Wrong | Cobrina escrita por Bruna


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Galera do meu core! *-*

Primeiro, gostaria de agradecer a Vick por essa linda recomendação. Ainda tô boba aqui. Dias se passaram e eu ainda não superei, talvez nunca supere. Sempre é como a primeira vez, juro! Kkkkk Muuuuito obrigada!
Segundo, gostaria de agradecer a todos os comentários que cês mandaram. Também amo cada um deles, podem ter certeza!
Terceiro, 20 MIL visualizações, 110 acompanhamentos, 27 favoritos, 6 recomendações, 180 comentários e uma autora derramando lágrimas ao ver todos esses números, kkkkkk. Mais uma vez: obrigada! Sei que é chato ficar agradecendo sempre, mas sinto que é o mínino que posso fazer por vocês.
Quarto, o capítulo tá gigante. É que fiquei tão empolgada que saiu todas essas 4000 palavras, kkkk. E só pra lembrar: é na visão do Cobra.

Acho que é isso. Desculpa pelo tamanho das notas, mas era realmente necessário, kkkkk.

Boa leitura!



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— A tua lutadora não vem hoje, Cobra? — Thawick soltou de uma maneira provocadora ao entrar no QG.

O suplemento que eu segurava por um segundo fez menção de escorregar por entre meus dedos, mas de uma maneira rápida, eu o prendi, o colocando na prateleira logo em seguida.

Não tinha como ele saber.

— Eu não sei do que você tá falando — garanti com uma certeza me dada por esses anos de experiência — Agora aproveitando que cê chegou, me ajuda com isso — apontei para as inúmeras caixas que se espalhavam pelo chão do QG.

— Claro que ajudo — foi até as caixas pegando alguns suplementos — E você sabe muito bem do que eu tô falando, Cobreloa. Não se faça de desentendido...

— Ok — abri os braços com uma certa indignação, abandonando o trabalho que eu fazia — Como?

— O quê? — parou o que mal começara e sorriu maroto, como se não entendesse sobre o que eu falava.

Mas ele entendia, e muito bem.

— Como cê sabe?

— Eu não sou burro, Cobra! Vocês são discretos e muito espertos, mas talvez eu seja mais — começou — A garota aparece por aqui sempre que pode. Passa um tempão contigo. Você sempre me libera ou assume o meu turno... Não foi tão difícil perceber que cê tá pegando a filha do mestre — ajeitou os suplementos na prateleira casualmente — E não me diga que ela só vem aqui pra jogar — apontou antes que eu pensasse em alguma coisa — Eu tô ligado o tipo de jogo que cê gosta. Os de sedução, principalmente... — riu com a própria piada — Se bem que eu adoraria jogar. A guria é uma gata. Deve ser um fur —

Em um movimento rápido e preciso, o prendi em um mata leão.

— Eu não tô pegando a filha do mestre — sibilei, apertando um pouco o toque, ele tossiu surpreso — Não é da tua conta o que nós temos — sussurrei ameaçador — E se abrir a boca sobre o que sabe, eu te mato — afrouxei o aperto pronto para libertá-lo, mas o prendi novamente ao lembrar que eu não tinha terminado — Mais uma coisa: apenas dois podem jogar. Não tem lugar pra você — disse convicto, o soltando logo em seguida.

Ele sorriu abertamente ao recuperar o ar. Como se não se abalasse com aquilo.

— Fica sussa, cara. Eu não vou falar nada — pareceu mais sério, o sorriso idiota abandonou seus lábios — Se eu quisesse te entregar, teria feito isso bem antes, não acha?

— É, você tem razão. Se quisesse me entregar já teria feito isso — concordei em um suspiro cansado, ainda não acreditando que aquele idiota já estava a par de tudo — Só espero mesmo poder contar contigo.

Thawick assentiu e continuou o que fazia. Eu o acompanhei, o ajudando. Alguns minutos mais tarde, com o trabalho quase concluído, Karina atravessou a praça. Seus olhos azuis encontraram os meus e ela sorriu brevemente como sempre fazia. E ao notar que eu não estava sozinho, seus olhos desviaram, constrangida. Com um breve aceno, ela se foi. Talvez para a academia do pai. Tentar mais uma vez o impossível.

