Wrong | Cobrina escrita por Bruna


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui, galera! kkkkk

Sei que não havia dito, mas esse capítulo - gigante, sorry - será na visão do Cobra. E eu sei que tô postando tudo muito rápido, mas entendam: sou o tipo de pessoa que assim que termina o capítulo, precisa postá-lo. :/

Espero que curtam ler da mesma maneira como eu curti escrevê-lo.



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— Se o Vagabundo não vai até mim, eu venho até o Vagabundo.

Jade se lançou sobre mim, me beijando, antes mesmo que eu pudesse fazer ou ao menos pensar em alguma coisa.

— O que você tá fazendo aqui, Jade? — perguntei mais calmo, me afastando gentilmente.

Jade não podia saber de nada. E era por isso que eu tinha que agir normalmente, ou pelo menos tentar fazer isso sem gerar desconfiança.

— Vim te visitar, Cobra! — ela respondeu, invadindo o QG — Será que eu posso?

— Claro que pode, cê sabe disso — fechei a porta, rezando para que Thawick aparecesse o mais rápido possível — Mas é que eu tô cansadão, minha Dama.

— Eu não vou embora, Cobra. Já basta você ter me dispensado ontem — falou, decidida.

Cocei minha nuca enquanto eu pensava em um jeito de tirá-la dali. Precisava que ela fosse embora. Não poderia nem pensar em qual seria a sua reação ao descobrir que Karina estava ali, comigo.

Jade fez menção de ir ao meu quarto, mas fui mais rápido e fiquei em sua frente.

— O que foi? — me lançou um olhar questionador — Cê tá esquisito.

— Meu quarto tá uma bagunça. Vamos ficar aqui por hoje, ok? — beijei levemente sua nuca tentando distraí-la.

— Você nunca ligou pra isso, Cobra — me afastou — Além do mais, eu quero deitar.

Antes que eu pudesse agir, Jade passou por mim e invadiu o cômodo.

Não me movi, fechei os olhos esperando por sua reação que, para minha total surpresa, não veio.

— O que tá esperando pra vir pra cá, Vagabundo?

Entrei no quarto enquanto meus olhos vasculhavam cada centímetro daquele cômodo, procurando por qualquer vestígio que comprovasse que Karina passou por ali. Não encontrei nada, muito menos ela por ali. Estava no banheiro.

— Tô aqui — respondi seco. Talvez a tratando rudemente ela fosse embora mais rápido.

— Cê tá um porre, Cobra! — revirou os olhos, deitando na minha cama.

Minha cama. A cama que algumas horas atrás eu estava abraçado à Karina. Não porque a poltrona era desconfortável, como eu havia dito quando ela me cobrou uma explicação.

Eu estava sem sono. Esse era o motivo para eu estar acordado às 05h39min da manhã de um sábado. Tentava a todo custo fechar os olhos e dormir, mas parecia uma tarefa impossível. O problema não era a poltrona, ela não estava me incomodando nem um pouco. O problema era a loira que dormia na minha cama, ela estava se debatendo e falando coisas das quais eu não entendia. Apenas uma frase consegui assimilar, por mais baixo que houvesse saído, foi claro para mim. Tentei acordá-la diversas vezes, mas todas foram em vão. Resolvi deitar ao seu lado, sem pensar em muita coisa, pois, se fizesse, não teria nem saído da poltrona onde eu estava. Sabia que com ela, todo e qualquer movimento meu era arriscado. E mesmo assim, em um impulso de coragem, passei meus braços ao seu redor, a abraçando. Sorri quando ela deitou a cabeça em meu peito. Aos poucos ia se acalmando. Demorei um pouco a dormir, e o motivo ainda era o mesmo: ela. Meus olhos não conseguiam desviar do seu rosto, agora tão tranqüilo e sereno.

— VAGABUNDO!

— O QUÊ? — respondi, assustado.

— Tô falando contigo há um tempão e cê tá aí no mundo da lua — ela estava zangada comigo.

— Foi mal. É como eu te disse: tô cansado, morrendo de sono... — tentei mais uma vez, com a esperança de que ela saísse dali.

— Não importa! — deu de ombros — Já tá sabendo da maior?

— Qual? — fingi descaradamente curiosidade.

— A machinho sumiu.

Nos encaramos por alguns segundos. Jade me fuzilava como se esperasse que eu dissesse alguma coisa. Eu tinha que demonstrar algo, sabia disso, só não sabia o quê.

— Não vai falar nada? — questionou descrente.

— O que cê quer que eu fale? — abri os braços esperando uma resposta.

— Sei lá — Jade sentou na cama e me olhou — Você é sempre tão preocupado com ela, achei que fosse ficar todo paranóico ao descobrir que a garota sumiu.

