Classe dos Guerreiros - Ascensão da Noite escrita por Milady Sara


Capítulo 3
Videntes


Notas iniciais do capítulo

Mais um sábado, mais um capítulo! Bem pessoal, acho que os que vieram pra segunda temporada antes de eu fazer meu hiato enorme não viram, mas enquanto planejava esta temporada eu consertei alguns pontos soltos na primeira, e acrescentei imagens das armas dos personagens (as que foram mencionadas no caso), e pra que vocês não fiquem prejudicados, no final desse capítulo vou colocar o link delas caso vocês queiram ver. Espero que gostem! Boa leitura!



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Quando chegou ao lado de fora, Mia pôde ver Marin olhando sua carruagem automática. A mestra usava seu rabo de cavalo e roupas rotineiras e parecia curiosa na frente do meio de transporte azul.

O que foi, mestra? - perguntou a morena se aproximando.

Estou pensando em como posso nos fazer ficar mais discretas.

Como assim? - desde a morte de Cassandra, os mestres estavam preocupados em não chamar atenção quando saíssem da Casa Principal, afinal, não sabiam quando estavam sendo vigiados ou não.

É evidente que não podemos usar os alces, e por mais que as carruagens automáticas tenham se tornado populares nos últimos anos, ainda ia ser estranho uma delas no meio da floresta.

Bem, não temos cavalos, o que a senhora pretende fazer?

Já sei, você me deu uma boa ideia. - Marin se concentrou um segundo e depois colocou as mãos apontando para a frente da carruagem. Seus dedos tremiam levemente enquanto três figuras feitas de gelo surgiam do ar frio que jorrava de suas mãos.

Logo, dois cavalos perfeitos, feitos de modo que pareciam estar trotando apareceram atrelados ao veículo junto com um cocheiro magro e sem rosto, que segurava as rédeas. A mestra da Classe Hélio colocou a mão no queixo admirando sua obra, resmungou algo sobre mais vida e com dois leves acenos de mão, as esculturas ficaram mais transparentes por um segundo antes de ganharem algumas cores. De perto era evidente que eram feitas de gelo, apesar dos minuciosos detalhes, mas de longe, com o movimento, parecia uma carruagem comum.

Em seguida, partiram sem se demorar.

O Templo dos Astros, lar dos Videntes, não era muito longe de Andrômeda, mas fariam um caminho mais longo e menos conhecido, por segurança, então levariam mais tempo do que normalmente seria necessário para chegar lá.

Mia, assim como os outros Guerreiros da Sexta Geração, não conhecia os Videntes ainda, deveriam ser apresentados à eles só depois de sua graduação, de terem terminado o seu treinamento. Só o que sabiam é que eram sete e estavam sempre em contato com os mestres.

Nervosa? - perguntou Marin quebrando o silêncio que havia se estabelecido há algumas horas. Estavam sentadas uma de frente para a outra, mas ambas pareciam mais interessadas em olhar pelas janelas.

Mais ou menos... - disse Mia. - Como foi quando os conheceu?

Nada de impressionante na verdade. - respondeu tendo lembranças de seu passado. - Apresentações e só. Na segunda vez foi mais complicada, foi quando eles disseram quem seriam os mestres da Sexta Geração.

Você não gostou de ser escolhida...? - perguntou a aprendiza levemente triste com o tom da outra.

Não me leve a mal, gosto do trabalho que fiz com você e os outros, mas... Digamos que ser anunciada como mestra estragou alguns planos que eu tinha para o meu futuro.

Por exemplo? - Marin somente sorriu em resposta e fez um sinal negativo com a cabeça. O recado era claro, a conversa parava ai.

Encostando a cabeça no vidro da janela, a cigana se perdeu em pensamentos.

Sabia que não seriam atacadas senão os Videntes não as teriam chamado, ou pelo menos era assim que pensava. Acima de tudo, sentia-se inútil e sabia que os mestres também, afinal, os planos dos Noctem ou mesmo quem eram ainda era envolto em mistérios. Li e Drica estavam se esforçando para traduzir o livro que Carter trouxera, mas não estava só na língua antiga como haviam pensado, também tinha idiomas próprios dos seres mágicos, o que tornava a tradução mais difícil.

Não demorou muito e a aprendiza adormeceu, mas só percebeu isso quando sua mestra a acordou quando chegaram ao seu destino.