— Você tá caidinho por ela — disse zombateiro — E o grande Cobreloa parece estar próximo de um nocaute!

Acertei um tapa no braço de Thawick que logo em seguida se despediu com a desculpa de que não aguentava mais apanhar.

— Thawick? — chamei antes que ele atravessasse a porta — Cê vai assumir amanhã. De manhã...

— A noite vai ser tão boa assim, Cobra? — soltou zombateiro — Pra você não aguentar levantar no dia seguinte, a coisa tem que ser boa. E bem cansativa.

Estreitei meus olhos em sua direção, lhe lançando um dos meus melhores olhares ameaçadores. O cara tava pedindo para apanhar.

— Eu assumo, sim — piscou sorrindo — Cobra — chamou já do lado de fora. Procurou algo em seu bolso e quando o achou, me lançou sem nenhum aviso — Usa proteção! Não quero um afilhado agora.

— Babaca! — disse escorado na batente da porta. Sorri sem controlar, jogando o preservativo de volta para ele.

E o vendo ir embora, me permiti verdadeiramente sorrir.

Talvez ele tivesse razão. Eu estava próximo ao nocaute. E tudo culpa daquela garota.

Há exatas duas semanas estávamos nos encontrando. Embarcando naquela... coisa... que começamos.

Ainda lembro da maneira como tudo se deu. Em um impulso de coragem ou seja lá o que tenha sido aquilo, eu mandei a real para a garota. A verdade é que ela estava mexendo comigo de uma maneira desigual. Mergulhar naqueles oceanos que eram seus olhos era uma das melhores coisas que eu já pude experimentar, meu passatempo preferido. Me perder neles era quase inevitável. E eu amava estar perdido.

Karina em passos firmes vinha em direção ao QG. Os olhos quase fechados, os punhos cerrados, a boca que prendia um bico e o rosto que ganhava uma tonalidade vermelha me fez ter a certeza de que ela estava com raiva. Quase irada.

Sorri ao vê-la daquela maneira.

— Bom dia pra você também! — cumprimentei sarcasticamente quando ela esbarrou em meu ombro.

— Não tem nada de bom, Cobra — berrou zangada, sentando na mesa dos computadores.

Segui até ela. Karina ainda tinha aquele bico nos lábios, mas sabia que aos poucos ela estava se acalmando.

— Pelo seu humor acho que as coisas não saíram como o planejado — comecei — O mestre não liberou.

— Não, não liberou. Eu não vou poder participar do croan, Cobra — lamentou, escondendo o rosto com as mãos — Eu só quero provar pra ele que eu consigo. Que sou forte o suficiente pra isso.

— Você vai me odiar por isso... — disse, fazendo com que os olhos dela encontrassem os meus — Mas ele tem razão, Karina.

E como eu previa, ela me acertou. Um soco no estômago. Forte o suficiente para me fazer gemer de dor.

— Não sei por qual razão eu achei que você entenderia. Não sei porque vim aqui! — vi seus pés alcançarem o chão e se preparem para correrem — Idiota!

— Ei! — a puxei, fazendo com que ela voltasse — Ele tem razão, Karina — seus olhos fulminaram. O oceano parecia estar em meio a uma tempestade — Mas eu sei o quão forte você é. Física e emocionalmente. Falo por experiência, marrenta... — reclamei em tom de brincadeira, apontando para o meu estômago —Você não precisa participar de um campeonato pra provar isso a ele. Tenho certeza que o mestre sabe o quão forte é a filha dele — minha mão abandonou seu pulso e subiu por toda a extensão de seu braço, alcançando o ombro da garota, que pareceu relaxar — Você ainda não está pronta. Não totalmente.

— E quando eu vou estar? — perguntou em um sussurro.

— Você vai saber quando estiver — garanti.

— Ok...

— Sério? Só isso? — perguntei descrente — Não vai tentar mais nada?

