O Estilista escrita por Tiago Pereira


Capítulo 3
PARTE III - O Massacre


Notas iniciais do capítulo

Última parte! Boa leitura.



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Assim como Cinna havia previsto, desde que Katniss se tornara vitoriosa dos Jogos, tudo tornou-se um inferno em Panem. Levantes brotando aqui e ali, punições ao rebeldes e pior que isso, Plutarch Heavensbee havia se voluntariado como Idealizador Chefe dos Jogos. Era o cara mais imprevisível possível.

No Distrito 11, durante a Turnê, o símbolo do tordo havia se alastrado, junto com as quatro notas da pequena Rue. Isso rendeu muitas mortes provenientes dos Pacificadores sob ordem do Presidente Snow. Para discutirem a atual situação do país e os distritos, Plutarch reuniu Cinna para um passeio ao Distrito 13 com Fulvia.

Estavam no Comando quando a Presidenta Coin afirmava.

– Minha maior preocupação agora é se você, Plutarch, vai nos trair à Capital.

Houveram murmúrios na mesa, mas Plutarch tutelou.

– Presidenta Coin, caia na real. Esta é a chance da rebelião, recuperar as perdas...

– As perdas que tivemos são irreparáveis, Plutarch – protestou Coin da sua maneira neutra.

– Mas a questão, presidenta, é que precisamos assegurar a vida de Katniss Everdeen. Ela se tornou o nosso símbolo.

– O Tordo – sibilou Cinna, embora todos ouvissem. – Contudo, esta é a opção que temos de dar a ela. Não vamos obriga-la a nada. O único local que está neutro das mártires, é a Capital. Os distritos estão sofrendo ainda mais com isso.

– Eu tenho um plano – disse Plutarch. – É uma artimanha muito perigosa e vai envolver muitos tributos. Tenho certeza que o Presidente Snow vai aceitar.

– E qual é o tipo de plano, senhor Heavensbee? – Indagou Coin.

Plutarch puxou do bolso do paletó um envelope com o número setenta e cinco estampado.

– Este é um cartão falso sobre o Terceiro Massacre Quaternário. Nele, os tributos serão escolhidos pelo rol dos vitoriosos. Isso coloca Katniss Everdeen como uma participante garantida nos Jogos.

Mais uma onda de protestos entre os presentes na mesa.

– Isso é loucura – afirmou Boggs.

A presidente pediu a palavra por um momento.

– Naturalmente, o plano do senhor Heavesnbee é loucura, mas convenhamos que a única chance de mantê-la sob a mira de nosso... aliado é recolocando-a na arena. Conte-nos mais sobre essa artimanha.

Plutarch já estava com seu genuíno sorriso no rosto quando sentia que estava certo.

– Envolveríamos quase todos os tributos no plano, menos os Carreiristas. Logo, tentariam manter Katniss Everdeen viva por tempo suficiente para fazermos uma evacuação com aerodeslizadores na direção do Distrito 13. Beetee, do Distrito 3 pode nos ajudar, já que cuida de grande parte da tecnologia de Panem.

Antes de qualquer objeção, Plutarch completa.

– Nós já estamos apalavrados. E depois poderíamos reinstaurar a democracia no país. Conquistaremos pouco a pouco os líderes dos distritos e libertaremos de uma vez Panem.

A presidente se levantou e pediu a palavra novamente.

– Sendo esta, uma das soluções mais viáveis, o senhor Plutarch Heavensbee tem o meu aval para efetuar o plano, desde que prometa não entregar nenhum envolvido direto à Capital, ou teremos de descumprir o nosso trato.

Silêncio sepulcral. Cinna permaneceu quieto quase o tempo inteiro. Sabia que esta era a melhor ou talvez única solução.

– Pode começar a preparar os trajes de Katniss Everdeen, Cinna – sorriu Plutarch.

– Eu já sei o que fazer, Plutarch – falou Cinna, pensativo.

