Brincando com Segredos escrita por Mondler


Capítulo 19
Who is the killer?


Notas iniciais do capítulo

Oooi, gente! Vai ter capítulo fresquinho, sim! Então, estava com tantas saudades, como vão? Eu tô todo me tremendo, esse é o penúltimo (EU AINDA NÃO TÔ ACREDITANDO) capítulo da fic, ele tá cheio de surpresas e tiro, porrada e bomba. Queria muito agradecer a todos os leitores, fantasmas ou não. Vocês são ótimos! Espero muuuuito que gostem e boa leitura! Eu estou feliz e triste ao mesmo tempo, sabem?
Meu coração já tá na mão! :/



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Madison

Parte I – Antes.

Bom, essa realmente não é uma história feliz.

Foi o tempo nublado que me fez querer voltar para casa naquela manhã. As outras crianças decidiram continuar no parque, mas eu realmente estava sentindo que era hora de retornar. Usei a pequena passagem dos fundos para não ter que atrapalhar papai em seu escritório, fui até o meu quarto silenciosamente e, assustada, no corredor, encarei minha mãe. Ela já não tinha ido trabalhar? Lembro de ter me perguntado.

Espiando pela porta do quarto de papai, minha mãe simplesmente não percebeu que eu estava ali. Repentinamente, seus braços empurraram a porta. Através dela, vi meu pai sem roupa, deitado em sua cama com outro homem. Lentamente, os sorrisos dos dois se alteraram para uma cara de espanto, surpresa.

Nos mudamos três semanas depois. Apenas eu e meu avô. Foi assim por três, quatro, cinco anos. Tudo que eu sabia era que Helena tinha ido tirar férias e o meu pai se casado em Paris. Apesar de tudo isso, a minha infância não fora tão complicada ou triste assim. Eu realmente nunca me importei com que os dois faziam.

Quando Helena retornou, a única coisa que eu queria era poder ignorá-la, mas não conseguia esconder a minha saudade. Infelizmente, o seu descaso e frieza continuaram. Ela poderia ter voltado de muito longe, mas a sua mente continuava tão distante como antes. Ela se casou com Mike, um homem babaca, vizinho nosso. Esse é o tipo de história que se repete várias vezes em diferentes ambientes e tonalidades. Isso não a transforma em um clichê. É apenas um fato sólido, real. Acontece que Mike batia nela, principalmente quando retornava bêbado da sua infeliz rotina no bar. Ele procurava minúsculas situações para transformá-las em problemas. Era assim que ele justificava o que fazia. No fim, ela acabou ficando grávida.

Lembro-me de sempre orar pela morte de Alex. Sentia vergonha de mim, sentia-me egoísta, mas a verdade era que em hipótese alguma eu aceitaria ter um irmão que vivesse o mesmo drama que eu. Foi aí que tudo desandou mais ainda. Meu avô morreu no dia do nascimento do bebê. Quando o garoto completou três meses, Helena quase permitiu que ele se afogasse na banheira. Mike desapareceu e só retornou após o dia em que Helena se matou. Ainda me lembro de seus pés balançando no ar, a corda amarrada na sacada da casa, rodeando e apertando o seu pescoço, a sirene da ambulância e a multidão de vizinhos.

Como eu disse, não é uma história feliz.

Parte II

Uma das mãos de Tobias deslizou pela minha coxa, a outra me suspendeu, repousando o meu corpo em uma das pias do banheiro, enquanto continuávamos os beijos enfurecidamente. Mordi os seus lábios, pressionei-me contra o seu tórax rígido e passei a mão pelos seus longos cabelos loiros, sentindo os seus braços fortes me agarrarem com cautela. Ele tinha gosto de vodca e isso fez com que eu o desejasse cada vez mais. Nauseada pelo seu sabor e essência, chupei o seu pescoço, deixando-o vermelho. Uma onda de prazer tomou o meu corpo por inteiro à medida que o garoto foi me conduzindo por seus beijos molhados. Sobre o efeito da droga, comecei a tirar a sua bermuda, incapaz de resistir ao prazer de sentir a sua barba rala roçando em meu queixo.