— Claro que vou! — exclamou como se fosse o óbvio — Eu só entendi o que você quis dizer.

Suspirei pesadamente levando as mãos a cabeça. Sabendo que aquilo seria o máximo que eu conseguiria.

— Ao menos isso — sorri pelo nariz.

Ela, mais calma, voltou para a mesa. Suas pernas apoiadas em uma cadeira me fazia ter uma bela visão delas. Longas e torneadas. Talvez graças aos anos de treino.

Em uma de suas visitas ao longo da semana, minhas mãos arriscaram descer até lá. Ela ficou surpresa de início, mas não reclamou. E eu ainda podia sentir perfeitamente a maciez delas em minhas mãos.

Como Thawick observara mais cedo, a garota vinha no QG sempre que podia. Não eram todos os dias. Ainda precisávamos manter a discrição. O lance de "sem rótulos" ainda estava de pé. Nós conversávamos por um longo tempo. Sobre os mais variados assuntos. Ela me contava sobre o seu dia, como tinha sido o treino, a luta que assistira no dia anterior, do quão bom era o x-Gael e que algum dia levaria um para eu experimentar. Ficávamos assim durante um longo tempo.

Na manhã depois que nos acertamos foi inevitável não sorrir ao vê-la no outro dia. Mesmo com toda a conversa do dia anterior eu achei que ela não fosse vir, que iria ignorar tudo e que voltaríamos a ser os bons e velhos amigos de sempre . E a minha surpresa foi enorme ao vê-la caminhando até o QG, em passos lentos e acanhados. Quando chegou, não sabia o que fazer ou o que falar. E antes que ela fosse embora, eu a beijei. Ela sorriu e pareceu relaxar. Mas quando se dava conta do quão arriscado era ficar ali, podendo ser vista por qualquer pessoa, ela seguia até o meu quarto. Lá nós conversamos como sempre fazíamos. E ficávamos assim, até eu a beijar novamente. Ela nunca tomara iniciativa. As coisas nunca passaram disso. Beijos e algumas mãos bobas da minha parte. Principalmente da minha.

Eu não reclamava. Mais do que ninguém eu entendia o lado dela. Da última vez que mergulhou de cabeça em um relacionamento quebrou a cara. Eu jamais forçaria nada. Estávamos bem daquela maneira. Iríamos devagar.

Sorri sem conter. Devagar. Eu não era o tipo de cara que ia devagar. As coisas normalmente eram rápidas e práticas. Mas algo na loira me fez ter paciência. Uma paciência que eu nem ao menos sabia que existia em mim.

Eu realmente gostava dela. Karina parecia me entender como ninguém jamais me entenderia, me fazia rir de uma maneira tão verdadeira como eu nunca achei ser possível.

E eu tinha medo daquilo. Talvez tanto quanto ela.

— Thawick sabe de alguma coisa? — perguntou um tempo depois, se levantando e atravessando as correntes do balcão.

— Porquê? — a segui.

— Ele me olhou de uma maneira estranha — seu tom era indeciso — Era como se dissesse "eu já sei de tudo, novinha" — riu.

— E ele sabe, marrenta — confirmei. Ela se virou de repente, assustada — Ei, relaxa — a acalmei. Minhas mãos foram até seus cabelos, o afagando — Ele não vai contar nada — garanti.

— Tem certeza? — perguntou baixinho.

Assenti.

— Eu acho que a Bianca desconfia de alguma coisa... — confessou como se fosse um segredo — Vive soltando piadas e insinuando coisas.

— Devo me preocupar?

— Não... — negou — Ela está muito empenhada na missão "conseguir o perdão da minha irmã" para falar alguma coisa — sorri ao ouví-la — Também tem a Fabi. Que anda me ajudando nas minhas fugas — lembrou sorrindo — Mas ela também não vai falar nada.

Assenti. Meus braços cercaram sua cintura, a aproximando.

— Quer fazer alguma coisa? — perguntei casualmente, esperando que começássemos com o de sempre.

Mas não foi assim.

