Hans havia passado toda a manhã fazendo as tarefas do tal de August e não encontrara Elsa. Sua ansiedade era ainda maior já que seu irmão e Anna já haviam partido e não poderiam mais interferir em seu plano. As últimas ordens do mestre dos criados fora escovar os tapetes das salas do castelo e, apesar da tarefa ser uma boa desculpa para procurar a rainha, sabia que cumpri-la retardava ainda mais sua missão. Acabara de limpar o tapete de um dos quartos, quando abriu uma linda porta branca cheia de entalhes e se deparou com Elsa, olhando fixamente para o retrato do pai. O quarto estava escuro e a única luz que entrava pela janela iluminava apenas parte de Elsa e do retrato. A rainha estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu a entrada de Hans ou sua aproximação. O rapaz sorriu com a oportunidade. Ela estava lá, parada, esperando que ele cravasse a adaga em suas costas e que a morte chegasse. Ele retirou a arma da cintura e levantou acima da cabeça de Elsa, pronto para roubar-lhe a vida.

Como que por instinto, Elsa acordou de seus devaneios e sentiu a presença de alguém mais no quarto. Ao perceber o movimento da moça, Hans só teve tempo de esconder a adaga e fingir surpresa. Quando Elsa se virou, só viu o contorno do homem na penumbra, sem reconhecer sua identidade. O arrepio voltou e ela pensou em Hans, ainda que incerta. Em um movimento rápido, fez o vento afastar as cortinas e a luz do sol iluminar todo o quarto.

– Quem é você? – disse Elsa, preparada para ataca-lo se fosse preciso.

– Me perdoe, Majestade, não quis assustá-la ou atrapalhá-la. Não percebi sua presença até que abriu as cortinas, acho que estava distraído. Me perdoe, lhe rogo – Hans ajoelhou aos pés da rainha, guardando a arma sem que ela percebesse.

– Você é o rapaz da festa! O que faz aqui?

– Meu nome é Victor, majestade. Estou servindo no lugar de meu amigo, que ontem se machucou ao sair da festa.

– Victor... – Elsa ainda suspeitava – Você é de Arendelle? Nunca o vi pelo reino.

– Moro em uma casinha afastada da aldeia. Uma pequena propriedade.

– Tem irmãos?

– Não, por que pergunta? – Hans sabia que ela queria testa-lo, mas ele estava confundindo-a ainda mais. Ele adorava aquilo.

– Por nada. Tem pai ou mãe?

– Não. Meu pai morreu quando eu era pequeno e minha mãe morreu há dois anos. Ela ficou muito doente quando tudo congelou e... – Hans sabia exatamente onde estava atingindo a rainha.

– Eu a matei? Oh não, eu a matei! Eu... sinto muito. Eu...

– Não Majestade, ela já estava velha e cansada. Depois que meu pai morreu tivemos que cuidar do campo sozinhos e ela envelheceu muito naquela época. Desde os meus seis anos a coitada tinha que suportar tudo praticamente sozinha, mais cedo ou mais tarde ela teria que descansar...

– Oh ... eu lamento muito Victor. E eu ainda o acusava de ser... outra pessoa... – fez uma pausa – Achei que fosse Hans – Elsa sussurrou, sentindo vergonha de si mesma.

– O príncipe traidor das Ilhas do Sul? Oh não... ele tentou matar a senhora e a princesa...

– Me desculpe, Victor, eu não quis compará-lo a ele – Elsa se sentou em uma cadeira de seu quarto – acho que estou paranoica, preocupada demais. Vejo certa semelhança entre você e Hans, mas agora não acho que sejam a mesma pessoa...ah!

– Não se incomode por minha causa, não me ofendeu – ao contrário, Hans estava adorando descobrir essa fragilidade na rainha de gelo. Uma rachadura já estava feita, bastava alargá-la e o trono seria todo seu e a vingança também.

– Estou atrapalhando suas tarefas com todo este meu questionário. Por favor, fique e eu me retiro...

Elsa abriu a porta para sair do quarto quando ele a interrompeu.

– Não me importo de ouvir – e este foi o toque final para Hans se dar por satisfeito.

A rainha saiu, pensando nas palavras de Victor, que não passava de um disfarce para o homem que ria de sua desgraça e miséria. Hans sabia que teria que ser paciente daquela vez, e só um pouco mais de teatrinho de servo fiel e bom moço e a rainha estaria em suas mãos.