda?

Lucy encarou seus grandes olhos verdes musgo por alguns instantes, vendo a preocupação refletida nas íris masculinas. Bem, ninguém nunca ia entender qual era a sensação de voltar à vida no futuro, ela mesma não sabia explicar, mas vinha com uma série de sentimentos estranhos. Enquanto tocava aquela pele quente, ouvia aquela voz rouca e via aqueles olhos profundos, tudo o que conseguia pensar era que sentiria muita falta deles se não pudesse senti-los novamente.

Talvez Mira tivesse razão e ela estivesse mesmo apaixonada pelo idiota rosa. É, talvez fosse até bom que fosse aquilo, ao invés de culpar as sensações estranhas em alguma dor de barriga inoportuna ou febre repentina. Talvez ela não pudesse ou não devesse mais negar.

Talvez ela não quisesse mais negar.

— Eu estou bem — tranquilizou-o sob a pressão de seu olhar crítico. Suspirou, levantando as sobrancelhas. — E os jogos mágicos? Eles terminaram e você nem viu o final deles.

— Existem coisas mais importantes que jogos — afirmou categoricamente, muito mais rápido do que ela esperava, o que fez piscar surpresa. A intensidade de seu olhar não diminuiu nem sequer um pouco enquanto ele continuava: — Nós não podemos fazer tudo o que queremos.

A voz de Happy ecoou no fundo da mente da loira enquanto ele segredava que Natsu desistira sem hesitação de sua posição na equipe da guilda para poder ir salvá-la das garras do império. Sentiu o rosto esquentar instantaneamente, mas procurou ignorar o quanto disso podia ser visível para o dragão de fogo à sua frente.

— Além disso — continuou o rosado, parecendo alheio a seus sentimentos e deixando a fachada madura cair por terra —, a gente pode fazer os nossos próprios jogos a qualquer hora. Eu vou chutar a sua bunda, Lucy.

Tirada de seus contos de fadas, a loira apenas teve tempo de encará-lo horrorizada conforme ele colocava as mãos na nuca e começava a descer dos escombros para encontrar seus amigos.

— E-ei!

Bem, a vida toda era cheia de jogos, e Lucy com certeza aceitaria jogá-los ao lado dele.

“A cada jogo que você jogar...”

~*~

— Você parece tão inocente quando dorme — sussurrou, passeando os dedos pelos cabelos rosados jogados em seu colo. Ele não podia ouvi-la com os olhos fechados e a respiração ritmada que o mantinham no estado de sono, mas ela gostaria de fingir que podia.

Seu apartamento parecia escuro com a luz desligada, e o ar frio entrava pela janela em rajadas pontuais, assim como a luz da lua que iluminava as madeixas cor de rosa e as faziam pareces cinza-escuras contra seu pijama amarelo claro ainda úmido das lágrimas do rapaz.

Sentia seu corpo dolorido, exausto e exaurido, mas não conseguia dormir tendo Natsu em uma posição tão frágil sob seus cuidados. Igneel havia retornado apenas para abandoná-lo novamente, mas dessa vez a dor era diferente, muito mais forte, muito mais cruel, já que eles nunca mais poderiam se ver novamente.

Natsu chorara durante horas e horas a fio. Sem saber o que fazer para ajudá-lo, Lucy permitiu que se apoiasse nela, e ele a acompanhara até sua casa, tomara um banho quente e chorara em seu colo até adormecer. Seu corpo se encontrava deitado na cama da loira, que se sentava com as costas contra a parede e à frente da janela, o corpo imóvel pelo medo de acordá-lo com algum movimento mal calculado.

Ainda havia rastros de lágrimas em suas bochechas vermelhas, notou com pesar, deixando os dedos continuarem a se enroscar nos cabelos macios. Ele estava muito ferido, e embora todos entendessem sua dor, ninguém podia fazer nada por ele, nem mesmo ela. O máximo de conforto que podia oferecer era um ombro amigo no qual se lamentar, mas isso não era suficiente, para ela não era suficiente.

