Se foi um choque? Sim, foi. Não esperaria que minha prima recém-descoberta por mim, gostaria da mesma pessoa que eu, e o pior é que ela não aparentava ser tão tímida quanto dizia, achava até esquito essa "bipolaridade" ou até "falsidade" (Era só minha mãe aparecer que ela virava um anjo), não sabia se ela me odiava ou coisa do tipo. Não quis entrar em um muitos detalhes sobre o Smile perto dela por vários motivos, um deles seria que ela gosta dele, e também, não queria contar para mais ninguém sobre esse sentimento secreto.

Era difícil esquecer que a Kel gostava mesmo dele, me sentia em uma competição, porém restrita, ela não sabia meus sentimentos, e de certa maneira, o Smile também não, afinal eu não me declarei com as palavras certas como "Eu gosto de você" ou "Eu te amo", só me expressei de outra forma, coisa que duvido que ele tenha entendido. Fico pensando no dia em que eu irei me declarar a ele, será que ele vai corresponder? Acho difícil, não é sempre que se tromba com uma pessoa do mesmo sexo que você, se apaixona e espera que ela corresponda, havia mais chances de ele corresponder a uma garota do que a mim. De qualquer forma, daria meu melhor.

Se passou um dia depois de sua chegada, era sábado a tarde, não tinha nada especial, não teve curso por alguns motivos pessoais do professor que não pode vir, resolvi ficar em casa mesmo lendo meus mangás eróticos secretos (que não eram mais secretos depois da Kel descobri-los). Kel estava comigo no quarto deitada no colchão ao lado da minha cama, usando apenas uma blusa azul comprida (Não sei dizer se acha aquilo sexy ou não) com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto e uns fios soltos, ela estava mexendo em seu celular, parecia conversar com alguém.
–Esta falando com quem criatura? -Perguntei tentando puxar assunto, estava um tédio total-
–Não te interessa. -Ela respondeu em um tom de voz calmo e normal-
–Vai passar o dia todo nesse celular?
–E você vai passar o dia todo nos seus mangás de mulher pelada?
–Tsc... vamos fazer algo de útil, que tal? - Ela olhou para mim, franzindo a testa-
–Com você? Sai fora, prefiro mofar no meu celular á ficar perto de você.
–Mas... você já esta perto de mim.
–Infelizmente. -Ela falou com uma tristeza séria- O que está pensando em fazer?

Pensei em mil coisas com aquela frase, "o que está pensando em fazer?", queria responder algo como "ficar com meu amado" ou "tarar algumas pessoas", mas não respondi.
–Nada de mais, só quero sair desse tédio. Por que não damos uma volta por ai?
–Estou com preguiça para sair hoje.
–Jogar vídeo-game?
–Não.
–Filme?
–Detesto.
–Ler? Conversar? Brincar?
–Não para todas.
–Porra, o que você quer fazer então? -Ela se levantou meio surpresa-
–Não sabia que você falava palavrão, que feio.
–É o resultado de me deixar bravo.
–Tá, vou te poupar dessas palavras feias, que tal... fazermos um confessionário?
–Como assim?
–Eu falo alguns segredos meus, como de quem eu gosto -Já havia perdido a vontade de brincar-, o que eu já fiz de pervertido na vida, coisas bobas.
–Não, não quero brincar disso.
–Ah então vai se.... -Olhei para ela com a sobrancelha erguida e um sorrisinho- Nada.
–Ué, "vai se nada" ?
–Idiota.
–Idiota é quem me chama.

Ela pulou em cima de mim me dando alguns tapas, não iria apanhar assim do nada, revidei com alguns puxões de cabelo e uns chutes de leve na perna. Parece que estava ficando sério, caímos no colchão dela, fiquei por cima tentando puxar sua bochecha, mas ela tampava com os braços, também estava rindo, parecia gostar desse tipo de "brincadeira", mesmo que seja dolorosa.
–Você é uma criança. -Ela me disse ainda rindo e me batendo-
–Você que começou. -Disse rindo também-

Acidentalmente minha mão conseguiu atravessar o bloqueio de braços da minha prima, e acabei pegando no seu peito. Isso me fez lembrar o dia que passei com a Nyaru, sem perceber fiz o mesmo com a Kel.
–E-EI! Seu pervertido! -Ela tirou minha mão e me empurrou para fora do colchão-
–Desculpa, desculpa mesmo, foi sem querer, eu não.. -Enquanto olhava para ela pedindo desculpas a ponto de não ser morto, ela estava com o rosto virado e corado, não parecia ir me atacar como costume-, tá tudo bem?
– É CLARO QUE NÃO. -Não era necessário gritar, mas resolvi não dizer isso a ela- Não é certo um primo fazer isso.

Por um momento pensei que ela estava sendo séria, até ela olhar para mim com um sorriso malicioso.
–Eu teria pena de suas irmãs se você tivesse alguma.
–Ora... sua.... -Me segurei para não pular em cima dela novamente-
–Hahaha, estou brincando... -Ela parecia feliz, mais solta, e tranquila. Será que foi por conta do que acabou de acontecer?- Sabe, eu não sou de brincar com todo mundo assim, eu geralmente fico na minha, não tenho muitos amigos. Fiquei realmente feliz de conseguir fazer ao menos duas amizades nesse ano, e fiquei melhor ainda quando o Smile começou a falar comigo, eu não esperava que ele me notasse no meio daquele povo inteiro da sala, sua companhia foi o que me fez ficar apaixonada.

Ela parecia sincera em suas palavras, falando assim eu até tinha uma certa pena, ela havia sido rejeitada segundo o Smile, por mais triste que seus olhos pareciam, conseguia ver também força para tentar outra vez, talvez ela fosse do tipo que não desistia fácil, poderia cair quantas vezes fosse preciso, mas ela nunca iria permanecer no chão, era o que eu pensava.

No domingo não nos falamos muito, passei a maior parte do tempo comprando algumas roupas com minha mãe enquanto a Kel ficou em casa fazendo algumas lições. Dessa vez eu queria voltar para casa para encontra-lá, parece que além de primos, viramos amigos, e também eu nunca imaginaria que iria saber como ela realmente é.

"Hey, tenho mais uma para contar.
Kel - Prima rival, chata, só que legal ao mesmo tempo."