Família Dixon escrita por Andhromeda


Capítulo 3
Quando tudo dá errado


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer por todos os comentários...
Espero que gostem de ler, tanto quanto gostei de escrever!



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Dois dias depois.

Estavam em um Jeep modelo 2012, o carro não era muito rápido, mas era grande e resistente o bastante para o fim do mundo. Já haviam percorrido alguns quilômetros pelas pistas abandonadas da Interestadual, com seus carros depenados e errantes famintos, quando viram um cavalo magrelo e marrom caminhando pelo acostamento, com a cabeça baixa – ainda usava a montaria.

Aquele parecia ser um sinal de mau agouro – o pobre animal provavelmente não sobreviveria nem mesmo ate o fim do dia.

Beth tinha o joelho apoiado no painel do carro e o nariz enfiado em um mapa esfarrapado em seu colo, enquanto Daryl dirigia com uma mão no volante e a outra segurava um pêssego maduro demais. No banco de trás, Judith estava dormindo em um bebê conforto que tinham arrancado de outro veículo.

Era uma cena quase doméstica.

Quase segura...

Não mais, pensou Beth, desanimadamente.

Com o canto do olho observou o caçador, e o pegou ajustando o espelho do retrovisor para que pudesse manter um olho na bebê, que dormia tranquilamente. Ele tinha um meio sorriso terno – que ela tinha certeza, era uma ação totalmente inconsciente – o que fez com que algo apertasse em seu coração e florescesse.

Não, não, não... esse é o Daryl, não é hora de ter uma paixonite adolescente por um cara mais velho...

Ele a irritava a maior parte do tempo com o seu jeito excessivamente calado e dar de ombros, mas em momentos como esse, quando olhava para Judy como se ela fosse à coisa mais preciosa e magnífica da sua vida, ou quando a aconchegava em seus braços durante a noite e fazia a menina dormir... Simplesmente era impossível não se apai...

Não vá por ai Grenne, não fantasia sobre coisas que nunca irão acontecer, repreendeu-se.

O caçador deu mais uma mordida no pêssego e o suco escorreu pelo seu queixo, Beth sorriu e ele atirou-lhe um olhar zombeteiro.

Seu sorriso sumiu quando Daryl voltou a encarar a estrada e distraidamente arrastou a língua pelo seu pulso, perseguindo uma linha doce que deslizava pela sua mão. Beth não sabia explicar o porquê, mas sentiu seu corpo esquentar e acompanhou com olhos ávidos o caminho que sua língua fazia.

Ela devia ter deixado escapar algum som, porque ele a olhou com curiosidade.

Sentindo seu rosto pegando fogo, a garota limpou a garganta, se remexeu no banco e encarou uma área do mapa com um interesse obsessivo.

– Será que estamos indo pelo caminho errado? – ela perguntou.

Não, por quê?

Deveríamos estar nessa estrada– Beth apertou os lábios, apontou com a ponta do dedo uma linha vermelha no papel surrado, em seguida levantou a cabeça e olhou para o pára-brisa – mas não tem nenhuma placa, nem nada.

Estamos no caminho certo.

Como você sabe?

Daryl deu mais uma mordida no pêssego, ficou quieto por alguns minutos, depois deu de ombros.

Como você sabe? – ela insistiu, agora mais impaciente.

Apenas sei...

Macacos selvagens são mais articulados que você, Sr. Dixon – resmungou.

Ele desviou o olhar da direção por alguns segundo e lançou para ela um olhar de desdém, do tipo a fazia se sentir uma idiota infantil.

Cretino.

O silencio caiu entre os dois, Daryl terminou de comer o pêssego e jogou o caroço pela janela.

Ela não conseguia parar de pensar que a cada quilometro que passava, era um quilometro mais longe da prisão, um quilometro mais distante de qualquer possibilidade de encontrar a sua irmã. Por mais que uma parte sua repetisse incessantemente que ela não estava indo para o outro lado do mundo e que quando as coisas estivessem melhores eles poderiam voltar e procurá-los...

Nunca voltamos para a fazenda, nem mesmo pra procurar os que perdemos.

Vamos manter a Bravinha segura – a voz de Daryl era baixa e rouca – pra entregá-la pro Rick quando nos encontrarmos.

Quando. Não, se.

Eles acham que ela esta morta – disse com uma mistura de pesar e raiva – droga, eles acham que nós estamos mortos.

É preciso mais do que um maldito louco pra matar um Dixon, eles sabem disso – seu tom de voz não era carregado com arrogância como alguns teriam, mas puro e simples orgulho.

As palavras dele não deveriam tranqüilizá-la com tal facilidade, porem o faziam.

