Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 29
Aquele que não deve ser nomeado


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas!!! Morri de felicidade com os comentários no capítulo anterior, muito obrigada á todas! Vocês são maravilhosas e me incentivam a continuar escrevendo! Beijão!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/576815/chapter/29

Fiquei deitada durante um bom tempo em minha cama olhando para o teto. Virei de lado e quando encostei o rosto no travesseiro gemi de dor. Eu devia ter tomado um analgésico como Emily disse... Revirei os olhos para mim mesma. Eu queria pensar em outra coisa, mas só pensava em Matthew. Em Matthew me beijando, me fazendo rir, me abraçando e Matthew fazendo as mesmas coisas com a demônia. Bufei e levantei da cama. Coloquei uma calça e uma blusa que cabia, provavelmente, duas de mim. Voltei a deitar, agora mais confortável, mas ainda com dor. Eu realmente, realmente, deveria ter tomado um remédio.

“Posso entrar?” Luke abriu a porta e esboçou um sorriso.

“Você já entrou...” Falei. Ele fechou a porta e sentou ao meu lado.

“Deixa eu ver como está seu rosto.” Ele tirou meu cabelo da frente cuidadosamente.

“Como sabe do meu rosto?” Franzi a testa.

“Matt me ligou. Não precisa explicar nada, ele me contou tudo o que aconteceu.” Ele alisou meus cabelos.

“Fofoqueiro.” Fiz uma cara feia.

“Ele estava preocupado Sophie.” Luke me recriminou.

“Ele te contou toda a história mesmo?”

“Sim, eu sei sobre ele e Lindsay se é isso que você quer saber...”.

“Então por que você está dando uma de advogado do diabo o defendendo?”

“Oh língua nervosa, meu Deus...” Ele cobriu o rosto com uma mão, impaciente. “Não estou defendendo coisinha. Só afirmando que quando ele me ligou, estava bastante preocupado com você. É melhor Richard não dar as caras por aqui tão cedo, ele vai ser comido vivo por ter encostado em você.”

“Vai passar... Sabe o que dizem, aquilo que não me mata...”

“Me fortalece.”

“Não. Vai desejar ter me matado.” Disse e Luke não conseguiu conter o riso. Sentei e cruzei as pernas. “Eu sei que eu não estou numa fase boa agora, mas eu vou superar isso tudo, você vai ver.”

“Eu sei que vai meu amor.” Ele beijou minha mão. “É a pessoa mais forte e corajosa que eu conheço.” Tentei sorrir, mas doía muito ainda. “Está doendo?”

“Um pouco.” Admiti.

“Tem algo que eu possa fazer por você agora?” Ele colocou meu cabelo atrás da minha orelha.

“Agora, nesse exato momento, eu só quero ficar sozinha. Só por umas 2 ou 3hrs.” O olhei.

“Por que eu não estou nenhum pouco surpreso com esse pedido?” Ele sorriu.

“Por que você me conhece bem o suficiente para saber que eu preciso ficar um pouco sozinha.”

“Eu sei que precisa. Vou despachar o Ethan para casa dele e vou dar uma volta com Ken e Baby. Mas, sabe que basta uma ligação e eu volto correndo.”

“Obrigada.” O abracei, ele retribuiu me abraçando forte e beijou minha testa.

“Fica bem.” Ele andou até a porta e antes de sair se virou para mim. “Eu espero que você saiba que ficar sozinha agora é uma opção exclusiva sua. Você não está sozinha, só quer ficar um pouco sozinha, entende a diferença não é?” Eu assenti e ele saiu fechando a porta.

Voltei a deitar, peguei meu celular e liguei para a portaria, dando algumas instruções, depois me encolhi e dormir. Acordei com a minha campainha tocando, olhei para o relógio, eram mais de 16hrs. Droga... Odiava dormir tanto assim de tarde, por que não conseguia dormir á noite e eu não queria passar a noite acordada, por que ia lembrar de Matthew e pensar em Matthew e desejar que Matthew estivesse aqui... Cacete, já estou pensando nele. Prendi meu cabelo em um coque e saí em direção á sala. Quem raios tá me perturbando? Abri uma pequena fresta da porta, afim de esconder o lado do meu rosto que estava machucado.

“Ethan?” Falei surpresa.

“Oi, como você está?” Ele sorriu abertamente.

“Sem paciência e sem humor.”

“Então está como de costume.”

“Ethan, na boa... Hoje não.” Encostei a testa na porta.