O Templo dos Astros era diferente do que Mia esperava, ela pensava que seria parecido com as Casas, mas sua aparência era mais oriental, mais élfica. Não era muito largo, porém era comprido no térreo, tinha dois andares, formas curvas e cores pastéis, uma escada levava para a varanda e para a porta, e assim como as Casas, tinha um escudo protetor, então em sua área estariam seguras.

Quando desceu da carruagem, a cigana quase não conseguiu desviar o olhar da estrutura. Por estar no centro de uma clareira na floresta o lugar parecia em comunhão com a natureza. Uma placa acima da porta de entrada tinha o símbolo de Solaris e Lune, e um poço ao lado de uma horta e um pequeno pomar à alguns metros do prédio finalizava o ambiente.

Era difícil saber que horas eram, o céu estava completamente nublado.

Enquanto subiam as escadas, ambas sentiram seus corações acelerarem, embora nenhuma fosse admitir. Marin puxou com força uma das grossas portas de carvalho, e quando entraram, esta se fechou com um baque surdo. Estavam em uma espécie de ante-sala, seis almofadas estavam no chão ao redor de uma mesa baixinha e redonda com uma chaleira fumegante e algumas xícaras em cima. Três luminárias de orbe iluminavam fracamente o local.

Havia outra porta à frente delas, mais fina, e de correr, e ao seu lado, uma escada que dava para o andar de cima.

Sente-se... Tome um chá... - disse Marin largando a bolsa que trouxera em cima da mesa. - Vou falar com eles e já volto. - disse passando pela outra porta e Mia assentiu se sentando, mas não quis beber do chá, esperou silenciosamente a mestra voltar e a fazer um sinal para que ela entrasse também.

Assim como todo o resto, o salão principal do Templo era evidentemente no estilo élfico. Parecia um longo corredor, mas de cada lado, havia três cubículos, e no final da parede havia um maior, de frente para quem chegava.

Cada cubículo tinha uma mesa baixa como a da ante-sala, com um orbe em cima, e atrás das mesas quatro homens e três mulheres estavam sentados de joelhos, cada um em seu espaço. E por fim, atrás de cada pessoa, uma cortina cinza tapava a visão do que Mia deduziu ser o quarto de cada um.

Cada um deles sorriu para a garota quando esta os olhou, mas ela não sorriu de volta, estava admirada demais para isso, observando seus raros cortes de cabelo, os homens usavam moicanos e as mulheres tinham metade da cabeça raspada. Quando chegaram ao final do corredor, estavam de frente para um homem alto e pálido.

Mia, - disse Marin. - Este é Eduardo, o líder dos Videntes. - o homem dentro do cubículo maior baixou a cabeça levemente em sinal de respeito e a aprendiza fez o mesmo, só então percebendo que a orbe de cada um era da mesma cor de seus cabelos, e estas eram as cores do arco-íris. O cabelo e orbe de Eduardo eram vermelhos.

É um prazer conhecê-la, nobre arqueira. - disse com um sorriso. - Permita-me apresentar... - com um movimento ele tirou seu braço da enorme manga de suas roupas e apontou para cada um dos companheiros enquanto dizia seus nomes, do mais perto dele até o mais longe. - Roxie, a segunda no comando depois de mim, - apontou para a mulher de orbe e cabelos laranja. - Ollie, - uma simpática garota cuja cor era amarelo. - Jeff, - um rapaz sonolento com cabelos verdes. - Zan, - um mais magro com a cor azul o representando. - Vivian, - de cabelos curtos e anis, uma garota tímida sorriu. - E nosso membro mais recente, Álvaro. - um rapaz pouco mais velho que ela acenou, e sua orbe tinha a cor violeta.

Encantada. - conseguiu dizer a menina sem gaguejar.

Ele se recusou a falar as previsões sem você aqui. - complementou Marin, com um pouco de impaciência.

Não é educado deixar visitas do lado de fora, Marin. - explicou ele calmamente e a mulher fez um sinal de indiferença, arrancando uma leve risada de todos os Videntes. - De qualquer modo, pedi que viessem pois temos recados para as duas.

Pode dizer como estão as linhas de tempo antes? - interrompeu Marin, não querendo ser grossa. Eduardo deu um suspiro.