Agora, coloca um som – ele ordenou, bateu dois dedos contra o console central incisivamente, ainda sem encará-la.

Ela pendeu a cabeça para o lado e estreitou os olhos, o encarando. Mas quando percebeu que não estava causando nenhum efeito, suspirou e se inclinou sobre o painel do carro, onde tinha alguns CDs – na verdade, havia apenas três.

Dois tinham capas transparentes e títulos escritos a mão em uma fita adesiva, já o terceiro fez Beth sorrir. Quando Daryl franziu a testa interrogativamente para ela, a garota mostrou-lhe o caso e ele deu um suspiro de diversão.

Oh, cacete – gemeu – é o melhor que tem.

Não xingue – o repreendeu, fracassando miseravelmente em esconder seu sorriso – bem, também temos o “Minha garota”, promissor em minha opinião e “Eu te amo”.

Daryl bufou.

Você vai gostar, as letras são legais – Beth deu o sorriso mais brilhante que conseguiu e colocou o CD da Taylor Swift para tocar.

A musica Red começou a tocar em seguida e a voz doce da cantora tomou conta da cabine do veiculo.

Loving him is like driving

A new Maserati down a dead end street

Faster than the wind, passionate as sin

Ended so suddenly

Loving him is like trying to change your mind

Once you're already flying through the free fall

Like the colors in autumn, so bright…

A garota abriu a janela e deixou que a brisa entrasse, tinha cheiro de pinheiro, com apenas um toque de frio.

Era tão refrescante quanto uma ducha fria.

Losing him was blue, like I'd never known

Missing him was dark grey, all alone

Forgetting him was like trying to know somebody

You never met

But loving him was red

Loving him was red…

Beth sorrateiramente deu uma olhada de soslaio para Daryl, que estava concentrado na estrada.

Ele lhe parecia o tipo de homem que pudesse causar esse tipo de paixão intensa em alguém, ao ponto de ficar gravado a ferro quente no coração, porem também seria devastador – ponderou – não achava que o caçador pudesse se entregar inteiramente a uma pessoa, que confiasse seu coração assim, tão livremente.

Ela desviou o olhar para longe quando Daryl a pegou o encarando, e pensou que talvez os olhos dele a tenham fitado mais tempo que o necessário.

Eles ouviram em silencio enquanto se dirigiam para o Norte – apesar das reservas da garota – esquivaram-se de errantes em alguns pontos e agradeceram pela altura extra do Jeep, quando Daryl teve que passar pelo acostamento para se desviar dos carros abandonados pela pista.

Beth havia pegado Judy no banco de trás e a alimentado com um pedaço de pêssego para o almoço, brincou com a menina em seu colo e quando ela caiu no sono, a Greene a colocou novamente no bebê conforto.

À medida que a tarde começou a diminuir, eles chegaram a uma confusão de veículos na pista, Daryl foi parando a uns cinqüenta metros abaixo da estrada, olhando com curiosidade à frente. Antes de Beth poder questioná-lo, ele dirigiu para frente lentamente, e quanto ela seguiu seu olhar estreito, percebeu o que o caçador havia notado.

Não havia errantes.

Apesar dos capôs ​​amassados ​​e portas abertas em alguns dos seis veículos, os mortos não estavam por perto de nenhum deles – mesmo que ainda pairassem em torno – não estavam perto o bastante para serem perigosos.

Daryl parou e deixou o motor em marcha lenta, abriu a porta cautelosamente – com sua besta já armada – deixou um pé dentro do carro e assobiou auto, prestando atenção para uma movimentação de qualquer lugar.

Beth observava por trás dele – ainda sentada no banco do passageiro – e Judith se remexia em seu bebê conforto, suas pequenas pernas dando pontapés.

O que você acha? – o caçador perguntou.

A Greene tentou ao máximo esconder a surpresa por ele estar mesmo pedindo a opinião dela.

Podemos usar a gasolina – foi o seu comentaria cometido.

Ele balançou a cabeça afirmativamente, saiu e fechou a porta, indo em direção ao naufrágio de carros.

Beth se esticou ate o banco de trás – foi uma ação fácil, considerando o quanto magra ela estava – e acalmou Judy que estava meio acordada, com uma chupeta limpa azul bebê.

Nós vamos estar de volta daqui a pouco, seja boazinha – acariciou a bochecha da menina e saiu do carro.

Olhou em volta cautelosamente, e ao não ver nada, se dirigiu para a parte de trás do carro.

Daryl já estava com o porta malas aberto.

Esta com a faca? – o tom ríspido e abrupto dele, sempre dava a impressão de que ate mesmo uma simples pergunta parecesse uma ofensa.