“Olha só, eu vim em missão de paz.” Ele falou sério.

“Como assim?”

“Com a minha experiência com mulheres e você sabe que eu tenho muita experiência...”.

“Pode me poupar dos detalhes...” O interrompi.

“Enfim, eu trouxe pizza...” Ele mostrou a caixa de pizza em uma mão. “Sorvete de chocolate, barras de chocolate...”.

“Ethan, eu não estou passando fome e muito menos tentando entrar em coma diabético ou morrer de colesterol alto!” Falei impaciente já fechando a porta.

“E cupcakes.” Cupcakes? Puta merda... Eu amo cupcakes.

“Cupcakes?” Abri a porta um pouco de novo.

“Sim, tem dez dos mais gostosos cupcakes da cidade aqui nessa caixa.” Ele levantou a sacola que continha uma caixa azul claro.

“Tem aquele veludo vermelho?”

“Com toda certeza que sim.” Ele disse animado e eu revirei os olhos.

“Qualquer comentário sobre o machucado em meu rosto...”.

“Eu já fui instruído a controlar minha boca sobre isso.” Ele me interrompeu.

“E se você falar qualquer ironia sobre aquele que não deve ser nomeado, eu ponho você pra fora.”

“Entendido. Espera...” Ele cerrou os olhos. “Aquele que não deve ser nomeado? Tá falando do Matthew?”

“Já cometeu uma falta, mais duas você é um homem morto. Esse nome está proibido aqui no meu santuário.”.

“Você quem manda.” Ele tentou conter o riso e eu abri a porta para ele.

Ele entrou e franziu a testa quando olhou para mim, mas logo desviou o olhar tentando disfarçar, coloquei a mão sobre meu rosto institivamente o cobrindo e andei até o sofá, liguei a televisão e mudei o canal procurando algo que prestasse para ver. Ethan sentou na poltrona de frente a mim, colocou as várias sacolas que ele tinha na mesa e me entregou a caixa aberta com os pequenos bolinhos que pareciam pedacinhos do céu.

“Qual desses é o veludo vermelho?” Perguntei olhando para a caixa.

“Acho que esse com a cobertura branca e confeitos prata.” Ele disse examinando os bolinhos também.

Peguei o que ele disse que era o que eu queria e abri a boca para comer.

“Ai...” Gemi com a dor que senti ao abrir a boca e coloquei a mão no rosto de novo. “Acho que sem cupcakes para mim hoje.” Falei desanimada e devolvi o bolinho para Ethan. Ele o pegou da minha mão e levantou.

“Tenho uma ideia.” Ele foi até a cozinha e voltou com o meu cupcake em cima de um prato e uma colher pequena, de sobremesa.

“Sua ideia é que eu coma o cupcake com essa colherzinha?” O olhei confusa.

“Assim você pega quantidades menores e não precisa abrir muito a boca para comer.”

“Olha só Ethan... Você tem cérebro.” Falei ironicamente e peguei o prato de suas mãos.

“Deixa eu ver esse corte.” Ele se abaixou na minha frente.

“Você não vai encostar em mim, vai doer e você não sabe o que está fazendo.” O olhei feio.

“Eu tive treinamento de enfermagem no exército Sophie.” Ele falou sem me olhar, mantendo sua atenção em meu machucado. Ele colocou a mão levemente em meu lábio inferior, fazendo com que eu abrisse um pouco a boca. “Foi seu dente que cortou seu lábio, mas foi só superficialmente, em pouquíssimos dias já está cicatrizado.”

“Yey!” Fingi animação.

“Tomou alguma coisa para dor?” Ele disse e eu dei uma colherada em meu bolo. Ele tinha razão, era bem mais fácil comer assim.

“Não.” Falei cobrindo a boca, por estar com ela cheia.

“Por que não tomou?” Ele disse me recriminando. Apenas dei de ombros e voltei minha atenção ao meu cupcake, terrivelmente delicioso. “Aonde você guarda os remédios daqui?”

“Última porta do armário da cozinha, lado direito.” Falei, ele se levantou e andou até lá.

Ethan tirou a caixa onde eu guardava alguns medicamentos e começou a tirar um por um os examinando, depois de alguns minutos e de eu ter terminado meu bolo, ele voltou com um vidrinho branco e um copo com água.

“Esse aqui vai servir.” Ele me entregou o vidrinho. “Mas, dá um pouco de sono.” Sono? Opa, vou dormir a noite toda então!