A porta se escancarou, revelando um Edward completamente irritado. O garoto deslizou pelo banheiro imundo, cruzou os braços e ficou nos encarando. Em um futuro não muito distante, eu seria obrigada a atirar nele.

— Então, vocês não vão querer saber o que está acontecendo? Posso garantir que é babado!

Ao retornarmos para a festa, o assunto em questão só era esse. Michael, namorado de Mia, havia sido encontrado morto na piscina do colégio Winston. Tobias e eu não nos importávamos muito com isso, afinal, nem estudávamos, mas era algo realmente alarmante para o restante dos jovens, já que os seus celulares ligados no blog Serpentes Sanguinárias revelava nada mais que o interesse deles em saber sobre o assunto. Argh, a interface rosa com cobras do blog me dava enjoo.

Decidimos que continuaríamos na balada, mesmo com a terrível notícia. Sem clima para continuar o que começamos no banheiro, Tobias e eu nos separamos um pouco. Ao longe, vi Ben e Edward se beijando. Segundos depois, eles se afastaram. Atraída, fui conversar com Ben.

— Seu namorado parou a minha ficação para falar de um defunto, mas e aí, como tá o relacionamento com ele? Espero que você se lembre da conversinha que tivemos. — Disse para Ben Thompson. O garoto estava em um relacionamento com o meu melhor amigo, e eu realmente me preocupava.

Os Thompsons eram uma das famílias mais ricas de Oakland naquela época. Ben não fazia o tipo riquinho esnobe, mas tinha um ar desafiador e intrigante. Suas duas irmãs, Emma e Adelaide, não pareciam muito com ele. Não que eu tivesse muito contato com elas para saber, mas Emma Thompson é realmente um dos assuntos mais recorrentes por todos os cantos.

— Você é a primeira pessoa que vem falar comigo sobre outro assunto sem ser o do Michael. — Ele sorriu, encarando-me por um tempo. Tinha que admitir uma coisa: Edward tinha sorte em poder ficar com Ben. Além de ser lindíssimo, era super legal e rico. — Mas tá tudo indo bem sim, na verdade. Posso te falar uma coisa? — Ele parou por um tempo, suspirando. — Eu estou apaixonado por ele, Madison.

A sinceridade na voz do garoto me assustava e me deixava feliz ao mesmo tempo.

— E com o Tobias? Pode me agradecer por ter lhe apresentado o garoto. Tô me sentindo o cupido. — Ben se gabou.

Enquanto ele falava, observei Tobias. Eu não gostava muito de falar a respeito do que eu sentia, então por longos minutos eu apenas fiquei calada. Eu gostava de cada pedaço do seu corpo. Dos calcanhares até os cabelos. O olhar doce e infantil, porém brutal e desafiador. Assim como eu, cheio de mistérios e segredos. Quando falei, as palavras fizeram mais sentido.

— Eu o amo.

O poder de admitir aquilo em voz alta era revigorante. Noites como aquela tornaram-se bastante frequentes.

O efeito amargo na garganta perdurou por bastante tempo, até começar a enfraquecer, quando um lado da corda, como sempre, começou a romper. Ben Thompson e o seu pai morreram em uma explosão. Lembro-me de estar na casa de Edward, socando o seu rosto, puxando-o para longe da lâmina que ele segurava, tentando tirar a própria vida. E cada vez que ele ameaçava se cortar, o corpo suspenso de Helena, balançando na corda, retornava com imagens rápidas em minha cabeça.

Tobias também estava péssimo. Ben era um amigo antigo seu. Vê-lo chorar era algo completamente estranho. Sentia-me deslocada e egoísta por em nenhum momento me sentir mal pelo garoto. Na virada do ano, o tempo nublado anunciava a chegada de algo. Até mesmo os momentos isolados que eu tinha com o garoto passaram a se tornar monótonos e arrastados. Nosso relacionamento nunca fora algo tão cheio de expectativas ou compromissos. Éramos apenas jovens curtindo a fase casualmente, apesar dos sentimentos bem consistentes.