Claro – ela respondeu na defensiva, tirou a faca de caça que estava presa a sua calça.

O caçador deu um aceno curto com a cabeça e foi conferir as redondezas.

Beth tirou um galão vazio do porta malas e uma mangueira de jardinagem vermelha brilhante, antes e segui-lo.

Daryl estava meio agachado ao lado de um dos veículos, bateu na portinhola de combustível e desatarraxou. Por sua vez, a garota deixou o galão no chão, lhe entregou a mangueira e foi verificar o interior dos outros carros, olhando pelos vidros sujos das janelas antes de abrir as portas a procura de algo útil.

Use a faca – ele grunhiu para ela, enquanto tirava a pouca gasolina da carcaça amassada com a mangueira.

Sei me virar sozinha – respondeu um tanto irritada com a super proteção dele.

Beth era esguia, enganosamente forte, mesmo antes – havia ganhado um peso durante seu tempo na prisão, mas a desnutrição, corridas constantes e lutas pela sobrevivência das ultimas semanas tinham minado as suas forças. Porem, estavam juntos a mais de uma semana e a garota já havia provado seu valor em mais de uma ocasião, ela não era mais a garota delicada e indefesa de outrora.

Daryl melhor do que ninguém deveria saber disso.

Um errante tinha sido escondido pelo ângulo de dois veículos – um gol preto e uma mini van azul marinho. Era gutural, suas articulações rangeram quando ele correu em direção ao caçador.

Gritar não era uma opção, necessitaria de energia e tempo – o que no momento não possuía nenhum dos dois – então Beth simplesmente ágil, e saiu desembestada em direção a coisa.

O errante – que um dia havia sido um homem idoso, com barba branca e blusa de flanela – percebendo a sua aproximação, se virou para a garota com o único braço estendido.

Talvez se estivesse pensando corretamente, ou se tivesse calculado seus movimentos, o ataque de Beth não tivesse dado tão certo. Pois no momento em que os dedos frios seguraram em seu ombro e a puxaram em direção aos dentes afiados, a faca de caça – que na verdade ainda pertencia a Daryl – se cravou no crânio frágil pelo processo de decomposição.

O corpo do errante caiu no chão – e para não ir junto com ele – ela largou a faca e inclinou o corpo para trás.

Beth – o caçador a chamou, do que parecia ser quilômetros de distancia.

A garota continuou parada, ainda ofegante, seus grandes olhos azuis estavam arregalados e vazios, seu rosto em uma palidez assustadora.

Droga, garota – Daryl rosnou, em uma mistura de raiva e preocupação – temos a porra de um bebê, não temos tempo pra ficar em choque.

Sem reação.

Cacete – em um rompante, ele se aproximou dela e a segurou pela nuca com a mão que não carregava a besta – porra, vamos acabar mortos.

Nada.

Beth – repetiu num tom quase desesperado, apertou sua nuca e aproximou seus rostos ate ficarem a um suspiro de distancia – Judith esta no carro.

Não era exatamente uma frase que explicasse muita coisa, mas aparentemente a menção da criança a fez sair de seu estupor.

O corpo da loira tremia violentamente sob sua pele e bile queimou em sua garganta, mordeu o lábio para tentar acalmar o pânico que vibrava em seus ossos, mas tudo que conseguiu foi que seus olhos azuis se enchessem de lagrimas.

Aquele zumbi não tinha nada a ver com seu pai – com seus olhos demoníacos e aspecto monstruoso – mesmo assim, os cabelos brancos e a barba farta...

Daryl – gemeu, era um som doloroso e profundo, o mesmo que alguns animais faziam segundos antes de serem abatidos – meu pai... ele... isso – um soluço escapou de seus lábios e o caçador a soltou como se ela estivesse em chamas – ele ainda esta lá.

Já que ambos sabiam que mesmo sendo decapitado, um errante permanecia vivo – ou não morto – ate que seu corpo se consumisse.

Merda, essa coisa não é o Hershel.

Poderia ser – sussurrou.

Alguns dos nossos devem ter dado um fim nele – palavras duras, mas que tiveram um estranho efeito calmante sobre ela.

Daryl – ela queria gritar, mas tudo que conseguiu foi outro soluço.

Não podemos ficar aqui por mais tempo – sua voz rouca era incomumente suave, se abaixou e pegou a faca que ainda repousava na cabeça do cadáver – estamos em campo aberto.

Beth concordou com um gesto de cabeça e pegou a faca com mãos tremulas.

Temos que manter Judy segura, a adolescente repetiu a frase incontáveis vezes na sua cabeça.

