Wrong | Cobrina escrita por Bruna


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Galera do meu core, que saudades!

Perdão a demora. É que a inspiração estava em falta. :/

Espero que gostem... Eu gostei! Kkkkk

Boa leitura!



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— Tem certeza?

Revirei os olhos diante da pergunta. Dez ou vinte anos, não importava a minha idade, ele sempre faria aquilo. Estava no sangue ser um pai super protetor.

— Tenho, Mestre — garanti — Agora podem, por favor, ir embora — pedi impaciente, apontando para a porta.

Meu pai pareceu pensar no que faria, mas bastou um olhar de Dandara para ele se render.

— Eu vou ficar bem, pai. De verdade — sorri fraco.

— K, minha flor, cê não quer ir com a gente? — tentou a professora.

Neguei com a cabeça. A última coisa que eu precisava agora era de uma festa.

— Vai tá toda a galera lá, Karina... — meu pai disse empolgado em uma tentativa bizarra de me arrastar até a Ribalta.

— E esse é o problema — respondi, guiando meu pai e Dandara até a porta — Podem ir tranquilos. Prometo ficar bem — fiz a cara mais convincente que consegui.

— Tudo bem, mocinha. E se comporte! — disse meu pai, autoritário. Assenti enquanto sorria verdadeiramente diante daquilo.

O Mestre deu um beijo em minha testa, e se foi, acompanhado pela professora para a grande e badalada noite.

Fechei a porta e desabei no chão, Bufei enquanto pensava no que faria.

Maldita festa!, pensei.

Durante a última semana, eu estava treinando à noite na academia do meu pai. Com muita insistência, ele havia cedido e me entregado a chave. E graças a festa de hoje a noite, o meu treino tinha ido por água abaixo.

Ainda não estava pronta para encarar tudo tudo aquilo.

Sem Pedro, sem Duca, sem Bianca, sem olhares penosos, sem "vai ficar tudo bem". Era por essas razões que eu aparecia na academia durante a noite. Era apenas eu, minhas luvas, o saco de areia e, algumas vezes, aquelas lágrimas estúpidas que insistiam em cair.

Estava passando uma temporada na casa de Dandara. Na verdade estava lá há uma semana. E a rotina era a mais monótona possível. Enrolava na cama até a hora do almoço, ia para a escola e voltava, evitando assim toda e qualquer pessoa que cruzasse o meu caminho - não era toda vez que eu obtia sucesso quanto a isso, mas ok. E era a noite onde a monotonia ia embora. A luta me libertava.

Mas naquela noite não haveria luta e eu continuava na mesma.

E o motivo? O aniversário daquela orca, quer dizer, do Nando. Não era uma simples confraternização entre amigos. Era uma festança de parar o bairro.

E lá estava eu: jogada no chão da sala, pois não tinha a mínima vontade de encarar o mundo, nem a festa lá fora.

Balancei a cabeça espantando esses pensamentos e me levantei dali, pensando no que faria. Me joguei no sofá da sala, peguei o controle da TV e procurei por qualquer coisa que me prendesse. Em vão, é claro. Nem ao menos uma luta estava passando.

A noite ia ser longa...

Me arrastei até as escadas. Cheguei até o quarto de João, me jogando na cama enquanto encarava o teto que não tinha nada em especial, mas parecia me hipnotizar. Meus olhos estavam fechando e quando senti que embarcaria em um sono profundo, o som de pedras sendo arremessadas na janela, me alertaram.

— Mais que merda! — gritei, indo até a janela — Será que nem dormir se pode mais? — e como se fosse birra, uma pedra foi jogada com mais força. Abri a janela, recolhi o máximo de pedras que consegui, e sem nem ao menos olhar quem era, devolvi todas de uma só vez — Seu filho de uma p —

— Ei, marrenta, sou eu — avisou enquanto massageava a testa, local onde eu provavelmente havia acertado.

Cobra. Eu não o via desde o dia da minha quase queda. O dia em que o "marginal salvou a mocinha". O dia em que ele fez um carinho em meus cabelos. O dia em que ele, de alguma maneira, me provou que não era tão marginal assim.

— O que cê quer, cara? — perguntei sem paciência — Tô com sono.

— Quero que venha aqui — disse simplesmente. Quando o moreno tirou sua mão do alto de sua cabeça, pude ver o líquido vermelho escorrendo em direção de seus olhos.

— Ai meu Deus, Cobra, tá sangrando! — quase gritei.

Desci as escadas de maneira desesperada. Abri a porta e corri até ele.

Minha mão alcançou sua nuca, em uma forma de apoio, já a outra, afastava os fios de cabelo de sua testa analisando o ferimento. Era apenas um corte, nada muito grave, mas ainda assim sangrava.