Surpreendentemente, a história por trás do blog que eu sempre odiei começou a se desdobrar, mostrando-se completamente interessante e imprevisível. A lista de mortes não parou por aí. Mia, assim como o namorado, deixou o mundo humano para fazer uma visitinha ao satanás. A garota fora enforcada na festa de Jenna Springs. O que me assustou, afinal, foi o que eu li, sem querer, no celular de Tobias um dia antes do acidente.

“Anônimo: Você sabe que eu continuo aqui, certo? Não estrague a minha diversão ou, querendo ou não, seu nome será posto na lista vip de passagem para o inferno. Não fique triste Tobias, a verdade é que eu sempre fui assim! O monstro só estava dormindo por um tempo... Afinal, eu finalmente estou me sentindo vivo.”

Teria aquele sms alguma ligação com os frequentes eventos que começariam a acontecer?

***

Agora

Por trás da grade, vejo as cargas elétricas estourando pela sala, cuspindo faíscas para todos os cantos. Com dificuldade, em meio a fumaça, enxergo uma sombra cambalear para o lado, tombando entre os fios e o gerador de energia. Talvez seja Emma, então preciso urgentemente fazer algo para ajudar a garota.

Dou uma olhada rápida pelo meu quarto. Diferente do portão da minha amiga, o meu está decididamente bem trancado. Puxo com força a barra de metal que é usada como cabeceira da cama do meu cubículo, correndo com o material contra o portão, usando-o como porrete. Depois de um tempo, à medida que o desespero e a adrenalina vai tomando conta do meu corpo, consigo arrombá-lo.

Do lado de fora, corro atentamente pelo lugar, desviando-me de fios pelo chão. Emma está desacordada, bastante ferida no braço esquerdo. Sem demora, puxo-a para longe da fumaça, respirando com dificuldade, tossindo mais do que me movimentando para um lugar seguro. Percebo que alguém está se aproximando. Com um salto veloz, desci a barra de aço em minha mão em direção a pessoa, acertando-a no braço.

— Ui, que merda! Sou eu, Thomas! — A voz assustada de Thomas faz com que eu pare de machucá-lo. Quando ficamos mais próximos, finalmente consigo vê-lo melhor. Ele agarra Emma pelo braço e, juntos, iniciamos uma corrida para o corredor do lado de fora. Atrás dele, Brooke, Dylan e Jenna também surgem. Noto um molho de chaves na mão de Thomas.

Deixamos a fumaça e partimos para um corredor largo e escuro. Ao fundo, os pipocos e estouros finalmente param, dando espaço, agora, para um choro sofrido e alto de Jenna, que acabara de perder a irmã, Melanie, no jogo psicopata de preguinhos de SS.

Paramos em uma sala circular com algumas caixas empoeiradas. Coloco Emma no canto, esperando que ela acorde a qualquer momento. Eu realmente espero que ela faça isso.

— O filho da puta não morreu! — Brooke sussurra do meu lado. — Eu o vi sendo eletrocutado, mas depois ele conseguiu escapar. — Ela começa a chorar, tampando a boca com a mão trêmula.

Ninguém fala mais nada. Por longos dez minutos, todos ficam colados contra algo, pedindo que toda essa loucura termine de uma vez por todas. A calmaria termina, subitamente, quando Dylan decide jogar a merda no ventilador. Vejo o momento exato em que ele suspende a minha barra de aço, puxando-o pra si e erguendo-a, logo em seguida, contra o meu rosto. Desnorteada com o impacto, tombo para o lado.

Levanto o meu corpo depressa, tentando processar o que, de um minuto para o outro, aconteceu. O garoto cai no corpo desacordado de Emma, socando-a tão forte que consigo escutar o dente da garota se soltando. Reúno todas as minhas forças e executo um pulo, agarrando, ainda no ar, o seu cabelo. Cravo as minhas unhas em seu couro cabeludo, arrastando-o para longe dela. Enfurecido, o garoto dá uma cotovelada em meu nariz, mas resistente, continuo mantendo-o afastado. Thomas e Brooke ajudam-me a segurá-lo.