*

Moveram-se rápido – da forma como Rick lhes havia ensinado – em 10 minutos eles estavam dando a ultima busca, onde encontraram um machado de incêndio e um pequeno kit de primeiros socorros, enfiaram tudo em uma sacola e voltaram para o Jeep.

Judith começou a chorar há poucos minutos, um sinal definitivo de que era hora de ir.

O coração de Beth parou e seu sangue gelou em suas veias, quando viu três errantes a apenas alguns metros da porta traseira do carro – do lado mais próximo do bebê.

A Greene soltou um grito que poderia ter sido o nome de seu parceiro, deixou cair à sacola que carregava e correu. Os errantes se distraíram com ela – como esperava que fizessem – e todos se viraram em sua direção.

Armada apenas com sua faca de caça, Beth correu para eles. Podia ouvir Daryl gritando atrás dela, viu o errante mais próximo cair com uma flecha no olho. Mas o desespero fazia com que a sua mente funcionasse em um ritmo frenético, não totalmente ciente do drama a sua volta.

Tenho que salvar a Judy, o pensamento martelava em seus ouvidos.

Empurrou um dos zumbis e se colocou de forma que pudesse ficar entre eles e a porta do carro.

Sua faca perfurou um crânio podre e antes que pudesse puxá-la de volta, o outro errante – já recuperado do seu empurrão – a agarrou pelo braço e a pressionou contra a lateral do carro.

**

Daryl estava longe demais, subiu em cima do capo de um carro que atrapalhava seu caminho e se aprumou para mirar. Disparou uma segunda flecha e essa pegou no pescoço do errante – perto demais de Beth, para que ele arriscar um terceiro tiro. Tirou uma grande faca da sua bainha na cintura e correu em direção à garota. Porem, suas botas de repente afundaram em baixo dele, um som estridente de vidro trincando e logo depois cedendo tomou conta da noite.

Maldito pára-brisa, pensou o caçador.

Segundos antes de uma dor quente, imediata e terrível, explodisse na lateral da sua coxa e cravasse suas garras raivosas em suas costelas e braço.

Um grito rouco rasgou a sua garganta.

Entre tanto, apesar da dor, rolou de lado e com muita dificuldade, se colocou de joelhos – ou pelo menos tentou – e armou uma flecha em sua besta.

Sua visão estava ficando turva e a cada respiração que dava poderia sentir o vidro entrando em sua carne.

Mas ele não desistiria, nem cairia.

Não quando Beth estava lutando com aquela coisa, chamando por seu nome em desespero.

É preciso muito mais pra derrubar um Dixon.

Usou toda a sua energia e concentração para focar na garota.

Beth! – gritou, podia ver o brilho de seu cabelo loiro atrás da sobra do cadáver miserável, e algo muito parecido com terror apertou seu coração.

Abruptamente a adolescente deu um empurrão no errante, separando seus copos.

Boa garota.

Daryl atirou uma flecha que acertou em cheio o crânio podre, no mesmo momento em que Beth ergueu-se para atacar com sua faca...

Levou alguns segundos para perceber que a ameaça havia acabado.

Ambos respiravam com dificuldade, o sangue quente deslizava pela sua pele e encharcava as suas roupas – Judith ainda chorava.

Temos que sair... – as palavras saíram muito baixas, ate mesmo para seus próprios ouvidos – não é... seguro...

Não! NÃO! Daryl... – Beth gritava em pânico, correndo em sua direção.

Ele queria dizer para ela calar a boca, se não atrairia qualquer errante que estivesse por perto, mas da mesma forma que uma lâmpada é apegada, sua visão escureceu.

E Daryl já não pensava em mais nada.


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Notas finais do capítulo

Na verdade, eu não curto muito a Taylor - me crucifiquem - mas achei que ela era bem a cara da Beth e o total oposto do Daryl, sabe...
Acho q no fim, ficou bem legal com ela!

“Amá-lo é como dirigir
Um Maserati novo numa rua sem saída
Mais rápido que o vento, apaixonado como o pecado
Acabou tão de repente
Amá-lo é como tentar mudar de ideia
Uma vez que você já está voando em queda livre
Como as cores no outono, tão fortes
Antes de esmaecerem

Perdê-lo foi azul, como se eu nunca tivesse conhecido
Sentir a sua falta foi cinza escuro, completamente sozinha
Esquecê-lo foi como tentar saber sobre alguém
Que nunca conheci
Mas amá-lo foi vermelho
Amá-lo foi vermelho ”


Carro: http://carrosdoalvaro.blogspot.com.br/2012/01/jeep-lanca-utilitario-compass-no-brasil.html

Musica: http://www.vagalume.com.br/taylor-swift/red-traducao.html

Opiniões?!