Jade sempre que podia fazia aquilo. Insinuava que eu sentia algo pela marrenta.

— Já conversamos sobre isso, Jade. Ela é minha amiga, só isso — a morena revirou os olhos como sempre fazia ao ouvir aquela frase tantas vezes dita por mim. Me aproximei da cama, sentando de frente pra ela.

— Pelo que me contaram, — começou animada — a Bianquinha comprou o guitarrista para ficar com a sapa hétero. Também né, só na base do dinheiro para namorar aquela garotinha sem sal.

— Para, Jade! — pedi, sério.

— É disso que eu tô falando, Vagabundo! — explodiu, se levantando — Toda vez que eu falo algo sobre essa garota você fica todo nervosinho.

— Só não gosto quando você fala essas coisas dela! — disse no mesmo tom.

Alguns segundos se passaram, ela me lançava olhares indecifráveis.

— Dela — disse um pouco, mais só um pouco, mais calma.

— Quê? — perguntei, confuso.

— Eu posso falar de qualquer outra pessoa, menos dela — foi a última coisa que ela disse antes de me dá as costas.

Fechei os olhos, tentando pensar no que faria. E quando meus pensamentos entraram em ordem, corri em sua direção e a fiz me encarar.

Não gostava de vê-la assim. Principalmente por um motivo daquele.

— Minha Dama, eu —

— Vai dormir, né? — a ironia era quase palpável em seu tom — Tá cansadão, tô sabendo.

— Jade, por favor, entende que — tentei de novo.

— Não, Vagabundo. Eu vou pra casa! — andou em direção à porta dando de cara com Thawick.

— Bailarina — cumprimentou.

— Idiota — respondeu sem vontade.

Observei a morena ir embora enquanto Thawick me olhava preocupado.

— O que aconteceu aqui? — perguntou, entrando no QG — Vai me dizer que ela encontrou a guria e —

— Não, cara. Ela não viu a Karina — respondi, o acalmando enquanto tentava fazer o mesmo comigo — Nós só nos desentendemos.

— Ok.

Andou até meu quarto, procurando pela garota.

— Novinha! — bateu na porta do banheiro levemente — Já pode sair. A bailarina já foi.

A porta do banheiro foi aberta. Karina saiu de lá atordoada. Sem dúvidas ela havia escutado a conversa.

— Vamos! — Thawick chamou.

— Pra onde? — perguntou, confusa.

— Cê não contou pra ela?

Neguei com a cabeça.

— K, cê disse que não quer ir pra casa agora, certo? — ela pareceu insegura quanto a pergunta, mas acabou concordando com a cabeça. Não me lançava um olhar sequer — Aqui já não é mais tão seguro como você acha. Agora foi a Jade, mas poderia ter sido o Duca, a Bianca, seu pai ou até mesmo seu namorado.

— Ele não é meu namorado — disse com raiva — E você tem razão. Preciso sair daqui.

— E é por isso que ele vai te levar — apontei para Thawick — Eu vou estar logo atrás de vocês.

— Para onde ele vai me levar?

— Cê é muito curiosa — Thawick se pronunciou antes que eu respondesse — Vamos! Ainda tenho muita coisa pra fazer.

Quando percebi que a garota fez menção de responder, decidi interferir.

— Confia em mim, marrenta.

Ela me olhou pela primeira vez desde que saiu do banheiro. Pareceu pensar um pouco e depois do que me pareceu horas, ela finalmente se pronunciou.

— Eu confio em você — falou em um sussurro quase que inaudível. Deu meia volta e se foi, seguida por Thawick que tinha um sorriso no rosto.

Observei os dois saírem. Karina tinha todo o cuidado para que não fosse vista por ninguém. Quando decidiu que a barra tava limpa, correu até o carro. Vi Thawick dando partida e indo embora.

Sentei no balcão. Passei um tempo ali, pensando na confusão em que eu tinha me metido. Aquilo tudo poderia ter sido evitado, eu sabia. Poderia ter a mandado embora, ou pelo menos a levado para casa. Poderia ter ligado pra alguém e avisado onde ela estava. Mas não, decidi ajudá-la, mesmo sabendo das conseqüências se alguém descobrisse que ela estava lá, comigo.

As quatro palavras ditas por ela ainda pairavam e bagunçavam minha mente: "eu confio em você".

Eu entendia os motivos para que as pessoas não confiassem em mim. Eu não presto, atraio o errado, faço o errado. Eu era o marginal, o cara de quem todos deveriam manter distância. E já estava acostumado a viver com aquilo. E ouvir o contrário, ouvir que alguém confiava em mim era, no mínimo, assustador.

Pulei do balcão enquanto balançava a cabeça, me livrando daqueles pensamentos.

