❝Can anybody tell me why I'm lonely like a satellite?

[5 dias após a partida]

Castiel

Quem é você?, Lúcifer perguntou para Castiel. O pequeno homem enrolava ameia de ursinhos em volta dos dedos, como se os estrangulasse.

– Eu não sei quem sou – balbuciou com os olhos opacos perdidos sobre o colo das coxas. Parte de si sabia que deveria fechar as persianas para não ver a chuva cair lá fora, mas Castiel não

se

lembrava

de

como

usar

as

pernas.

Você é o melhor irmão de todos os tempos!

– Eu sou o melhor irmão de todos os tempos – sussurrou mais para se convencer do que para dar às fantasias por falta de remédios mais corda – Por isso você morreu, Lúcifer. P-para mostrar ao papai e a mamãe como eu sou bom.

NUNCA!, o grito era em sua cabeça, mas os tímpanos doeram.

Castiel choramingou.

Castiel disse Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare! Lúcifer pare!

Castiel deitou-se em sua maca.

Castiel varreu com os olhos o quarto, até encontrar uma flor laranja no batente da janela, pendurada por uma fita, ou esparadrapo.

Eu morri por que você me matou, Castiel.

Afina de contas, Dean, quem sou eu?, Castiel não soube diferenciar o pensamento da voz ativa. Ele verbalizou alguma parte da frase antes de chorar compulsivamente sobre o travesseiro.

1 2 3 4 5 6 7 8. 1 2 3 4 5 6 7 8. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19. 1 2 3 4 5 6 7 8. 1 2 3 4 5 6 7 8. 1 2 3 4 5 6 7 8. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19.

Castiel não sabia mais a diferença entre o número oito e o número dezenove.

Castiel não soube dizer quem era Crowley quando ele entrou no quarto.

Castiel não se recordava de Sam, Gabriel e começava a esquecer de Dean.

Castiel guardou todos os comprimidos dentro de um rasgo no travesseiro para engoli-los juntos.

Dean

– Acorde, Sam! É um sonho! – Dean chacoalhava o ombro de Sam, parecendo menos pior que nos últimos dias. Ele se recusara a falar com o irmão mais novo até o terceiro dia em casa, mas quando Gabriel fora falar verdades na cara dele, Dean só conseguiu subir no colo do seu eterno e pequeno Sammy para chorar.

– Você não está vendo Dean? – Gabriel escancarou a porta do seu quarto, os olhos irrigados de sangue e a boca machucada, quase sangrando – Todo mundo está machucado! TODO MUNDO! O seu Castiel? Deve estar sendo dopado, com certeza quase sendo espancado no hospital – Gabriel soluçou duas vezes antes de continuar – Mas pensa em você uma vez só, seu bosta, e vê se pensa no seu irmão.

– Como pensar no meu irmão? Ele me enfiou dentro do Impala e simplesmente...

–... cuidou de você como ele já tinha feito antes? Já pensou que alguém como eu não é o suficiente pra conseguir cuidar do Sam? Já pensou que ele precisa de alguém são também?

Gabriel desatou a chorar, sentando no chão e abraçando os joelhos: - Eles deviam ter me matado enquanto podiam. Meus pais tinham razão, eu sou um câncer, eu não presto pra nada.

Dean arregalou os olhos e se levantou, seu instinto chamando. Odiava ver pacientes chorando, odiava ver pessoas em geral chorando. Ele se aproximou de Gabriel e o rodeou em um abraço, acariciando os seus cabelos como um pai faria, talvez.

Não que tivesse recebido afeto daquela maneira.

O Winchester mais velho percebeu que, quanto mais dramatizava estar machucado, mais machucava as pessoas. Ele tinha que melhorar logo para ver Castiel e precisava que Sam descansasse, assim como Gabriel.

– Eu sinto muito, buddy. Sinto muito mesmo. Sabia que eu sempre fui muito egoísta? Mas hoje eu juro, vou arrumar essa situação com o Sam e provavelmente ele vai te dar a melhor foda da sua vida.

Gabriel fungou algumas vezes e levantou o rosto, os olhos claros radiantes como astros que o Sol era: - Jura?

– Yeah. Amanhã você nem levanta. Vai ó, pof, capotar de tanto sono.

Gabriel pulou dos braços de Dean e o puxou pela mão, praticamente empurrando-o do quarto: - Ele está na biblioteca. Vai falar com ele agora!

Se no final das contas Gabriel ganhou a melhor foda da vida dele? Não.

Ele ganhou a primeira das melhores fodas que ainda teria pelo resto da vida.

– Dean! Gabe... – Gabriel estava escondido atrás do mais velho, quase com medo do que Sam podia fazer.

Ele se aproximou cautelosamente do “namorado” e passou a mão pelos cabelos grudados em volta do seu rosto e nuca: - Sweet, você me assustou.

Samuel estava com o cenho franzido e Dean não sabia como explicar a situação à ele: estavam no meio da madrugada, Sam não tinha jantado e fora dormir cedo, na companhia de Gabriel. Mas como o outro não conseguia dormir, ele ficou velando o sono do mais velho. Então o Winchester mais novo começou a ter pesadelos e sem querer socou Gabriel.

Enfim, Dean explicou exatamente dessa maneira.

Um tanto indelicado, no mínimo.

– Mas eu nem me machuquei! – exclamou Gabriel, mostrando o braço com um pequeno hematoma verde arroxeado se formando.

Sam, com os olhos marejados, não conseguiu pronunciar sequer uma palavra. Gabriel se afastou, provavelmente dando espaço aos irmãos. Dean se aproximou cautelosamente, assim como se aproximava de seus pacientes em dias difíceis, e ficou surpreso ao sentir o irmão lhe puxando pelos ombros para um abraço apertado do qual aparentava não poder sair tão cedo.

– Desculpe-me por ter batido em você quando John mandou?

– A culpa não é sua.

– Mas eu preciso saber que estou perdoado.

Dean não via o rosto de Sam. Ele sentia a força das palavras ricocheteando no músculo cardíaco, nos vasos sanguíneos do abdômen, nas vísceras que pareciam subir e descer dentro de si. Dean odiava sentir Sammy daquela maneira.

– Apenas Deus e o Diabo sabem o quanto eu amo você e que eu não te culpo por nada. Você está e sempre foi perdoado.

Castiel

– Aumento na frequência cardíaca! Injetem atenolol*!

Alguns minutos se passaram, Castiel havia parado de convulsionar alguns minutos antes e os médicos conseguiram colocá-lo no soro.

– Consigam informações sobre os remédios que ele tomava. Quero o histórico médico completo d-

O médico fui abruptamente interrompido por um som de engasgo seguido de um espasmo vindo de Castiel. A frequência cardíaca havia caído consideravelmente e pelo menos isso estava resolvido.

Todavia, Novak estava tendo um broncoespasmo seguido de afogamento no próprio vômito.

– Eu preciso de um dreno agora e corticoides! Material de intubação, já!

Corticoides foram administrados e os médicos tiveram de esperar o efeito para drenarem o vômito dos pulmões e vias aéreas de Castiel. Ele foi entubado e sedado, levado para um quarto particular pago especialmente por Crowley.

– O meu garoto vai ficar bom? – Castiel podia jurar que conseguiu ouvir.

– Ele estaria melhor se Dean estivesse aqui.

Castiel não soube diferenciar se tinha sido eu quem sussurrou isso à ele ou se de fato Chuck verbalizou as palavras, Lúcifer narrou o acontecimento, antes de Castiel ser engolido pela inconsciência mais uma vez.

Sam

O Winchester mais novo recebeu um telefonema do hospital.