“Posso tomar dois?”

“Até pode, mas...” Nem esperei ele terminar de falar. Peguei dois comprimidos, coloquei na boca e peguei o copo com água de sua mão, tomando um pouco e o devolvi. “Ótimo, em meia hora você estará drogada.” Ele riu.

“Mal posso esperar.” Recostei-me no sofá.

“Já pode começar...” Ele sentou no chão ao lado do sofá.

“Começar o quê?”

“Essa é a parte em que você começa a desabafar comigo sobre seus problemas.” Ele disse e eu franzi a testa. “Não é esse o ritual das mulheres? Comer doce e conversar?”

“Sinto desapontar, mas eu não sou boa em conversar.”

“Fala sério... Você não vai nem chorar?”

“Eu não choro Ethan.” O olhei séria.

“Você é humana?” Ele me olhou com diversão e eu revirei os olhos.

“Eu só não curto essas demonstrações públicas de sentimentos. Sou mais do tipo que sofre em silêncio.”

“Isso não faz bem, sabia? Você não pode guardar o que está sentindo.”

“E você fez treinamento no exercito pra ser psicólogo, terapeuta ou o que?” O olhei. “Olha, se ficar caladinho ai e me deixar aqui sossegada, você pode até ficar, mas se quer que eu converse sobre o que eu sinto, desculpa, mas pode ir embora.” Ele me olhou, depois olhou para dentro do apartamento e se voltou para mim.

“Você disse que treina...”.

“O que isso tem a ver?”

“Tem saco de areia aqui ou protetores?”

“Tenho, ultima porta do corredor à esquerda.” Ele se levantou. “Eu não estou entendendo nada...”.

“Já vai entender, deixa de ser impaciente.” Ele falou e eu bufei deitando no sofá.

Ethan voltou com dois protetores nas mãos, iguais aos que meu personal usava para eu treinar meus socos e com duas luvas. Ele as me entregou e eu fiquei o encarando confusa.

“Quer treinar? Agora?” Disse incrédula.

“Sim, vai te fazer bem.”

“Eu não acabei de tomar remédios que vão me fazer desmaiar? Como vou treinar?”

“Até veneno leva um tempo pra agir Sophie.” Ele me olhou como se eu tivesse dito uma coisa muito estúpida.

Levantei e coloquei as luvas. Ethan ficou de frente a mim com os protetores levantado em minha direção.

“E então...” Falei com os braços cruzados.

“O que está sentindo agora?” Ele disse e eu o olhei impaciente. “Só respira e fala o que você sente nesse exato momento.”

“Decepção, tristeza, dor, raiva...” Até agora foi fácil.

“E por que você está com raiva?”

“Por que aquele imbecil do Richard me bateu.” Desviei o olhar de Ethan. “E por que aquele filho da mãe me traiu com aquela vadia demoníaca.” Ouvi uma risada abafada dele. “O que tem de engraçado?” O fuzilei com os olhos.

“Não é que... São muitos palavrões pra uma única frase.” Ele riu mais abertamente.

“Vai reclamar do meu péssimo vocabulário?” Lembrei-me de como Matthew sempre reclamava quando eu falava palavrão.

“Não... Na verdade é um charme.” Ele piscou pra mim. “Agora dá uma de direita aqui...” Ele aproximou o protetor de mim. Bati e não poderia se classificar sequer como um soco de tão fraco que foi. “Tá falando sério? Bate pra valer!” Bufei e bati de novo, dessa vez com mais força. “Boa... Tá melhorando. Agora, me diz, quem é a vadia demoníaca mesmo?”

“A vagabunda da ex noiva dele.” Bati de novo e continuei dando socos.

“Tá brava com ele?”

“Brava?” Falei já ficando sem fôlego. “Posso matar ele agora mesmo.” Dei um soco mais forte que empurrou Ethan um pouco pra trás. “Sabe quando as pessoas falam que esperam seus exs fiquem bem e felizes? Eu não sou tão evoluída emocionalmente a esse ponto. Eu quero que ele sofra, quero que ele entre em depressão e tente contar os pulsos. Quero que escreva uma carta dizendo que se matou por minha causa.” Dei um chute com a perna esquerda e comecei a fazer a mesma sequencia de socos e chutes. “Por que ele escolheu ela? Só por que ela tem silicone? Eu posso por silicone se eu quiser e ia ficar mais bonito que o dela, pode ter certeza.”

“Você pode, mas não precisa.” Ethan disse e eu parei por um minuto.