Fui até meu quarto, peguei uma blusa qualquer e a vesti. Estava prestes a sair do cômodo quando um tecido preto embaixo da cama me chamou a atenção. Minha blusa. Karina, talvez, havia a jogado ali em baixo, escondendo-a de Jade.

Como uma espécie de atração, minhas mãos buscaram o tecido. A blusa, agora rasgada, ainda tinha o cheiro dela. E o meu.

Mas que porra eu tava fazendo?

Larguei o tecido, seguindo em direção a porta. Peguei meu celular, a carteira e as chaves, saindo do estabelecimento.

Tranquei a porta do QG. Segui em direção à minha moto e eu teria chegado lá sem nenhuma interferência se não fosse a patricinha no meu caminho.

— Cobra! — chamou.

Virei para encará-la e me surpreendi com o que vi.

A patricinha, por uma noite, virou plebéia.

Seu estado não era um dos melhores. Os olhos inchados e as olheiras, denunciavam que ela havia passado a noite chorando. Estava pálida e o ar preocupado brilhava em seus olhos.

— Bianquinha — respondi com humor.

— Cê já deve tá sabendo, né? — perguntou sem me olhar. Envergonhada, com certeza. E não era para menos.

— Que você pagou o guitarrista para namorar a Karina? — perguntei como quem não quer nada — É, tô sabendo.

— Então... — começou — Eu queria saber se você não a viu.

— Não, não vi — respondi — Mas se você me descolar 2000 reais, eu posso te avisar caso a encontre — soltei maldoso.

Ela tinha que pagar pelo que havia feito com a K. E nada mais justo do que eu para começar com aquela tortura.

— Idiota! — o ódio em seu olhar me fez rir — Mas pera aí — pareceu se dar conta de algo — como você sabe do valor?

Gelei por um momento, tendo todo o cuidado para que ela não notasse.

— As notícias correm, Bianquinha.

Ela deu as costas bufando de raiva enquanto seguia em direção ao Perfeitão, onde mó galera tava reunida.

Subi na moto e segui rumo à praia. Havia pedido para Thawick quando ele apareceu no QG mais cedo, para levá-la até lá. Depois de muito explicar, ele parecia ter aprendido o caminho. Cerca de dez minutos depois cheguei ao meu destino. Estacionei a moto e segui caminhando até o local combinado.

Eu costumava ir lá quando precisava esquecer o mundo, os problemas, a vida. Era um lugar bom, calmo e com uma paisagem extraordinária. Além, é claro, de ser afastado da parte mais movimentada da praia.

— Gostou, marrenta? — perguntei, me aproximando dela.

Me sentei ao seu lado. Karina estava na areia, olhando o horizonte de maneira encantadora.

— É lindo — sorriu deslumbrada — Cê vem sempre aqui?

— Só quando eu preciso — respondi, lembrando das vezes em que estive ali — E acho que, por hoje, você tá precisando.

— É, eu preciso — seus olhos perderam o brilho ao falar.

— Bianca veio falar comigo — achei que o momento era propício para aquilo.

Meus olhos estavam fixados na imensidão daquele azul. E não, não eram os olhos da marrenta. Eu falava do mar. Ambos eram tão parecidos, não só pela cor, mas em tudo. Em um momento poderiam demonstrar calmaria, uma paz avassaladora, e, no outro, ficavam agitados, por vezes, aterrorizantes.

— Ela também foi falar com Thawick.

— Te viu? — questionei, preocupado.

Negou com a cabeça, brincando com a areia em suas mãos. Ela parecia estar absorta em pensamentos, abriu a boca algumas vezes, mas nada saía. Depois de alguns minutos, quebrei aquele silêncio.

— Já assistiu ao pôr do sol? — olhei o horizonte.

— Não, mas sempre tive vontade — falou. Um fraco sorriso escapou de seus lábios.

— Verá hoje, então — disse — Vai acontecer daqui a alguns minutos.

E lá estava de novo. O maldito silêncio tomando conta do local. Dessa vez não fui o primeiro a quebrá-lo.

— Me desculpa, Cobra.

E pela segunda vez naquele dia, a garota de olhos azuis me surpreendeu. Alguém me pedir desculpas era algo raro. É como eu disse: eu faço o errado. Então, eu que deveria me desculpar, mas raramente o fazia.

— Pelo quê? — eu realmente não sabia do que ela falava.

— Eu ouvi a sua conversa com a Jade — respondeu, me encarando. Seus olhos transbordavam culpa.

— Nada muito educado da sua parte — brinquei. Ela me deu um soco de leve no ombro e me lançou um sorriso fraco — Mas sério, não há nada pra se desculpar.

— Vocês brigaram — rolou os olhos — Por culpa minha...