— Você o matou! Você tirou o que era mais importante em minha vida, sua cretina! Egoísta, louca, vagabunda! — O grito do garoto vem seguido por uma força enorme. Sinto uma tontura terrível, mas o braço livre de Thomas me segura e eu consigo me estabilizar. Na porta, SS aparece, o traje queimado aqui e ali, a máscara rachada na parte inferior, revelando um queixo redondinho. Mesmo sem ver a sua boca, sinto que ele está sorrindo.

Largamos Dylan imediatamente, correndo para os fundos da sala. Emma parece ter acordado depois dos socos do seu ex-amiguinho, com sangue em todo o rosto. Tonta, ela e o restante do grupo, com exceção de Dylan, procura manter a maior distância possível do assassino e da sua não tão nova faca de cozinha. Desafiando a morte, o garoto grita:

— Está sendo divertido pra você, não? Mas sabe o que eu acho? Acho que você é um tremendo covarde, escondendo-se atrás dessa maldita máscara, usando os outros para realizar as suas façanhas imundas! SS? — Ele ri ironicamente. — Que coisa mais babaca, seu estúpido! — Com a barra de metal, o garoto parte rapidamente contra SS, que se abaixa performaticamente, evitando ser acertado. Dylan, por pouco, também consegue escapar da lâmina afiada do inimigo. Com um golpe certeiro nas pernas, SS, que já está bastante ferido, tomba para o chão. Tomado por uma fúria ainda maior, Dylan começa a chutá-lo. Thomas corre para ajudá-lo, mas com uma reviravolta horrível na batalha, decide retornar para a sua fantasiada segurança.

Após uma rasteira, Dylan volta a ser o cordeiro e SS o lobo. No chão, o garoto se agarra ao assassino, agora em pé. Quando a primeira faca entra em suas costas, o grito do garoto é fraco e desentendido, mas na terceira e na quarta vez, tudo parece se clarear para ele, afinal, está morrendo. Ao meu lado, Emma solta um grito de horror, estendendo a mão para o corpo ajoelhado. Antes de cair, ele a encara, deixando a guarda de lado, permite-se cair no chão de barriga para baixo, as costas salpicadas de sangue. Morto.

SS retira um revólver da capa, aponta-o em minha direção e pede, com a voz alterada bastante enraivada, que o obedecêssemos. Assim, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de nós, SS vai nos guiando pelos corredores escuros e confusos do misterioso prédio em que estamos. Enquanto andamos, penso mil formas de atacá-lo para podermos escapar, mas seria extremamente incorreto e estúpido fazer algo do tipo quando seu inimigo possui uma arma e você apenas as mãos.

A cena de Dylan sendo esfaqueado permanece viva em minha mente.

Chegamos a uma sala extremamente aberta, com uma piscina cheia em nossa frente. O assassino, ainda atento, ordena que fiquemos ali, enquanto atravessa o lugar, parando apenas do outro lado. Doentio, aponta para o teto. Dois corpos pendurados em cordas se encontram, movendo-se de um lado para o outro. Estão vivos.

Estava começando mais uma rodada das brincadeiras psicopatas?

Caixas de som espalhadas pelo salão começam a exibir um áudio. A voz exibida faz Emma choramingar ao meu lado, apertando a minha mão. Trata-se da inconfundível voz de gozação de sua irmã, já morta, Adelaide.

“Dezessete do quatro de dois mil e treze. Blog das Serpentes Sanguinárias. Segurem-se, gatas! Temos notícias quentíssimas para vocês nessa noite maravilhosa. Flagrada, Jenna Springs, a riquinha número dois de Oakland, barrando os seus pais queridinhos em seu jantar de aniversário. Coitados, nem sabem que a metade da cocaína no estado desceu para a festa da filhota deles. Risinhos.”