“Sério? Acho eles tão pequenos ás vezes...” Disse olhando para meus seios.

“Não, não... Super proporcional, tamanho perfeito. Claro que a roupa engana ás vezes, então se eu visse você pelada ia poder dar uma opinião mais sincera...” Ele falou e eu o olhei fazendo uma cara feia. “Tudo bem, vou me calar.”

“Ótimo.” Disse e voltei a sequencia que eu estava fazendo. Virei meu corpo pra pegar impulso e chutei atingindo a cabeça de Ethan ao invés de o protetor. Cobri a boca com as mãos, Ethan estava com o braço cobrindo o olho direito. “Ethan desculpa!” Aproximei-me dele e o vi cheio de sangue no rosto. “Ai meu Deus! Ethan, você tá sangrando!”

“Caramba, isso que eu chamo de chute.” Ele riu. “Como sua perna veio tão alto?” Ele falou na maior calma do mundo.

“Eu era bailarina. Senta aqui deixa eu ver como tá.” Puxei ele pelo braço e o sentei no banco da cozinha.

“Bailarina heim? Gostei da flexibilidade!” Ele riu maliciosamente e eu bati em seu braço.

“Você tá sangrando seu idiota! Para de fazer piada sem graça!” Gritei.

“Primeiro se acalma, não fica nervosinha tá. Me dá um espelho pra eu ver o estrago.” Assenti e sai correndo para meu quarto, peguei um espelho de mão e voltei correndo para a sala. Ele tirou a mão de cima do olho e eu vi que o machucado se concentrava um pouco abaixo da sobrancelha.

“E ai? Você vai ficar bem? Ou você tá morrendo?” Disse nervosa.

“Eu não vou morrer, relaxa. Mas, o corte foi fundo...”.

“Quer dizer o quê?”

“Que eu preciso ir pro hospital levar pontos.” Ele disse tranquilamente.

“O quê?” Gritei em pânico. “Meu Deus, o que eu faço? Eu vou te levar pro hospital! Claro, vamos pro hospital, vem.” O puxei e ele não se mexeu.

“Você tomou dois remédios pra dor, antes de chegar lá já desmaiou no volante, ai sim eu vou morrer.”

“Mas... E o que eu faço?”

“Você fica aqui bonitinha e eu vou pro hospital.” Ele se levantou e cambaleou. “Seu apartamento tá rodando... Show!” O sentei de novo.

“Você não vai dirigir assim!” Disse, sai correndo procurando meu celular e disquei o número de Luke.

“Oi Soph...”.

“Onde você está?” Nem esperei ele terminar de falar.

“No parque, próximo de casa, aconteceu alguma coisa?”

“Sim, eu estava treinando com o Ethan ou fazendo algum tipo de terapia e eu machuquei ele.”

“Como machucou?”

“Tipo machuquei mesmo, pra valer. E ele tá sangrando e precisa ir para o hospital!” Falei nervosa.

“Você tá brincando comigo Sophie? Se for não tem graça!” Luke disse.

“Como assim brincando? Eu estou falando sério!” Gritei.

“Então me explica como você fez um homem do tamanho do Ethan sangrar!” Ele falou e eu olhei para Ethan que estava pressionando o corte, depois me dei conta do quanto isso tudo estava sendo bizarro e comecei a rir. “Eu sabia! Você está brincando comigo!”

“Não Lu, é sério.” Disse tentando controlar minha risada. “É que é muito engraçado que uma mulher tenha o machucado desse jeito. Por favor, vem logo, a situação está feia, me ajuda.”

“Eu estou indo Sophie. Um dia desses você me mata do coração!” Ele resmungou e desligou o celular.

Joguei o celular na mesa e virei em direção ao Ethan. Ele estava com a cabeça levantada e pressionando o machucado. Fui até a cozinha e peguei gases dentro da caixa onde ficam os medicamentos e voltei ficando de frente a ele.

“Espera...” Tirei sua mão e coloquei as gases em cima do corte, fazendo pressão. “Eu sinto muito, muito mesmo.” Falei sem graça. “O Luke já está vindo pra cá, deve estar com o Kenny ai a gente te leva para o hospital.”

“Tá tudo bem Sophie, vou sobreviver.” Ele sorriu.

“Vai ficar cicatriz?”

“Provavelmente...”.

“Argh...” Gemi. “Bela amiga eu sou. Você vem me ajudar e eu quase te deixo cego...”.