— Nós sempre discutimos por algo — tentei a consolar — Você só teve o azar de presenciar uma dessas discussões.

Ela balançou a cabeça em concordância, em uma tentativa de acatar minha explicação, talvez.

— O que ela disse... — desviou o olhar dos meus, suas mãos brincavam novamente com a areia da praia — sobre mim... É verdade? — perguntou, insegura.

— Sobre eu não gostar quando ela fala coisas sobre você?

Ela balançou a cabeça positivamente, confirmando.

— Sim, é verdade — pensei em não ter dito aquilo, pensei em mentir. Mas a última coisa que ela precisava agora era de mais mentiras em sua vida.

— Não faça mais isso, não é justo com ela. Por mais que eu não vá com a cara da sua namorada, ela tem razão. Eu a entendo.

— Ela não tá certa por falar aquelas coisas sobre você, mas não vou discutir.

— Obrigada mesmo assim. É bom saber que alguém se importa.

— Amigo é pra essas coisas — repeti as palavras dela, lembrando da conversa que tivemos no QG há um tempo atrás.

— Eu acho tão fofinho você se preocupando comigo — repetiu as minhas palavras daquele mesmo dia.

— Cala a boca! — disse em um tom de brincadeira — Olha, vai começar! — apontei para o sol que, aos poucos, ia nos dando adeus.

Em um gesto totalmente inesperado, Karina apoiou a cabeça em meu ombro.

— Você está carente, com certeza — a frase saiu antes que eu pudesse medir as palavras.

Ela levantou a cabeça rapidamente e eu fechei os olhos, pensando na merda que eu havia feito.

— Hey, Karina, eu tava brincando — estiquei meu braço e a puxei para mais perto, a abraçando. Ela, com certa relutância, aceitou o gesto e apoiou novamente a cabeça em meu ombro.

Ficamos um tempo assim enquanto víamos os últimos raios de sol nos deixaram.

Karina soltou uma risada.

— O que as pessoas iriam falar ao ver o marginal assim, tão carinhoso e preocupado com alguém.

— Se você espalhar pra alguém, nego até a morte que isso aconteceu — sorri junto com ela.

Eu não tinha a mínima vontade de ir embora e, pelo visto, ela também não. Alguns minutos se passaram e o silêncio antes constrangedor, havia se tornado confortável. Dessa vez, ela o quebrou.

— Eu o amo, Cobra — sua voz chorosa me alertaram que as lágrimas desabariam de seus olhos a qualquer momento.

"Eu te amo, Pedro". As palavras preencheram minha mente.

— Eu sei — falei — Foi isso que você disse enquanto dormia.

— Disse? — sussurrou, sentia as lágrimas quentes sobre meu ombro.

— Disse.

— Até nos meus sonhos esse descabelado vem me atormentar.

Ri, afagando seu ombro em um carinho.

— Queria tanto que essa dor passasse — levantando a cabeça, secando as lágrimas.

— Sabe que a coisa toda só vai piorar quando você encontrá-lo, né? — alertei, me levantando da areia.

Estendi a mão à ela que aceitou de bom grado. K levantou e seguimos andando.

— É, você é bem sincero — brincou — E sim, eu sei que vai piorar quando eu encontrar o Pedro. Mas, por enquanto, vou evitar qualquer contato com ele...

— E ai dele se chegar perto de você — falei, mais pra mim do que para ela.

— Eu sei me cuidar, Cobra — falou, decidida.

— Sei disso — respondi sincero — Mas não custa nada previnir.

Algum tempo depois, em meio a conversas e brincadeiras, chegamos no local onde a moto estava estacionada. Entreguei o capacete à ela e subimos.

— Meu pai me mataria se me visse aqui — comentou, colocando o capacete.

Sorri enquanto acelerava. Minutos mais tarde chegamos em frente ao Perfeitão.

— Eu vou daqui, Cobra. Valeu!

Ela desceu da moto, me entregando o capacete. Quando olhou em direção ao restaurante, viu algo que a fez se assustar.

A encarei confuso e entendi o motivo do seu olhar.

A Patrulha inteira estava ali.

Gael, que liderava aquela equipe, vinha seguido de Bianca, João, Duca, Sol, Ruiva, Bete, Dandara, Pedro, Delma, Wallace, Zé, Marcão, Lucrécia, Edgard, Lírio, Joaquina e meu Deus, até a Jade estava ali. Todos eles corriam em nossa direção.

— Caraca! — dissemos juntos.

É, eu já poderia ser considerado um homem morto.


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Notas finais do capítulo

COMENTEM, PLEASE! *-*

P.S.: Eu não preciso dizer o quão feliz eu fico ao ver todos aqueles comentários, né? Obrigada!!!