Seus lábios encontraram os meus de repente. Fiquei estático por um tempo. Talvez esperando ela recobrar a consciência e se afastar. Karina não costumava fazer isso. Normalmente eu a beijava.

Quando vi que ela não se afastaria, eu a beijei. Seus lábios entreabertos me deram passagem. Minhas mãos subiam de uma forma lenta enquanto eu sentia as mãos da loira em minha nuca, e algumas vezes em minhas costas. A blusa cinza que usava pareceu levantar um pouco, apenas o suficiente para que meus dedos sentissem a pele de sua cintura. Tão bem desenhada e, na grande maioria das vezes, escondida por aquelas regatas largas que usava. Meus dentes prenderam seu lábio inferior, o puxando levemente. Minhas mãos alcançaram sua nuca em algum momento, e ao deixar seu lábio escapar por entre meus dentes, os selei novamente. Rápido e brevemente.

— Obrigada — agradeceu ainda ofegante.

— É sempre um prazer te beijar. Não precisa agradecer por isso — sorri largamente.

— Idiota, eu não tô falando disso — socou meu ombro levemente também sorrindo. O tipo de sorriso que parecia irradiar felicidade — Obrigada por tudo, Cobra. Acho que eu estaria perdida sem você...

— Ou estaria em casa, trancada, curtindo tua foça eterna. Ouvindo músicas depressivas enquanto pensa no quão idiota é tudo aquilo — brinquei.

— É, ou isso — confirmou, gargalhando — Obrigada...

— Não tem para agradecer, Karina. De verdade — garanti.

Suas mãos que estavam apoiadas em meu peito, buscaram o celular que estava em seu bolso. A foto de Gael iluminou o ambiente que estava um pouco escuro devido a ausência de luz no local.

— Eu preciso ir — informou, indo até a entrada do QG — Acho que te vejo amanhã.

— Karina — chamei antes que ela fosse embora — Você pode me encontrar hoje à noite? — perguntei.

— Eu posso tentar. Não é uma certeza — uma leve ruga se formou em sua testa, talvez pensando no que iria inventar. Era a primeira vez que eu pedia para ela aparecer ali durante a noite — Porquê?

— Vamos sair.

— Pra onde? — perguntou curiosa.

— Me encontra aqui às 22h — disse sem mais explicações.

Ela fez uma careta engraçada enquanto me dava língua. Com um breve sorriso, ela se foi. Correndo até sua casa.

A tarde passou rápido. O movimento estava fraco. O que me fez passar a tarde inteira no computador, jogando um dos jogos que o viciado tanto amava enquanto comia algumas besteiras que o emprego me oferecia.

O viciado.

Fazia um bom tempo que ele não dava as caras. Talvez estivesse de castigo ou proibido de pisar aqui por uns tempos. João era gente boa. Do jeito dele, mas era. Acho que mais do que a marrenta, ele também sofria com toda aquela história. Da última vez que ele veio aqui, me disse que as coisas com a sua Bianquinha aos poucos se acertavam. Ela ainda estava zangada, mas parecia entender o motivo que o levou a fazer aquilo. Já as coisas com o guitarrista não eram das melhores. Brigavam constantemente. E por mais que ele tentasse de todas as formas se aproximar do amigo, nada dava certo. O guitarrista estava irredutível.

Durante os últimos dias, eu sempre imaginava qual seria a reação de Pedro ao saber que eu e Karina estávamos juntos. Ele sempre sentira ciúmes de mim. Mesmo antes de tudo aquilo, ele nunca foi com a minha cara. E cada vez que ele passava em frente ao QG, um sorriso sacana brotava em meus lábios. Ele apenas me lançava olhares fulminantes como se soubesse o que se passava em minha mente. O guitarrista nunca foi assunto em nossa pauta, mas sabia que Karina ainda pensava nele. E talvez sempre pensaria. Era difícil manter a calma cada vez que eu os via juntos do outro lado da vitrine. A relação dos dois não era a mesma de antes, mas melhorava aos poucos. Ela não o perdoara, eu sabia que não. Mas não tinha tanta raiva como antes.