Alguns dias depois, Cinna havia retornado ao Distrito 12 para rever Katniss para a sessão de fotos com o seu vestido de casamento. Havia desenhado dezenas de vestidos e estreitado os projetos.

Ele encarou a cicatriz no rosto dela. Katniss tenta convencê-lo de que escorregou no gelo, mas Cinna já sabia dos açoites em Gale há dias. Fingindo que estava convencido, cobriu a marca com pó facial. Ela prova vários vestidos até à noite, quando haverá um comunicado oficial do Presidente Snow.

O plano seria botado em ação.

Cinna não imaginou qual seria a reação de Katniss ou dos outros, mas tinha certeza que não seriam das mais agradáveis. Naquela noite, antes do comunicado, convidou Portia para planejarem os trajes para o Massacre Quaternário.

Ideias foram e vieram. Cinna estava cansado de tanto desenhar trajes. Encarando a lareira, teve uma ideia nascendo aos poucos.

– Que tal carvão em brasas?

Portia saltou da cadeira e se ajoelhou ao lado da lareira, maravilhada.

– É perfeito! – E começou a absorver todos os detalhes possíveis do fogo e da laeira.

A estilista se junta a televisão às sete e meia, mas Cinna prefere ficar observando a lareira, porque seria doloroso demais ficar pensando em Katniss, em seu vestido, no Massacre, na rebelião.

Não demorou muito para que Cinna ouvisse uma taça se espatifar no chão. Os passos de Portia na sua direção eram excitados e hediondos. Os seus olhos eram uma mancha disforme de maquiagem, borradas com as lágrimas.

– Cinna! – Arfou. – Eles vão voltar para a arena.

Temos Finnick Odair e a velhinha ao nosso favor, Wiress e Beetee, os tributos do 5, 6, 7, 8, 9, 10 e Haymitch, disse Plutarch com pelo telefone.

– Ótimo, agora ela estará aqui já, já, preciso desligar – falou Cinna ao encerrar a ligação.

No Centro de Remodelagem, diferentemente do último ano, Cinna já era um grande amigo de Katniss. Havia encontrado a equipe de preparação aos prantos nos corredores, menos a agrota em chamas, ela mantinha-se estável.

— Juro que se você chorar, eu te mato aqui e agora.

Cinna ri.

— Teve uma manhã úmida?

— Você pode me torcer — responde Katniss.

— Não se preocupe. Eu sempre canalizo minhas emoções no meu trabalho. Desse jeito eu não machuco ninguém, a não ser eu mesmo.

— Eu não posso passar por isso de novo — adverte.

— Eu sei. Eu vou falar com eles — Cinna diz.

O estilista conduziu Katniss para o almoço. As iguarias da Capital que dão água na boca aos tributos dos distritos pobres. Alguns comem com as próprias mãos.

— Então, o que vamos vestir na cerimônia de abertura? — Finalmente pergunta Katniss enquanto raspa o segundo pote vazio. — Faróis ou fogo?

Alguma coisa nessa linha — diz ele.

Na hora de colocar o traje para o desfile, Cinna dispensa a equipe de preparação alegando que não há mais nada a se fazer. Então ele mesmo cuida do cabelo de Katniss – aquele mesmo jeito trançado que a sra. Everdeen lhe apresentou - e de sua maquiagem.

Diferente da última edição seu rosto está quase todo coberto por dramáticas luzes e sombras escuras. Sobrancelhas altamente arqueadas, maçãs do rosto marcadas, olhos ardentes, os lábios com um roxo escuro. Eles já sabem quem é Katniss Everdeen.

A fantasia parece simples a princípio, apenas um macacão preto que a cobre da cabeça até embaixo. Ele coloca a metade da coroa idêntica a que Katniss recebera como vitoriosa na minha cabeça, mas essa é feita de metal preto pesado, não de ouro. Então, ele ajusta a luz do quarto para simular crepúsculo e então pressiona um botão dentro do tecido do meu pulso. Ela olha para baixo, fascinada, enquanto sua fantasia ganha vida, primeiro com uma suave luz dourada, mas gradualmente se transformando em laranja-vermelho de um carvão em chamas. Parece como se estivesse sido coberta por brasas – não, ela é uma brasa direto da lareira. As cores sobem e descem, se alteram e se misturam, exatamente da maneira como o carvão faz.