Doía vê-lo ferido. Doía pensar que não podia fazer nada para ajudá-lo. Queria poder abraçá-lo com todas as forças e dizer que ficaria tudo bem, porque ela o amava e continuaria a amá-lo para sempre, mas não tinha coragem para dizer isso, e de qualquer modo, não resolveria nada. Ele precisava de seu amor, mas não da confusão que esse sentimento traria.

Bem, pelo menos tinha certeza de que poderia passar quantas noites fossem necessárias ao lado dele para ajudá-lo. Com isso em mente, inclinou-se e deu um tímido beijo de boa noite em uma de suas bochechas úmidas.

“A cada noite que você ficar...”

~*~

Seriamente, ela tinha muitos problemas para se preocupar sem contar o rosado em sua lista. Mas, bem, não era como se pudesse apagá-lo ou qualquer coisa do gênero. Na verdade, era a última coisa que queria.

Seus olhos percorriam a constelação de aquário no céu noturno daquela região árida. O vento frio passava vez ou outra, preparado para congelá-la viva, não fosse pelo cobertor que Natsu tão cordialmente, após uma pequena ameaça, havia concordado em emprestar a ela para passar a noite. Ele não sentia frio mesmo, por que ela tinha que ficar ao relento enquanto ele estava numa boa?

Não havia quaisquer luzes da cidade, então conseguia ver as estrelas perfeitamente. Fazia algum tempo que não via seus amigos espíritos celestiais, especialmente Aquarius. Esperava que estivessem bem em seu próprio mundo, mesmo que no dela estivesse um pouco confuso.

Estava cometendo um erro, provavelmente, indo embora com Natsu. Eles não deviam, claro. Primeiro, iria acabar fazendo algo errado com aqueles sentimentos, obviamente — não que pudesse evitar àquela altura, no entanto, podia ao menos prorrogar. Ele tinha um sorriso tão grande e sentimentos tão sinceros que era difícil simplesmente ignorá-lo e dizer que ia ficar.

Mas a culpa não era só dele, claro que não. Ela queria ir e continuar a seu lado para apoiá-lo, embora ele não parecesse precisar de qualquer apoio. Porque ela entendia seus sentimentos de perda, e os próprios, já que ficara sozinha durante aquele ano como havia ficado desde que sua mãe morrera até conhecê-lo. Natsu era como um refúgio seguro de todas as dores.

Ela iria se refugiar nele novamente.

“A cada movimento que você fizer...”

~*~

Ah, certo. Provavelmente era cedo demais para esperar algo como reciprocidade vindo de Natsu Dragneel. Ela havia simplesmente o beijado sem qualquer explicação ou justificativa, obviamente ele estaria confuso e precisaria de tempo para organizar os próprios pensamentos — isso se a palavra romance sequer existisse em seus pensamentos.

Natsu tinha muitas preocupações adultas, mas relacionamentos não eram uma delas.

Onde ela estivera com a cabeça para beijá-lo sem motivos, afinal de contas? Lucy se sentia muito segura de seus sentimentos, não tinha quaisquer dúvidas que o melhor amigo ocupava um lugar diferente em seu coração, mas havia controlado tão bem esse amor, e ainda assim, havia feito aquilo. Ah, às vezes ela irritava a si mesma!

— Certo, você não vai sair daí de baixo. Idiota — resmungou para si mesma, largando a roupa de cama que tentara inutilmente tirar de cima do Dragneel. Com um suspiro frustrando, sentou ao lado da forma encolhida sob a coberta, sentindo o colchão afundar sob seu peso. — Pelo menos você podia falar comigo — murmurou, observando suas mãos enquanto as fechava em punhos sobre o colo.

Mexeu-se desconfortavelmente sob o silêncio que se seguiu a suas próprias palavras. Ela sabia o que tinha que fazer, embora não quisesse. Não era como se tivesse muita escolha — ser odiada pelo melhor amigo pelo resto da vida? Hm, acho que não.

— Você não tem que se preocupar com o que aconteceu ontem — confessou, feliz de que a voz saísse mais controlada do que em seus pensamentos. Virou o rosto para as cobertas, sem qualquer visão do rosado. — Não foi sério. Eu só cometi um erro, desculpa.

Deu um largo sorriso tranquilizador, embora ele não pudesse vê-la. Parecia necessário de algum modo, talvez para assegurar a si mesma que era esse o sentimento que deveria ter de verdade.