E voltou com mais uma postagem do blog:

“Três do três de dois mil e treze. Blog das Serpentes Sanguinárias: CÂMERA DA TRAIÇÃO! Coloquem os cintos e preparem os celulares para a vingança. O babaca dessa vez foi Tobias Stones, nadando livremente pelado com a vagabunda mais linda do Hotel Palace, Brooke Michelle, na piscina de luxo dos seus papais. Descobrimos que a chifruda é uma favelada, Madison-alguma-coisa-que-ninguém-vai-reconhecer.”

Quando a voz finalmente cessa, encaro o rosto envergonhado de Brooke ao meu lado. Um nó forma-se em minha garganta. Como Emma poderia ter escrito coisas assim?

— Não se preocupem, amorecos. A Adelaide tá mortinha e enterrada mesmo, essa gravação foi feita na época em que aquele demônio ainda estava entre nós. É só para um draminha, sabe? Essa rodada será baseada nessas notícias fresquinhas do blog que nós sempre amamos. — SS gritou com a voz alterada do outro lado, dando risinhos. — Jenna, querida, o primeiro desafio é o seu. Você sempre barrou os seus pais, mas agora que eu os convidei, precisa ajudá-los com essas cordas desconfortáveis, certo? Eu fiz questão de sequestrá-los com o máximo de cautela para essa ocasião maravilhosa! — Ele riu ainda mais, apontando novamente para os corpos amarrados.

Usando uma escada a sua direita, Jenna sobe até o andar de cima, aproximando-se dos seus pais pelo varandado do que parece ser uma arquibancada. Percebo que os dois corpos se movimentam mais ainda com a aproximação da garota, como se estivessem tentando avisar algo. SS, com um andar refinado, começa a falar:

— Eu não sei vocês, mas eu gosto muito de Scream. A metalinguagem e toda aquela narrativa deliciosa, com muito sangue e morte, sabem? Querendo ou não, alguns elementos tem se repetido aqui. Vou ser sincero, a série nunca chegará aos pés dos filmes, mas vou admitir que tive o prazer de copiar um dos atos do ghostface dessa nova produção! — Com pulinhos, SS girou para os lados, olhando ansiosamente para o alto.

No mesmo instante, uma cachoeira de sangue é despejada na piscina. Os órgãos do pai de Jenna começam a descer pela sua barriga rasgada, outrora amarrada pela corda. A garota tomba para o lado, horrorizada, enquanto o pai berra, morrendo aos poucos. A corda que segura suas mãos se parte e o corpo inteiro do homem despenca, afundando na água completamente vermelha.

— Jenna, querida! O que aconteceu? Você não sabia que a corda estava segurando as tripas dele? — Novamente, SS configura a voz para o tom mais sombrio, dando-lhe ordens. — Agora faça o mesmo com a sua mãe, piranha!

— Não! Por favor, não! — Jenna grita, tentando limpar o sangue espalhado pelo seu corpo.

— Eu vou contar até três... Um, dois, três... — Ainda horrorizada, Jenna tenta se levantar para salvar a mãe, mas SS ergue o revólver e efetua um disparo contra o crânio da mulher. Os miolos estouram no rosto espantado de Jenna, enquanto outro tiro acerta o ponto em que a corda está presa no teto. Assim como o homem, a mulher, com a barriga rasgada, cai na piscina, levantando água para todos os lados.

É como se eu tivesse levado um soco no queixo. Eu, Emma, Brooke e Thomas continuamos estáticos, vulneráveis mais do que nunca. Uma parte de mim, a emocional, grita para que me movimente e ajude Jenna, a outra, a parte racional, clama que eu continue imóvel, esperando o momento certo para agir. Do alto, observo Jenna berrar, observando os seus pais mortos. A garota começa a descer a escada correndo, tonta. Outro disparo é efetuado. Dessa vez, jogo o meu corpo no chão, assustada.

De relance, fito o corpo de Jenna cair, rolando velozmente pelos degraus até parar aos pés da piscina, sangrando, também sem vida. Primeiro a irmã, depois os pais e agora ela. Todos os Springs estavam mortos agora. Ainda no chão, com uma dor horrível de cabeça, escuto a voz insuportável do assassino. Porra, como eu quero dar um fim nele.

