Família Dixon escrita por Andhromeda


Capítulo 16
Judith


Notas iniciais do capítulo

Oie meus amores!!
Sei que demorei um pouco - mas sejam bonzinhos, não demorei tanto quanto da ultima vez!!!
Gostaria de dedicar esse capitulo a Marcela Costa!
Espero que goste.



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Querido Diário

Beth parou e olhou as palavras sem saber ao certo o que escrever depois. Claro que tinha milhões de acontecimentos que queria compartilhar com seu amigo sempre tão fiel, porém, olhando para as paginas anteriores – cheias de esperança e inocência – a garota tinha medo de macular de alguma forma aquela parte da sua vida.

Balançou a cabeça – como se assim pudesse desvanecer os pensamentos – apertou a caneta entre os dedos e começou a escrever:

Pela primeira vez em minha vida, não sei como colocar em simples palavras o turbilhão que se passa na minha cabeça.

Muita coisa mudou desde a ultima vez que escrevi em você; quando ainda estava sob a proteção da prisão, com suas cercas e segurança. Naquela época – mesmo com todas as adversidades – éramos felizes. Toda a minha família estava a minha volta e por mais que o mundo continuasse sendo um caos, sempre podia contar com a sabedoria do papai, os abraços apertados da Maggie, as brincadeiras do Glenn, a gentileza da Carol, o sorriso do Carl, o cuidado sutil do Rick e ate mesmo, o olhar sereno da Michonne – que tinha o poder de transmitir milhões de palavras.

Parou novamente, seu coração apertado com a lembrança das pessoas que tinha perdido – porque por mais que acreditasse com toda sua alma que eles ainda permaneciam vivos e lutando como ela, não saber se estavam bem, a aterrorizava.

Mas ainda tenho que ser grata por ter conseguido manter Judy segura, por ter escapado com Daryl ao invés de sozinha, pois se não fosse por ele, nem sei onde estaria nesse exato momento.

Agora, sei coisas que a Beth da Prisão não sabia, e que a Beth da Fazenda provavelmente nem mesmo poderia imaginar. Por exemplo, acender uma fogueira usando a Luz do Sol, esterilizar a água de um rio, como tornar um acampamento seguro e os lugares onde procurar por suprimentos perdidos

– Olhe sempre debaixo das prateleiras e balcões, a maioria dos idiotas ignoram a merda que cai no chão – uma vez Daryl havia lhe dito.

Ate então, Beth não o conhecia tão bem como agora, e havia encarado a lição como uma critica – o que a deixou extremamente irritada.

Hoje – com tudo que já tinham passado juntos – a lembrança trouxe um sorriso aos seus lábios.

Era verdade que não tinham encontrado uma sacola lotada de comida – ou armas – mas pelas prateleiras derrubadas e depenadas, acharam 1 formulas, 1 pacote de Doritos – que não comia a tanto tempo, que simplesmente tinha esquecido o quão delicioso poderia ser o biscoito – e 3 latas perdidas de feijão verde.

Depois de se alimentar de esquilos tostados em uma fogueira improvisada por quase 5 dias, a loira estava mais que feliz em dar boas-vindas a nova fonte de proteína.

Antes, pensava que essas coisas ainda eram pessoas, que de certa jeito, era errado matá-las. Mas já não penso dessa forma e em parte me pergunto – com certo medo – o que isso faz de mim?

Acho que o exato instante em que mudei de opinião, foi quando Daryl se machucou – o momento mais aterrorizante da minha vida.

Mesmo quando a horda invadiu a fazenda – e por alguns segundos, não havia ninguém entre mim e os Walkers – não senti tanto medo quanto naquele quarto de Hotel, com Judy faminta e Daryl morrendo.

Mesmo depois de tantos dias, ela ainda podia sentir o resquício do medo – que congelava a alma e entorpecia seus pensamentos.

Resquício? A quem esta querendo enganar, Greene? Perguntou-se. Toda a noite, acordava sobressaltada, olhando em volta – com o coração na garganta. E só conseguia voltar a relaxar depois de certificar-se que seu bebê e caçador, estavam em total segurança.

Sempre soube que nunca seria uma guerreira como Maggie, ou forte como Shawn. E por ser a caçula, o papai fazia questão de gastar todo seu estoque de super proteção comigo.

Nunca me importei realmente – principalmente depois que o mundo acabou, e a falsa segurança que eles me passavam era tudo que tinha. Mas só percebi o quanto esse “cuidado” poderia ser prejudicial, ao não ter ninguém pra me proteger.

Foi aterrorizante e a maioria das coisas que fiz, foram impulsionadas por puro desespero.