— Esqueça isso, não significou nada.

“A cada sorriso que você fingir...”

~*~

— Você tem que parar com isso — insistiu, a voz grossa e irritada.

Embora Natsu apenas a olhasse irritado de sua posição a sua frente, tudo o que via era um garotinho assustado chorando pela perda de um amigo. E, na realidade, era exatamente o que ele era. Não conseguia sequer aceitar plenamente a morte de Romeo, e apesar de o fato feri-lo, e tê-lo ferido durante todo o dia, agora que tinha uma distração, ele estava agindo como se não soubesse. Como se nunca tivesse acontecido.

Não tinha como mentir para si mesmo mais do que aquilo e, ah, Lucy sabia que ele iria sofrer, porque ela também já havia feito isso antes e não funcionava. Sentar e esperar um milagre não daria certo.

Embora tivesse prometido a si mesma havia um ano que iria protegê-lo dessa dor, ela simplesmente não sabia como.

Era tão frustrante! Por que ele não podia entender de uma vez por todas que isso não ia dar em nada? Que a negação não levava a lugar algum?

— Eu não vou parar — afirmou ele categoricamente, a expressão rancorosa tentando retirar um pedido de desculpas da maga celestial, que apenas torceu os lábios e encarou feio de volta. — Eu me sinto ótimo, então por que eu devia parar?

Por que é mentira, quis dizer. Até esse sentimento, ele é uma mentira. Você está cobrindo o vazio no peito com qualquer coisa que possa encontrar. Não existe nada que possa sumir com a dor da perda, mas o tempo pode fazer você se acostumar com ela. E eles ainda não haviam tido tempo.

E nem teriam, embora ainda não soubessem disso.

“A cada promessa que você quebrar...”

~*~

Não era justo que Makarov esperasse que Urametria fosse salvar o dia, porque convenhamos, era bem capaz de nem sequer funcionar, e Lucy adoraria que ele soubesse disso antes de ficar pondo a responsabilidade sobre seus ombros!

Ela estava cansada, machucada em mais lugares do que podia imaginar, seu braço quebrado estava sem o gesso e doía horrores, sua magia havia sido drenada pelas cordas que usaram para amarrá-la mais cedo e não estava ainda plenamente de volta e sua cabeça estava meio zonza, o que comprometia a concentração que exigia o golpe.

Bem, tinha que dar certo. Não era como se tivesse muitas opções além de fazer o ataque funcionar ou morrer, mas seria muito bom se conseguisse se safar, porque não estava no clima para morrer — Natsu a mataria por isso, e dane-se o trocadilho!

Fechou os olhos e se concentrou ao máximo. Tinha de dar certo, tinha de dar! Desejou do fundo do coração que pudesse salvar as pessoas que estavam arriscando suas vidas naquele momento para buscá-la. Talvez ela não tivesse mais o direito de fazer pedidos, já que gastara muitos deles no último ano desejando que não amasse Natsu, e agora seu pedido era em nome desse amor. É, talvez alguém no paraíso estivesse dando risada da cara dela.

Mas pediria mesmo assim, por precaução.

“A cada pedido que você fizer...”

~*~

Lucy piscou, confusa. Sentia os pés e as mãos frios, como se fosse uma noite de inverno. As solas descalças tocavam um chão frio de material caro. Olhou para baixo, surpresa, por alguns instantes antes de erguer os olhos para a cena que se desenrolava a sua frente.

— Você não precisa chorar, querida — contou Layla, deixando uma de suas graciosas mãos tocarem a bochecha da filha pequena, que enterrava as mãozinhas trêmulas nas cobertas. A mãe, deitada no grande leito, tinha a pele pálida como papel, os cabelos dourados espalhados sobre a roupa de cama branca destacando sua tez de alabastro doente, há um tempo doente, que não por muito mais tempo permaneceria assim.

Lucy imediatamente reconheceu a cena. Aproximando-se devagar, deu a volta na cama, parando ao lado da pequena criança loura.

— M-mas, mamãe... — sussurrou a garotinha, a voz trêmula. Seus grandes olhos castanhos se levantaram para olharem pedintes para a adulta. — Eles disseram que a mamãe vai se despedir...