“Já falei que não tem problema. Já passei por coisas bem piores, que se você soubesse iria entender que um simples corte não é nada. E quanto a cicatriz, bem, não é a primeira e acho que não vai ser a última.”

“Você tem outras cicatrizes?”

“Algumas...”.

“Algumas?! Tipo quantas?”

“Algumas Sophie.” Ele disse impaciente e com uma voz firme, eu entendi que não era um assunto que ele queria falar.

“Eu tenho uma cicatriz na minha nuca...” Falei e ele me olhou confuso. “Cai da escada quando tinha 7 anos.”

“E porque está me contando isso?”

“Não sei, acho que pra te fazer se sentir melhor...” Ele riu.

“E a outra cicatriz?”

“Que outra?” Franzi a testa.

“Essa daqui...” Ele levantou um pouco minha blusa e apontou para a marca em minha barriga. Depois da cesárea de Annie, eu havia feito vários procedimentos para tentar fazer com que a cicatriz sumisse. Eu tinha quase conseguido, só restava uma pequena marca mais clara que a minha pele.

“Apendicite. Quando viu essa cicatriz?”

“Quando você mostrou sua tatuagem e nossa... Você mente muito mal mesmo. Eu sei que tipo de cicatriz é essa...”. Arregalei os olhos e me mantive calada. “Se não quiser me contar, eu não preciso saber.” Achei melhor tentar mudar de assunto, não estava curtindo o rumo da conversa.

“Está doendo?” Perguntei.

“Um pouco...”

“Eu tô fazendo isso certo?” Disse examinando o machucado e ele sorriu. Ótimo, estamos sorrindo de novo.

“Está, só precisa apertar com mais força...” Ele segurou minha mão e a apertou contra seu olho. “Se não eu vou sangrar até a morte.”

“Meu Deus... É sério? Você vai morrer mesmo?” Gritei.

“Não vou morrer, se controla mulher!” Ele bateu em minhas costelas.

“Você vai ficar bem de verdade né?” Falei nervosa.

“Já disse que vou... Só vou levar uns dois ou três pontos, nada demais, não foi um corte grande, só profundo.”

“Então para de brincar dizendo que vai morrer, não me deixa mais em pânico do que eu já estou!” Falei impaciente.

“Você não lida muito bem com sangue, não é?” Ele falou debochando de mim, como sempre.

“Não. Não mesmo. Odeio sangue, odeio machucados... O corpo humano, para mim, é um negócio nojento.” Bocejei.

“Alguém está ficando com sono...”.

“Não estou, cala a boca.”

“Ninguém mandou tomar dois comprimidos de uma vez...”.

“Eu estava com dor!”

“Eu também estou com dor! E por culpa sua.” Ele riu.

“Ai não, não fala assim, vai fazer eu me sentir pior.”

Mais alguns minutos se passaram e ficamos em silêncio, Ethan estava com os olhos fechados e eu não sabia se ele estava dormindo ou não... E acho que não devia deixar ele dormir por causa da pancada na cabeça, mas eu não tinha a mínima noção do que eu estava fazendo. Só torci pra ele continuar respirando.

“Ele é um idiota.” Ethan falou e tomei um susto.

“Quem é um idiota?”

“Aquele que não deve ser nomeado.” Ele disse e eu ri, agora não doía rir, acho que o remédio estava fazendo efeito mesmo.

“É... Ele é.” Assenti.

“Mas, você é doida por ele.” Ele me encarou e eu desviei o olhar dele. Sim, sou doida por ele, não precisa esfregar isso na minha cara...

“Eu te deixo sozinha e olha o que você faz, agride um pobre homem.” Luke entrou pela porta e falou, Kenny começou a rir e Baby veio correndo em minha direção, comecei a fazer carinho em sua cabeça e com a outra mão ainda no olho de Ethan.

“Não riam, não tem graça.” Disse séria.

“O que você vai dizer quando chegarmos ao hospital?” Kenny ficou ao lado de Ethan.

“Para quem perguntar, eu caí e bati a cabeça no chão. Não ousem contar outra história.” Ethan ficou de pé com a ajuda de Kenny e foram andando em direção á porta.

“Por que será que eu acho que só eu estou preocupada com o seu estado atual?” Fui andando até a porta também do outro lado de Ethan.

“Sophie, é só um corte.” Luke disse me reconfortando.