Espantando todos aqueles pensamentos, resolvi voltar ao jogo. E quando ele não foi mais suficiente, fechei a loja e fui dormir.

Abri meus olhos lentamente, temendo a claridade que eu achei que passaria por entre as grades. E quase pulei da cama ao notar que ela não estava lá. Eram 21:57, constatei no relógio.

— Droga! — resmunguei ainda sonolento, correndo até o banheiro.

Depois de alguns minutos lá dentro, corri até minhas roupas, vestindo um calção qualquer e uma blusa da Khan. Meus dedos passearam por entre os fios molhados, em uma tentativa de alinhá-los. Alcançei o perfume que estava jogado em um canto qualquer e passei em mim.

Em passos lentos, segui até a entrada. E quando não vi sinal da garota, busquei meu celular. E lá estava, uma mensagem.

K: Vou me atrasar. Daqui a pouco chego aí √√

Encarei a praça. Muito movimentada para aquele horário. Seria impossível sair sem atrair olhares.

Cobra: Vou te esperar no outro quarteirão. A menos é claro que você queira ser vista saindo com um marginal √√

Alguns minutos depois, ela respondeu, e eu sorri ao ler a mensagem.

K: Ok! Antes de ir, vou primeiro passar na casa da Fabi e pedir pra ela quebrar mais esse galho. Acho que tô devendo algumas árvores à ela, kkkkk. √√

K: Ah! O marginal tem lá suas vantagens, kkkkkk. √√

Cobra: Vou encarar isso como um elogio, marrenta. Kkkkkk √√

Cobra: Tô saindo. Te vejo lá! √√

Coloquei o celular no bolso enquanto buscava as chaves, a carteira e os capacetes que estavam no balcão. Peguei as chaves, tranquei o QG indo até a moto que estava estacionada lá em frente.

Subi na moto e antes que eu desse partida e seguisse meu rumo, os olhos de Pedro avistaram os meus e se fixaram ali, como sempre faziam. Da última vez que nos falamos, ele queria arranjar uma briga. Por causa da K. Seus olhares nunca foram amigáveis, e eu tinha certeza que os meus também não eram os mais doces.

Com um breve aceno em direção a ele, dei partida e dirigi até o local combinado.

Karina já estava lá.

Usava um blusa azul com mangas que tinha um discreto decote em formato de v, um short e um chinelo qualquer. O rosto estava limpo. E eu gostava daquele jeito. Natural. Ela ficava incrível quando os olhos estavam iluminados devido as sombras que usava, e os lábios tão atraentes devido ao batom. Mas nada superava aquela versão. A que não precisava de nada, e ainda assim era linda.

Ao vê-la sorrir ao me ver, eu tive ainda mais certeza sobre aquilo.

— Pronta? — perguntei enquanto a ajudava com o capacete.

— Espero que não seja um lugar cheio de frescuras. E que seja legal o suficiente pra me fazer perder a luta de hoje à noite — comentou revirando os olhos — Você sabe que eu odeio surpresas — resmungou, subindo na moto — Podia me contar onde estamos indo.

— Acho que, de novo, cê tá precisando dar uma passada lá — pisquei, me virando.

— Nós vamos a praia? — perguntou empolgada — Lembro que você disse a mesma coisa quando estivemos da última vez — ela era esperta.

— Sim, nós vamos à praia. E o melhor, vamos assistir a luta.

Ouvi quando ela sorriu sem conter a empolgação.

— É, vale a pena! — comentou — Agora vamos, Cobra! — pediu, batendo no meu ombro.

E assim o fiz, dei partida e segui o mesmo trajeto que eu tinha feito há mais de um mês atrás.

Quando eu fui até lá encontrá-la. Onde assistimos ao pôr do sol. Onde ela se desculpou por ser o motivo de uma briga entre eu e Jade. Onde brincarmos um com o outro. Onde ela deitou a cabeça em meu ombro. E onde ela disse que o amava...