— Ugh, eu realmente detesto essas pessoas que ficam de chororô. Vai tarde, essa esquelética. — Vejo-o levantando a arma para o nosso lado, apontando-a especificadamente para Brooke, os olhos vermelhos da máscara de serpente brilhando. — Gatinha, agora é a sua vez. Você agarrou o boy da Madison uma vez, o Tobias. — Ele se vira para mim, gargalhando. — Essas confusões são deliciosas, podemos repeti-la? Vejamos, temos a piscina... — Ele aponta o revólver para a água com os corpos, totalmente vermelha, cheia de órgãos. — Temos a traidora, que no caso é você... e temos o traidor também! — Sinto que todos os meus sentidos se congelam por um tempo, tornando-se defeituosos. Uma tremedeira fria percorre os meus ossos e o que eu vejo faz com que eu grite como nunca.

A mão enluvada do assassino agarra os seus cabelos longos e loiros. Vejo os seus olhos, agora quase que sem cor nenhuma. Os traços belos do seu rosto, sua boca, seu nariz. Ainda posso sentir o seu calor. Ainda posso senti-lo em mim. Levanto o meu corpo, ainda gritando. Meus joelhos falham e eu tombo na borda da piscina, encarando-o.

— Brooke, você tem que pegá-lo, se é que me entende! Lá vai! — A voz brincalhona toma conta da sala. A cabeça de Tobias é arremessada e logo cai na água. Grito mais uma vez. É como se um buraco surgisse no meu peito. Um vazio grande e convidativo. — Vadia, se não pular para pegar a porcaria dessa cabeça, juro que terminará com um tiro na cabeça! — Ele grita uma última vez.

Berrando, com a mira da arma sobre o seu peito, Brooke mergulha, indo até o fundo. Nesse meio tempo, sinto a mão de Emma me agarrando, impedindo que eu tente chegar até SS. Thomas parece ajudá-la, mas no momento em que a cabeça volta para a superfície, o pescoço cortado visível, ninguém consegue segurar a minha fúria. Então eu corro. Passo pela lateral da piscina, ignorando qualquer arma em minha frente.

Ele dispara. O tiro acerta meu ombro em cheio, jogando-me para trás. Perco o meu fôlego e sinto a dor subindo por todo o meu corpo, como se estivesse pegando fogo. A minha visão fica turva e eu coloco a mão na ferida, melando-a de sangue. Pelo outro lado, alguém grita, acertando a cabeça de SS. O corpo do assassino cai. Vejo Emma lutar com ele, enquanto Thomas puxa Brooke e a cabeça de Tobias para fora da piscina. Alguém cai novamente na água.

Levanto com muito esforço a coluna, sentindo a minha respiração voltar a se estabilizar aos poucos. SS, sem o seu revólver, luta agora com um Thomas completamente molhado. O garoto recebe uma facada violenta na barriga. Grita de dor e cai, recebendo mais uma no ombro. Brooke chuta a máscara do assassino, livrando Thom da morte. As mãos geladas de Emma me agarram e ela grita para que os outros a sigam. Vejo que ela está com a arma de SS na mão.

Corremos para uma porta nos fundos do salão. Os dedos da garota envolvem as duas barras de puxar e acabamos saindo do grande prédio. Estamos em céu aberto, cercados por caminhos trilhados com tijolinhos, várias jaulas, aquários, árvores e plantas ao nosso redor. Eu conheço aquele lugar. Estávamos em um zoológico abandonado.

Aceleramos os nossos passos por todos os lados, cortando caminho, buscando uma saída definitiva daquele lugar. Ao meu lado, Thomas cai, apertando a barriga ensanguentada. Brooke pega-o pelo braço e continuamos com a corrida por longos vinte minutos, perdidos entre os espaços ambientados com árvores falsas, escondendo-nos dos ruídos e do brilho avermelhado dos olhos na máscara de serpente do assassino.