Apressada como sempre... - disse baixinho. - Existem várias vertentes para o tempo, - explicou para Mia. - especificamente, sete para cada linha de tempo, e destas saem mais sete e nós tentamos monitorar as principais aqui. E Marin, elas estão confusas. - continuou voltando-se para a mestra. - Coisas ruins acontecem em cada uma e ainda estamos tentado ver mais longe, mas são muitas decisões, as alterações acontecem muito rápido, você sabe que não existe nada verdadeiramente "escrito". - finalizou fazendo as aspas com as mãos.

Obrigada. - agradeceu desanimada a mestra.

Por nada. Mas o que tenho para dizer para você é que vocês precisarão da ajuda de um antigo e poderoso ser, Ollie chegou bem perto de vê-lo, mas não sabemos quem é, está se escondendo bem até de nós. Desculpe não poder dar mais detalhes, mas espero que ajude em seu objetivo. - Marin assentiu e tirou de seu bolso um pedaço de vidro, sua lâmina de orbe, e dedilhou-a por alguns segundos antes de voltar sua atenção para o Vidente outra vez. - E encontramos algo que pode ajudar na tradução de seu misterioso livro.

Zan se levantou e entregou nas mãos de Marin um pequeno livro de capa branca, um livro de runas, que poderia ligar alguns pontos soltos que haviam encontrado em sua tradução.

Isso com certeza será útil... - disse Marin passando a mão pela capa.

E por último, haverá uma grande tempestade que irá se estender até de manhã, vocês podem passar a noite aqui em nossos quartos extras no segundo andar.

Mas... - disse a mestra tirando seu olhar do livro branco. - Tudo isso seria fácil me informar por uma lâmina de orbe ou enviar por um mensageiro, até mesmo por Fox. Então por que me pedir pra vir pessoalmente?

Pois o que preciso falar com Mia só pode ser dito pessoalmente. - e Mia, que pensou ter tido a sorte de ser esquecida, viu os olhos de Marin a fitarem e prendeu a respiração sem querer. - Então Marin, por favor, você sabe onde se instalar.

Quer que eu saia? - a mulher estranhou. - E aquela conversa sobre visitas? - Eduardo bufou.

Ora Marin, você é de casa, não uma visita. - e sorriu. - Por favor, precisamos ficar a sós com ela.

Com uma cara emburrada como de uma criança, Marin virou de costas para o homem de cabelos vermelhos, sussurrou para Mia dizendo que se acalmasse, e saiu do recinto. A morena quase entrou em pânico, não tinha ideia de como agir ou do que fazer.

Assustada? - perguntou Eduardo de modo simpático, e a garota assentiu com a cabeça. - Ora, não precisa. Somos mais parecidos do que você pensa. - ao passo que o silêncio foi mantido, ele prosseguiu. - Sabe... Também temos seleções, embora não seja como a de vocês já que pode acontecer a qualquer momento. Se um Vidente anterior morrer ou perder seu poder, automaticamente um novo se manifesta para assumir seu lugar. Nossa habilidade de ver o presente e o futuro é como o seu dom natural. Mas sem controle, pode nos levar a loucura, por isso estamos juntos, meditando, aprendendo a controlar e... Vivendo no único lugar isolado o suficiente para não termos visões de cada um que passa à nossa frente.

Parece horrível...

Tem suas desvantagens, de fato. - admitiu ele. - Mas, acho que não devo me prolongar mais, você já está nervosa o suficiente.

É difícil dizer Mia, - interrompeu Roxie, com uma voz um pouco rouca. - Mas mesmo que o destino não esteja escrito, o seu já está certo.

Como assim...? - indagou ela novamente assustada.

Tudo converge para um lugar só, pelo menos quando se trata de você, então temos certeza que nossa previsão vai se realizar.

E... O que vocês previram?

Bem... - começou Eduardo.

~*~

Marin estava deitada no colchão de seu quarto, olhando para o teto e ouvindo os sons da chuva. Estava preocupada com Mia, não sabia o que os Videntes iriam dizer e que pediriam segredo sobre o que falariam. A garota era jovem demais para suportar algo desse tipo, saber do futuro muitas vezes era só um grande peso, especialmente quando eles falavam em enigmas.

Alguns segundos depois de se deitar, a mestra pôde ouvir os passos de Mia e algum dos Videntes a levando para seu devido quarto. No dia seguinte falaria com a aprendiza. Por hora, saber que ela estava bem era o suficiente.