— Ei, cara, o sinal já abriu! — ouvi Karina gritar em meio a todas aquelas buzinas — Tá no mundo da lua?

— Talvez — acelerei.

Alguns minutos depois, nós chegamos ao destino. Estacionei a moto, ela desceu e logo depois fiz o mesmo. Retirou o capacete, o guardando na garupa da moto.

Ela sorriu abertamente.

— O quê? — perguntei confuso.

— Teu cabelo — seus dedos foram até eles, onde passou os dedos por alguns fios — Tá bagunçado.

Balancei a cabeça, tentando organizá-los.

— Não — me impediu de continuar, seus dedos entrelaçaram atrás de minha nuca — Estão ótimos assim — me sorriu e quando pareceu se dar conta do que falava, corou.

Antes que ela se afastasse, eu a beijei. Sem preocupação nenhuma. Era apenas eu e ela.

— Vamos? — chamei, indo na frente. Esperando que ela me acompanhasse.

Senti quando sua mão se agarrou à minha de repente. Encarei nossas mãos entrelaçadas, meus olhos buscaram os seus, e ao ver o brilho assustado, eu entendi o motivo. Não muito longe de nós, um grupo de surfistas a encaravam sem nenhum pudor. Uma sereia para a rede deles.

Idiotas.

Minha mão soltou a sua e rodeou seu pescoço, a aproximando em um abraço. Lancei olhares mortais quando passamos por eles.

Ela não reclamou, e seguimos assim até um quiosque pouco movimentado e afastado do resto praia.

Sentamos em uma mesa do lado de fora, tínhamos uma visão perfeita da praia e da TV, que já anunciava a luta. Talvez começaria daqui a alguns minutos. Às 23hs.

— Posso ajudar, Ricardo? — o tom amigável me chamou a atenção.

— Jorge! — saudei o velho conhecido, ofereci o punho fechado e ele tocou prontamente — Tudo bem, cara?

— Tudo ótimo — sorriu — Cê também parece estar muito bem. E com uma ótima companhia — analisou a garota que encarava fixamente os letreiros da mesa.

— Essa é Karina, uma amiga — apontei para a guria — K, esse é o Jorge, um velho amigo.

Ela acenou à ele com um breve sorriso, ele a devolveu prontamente.

— Vão querer alguma coisa? — perguntou ao notar o clima que se instalara.

— Claro! Eu quero um chopp e uma porção de fritas — pedi — Para ela...

— O mesmo! — me interrompeu. Lhe lancei um olhar recriminador e ela sorriu em resposta.

Assenti sem pensar em muita coisa.

— Espero que você não seja fraca para bebidas — disse ao ver Jorge dando as costas, anotando garantiu pedidos.

— Eu também espero — comentou — Relaxa, Cobreloa. Eu aguento! — me garantiu. Karina se inclinou um pouco mais para frente e sussurrou como se fosse um segredo — E afinal, essa é uma das vantagens de se andar com um marginal. Posso conseguir bebidas sem nenhum problema — piscou, talvez lembrando das mensagens que trocamos mais cedo.

Gargalhei sendo acompanhado por ela.

— Amiga, né? — perguntou depois que o silêncio se instalou no ambiente. Só ouvíamos as ondas do mar e o comercial da TV.

— O quê? — perguntei, confuso.

— Sou sua amiga... — explicou.

— Kari —

— A LUTA VAI COMEÇAR! — alguém gritou empolgado, interrompendo a minha tentativa de explicar qualquer coisa.

Os olhos da garota viraram quase de imediato em direção a tela, um sorriso brotou em seus lábios de repente. A luta era uma paixão. Ela amava aquilo. Tudo nela parecia transmitir isso. Seu futuro parecia realmente ser aquilo. E determinada do jeito que era, conseguiria alcançar facilmente seus objetivos. Até mesmo Gael, com toda aquela marra, parecia saber disso.

Jorge voltou minutos depois com os nossos pedidos. Karina fez uma careta ao provar a bebida, mas rapidamente se acostumou. Passamos a maior parte do tempo assim, bebendo, beliscando as batatas fritas e comentando sobre cada round da luta. Que era uma das boas, vale ressaltar. Depois de mais de uma hora e de várias apostas ganhas contra Karina, nós resolvemos ir embora.