— Não foi nada demais, Karina — se afastou, limpando o ferimento por conta própria.

— Desculpa — pedi, não sabendo o motivo. A minha aproximação repentina ou o fato de eu o ter acertado — Mas o que cê tá fazendo aqui? Achei que estivesse na festa como todo mundo — comentei.

— E eu estava.

Levantei uma sobrancelha, o questionando.

— Dei um perdido na Dama e cá estou — fez uma reverência bizarra que me fez rir.

— E o que te fez abandonar sua Dama e vir atrás de mim, pobre Vagabundo? — brinquei, fazendo drama. E foi a vez dele de sorrir.

— Isso — me mostrou um grampo de cabelo.

— O quê? — olhei confusa para o objeto em suas mãos, até que entendi onde ele queria chegar — Não, eu não vou te ajudar a fazer um assalto.

— Assalto, Karina? — ele gargalhou — Qual é! Não é pra tanto.

— E o que você vai fazer com isso? — apontei para o grampo.

— Abrir portas.

— Que portas? — perguntei impaciente.

— A da Khan em especial — disse sugestivo — Você quer lutar, né? A academia do teu pai não é uma opção.

— Como você sabe? — as palavras escaparam de meus lábios antes que eu me desse conta do que fazia. Só o meu pai e Dandara sabiam das minhas saídas noturnas. A não ser que... — Cê tá me espionando, Cobra?

— Você não é muito discreta — disse sem nenhuma explicação a mais — Agora vamos.

Me deu as costas e saiu andando. Sem mais nem menos.

— Como assim "vamos"? — o imitei, ainda parada no mesmo lugar — Se meu pai descobrir que eu pus os pés na Khan, ele me mata.

— Ok. Faça o que quiser! — continuava a andar — Passe a noite pensando em como todos estão se divertindo enquanto você está em casa, trancada... Na foça!

Bufei, com raiva. Ele sabia como me tirar do sério.

Mas, afinal, ele tinha, pra variar, razão. Eu queria lutar, e já que ele estava me oferecendo aquilo, eu não iria recusar.

— Cobra! — disse o mais baixo que consegui, não querendo dar o braço a torcer — Espera.

Ele se virou, me lançando um daqueles sorrisos idiotas como quem diz "sabia que você não iria resistir". O gesto me fez apertar os olhos e entortar a boca em uma carreta bizarra.

Voltei até a porta, trancando-a. Guardei a chave em um vaso de flores, onde na quinta feira eu havia visto João fazer o mesmo.

Eu só tinha que chegar em casa antes de qualquer pessoa, sem gerar nenhuma desconfiança. Só isso... Repetia para mim mesma, seguindo em direção ao moreno que ainda me esperava.

Nós andávamos calmamente pela praça vazia. O que era um milagre em uma sexta à noite.

— Desafinado esse teu guitarrista, não?— comentou debochado.

E foi então que eu me dei conta de que a Galera da Ribalta estava tocando. A música estava tão alta, que mesmo distante da fábrica, nós ainda a ouvíamos perfeitamente.

— Ele não é nada meu! — disse com raiva, acelerando o passo. Quanto mais rápido chegássemos, melhor. Quanto menos eu ouvisse, melhor.

— Ei, Karina, mais devagar, por favor — pediu, sua voz era distante.

— Não é minha culpa se você é lento — rebati.

Aconteceu mais rápido do que eu imaginei.

Senti um baque em minhas pernas, o que fez com que eu perdesse o equilíbrio. Fechei os olhos esperando pelo encontro do meu corpo com o chão que, mais uma vez, não veio. E, mais uma vez, graças à ele. Suas mãos seguravam minha cintura com uma delicadeza tremenda. As minhas, por outro lado, se agarraram de maneira desesperada, mais uma vez, a seu pescoço. Minha respiração acelerada devido ao susto, aos poucos ia se normalizando.

— Lento, né? — sussurrou. Não o via, já que meus olhos ainda estavam fechados, mas senti seu hálito quente em minha face. Engoli em seco, sabendo que estávamos a centímetros de distância.

Quando fiz menção de falar alguma coisa ou tentar sair daquela situação, suas mãos largaram, sem nenhum aviso, minha cintura. O gesto me fez cair enquanto uma carranca tomava conta do meu rosto.

— Seu idiota! — me levantei, correndo em sua direção.

— Cê mereceu, marrenta! — justificou, apontando para a própria testa enquanto tentava se desviar dos inúmeros golpes que eu desferia.

— Eu mereci? — perguntei indignada, parando de repente ao me dar conta de que havíamos chegado — Você me fez cair.

— E você me chamou de lento.