“Mas, gente... Foi próximo ao olho.” Olhei para Kenny. “Seu irmão podia estar cego agora mesmo, vocês podiam levar isso um pouco mais á serio?” Disse impaciente. Kenny olhou para Ethan, depois para e mim e começou a rir.

“Eu sei... Dramática demais né?” Ethan falou rindo.

Ninguém está me dando credibilidade aqui...

“Eu dou noticias.” Luke beijou minha testa.

“Espera! Eu vou também!” Falei.

“Vestida assim?” Luke me olhou de cima a baixo. Minha blusa e calça estavam todas sujas de sangue.

“Eu me troco em dois minutos.” Falei correndo para o quarto, Baby veio correndo atrás de mim, subiu na cama e deitou dormindo quase que instantaneamente. “Mamãe já volta.” Beijei seu pelo e fui para meu closet.

Peguei o primeiro vestido frouxinho que vi, um casaco, sapatilhas e voltei para a sala rapidamente.

“Tempo recorde!” Luke me olhou surpreso.

“Você não vai aguentar nem vinte minutos, os remédios já vão fazer efeito e você vai apagar.” Ethan me olhou. “É melhor ficar aqui.”

“Pedi sua permissão? Não! Então cala a boca.” Saí andando para o elevador e ignorando os olhares deles três.

Luke foi dirigindo, com Kenny no banco do passageiro, eu e Ethan fomos nos bancos de trás. Eles três estavam conversando, mas meus olhos começaram a pesar. Encostei minha cabeça no banco e peguei no sono. Quando acordei, Luke estava com as pernas esticadas em cima do painel do carro e eu estava deitada no banco de trás.

“Cadê Kenny e Ethan?” Perguntei bocejando.

“Quando eu liguei, há cinco minutos atrás, Ethan já estava levando os pontos e agora devem só estar fazendo um curativo. Você apagou o caminho todo.” Luke disse olhando para mim pelo retrovisor.

“Acho que vou apagar todo o caminho de volta também...” Falei sonolenta, vi o sorriso de Luke e fechei os olhos.

Quando acordei de novo, o carro ainda estava em movimento e já estava escuro. Senti uma mão descansando em minha cintura e quando levantei a cabeça, percebi que estava com ela deitada nas pernas de Ethan. Eu estava com sono demais para questionar algo, me recostei e voltei a dormir.

“Sophie.” Ouvi alguém chamando meu nome, mas meus olhos estavam pesados demais para serem abertos. “Sophie, acorda!” Senti alguém me empurrando.

“Deixa eu dormir em paz...” Resmunguei e me acomodei mais onde eu estava deitada.

“Não vou te largar aqui sozinha no estacionamento!” Abri um olho e vi Luke em pé, com a porta do carro aberta.

“Mas, está tão confortável...”.

“Já chega!” Ele falou e começou a me puxar para sim, colocando meu braço ao redor do seu pescoço e me pondo no colo.

“Eu sei andar, me põe no chão!” Falei brava.

“Se você aguentasse ficar em pé pelo menos...” Ele fechou a porta do carro e foi andando comigo. Desisti de tentar lutar, por que tudo em mim estava adormecendo de novo.

Entramos em meu apartamento, Luke me deitou em minha cama e tirou meu casaco.

“Ethan...” Falei sonolenta.

“O que tem ele?”

“Como ele está?”

“Vai ficar bem. Deixei Kenny na casa dele, ele vai dormir lá hoje.”

“Isso é bom... Muito bom...” Fechei os olhos de novo.

“Você lembra de amanhã né?”

“Lembro, lembro sim...” Franzi a testa, abri meus olhos, com muita dificuldade e virei o rosto em sua direção. “O que tem amanhã?” Ele apoiou a testa na mão e começou a rir.

“A sessão de fotos...” Ele começou a me cobrir com o cobertor.

“Claro... Sim... Eu lembro, não esqueci não viu? Você achou que eu ia esquecer?” Virei de lado e me acomodei em meu travesseiro.

“Olha, eu não sei o que o Ethan te deu, mas nem você bêbada fica tão louca como está agora.” Luke falou, mas sua voz começou a ficar distante, ele beijou meu rosto e saiu fechando a porta.

Olhei para a mesinha que ficava ao lado da cama e peguei meu celular de uso particular. 28 ligações perdidas de Matthew. Revirei os olhos. Apertei em Editar Contato e mudei seu nome para: Aquele que não deve ser nomeado. Já tive minha dose de drama para uma vida toda, sem mais por hoje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Por você mil vezes - Se não fosse amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.