Se eu simplesmente me envolvesse em um canto escuro e seguro – como cada parte do meu ser implorava – para esperar ate que tudo acabasse, iria condenar todos nós.

Quando terminou de escrever as palavras, suas mãos tremiam.

Sentiu um aperto no peito e um gosto amargo na boca. Respirou fundo e segurou a caneta mais firmemente – ainda não estava pronta para pensar nisso, decidiu, talvez devesse andar por um terreno mais seguro.

Judith aprendeu a engatinhar, e nesse momento – tendo corrido atrás dela por quase todo o Reformatório – me pergunto o porquê de ter estado tão ansiosa pra que isso acontecesse.

Juro por Deus, ela é a bebê mais rápida que já nasceu.

Sorriu com carinho, ao se lembrar do entusiasmo e encanto da menina ao descobrir seus novos limites.

Ela também tem um gosto peculiar para organizar objetos. Depois de ter passado apenas uma tarde com a Sra. Parks no Refeitório, conseguiu desaparecer com todas as colheres do lugar – ate hoje é muito comum encontrar uma colher de sobremesa entre as roupas de cama.

Desconfio de que Judy já tenha conseguido conquistar o coração de todas as pessoas daqui, e que provavelmente, poderia colocar fogo no lugar e tudo que precisaria pra se safar seria um dos seus sorrisos caprichados.

Beth desviou sua atenção do Diário por um segundo.

Estava deitada de bruços na cama, as pernas cruzadas no tornozelo. A luz do Sol de fim de tarde, entrava pela janela e iluminava seus cabelos de trigo que – soltos – caiam sobre o caderno.

Podia ouvir perfeitamente os gritinhos excitados de Judith vindos da sala – porém, teve que se esforçar um pouco mais para escutar a voz rouca e masculina, que a acompanhava.

Mas sem duvida, a coisa mais cômica que ela passou a fazer nos últimos dias, foi à mania de jogar as coisas na privada – que seria realmente exasperante se não tivesse desenvolvido uma preferência assustadora pelas coisas do Daryl.

Seu cordão.

Blusa.

Cinto

Um isqueiro – que infelizmente teve perda total.

Sua bota – apenas uma, pois foi pega em fragrante antes que pudesse pegar a outra.

Seus preciosos cigarros...

A loira sorriu ao se lembrar da cara de desolação do caçador quando esse pegou a maço encharcado de dentro do sanitário.

– A pequena encrenqueira nem tem a cara de pau de parecer arrependida – o arqueiro tinha rosnado, enquanto Judy sorria encantadoramente para ele.

O cigarro tinha sido um presente de Sean – o Australiano havia encontrado o maço na ultima busca a cidade que tinha feito – e o Dixon havia lamentado com a mesma dor que um pai teria ao perder um filho querido.

Daryl e eu estamos dormindo juntos

Com o rosto em chamas, a loira riscou as palavras e reformulou:

Daryl esta dormindo na cama comigo.

– Melhor – sussurrou para si mesma.

Não foi uma das coisas mais fáceis de conseguir – o Sr. Dixon é teimoso demais pra "facilitar" algo – e quase desisti depois daquela manhã. Mas engoli toda vergonha e constrangimento que sentia e bati o pé – tinha certeza que ele voltaria para o sofá se eu não tivesse feito algo pra impedir.

Confesso que foi mais um monologo, que dialogo – isso se não considerar grunhidos e rosnados como palavras – e no fim, deixei bem claro que se ele quisesse dormir teria que ser na cama.

Ele aceitou, mas com a condição de Judy ficar no meio – entre nós dois.

Okay.

Aceitei principalmente porque o conheço e entendo que somos fundamentalmente diferentes. O total oposto um do outro – se alguém me perguntar.

O toque, por exemplo, pra mim é uma coisa normal, mas pra ele não e...

– Venha ver isso – uma voz a chamou e a trouxe de volta ao mundo real.

O objeto de seus pensamentos apareceu no umbral da porta do quarto. Vestia o mesmo colete surrado de senpre, uma blusa preta – sem mangas – se destacava por baixo, a calça rasgada nos joelhos e suas marcantes botas de combate.

Se compará-lo com o dia em que tinham se conhecido – há muito tempo atrás, na Fazenda – pelo menos fisicamente, muita pouca coisa em Daryl Dixon havia mudado – talvez precisasse urgentemente de um corte de cabelo. Porém, aos olhos da loira, o homem que ele já foi um dia e o de agora, eram tão dispares, que poderia se tratar de duas pessoas.