Paramos em uma lojinha de lembrancinhas do lugar, completamente aos pedaços. Emma recosta o meu corpo na parte de dentro da vitrine coberta por madeiras pregadas, analisando com cuidado o meu ferimento no ombro. A dor parece cada vez maior. Ela arranca uma parte da sua blusa e amarra ao redor do ferimento, tentando parar o sangramento. Thomas também está sobre cuidados. Brooke lavou a sua ferida e deu-lhe uma garrafa de água que encontrou estocada nos fundos da loja.

— O que faremos agora? — Ela pergunta, passando o seu cabelo loiro encardido para trás da orelha.

— Vamos continuar. Vi um mapa e não estamos muito longe da entrada do zoológico, que será a nossa saída. — Emma fala, observando com cautela o lado de fora. Ela aperta o revólver, pronto para usá-lo. Olha para mim por bastante tempo, preocupada. — Você está bem?

Apenas concordo com a cabeça, sem nenhuma vontade de falar.

De repente, ouvimos, novamente, a voz de Adelaide, em áudio, pelas caixas de som do lado de fora. Um nó terrível forma-se em minha garganta, pronto para me fazer chorar de medo. Emma arregala o olho, enquanto Brooke e Thomas se apertam no lugar em que estão, assustados.

Dez do cinco de dois mil e treze. Blog das Serpentes Sanguinárias! Thomas Geller, nosso amado galã, foi flagrado pelas nossas câmeras especiais correndo desesperado para entrar na fila da boate gay mais poderosa de Oakland! Até aí tudo bem, mas o babado mesmo é com quem ele estava! Sim, Ben Thompson, o seu ex, que não é tão ex assim, estava bem íntimo com o Thom. Será que temos uma CÂMERA DA TRAIÇÃO aqui? Afinal, o Ben aparentemente estava de namoro seríssimo com o Edward-não-tão-importante-assim.”

A voz de Adelaide é abruptamente substituída pela voz claramente alterada e já conhecida de SS.

— Vocês realmente correm muito bem, então quero propor mais um desafio, certo? Sabemos onde vocês estão e vocês sabem onde é a entrada-saída. Terão dez minutos para chegar até lá. Quando o tempo passar, os portões se fecharão e ficarão aqui nesse inferno para sempre! — Termina com um grito escandaloso, repleto de gargalhadas e gritinhos de animação, cada vez mais psicótico.

O áudio termina e com o fim dele vem o silêncio. Nós quatro ficamos nos encarando, decidindo mentalmente se devemos ir ou não, como se aquela fosse a última vez que iríamos nos ver, o que poderia ser verdade. Emma é a primeira a se levantar, apontando o revólver para a porta. Depois dela, eu sou a segunda. Caminho para fora da loja, recebendo uma baforada de ar no rosto. A noite está pesada e silenciosa.

Primeiro aceleramos o passo, em seguida começamos a correr. Thomas e Brooke estão vindo logo atrás, atentos a qualquer movimentação suspeita. Passamos por duas jaulas enferrujadas, viramos uma rua e prosseguimos. O ar começa a me escapar, mas não posso simplesmente parar. É quando a primeira flecha parte do arco do assassino até as suas vítimas.

Thomas tomba no chão, rola pela estrada de tijolos e bate o rosto em uma cadeira de madeira. Em seu ombro, vejo a estrutura longa da flecha alojada. Desacelero e volto para o lugar, sentindo mais duas flechas passando velozmente pelo meu lado. Lá na frente, Emma grita, tombando com uma flecha instalada em seu braço, a outra no chão, resultado de uma mira errada.

Agarro o braço de Thomas e puxo-o pra cima sem demora, com medo de ser atingida a qualquer momento. Olho para o alto e vejo SS no topo de um os prédios do lugar, levantando um arco esverdeado, pronto para acertar mais alguém. Nervosos, corremos ainda mais, enquanto Brooke tenta ajudar Emma. Viramos mais duas ruas e cortamos pela área dos macacos, onde a passagem é mais rápida. Por fim, consigo ver, não muito distante, o portão preto escancarado, representando a minha linha de chegada, a minha chance de viver, a minha única esperança.