~*~

Mia sentou-se em um canto do quarto em que dormiria, analisando fixamente as penas na ponta de uma de suas flechas. Álvaro, que havia sido designado para mostrá-la seus aposentos, tirava do que para ela parecia um guarda-roupas com as típicas portas de correr que tinha visto pela construção, um colchão, um travesseiro e alguns cobertores.

Aqui costuma ficar mais frio quando chove, mas tem um kit de chá no armário se você quiser algo quente para beber. - disse Álvaro, sem obter uma resposta. - Sei que demorará para dormir.

Sim... - murmurou ela.

Você está bem? - a morena levantou o olhar para o rapaz de cabelos violeta. Dos Videntes, ele parecia ser o que mais possuía empatia com as outras pessoas, talvez ainda não tivesse aprendido a ser frio.

Acho que sim, só... Não esperava descobrir como vou morrer...

Bom, você não descobriu. Não sabemos exatamente como acontecerá, só lhe demos... Uma espécie de dica, uma pista sobre como vai ser. - ele parecia realmente pensar que isso a confortaria.

Isso não ajuda muito...

Peço perdão. - disse ele fazendo uma mesura. Se não tivesse recebido a tal mensagem dos Videntes, talvez Mia estivesse com humor para rir do rapaz que usava um kimono élfico se curvando para ela.

Não é sua culpa. - disse ela indo para sua cama improvisada, tirando as botas.

Mas... Não deixe seus pensamentos se ocuparem com isso. Sei que é difícil... Mas se Eduardo quis avisar você sobre isso, talvez ele quisesse dar um sinal de que existe algo em sua vida que deva consertar agora. - dito isso, o rapaz saiu do quarto.

Sem sono, Mia se enrolou nos cobertores e pegou o tal kit de chá, acendeu o pequeno forninho onde a chaleira iria aquecer e se entreteu em observar os padrões do fogo e da fumaça, pensando em diversas coisas.

~*~

No dia seguinte, mestra e aprendiza foram embora antes sequer de os Videntes acordarem. Segundo Marin, a estrada enlameada já as atrasaria e ela não aguentava mais o cheiro de chá que havia até se impregnado em suas roupas.

Pegaram alguns pêssegos perto do Templo e partiram.

A mais velha se sentiu mal com a feição distante e melancólica de Mia, à sua frente durante a viagem. Já tinha sido informada que os Videntes pediram segredo, exatamente como ela esperava, mas queria fazer alguma coisa pela aluna.

Mia... Posso perguntar algo que me deixa curiosa há muito tempo? - perguntou a mestra tentando começar uma conversa, e a mais nova assentiu, arqueando a sobrancelha em sinal de curiosidade. - Você e Caleb... Se gostam? - a garota arregalou os olhos surpresa.

Não... Ele gosta da Lena e... - Mia havia ficado momentaneamente sem palavras. - Ele é meu melhor amigo. Pra ser bem sincera, nunca pensei nele dessa maneira. Mas de onde a senhora tirou isso? - Marin deu de ombros.

Não sei ao certo. Vocês estão sempre juntos e se saem muito bem na fusão corpórea, desde a primeira vez que tentaram. Lutam em extrema sincronia... Geralmente os que fazem essas coisas tão bem são um casal.

Mas não. Não somos... - os pensamentos de Mia foram de encontro à isso por um momento. Seria sobre isso que Eduardo queria alertá-la? Uma paixão que ela sequer sabia que sentia? Parecia um absurdo, mas o que a mestra dizia tinha sentido, a fusão corpórea sempre fora difícil para os outros, mas ela e Caleb sempre a dominaram com maestria.

Alguns segundos depois, ainda sem saber como ajudar a aprendiza, Marin a fez dormir com um aceno de mão. Pelo olhar da garota, e aquele cheiro horrível de chá, sabia que ela não havia dormido bem na última noite, então entregou Mia aos sonhos que relembravam a sua primeira tentativa em fazer uma fusão corpórea, em meio aos solavancos da carruagem.

Flash Back On

Estavam todos no jardim. Drica, Lena e Hunter estavam sentados um ao lado do outro e à frente deles estavam Caleb e Mia, sentados em seus joelhos, um de frente para o outro e com os olhos fechados. Marin observava tudo, um pouco afastada, para sentir e ver melhor o que acontecia.

Os aprendizes deveriam ter doze ou treze anos, e era a primeira vez que tentavam a fusão corpórea na prática. Mia e Caleb tinham sido escolhidos por terem maior afinidade, mas mesmo assim era difícil.