Cobra procurou o grampo em seu bolso e quando o achou, seus olhos vasculharam toda a extensão da rua, como se comprovasse que a barra estava limpa.

— Um dia cê ainda vai me ensinar a fazer essas coisas — disse ao notar a facilidade com a qual ele abrira a porta.

— Vai ser um prazer te ensinar as artimanhas do mundo do crime — piscou.

Gargalhei.

— Marginal! — soquei seu ombro levemente, entrando na academia.

Khan. Era a primeira vez que eu entrava ali. Pude notar o quão diferente ela era da academia do meu pai. E mesmo com todas as luzes acesas, ela ainda tinha um ar... Sombrio, por assim dizer.

— Pega, Karina! — jogou um par de luvas em minha direção, a peguei prontamente.

Ele foi até a porta novamente, trancando-a novamente.

— Não vai lutar? — perguntei, vendo ele sentar-se com as costas apoiadas na parede.

Ele negou com a cabeça, fechando os olhos.

— Então porquê me trouxe aqui? — dei o primeiro soco no saco de areia, e foi inevitável um sorriso não escapar de meus lábios. A sensação era a melhor possível.

— Por isso — me olhou fixamente — Não queria treinar? Está treinando!

Revirei os olhos enquanto desferia vários socos e pontapés naquele saco. Não estava em condições de reclamar.

— Fugir do mundo não faz muito o seu estilo, novinha —comentou depois de alguns minutos.

— Eu não tô fugindo! — soquei o mais forte que consegui, me virando para olhá-lo. As gotas de suor estavam ali, molhando alguns fios do meu cabelo.

Aquela conversa não iria acabar bem.

— Tem certeza?

Não respondi, e ele também não comentou nada.

— Eu só não acho que consigo — admiti, soquei mais uma vez o saco de areia. Minha testa apoiada no mesmo, tentando me acalmar.

— Você não vai poder fugir deles pra sempre, Karina — me encarou sério — Uma hora ou outra vai ter que encarar.

— Eu sei — sussurrei — Eu sei...

Meu corpo estava esfriando, e foi por isso que comecei a socar de novo. Sentindo aquele calor invadir meu corpo, levando embora os pensamentos conflituosos.

Fiquei um bom tempo naquilo, descontando minha raiva naquele miserável saco de areia.

Raiva. Era a única coisa que eu me permitia sentir durante aquela última semana. Mas mesmo assim, com todos os meus esforços, meus pensamentos sempre pairavam sobre Pedro, principalmente nele. Sentia raiva dele por mentir, sentia raiva de mim por acreditar naquela farsa. Eu poderia ter desconfiando. Nenhum garoto em sã consciência iria se aproximar de mim. Eu era a Maria Macho, tinha que aceitar.

Soquei pela última vez o saco de areia. Agora com toda a força que consegui. Senti minha mão ficar dolorida quase que instantâneamente. Com certeza iria passar um bom tempo doendo.

Ouvi a porta sendo aberta.

— Vamos, Cinderela, são quase meia-noite — disse zombateiro, me apontando a saída.

Apenas concordei, não ligando para a piada que ele havia feito.

Tirei as luvas, respirei fundo e arrumei algumas mexas do meu cabelo.

Assim que saí da academia, pude ouvir claramente a música que tocava.

E meu Deus, que sacanagem!

Olhinho bem fechado

Sorriso assim de lado

Será que é muito cedo

Pra eu ser seu namorado?

Trinquei os dentes ignorando aquele nó que subia pela minha garganta. Fechei os olhos, impedindo as lágrimas.

Percebi que Cobra falava algo, mas estava tão perdida que nem ao menos me dei conta do que era. Senti quando sua mão foi até minha face, acariciando-a levemente. Talvez em um pedido mudo para que eu me acalmasse.

Abri os olhos lentamente na medida que a música chegava a seu fim. Vi que Cobra estava na minha frente, me lançando olhares confusos e preocupado.

Antes que eu pensasse no que fazia, meus lábios encontraram os dele sem nenhum aviso. Apenas os selando.

Não sabia o motivo que me levou a fazer aquilo... Talvez para fazer aquela dor diminuir ou, sei lá, qualquer outra coisa que justificasse o ato.

Cobra pareceu surpreso, até mais do que eu. Se afastou apenas o suficiente para fixar seus olhos nos meus.

E antes que o rubor tomasse conta da minha face, antes que qualquer palavra saltasse de minha boca, antes mesmo que eu me afastasse... Ele me beijou. Atacando, literalmente, meus lábios.


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Notas finais do capítulo

Entããããão, quero saber o que acharam!

Sério, caprichem nos comentários! Me elogiem, me critiquem, mas falem algo, por favor! KKKKKKKK

É isso. Beeeeijos e até o próximo.