Chegamos à praça de entrada do lugar, carregada por um ar fantasmagórico, completamente iluminada pela lua. Mais uma flecha passa por mim, agora triscando em meu ouvido esquerdo. Tropeço com o peso de Thomas e nós dois caímos. Pensando rápido, arrasto o meu corpo para frente de uma fonte sem água, usando-a para me proteger da chuvarada de flechas. Thomas é atingido violentamente por mais uma, agora em sua perna. Agarro a sua mão e trago-o para trás da construção de concreto, enquanto os gritos do garoto se tornam mais altos.

Mais na frente, vejo Brooke ser atingida. A garota desaba, sendo o alvo para mais três flechas. Emma acaba se separando, desaparecendo na escuridão da noite. Brooke ainda está viva, já que se movimenta institivamente para frente, olhando enraivada para a direção dos disparos. A sua expressão de determinação não demora muito para partir. Uma flecha corta velozmente o ar e acerta o seu olho direito em cheio, espirrando um pouco do seu sangue para frente. Inexpressível, Brooke cai, sangrando, morta.

Coloco a cabeça de Thomas em meu colo. A minha mão direita vai deslizando pelos seus cabelos negros, enquanto a esquerda puxa a flecha em seu ombro. Ele geme baixinho, mas ponho a mão em sua boca para calá-lo logo. Encaro o ferimento da perna. Naquele caso, não posso fazer nada. Seus olhos me encaram com um ar de agradecido.

Sinto os passos de SS se aproximando. Encolho o nosso corpo para o outro lado da fonte, impedindo que ele nos veja. De relance, com a respiração presa, noto que ele para ao lado do corpo de Brooke, arranca a flecha do seu olho e coloca-a na aljava em suas costas. Cauteloso, parece conversar com alguém. Levanto ainda mais o pescoço, assustando-me ao ver o segundo SS, também fantasiado, segurando um facão.

— Acho que eu vi a Emma saindo pelo portão, vou dar uma olhada lá fora. — O com o arco e flecha sussurra. — Fique, tenho certeza que ainda tem uns filhos da puta aqui.

O segundo SS concorda, aperta o facão na mão e observa, durante um tempo, o seu parceiro atravessar o portão, desaparecendo. Sozinho, SS vira o corpo, arrastando o facão pelo chão, provocando um ruído desconfortável e assustador. Um risinho longo e psicodélico sai de sua máscara. Caminha lentamente em nossa direção, cantarolando um trecho de uma música sombria.

Fugir ele quer, ó pobre coelhinho!

Na toca, na árvore, no lago, ou no campo...

Mas ele não pode viver!

Ele sabe que não pode viver...

Enquanto a serpente estiver solta!

Sinto a mão enluvada do assassino se fechar ao redor da minha garganta. Ele me levanta, enforcando-me com uma brutalidade enorme. Sinto o ar fugindo da minha garganta, enquanto ele me estrangula sem nenhuma pena. Tusso bastante, tentando estapeá-lo ou arranhá-lo. Não tenho forças. Tudo já está ficando escuro. Vejo as pernas de minha mãe, as sirenes e o seu roso roxo ao redor da corda em que se matou. Talvez eu esteja como ela agora. Estou como a Helena.

No último instante, mesclado ao horror e o medo da morte, escuto a sua voz.

— Não se preocupe serpente, tem sempre alguém para te caçar também! — A garota grita. Com o canto do olho, vejo Emma efetuar o disparo. O corpo de SS tomba e a sua mão me larga. Respiro com vontade e ergo os olhos em tempo de ver Emma, enfurecida, puxar a máscara da serpente, desmascarando-o.

O que eu vejo faz com que eu queira gritar. Diante de nós três, Dylan se contorce, rindo de forma paranoica, enquanto sussurra, atordoado, o final de sua canção. Emma coloca a arma em sua testa, sem entender nada.

— Surpresa, vadia. — Ele ri, cuspindo sangue no rosto da garota. — Já estava na hora de você descobrir, maninha.


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Notas finais do capítulo

TCHURRURU, EU TÔ TREMENDO!!! E AÍ? ATÉ O PRÓXIMO, PESSOAL!



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