A fusão corpórea era uma espécie de técnica de emergência dos Guerreiros. Um ou mais deles deveriam unir suas mentes e auras no corpo de um, assim as consciências e poderes se uniam de um modo harmônico, dando mais poder e ajudando na batalha. Guerreiros mais sábios e experientes podiam até mesmo unir seus corpos, mas os aprendizes evidentemente não estavam nesse nível e poderiam nunca chegar.

Mia e Caleb meditavam e até suas respirações estavam em perfeita sincronia, este era o primeiro passo. O segundo, era conectar as mentes, o que parecia ser especialmente complicado. Estender sua mente para além do corpo exigia muita concentração, mas os dois erravam mesmo no momento em que elas se tocavam. Era uma sensação estranha, nova e nenhum dos dois queria que o outro fosse fundo demais em sua cabeça, então acabavam recuando.

Em um desses momentos em que recuavam, os dois foram levemente atirados para trás e caíram de costas.

Não! - gritou Marin. - O que há com vocês? - deu seu habitual tapa no ar e os rostos dos dois aprendizes virou para o lado esquerdo enquanto voltavam para sua posição inicial. - Parem de ser tão agressivos, não precisam cair de cabeça na mente um do outro, vão devagar! - a mestra estava irritada por estarem demorando tanto. Os tinha escolhido por pensar que conseguiriam com facilidade, eram a melhor dupla lutando, poderiam fazer uma fusão corpórea quase perfeita em menos de um dia, tinha certeza disso. - De novo.

Mia lembrava perfeitamente como fora aquela sensação. Quase nada relacionado à magia podia criar uma emoção tão forte como a fusão corpórea.

A cigana puxou o ar pelo nariz e o soltou pela boca diversas vezes e podia ouvir Caleb fazer o mesmo. Aos poucos parou de ouvir os sons a sua volta se concentrando somente na batida de seu coração, entrando em estado de meditação.

Logo, começou a estender sua mente, até sentir a do amigo próxima. Seguindo o conselho de sua mestra, eles foram devagar, suas mentes foram gradualmente se aproximando até que se tocaram. Mia sentiu um arrepio correr toda sua espinha quando encostou na mente de Caleb. Ela teve um vislumbre rápido dos sentimentos dele.

A garota se recolheu para sua mente, deixando o mundo à sua volta de lado. Como se abrisse os olhos dentro de si mesma, ela se viu em um ambiente translúcido, que se movia como aurora. Olhando para sua representação, não era mais do que uma massa lisa e luminosa de luz, seus cabelos se agitavam como se estivesse no meio de um vendaval, mas pareciam em chamas.

À sua frente, ela podia ver Caleb, do mesmo modo que ela. Uma espécie de fenda separava o meio translúcido onde ela estava do dele. Como em um convite, ele estendeu a mão, e segurando-a, ela pulou a fenda. Quando entrou na mente de Caleb, começou a flutuar como se não houvesse gravidade, e olhando para trás via uma imagem sua cinzenta onde ela outrora estava. Sabia que era a ligação que ainda tinha com seu corpo, a ligação que não deixava sua alma fugir.

Com um pequeno esforço, Mia pousou na mente de Caleb, com uma enxurrada de emoções e pensamentos vindo até ela. Ele também estava com medo, nervoso e receoso. Colocando-se de costas um para o outro, deram as mãos e tentaram se mover.

Era difícil. Pareciam estar querendo ocupar o mesmo espaço em tudo, a aura de Mia não parecia conseguir se juntar a do amigo, unir seus dons naturais e suas magias parecia impossível, mas como se uma colher as tivesse misturado, elas se conectaram. Em alguns segundos a garota recebeu todas as informações e lembranças que precisava para saber como usar os poderes de Caleb, e sabia que o mesmo acontecia com ele.

No momento de mover o corpo, os dois quase se separaram. Parecia que duas respirações saiam dos pulmões ao mesmo tempo, não uma só. Mia se sentiu engasgar, ou Caleb engasgar, não sabia dizer ao certo, mas percebeu, devido a união, que estava sendo mais difícil para o amigo ceder espaço do que ela se aconchegar naquele meio estranho.