É claro que ele ainda tinha um temperamento realmente difícil de lidar, e um palavreado que deixaria um marinheiro orgulhoso, mas agora, Beth conseguia perceber perfeitamente as bordas suaves de suas palavras – não só com Judy, mas com ela também – a gentileza de seus gestos – como cobri-la durante a noite e não reclamar quando a adolescente roubava todo o cobertor – e o melhor, a forma como o caçador a olhava quando pensava que ela não perceberia.

Não era sua imaginação romântica – assegurou-se – pois o amor refletido nos seus pálidos olhos azuis, era tão puro e grande, que a Greene se perguntava como ele poderia não perceber.

– Anda menina – Daryl disse com impaciência, quando a loira não tinha se movido – mexa-se – e com a ordem, voltou a desaparecer pela porta.

– É, um perfeito cavaleiro – a garota resmungou para si mesma, ao fechar cuidadosamente seu Diário e guardá-lo debaixo do travesseiro – que sabe fazer uma mulher se sentir especial, apenas com algumas palavras.

Beth levantou da cama e passou as mãos pela calça rosa de Brim, e conferiu se todos os botões da camisa social que usava estavam fechados – como era ligeiramente larga, tendia a envergonhá-la em publico, expondo coisas que não deveria. Descalça, cruzou o quarto e estacou ao ver a cena que se desenrolava na sala.

Daryl estava de costas para ela, ajoelhado e com as mãos estendidas a sua frente – sua besta, descansava em cima do sofá ao seu lado. A poucos passos do caçador, Judy – vestindo um macacão azul grande demais para seus saudáveis 6 meses, e um sorriso que poderia iluminar um pequeno país – estava sentada, a menina abria e fechava os pequenos punhos em direção ao caçador, soltando gritinhos – como se o estivesse persuadindo a pega-la.

– Não, não – Daryl negou – vai ter que fazer seu próprio caminho.

Beth não fazia a mínima idéia do que estava acontecendo ali, mas instintivamente, sabia que era algo muito importante.

– Vamos lá, Bravinha – a voz rouca do arqueiro incitou a criança – mostre pra Beth o que você sabe fazer.

Judith se moveu – primeiro abaixou os braços, depois ficou de quatro e muito lentamente, se levantou ate ficar em uma posição quase totalmente ereta. A menina estava claramente instável sobre suas pernas e não havia feito nenhuma menção de andar, mas Beth sentia como se a bebê tivesse conseguido vencer uma maratona.

– É isso ai, bom... – murmurou o Dixon, com a mesma gentileza que a Greene tinha visto tantas vezes no passado, quando seu pai incentivava um potro recém nascido e inseguro.

A loira pode distinguir o orgulho e felicidade – muito mal disfarçadas – no tom dele, e determinou que Daryl estava tão entusiasmado quanto a menina.

Judy deu um minúsculo passo – que visto por uma pessoa mais imparcial, poderia ser considerado um simples arrastar de pés.

O caçador gargalhou – um som profundo e sincero. E foi uma coisa tão rara, que a loira desviou o olhar da bebê por 3 segundos, para encará-lo – e amaldiçoou em pensamente, pois do lugar onde estava, só conseguia ver a parte de trás da sua cabeça.

Se conformando, voltou a encarar a criança, porém, a menina já estava sentada e logo depois começou a engatinhar em direção a eles. Daryl também se sentou – só que de pernas cruzadas e estendeu a mão para a bebê.

Por alguns instantes, Beth só observou os dois – o arqueiro resmungava coisas para a criança, enquanto essa soltava grunhidos e sons excitados, como se estivesse detalhando toda sua proeza.

As palavras de Jessie voltaram a sua cabeça:

...ele é todo rude e brusco, sabe...

Com a coisa da besta e bíceps a mostra, mas que se transforma em um grande gato felpudo em volta da sua garota...

Beth sorriu para si mesma.

Ela sentou-se ao lado do caçador – refletindo sua postura de pernas cruzadas – e se inclinou para ele, ate que sua cabeça estivesse descansando em seu ombro. Daryl ficou tenso por um milésimo de segundo, mas logo relaxou e ate mesmo se acomodou mais com o contato. Judy, estendeu a mão para brincar com as mechas da loira.

– Nossa menina esta crescendo – a adolescente passou a mão pelos cabelos ralos da menina com carinho.

– Sim.

A Greene estava feliz pela menina ter dado seus primeiros passos, porém, ao mesmo tempo, essa alegria vinha acompanhada de uma nota de nostalgia e medo – pois quanto mais rápido ela crescesse, mais difícil seria protegê-la. Sendo um bebê, Judith ainda não sabia o que era o medo, a dor da perda de um ente querido, ou pesar, por não saber se sobreviveria ate o dia seguinte. No entanto, um dia ela saberia e não poder fazer nada para impedir, era o pior para Beth.