— Ah, eles disseram, foi? — ecoou a mais velha, a expressão ainda suave enquanto seus dedos corriam pelo rosto da criança, limpando alguns rastros de lágrimas. Lucy sentiu as mãos ainda mais frias enquanto se lembrava do que ela diria a seguir.

— Mas — começou, ao mesmo tempo que a Layla de suas lembranças — você não tem com o que se preocupar, Lucy. Porque — sentiu os olhos arderem, mas franziu a testa, determinada a não chorar — eu estarei sempre com você.

— Observando — continuou a mãe, a voz suave e acalentadora envolvendo o coraçãozinho da filha. — Cuidando de você.

— Você não entende... — sussurrou a Lucy adulta, apertando as mãos fria em punhos e dando mais um passo, parando ao lado da cama e se agachando para ver o rosto da mãe que nunca mais a olharia. — Você não entende que desde que você foi embora, eu tenho estado perdida, mamãe? Uma memória não pode ficar no seu lugar. Eu sonho com você, vejo você onde eu for, quando você vai me dar os conselhos que eu preciso, hein? Quando você vai estar aqui? Nunca!

Baixou o rosto, irritada, sentindo os olhos arderem ainda mais. Não queria chorar de novo pela mãe, simplesmente não queria. Sabia que não era culpa de Layla, sua morte não havia sido prevista, nem desejada ou sequer proposital. A senhora loira morrera em seus vinte e poucos anos, deixando para trás a pequena criança que se esforçara tanto para cuidar.

— Mas eu não vou te ver, mamãe — sussurrou a pequena Lucy. Naquele momento, sua voz estava irritando a versão mais velha dela, mas não poderia tocá-la para pará-la, afinal, aquilo não era real. Era só mais um sonho. — Se eu não puder te ver, como eu vou poder continuar em frente?

— Você não precisa me ver, querida — respondeu a loira após um momento de pausa. Lucy levantou os olhos para observar a mãe por um instante. Não conseguia se lembrar dessas palavras, por algum motivo, embora a cena da morte de sua mãe sempre tivesse sido tão vívida em sua mente. — Você é forte o suficiente para viver sem mim, Lucy. Por isso você tem que continuar e fazer tudo o que você quiser, e eu irei observar, porque é isso que as mães fazem. Eu irei cuidar de você, então não tenha medo, nunca. Eu sempre amarei você.

Lucy a observou de olhos arregalados. Era como se a lembrança pudesse ler seus pensamentos, soubesse suas inseguranças e tivesse um conselho para dar. Ela não tinha que ter medo de nada, porque de algum modo, tudo sempre daria certo, mesmo que não fosse o melhor resultado possível.

— A cada suspiro que você der — cantarolou a mãe, afagando os cabelos da pequena Lucy, que fechou os olhos brilhantes e apoiou a cabeça em sua cama. — A cada movimento que você fizer, a cada laço que você quebrar, a cada passo que você der... Eu estarei cuidando de você.

Conforme Layla cantava, a pequena Lucy caía no sono, e a lembrança ia desaparecendo, tornando-se uma imagem cada vez mais escura e distante. Lucy observou os dedos de sua mãe, que acarinhavam a loira, seus belos cabelos dourados e seus olhos castanhos desaparecerem como se nunca uma vez tivessem existido, trocados pelo negrume da inconsciência. Havia sido a última vez que vira sua mãe.

Mas não a última vez que sua mãe a vira.

"A cada suspiro que você der...”

~*~

Os cílios da loira espanaram para cima enquanto abria os olhos sonolentos. O quarto estava escuro e silencioso, o que indicava indubitavelmente que estava sozinha — Natsu era extremamente barulhento, até adormecido.

Remexeu-se, sentindo frio quando a coberta escorregou de seus ombros. Talvez por isso o sonho havia sido tão realisticamente gelado, pensou, sentando-se e passando uma mão pelos cabelos desgrenhados. De acordo com o céu do lado de fora de sua janelinha redonda, já era noite. Havia adormecido após se deitar para pensar um pouco, sentindo certo mal estar e dores de cabeça.