Então, como quando lutavam em conjunto e ele não sabia o que fazer, ela tomou as rédeas. Segurou forte a alma de Caleb e encostou-se nela, foi quando tudo pareceu ficar correto. O espaço foi perfeitamente dividido, Mia percebeu que deveria ter sua posse no corpo, mas deixar os movimentos com o amigo, afinal, era o corpo dele, ele o conhecia melhor, ela não deveria se sobrepor à isso, e sim fazer pequenos ajustes quando achasse necessário.

Com as mentes juntas, parecia não haver mais pensamentos separados. Em menos de um milésimo segundo, os dois compartilhavam milhares de ideias e decisões sobre movimentos e sensações.

Decidiram começar devagar. Moveram os dedos, sentindo a pele áspera do joelho abaixo destes. A garota usou as pernas tocando o chão para sentir toda a natureza à sua volta e Caleb ficou fascinado com tal coisa.

Pousaram as mãos no chão, ainda sem abrir os olhos, para ter apoio para levantar. Se sentiram mais pesados, desajeitados, mas um permanente formigamento substituiu essa sensação. Balançando um pouco, puseram-se de pé, giraram para onde sabiam que os outros estavam e com uma dificuldade maior, abriram os olhos. Cada um piscava em tempos diferentes até se adaptarem e deixarem isso com o movimento automático do próprio corpo.

Quando seus companheiros entraram em foco, puderam ver seus rostos admirados e o sorriso orgulhoso de Marin. Não sabiam que aparência tinham assumido, mas devia ser bem evidente que a fusão tinha acontecido.

Calma, não tentem falar! - disse a mestra adivinhando a próxima ação dos aprendizes. - Tentem usar os poderes da Mia!

Ainda um pouco atrapalhados, estenderam a mão direita à sua frente. Com um pequeno espasmo, uma chama apareceu na palma desta. Ouviram a mestra contente, mas direcionavam sua concentração para o fogo. Os amigos aplaudiam, e quando sentiram que a chama não se apagaria, decidiram olhar ao redor.

Enquanto moviam a cabeça, era tão estranho para Caleb sentir cada forma de vida ali e quanto era para Mia saber como cada substância era quando fluía por seu corpo.

Então, olharam para a direita, onde o corpo de Mia estava, flácido, com a cabeça pendendo. Aquilo quebrou a concentração da morena, então como quando se arranca um curativo, ela voltou bruscamente para seu corpo.

Tonta, ela caiu no chão, já em seu próprio ser e ouviu o mesmo acontecer com Caleb.

Perdão, mestra. - ela se apressou em dizer. - Eu...

Tudo bem. - Marin disse se aproximando e os ajudando a se levantar. - Foi ótimo e vocês conseguiram em um tempo muito bom para uma primeira vez.

Quanto tempo? - perguntou Caleb ainda vendo pontos amarelos turvando sua visão.

Uma hora.

O QUÊ? - exclamou a cigana. - Pareceram minutos...

Foi demais! - disse Drica indo até Mia. - Quando nos concentramos podíamos até ver você fluindo pra ele! Como foi?

Foi... - o olhar dela se cruzou com o de Caleb por um instante. - Muito, muito louco...

Como se sente? - perguntou Hunter curioso.

Faminta. - disse convicta.

Compartilho desse sentimento. - disse Caleb.

O resto da tarde até o jantar foi com Marin tentando fazer os outros aprendizes se saírem, como ela disse, tão maravilhosamente bem quanto Caleb e Mia. Estes, se sentiram orgulhosos, e em menos de uma semana, puderam fazer a fusão corpórea de modo perfeito e rápido, enquanto os outros levaram mais de três meses.

Flash Back Off

Marin suspirou ao ver a Casa Principal. Esperava que o violoncelo de Charles tivesse chegado, só assim poderia suportar sepultar a Classe Torin.

Ah, Charles... pensou sentindo falta do irmão. Se você estivesse aqui tenho certeza que já teria dado um jeito de consertar tudo.

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Espada Caleb. Arco Mia. Lança Hunter. Adagas Lena. Machado Drica. Espada Carter. Escudo Carter. Punhal Regina. Espadas Melanie. Alabarda Marin. Chicote Cassandra. Mangual Charles. Espada Médio. Detalhe espada Médio. Arbalestes Primeiros.


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Notas finais do capítulo

A imagem que usei como a do templo não é bem a que eu queria, a ideal, por isso coloquei ela e deixei a descrição. Enfim, nesta fanfic vou fazer uso de vários recursos visuais pra vocês ficarem mais próximos da história e saberem melhor dos detalhes. Comentem! E até próximo sábado!



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