— Eu vou pagar, K — avisei, me levantando — Se quiser, pode ir na frente.

— Pagar? — perguntou descrente enquanto fazia um pequeno bico — Achei que nós fugiríamos ou qualquer coisa assim. Me decepcionou, marginal... — reclamou com uma falsa tristeza.

— Não quero ir preso — sorri, me levantando — Fica pra próxima, marrenta.

Ela assentiu com uma careta, se levantando.

Fui até o balcão, onde entreguei o papel que Jorge nos deixara, e paguei a conta.

Dei as costas, e procurei por Karina assim que pus os pés na areia. Foi fácil avistá-la, sua silhueta era reconhecível em qualquer lugar. Seus cabelos, ainda que curtos, balançavam com a brisa. Ela observava o horizonte de uma maneira tão hipnótica que por um momento achei que ela não fosse sentir quando eu me aproximei.

— Isso é tão bom — comentou, se virando para me olhar.

— O quê?

— Isso — apontou para o seu redor como se fosse o óbvio — Sentir esse vento no rosto, a brisa te tocando, os pés na areia, o som das ondas... É incrível — seus olhos pareceram pesar e os lábios se repuxaram.

E realmente era incrível. Incrível vê-la daquela maneira.

— É incrível — me aproximei. Uma de minhas mãos cercou sua cintura enquanto a outra afastava algumas mechas de seu cabelo para atrás de sua orelha.

Ela era linda.

E eu estava perdido por isso.

Seus lábios encontraram os meus brevemente, Karina sussurrou algo que eu não entendi e me abraçou em seguida. E ficamos assim, por longos minutos. Sua cabeça em meu peito enquanto o meu queixo se apoiava no topo da sua. Apenas sentindo aquela coisa incrível de que ela falara antes.

— Vamos? — chamei a garota que por um instante eu achei que havia dormido em meu peito.

Ela assentiu, se afastando.

Caminhamos até onde a moto estava. Alguns minutos depois, nós chegamos ao nosso destino. Por precaução, parei no local de mais cedo. O tal quarteirão. Vazio devido ao horário. Era mais de meia-noite.

Ela desceu da moto, enquanto tirava o capacete e o guardava. Fiz o mesmo em seguida.

— Você não quer dormir no QG? — a pergunta saiu antes que eu controlasse. Fiz de tudo para que a pergunta soasse o mais natural possível. Sem segundas intenções ou qualquer coisa do tipo. Até porque, não tinha segundas intenções nela. Eu só queria que ela dormisse lá.

Mas ao ver o quão desconcertada ela ficara, eu me arrependi do momento em que eu abri a boca.

— Eu — seus olhos pareciam ter perdido o rumo. Todo e qualquer lugar era mais interessante que meus olhos — Eu... Acho melhor não, Cobra... Eu vou pra casa da Fabi e dep —

— Ei, Karina, tá tudo bem — a acalmei, me aproximando — Sem problemas — garanti sorrindo fraco — Boa noite, marrenta! — beijei o alto de sua testa.

— Boa noite — sussurrou.

Subi na moto, dei partida e segui até a tão familiar praça José Wilker enquanto tentava esquecer os últimos minutos daquela noite. Que por um instante, eu achei que não iria estragar.

Deixei a moto na calçada, pegando os capacetes e abri o QG, os jogando em um lugar qualquer. E quando virei, pronto para trancar a porta, braços envolveram meu pescoço e em reflexo, os meus seguraram a cintura da garota, tentando não perder o equilíbrio. E aquele cheiro tão familiar invadiu minhas narinas.

— Dama... — disse surpreso.

— Vagabundo...


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Notas finais do capítulo

ENTÃO? Que tal?
Me contem tudo o que acharam!
Aguardo vocês lá!
E aaaah: se quiserem, podem me encontrar no twitter: @bruns_ck

Beeeeijos e até a próxima.