Os dois permaneceram calados – apenas absorvendo a companhia um do outro. Agora – na proteção dos braços do caçador – Judy voltou a ficar em pé e começou a brincar com a barba dele – que tentava distrair seus dedinhos curiosos com qualquer outra coisa.

– Ela não vai desistir – rindo, a loira se inclinou sobre o Dixon e deu um beijo estalado na bochecha da bebê, depois voltou a posição anterior.

– Não sei de quem ela pegou essa teimosia – por mais que não estivesse sorrindo, o humor na voz do caçador era inquestionável.

– Tenho algumas idéias – sorrindo, Beth se mexeu novamente e deu um beijo estalado na bochecha dele também.

Dessa vez Daryl não ficou tenso, sem jeito ou irritado. Apenas aceitou o toque e lhe devolveu um olhar que transmitiu milhões de palavras.

Obrigado – ela sussurrou.

– Pelo quê?

– Por ter me esperado quando a prisão estava caindo, por ter salvado a mim e a Judith.

– Eu não fiz nada – ele desviou os olhos dela e encarou a criança em seu colo.

– Daryl... – a loira começou, mas o caçador a interrompeu.

– Sério, quando tudo foi pro inferno, olhei em volta e não vi ninguém – ele apoio a mão nas costas da bebê quando ela se desequilibrou – tinha perdido o Rick de vista quando ele foi em direção ao Governador, os Walkers estavam em cima da gente e eu não conseguia pensar em nada além de atirar.

Beth estendeu a mão e entrelaçou os dedos com o dele. A mão calejada e quente era um contraste com a suavidade da sua. No entanto, era um gesto de conforto e independente das diferenças, quando Daryl devolveu o toque e a encarou, a Greene entendeu o turbilhão de sentimentos inexplicáveis, refletido nos olhos azuis dele.

– Eu estava disposto a ficar lá ate que o ultimo miserável caísse, mesmo que um andador me pegasse – sua voz não passava de um sussurro soprado – ate que te vi.

A loira estava hipnotizada pelo seu olhar – tão intenso que o azul havia escurecido. Estavam tão próximos, que podia provar a respiração dele em seus lábios.

Você salvou a minha vida muito antes daquele maldito quarto de Hotel.

Beth encarou os lábios dele.

Tão perto.

Ela nunca tinha sido uma garota que resistisse às tentações por muito tempo mesmo – principalmente as relacionadas a um caçador duro de coração suave.

Aproximou-se um pouco mais.

– Por mais que não queira admitir – sua voz estava levemente ofegante – tem algo acontecendo entre a gente, Daryl.

– Isso não vai dar certo – se ela achava que os olhos dele haviam escurecido antes, agora não passavam de dois oceanos, intensos e revoltos – você sabe disso.

– O que sei – passou a língua pelos lábios para ganhar tempo e estremeceu interiormente, quando o olhar dele acompanhou o movimento, faminto – é que isso não vai desaparecer.

– Você é tão jovem – sussurrou desesperado, como se soubesse que o argumento era uma armadura frágil demais para protegê-lo da perdição.

Dela.

– Não no mundo que vivemos – sentiu os dedos dele apertarem mais os seus, e sem conseguir se segurar, a garota estendeu a mão ate o rosto dele, tinha que ir devagar, uma coisa de cada vez – você é o melhor homem que já conheci, Daryl.

Beth – um pedido, misturado com uma oração.

As pálpebras dele se fecharam e o caçador soltou um suspiro profundo, como se estivesse dando vazão à guerra interna que travava. O cheiro dele – terra, tabaco, couro e algo selvagem, que era só Daryl – a cercou.

Quando ele voltou a abrir os olhos e encará-la, Beth pode ver a fome, desejo e vontade. Porém, também viu o desamparo, insegurança e pior, medo – e esse foi o único motivo que a fez recuar.

– Tudo bem – ela sorriu – mas não vou desistir, sei exatamente o que quero, Sr. Dixon sua voz como mel derramado em chamas, doce e quente – eu quero você.

Ele não disse uma única palavra, mas também não se afastou.

Bem, ela poderia esperar – decidiu.

Estava completamente apaixonada por Daryl Dixon e não iria desistir.


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Notas finais do capítulo

Então, vamos conversar sobre esse beijo que quase aconteceu:
Não fiz isso por maldade - ao contrario do que algumas almas podem imaginar - só que, quando "idealizei" a cena, ela estava completamente diferente, porém, as coisas foram rolando e no fim, já tinha criado um climão. Realmente iria colocar o beijo, só que complicaria os planos futuros que tenho, então, p bem geral da pátria - sim, sou patriota - resolvi deixar só a tensão no ar!!
Me perdoem!!!
Então, o que achou?????