Olhando para baixo, tocou o cobertor azul com os dedos. Provavelmente Natsu ou Happy a havia encontrado e coberto, já que era começo de inverno. Sorriu pequeno, alisando a coberta com as mãos geladas. Os dois eram tão atenciosos com ela, mesmo a chamando de estranha e fazendo pouco caso de suas reclamações. Eram como seu par pessoal de cavaleiros de armadura brilhante, pensou, apoiando o rosto na outra mão. Não sabia por que havia se preocupado tanto sobre o jeito certo de lhes contar a verdade — de um modo ou de outro, com certeza era uma notícia muito bem-vinda.

Puxou o cobertor, jogando-o sobre os ombros conforme se levantava do colchão. Sentiu arrepios nas pernas mornas, cobertas pela escuridão daquele quarto. Tinha de contar para eles naquele momento, antes que se acovardasse novamente, ou antes que a dor de cabeça e os enjôos voltassem, porque nesse caso eles podiam tentar medicá-la, e a loira sabia que alguns remédios faziam mal para bebês.

Mas de um jeito ou de outro, ela não tinha que se preocupar, já que não iria contar nada sozinha.

— Certo, mamãe? — sussurrou para o teto, dando um sorriso bobo para si mesma. — Juntas agora e sempre, não é?

Virou-se e deu a volta na cama, estendendo os dedos para a maçaneta. Encolheu-se um pouco ao sentir o material gélido do qual ela era feita, mas girou-a assim mesmo, ouvindo o som de risadas vindas da sala de estar. Talvez Natsu tivesse convidado Gray e Erza para passarem lá — ou quem sabe talvez eles tivessem invadido, como costumavam fazer com seu apartamento.

— Hey, Luce! — chamou o rosado, conforme ela atravessava a porta e a fechava novamente, sumindo com o feixe de luz advindo da sala.

A vida era uma história que nunca teria um fim, que sempre continuaria através da felicidade que era deixada para trás e cultivada.

Na mesa de cabeceira da cama, a foto de Layla Heartfillia sorriria eternamente.

“A cada movimento que você fizer; a cada passo que você der.”

“Eu estarei cuidando de você.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é isso aí, adoráveis. Estamos a um capítulo da finalização oficial da fanfic. Estão ansiosos para o fim? ;D Finalmente poderão tirar essa bagaça dos seus acompanhamentos, quem sabe passar pros favoritos ou sei lá -sqn kkkkkkkkkkk
Venho de volta e venho com novidades!! Quem aí gosta de Sci-fi? Quem aí gosta de universo alternativo? Quem aí gosta de NaLu? Pra quem ainda não ligou os pontos, estou planejando participar do desafio de julho-agosto do site! Uma fanfic com robôs e universo futurista só pra vocês, o que acham? Interessados? ;D
Ainda não sei se vou conseguir participar porque o tempo vai apertar o meu pescoço em agosto, mas posso tentar fazer o máximo possível e se não conseguir eu continuo a fic por fora do desafio mesmo. Mas a ideia veio e eu não queria ignorá-la, tudo graças ao site e aos temas malucos dele kkkkk. Alguém mais aí quer participar do desafio? Porque vai ser super legal, eu aposto. E mais humano que o desafio de fevereiro. Gente, postar um capítulo por dia é BEM complicado kkkkkkkk. Se bem que no começo eu fiz bem de qualquer jeito, então não posso falar nada kkkkkk.
Ah, sim, tenho outros projetos de fic (uma Jerza que falei pra vocês antes, uma long-fic GaLe e várias NaLu), então não acho que iremos nos despedir definitivamente. Ou pelo menos não espero kkkkkk. Muuuito obrigada a todos que estão lendo e comentando e que foram pacientes e esperaram por esse capítulo. Espero que vocês tenham gostado e tenha valido a espero. Obrigada por todos os acompanhamentos e favoritos e leitores novos que surgiram nesse meu tempo de ausência. Pode ser por pouco tempo, mas espero que fiquemos juntos até o final :B

Beijitinhoooooooooooooooooooooooooooooooos

PS: A tradução do título eu peguei no Vagalume, mas literalmente quer dizer "cada fôlego que você tomar".
PS²: Este capítulo foi revisado antes de ser postado, mas quaisquer erros, já sabem, é só avisar :3