— Como você fez isso? — pergunta com espanto.

— Portia e eu passamos muitas horas observando o fogo — Cinna disse. — Agora olhe para você.

— Eu acho que é disso que eu preciso para encarar os outros — comenta.

— Sim, eu acho que dias de batons rosas e arco-íris estão atrás de você — Cinna fala. Ele toca de novo o botão no pulso da garota, apagando a luz. — Não vamos gastar sua bateria. Quando estiver na carruagem dessa vez, nada de acenos, nada de sorrisos. Eu só quero que você olhe para frente, como se todo o público estivesse abaixo da sua presença.

— Finalmente algo em que eu sou boa.

Katniss entende que Cinna tem mais afazeres e desce sozinha para a sua carruagem. Ele sabia que Katniss se sairia bem, que ela poderia ser ela mesma na carruagem.

Ficou sentado, absorvendo a culpa de Katniss ter voltado para a arena. Não podia fazer mais nada e confessaria isso mais cedo ou mais tarde.

Cinna soube o que Katniss fez com os bonecos na sessão individual por meio de Plutarch. Também já sabia que o Presidente pediu para que desse 12 à ela para que estivesse encabeçando a lista de matança. Cinna discordou, mas Plutarch o persuadiu.

– Tome – entregou um caderno de couro preto ao Idealizador. – É o traje do Tordo. Este é o símbolo da revolução. Mas não deixe que ninguém a pressione por favor, vamos deixá-la livre.

Plutarch folheou a pasta, impressionado com os desenhos. Lacrou-o a tempo para que ninguém mais o visse e foi para o seu gabinete no Centro de Treinamento.

No outro dia, Cinna estava com o vestido de noiva que o Presidente Snow havia pedido para que Katniss usasse esta noite. Cinna, aproveitando a oportunidade, extravasou a sua raiva no modelito e transformou-o em algo revolucionário e rebelde que poderia lhe custar caro, se bem interpretado.

O estilista aparece com uma bolsa com o vestido. Katniss parece curiosa para saber o que há lá dentro.

— Então, o que vou usar hoje à noite? — pergunta, olhando para a bolsa.

— Presidente Snow escolheu ele mesmo o vestido — diz Cinna.

Ele abre o zíper da bolsa, relevando um dos vestidos de noiva que Katniss usou para a sessão de fotos. Seda branca e pesada com um decote baixo e cintura justa, e mangas que caem dos meus pulsos até o chão. E pérolas. Em todos os cantos há pérolas. Costuradas ao vestido e em cordas no meu pescoço, e formando uma grinalda para o véu.

— Embora eles tenham anunciado o Massacre Quaternário na noite da sessão de fotos, as pessoas ainda votaram pelo seu vestido favorito, e esse foi o vencedor. O presidente diz que você tem de usá-lo hoje à noite. Nossos protestos foram ignorados.

— Bem, seria uma pena desperdiçar um vestido tão bonito — é tudo que ela diz.

Cinna a ajuda a cuidadosamente colocar o vestido. Quando ele fica pendurado nos seus ombros, eles não podem evitar encolher em reclamação.

— É sempre tão pesado? — pergunta.

— Eu tive de fazer algumas pequenas alterações por causa da iluminação — diz Cinna

Ele coloca os sapatos e a grinalda pérola e véu. Toca a maquiagem. Fá-la andar.

— Você está arrebatadora — ele diz. — Agora, Katniss, como esse corpete é tão justo, eu não quero que você levante seus braços acima da sua cabeça. Bem, então até que você dê voltas, de qualquer forma.

— Eu vou dar voltas de novo? — pergunta.

— Tenho certeza de que Caesar vai te pedir isso. E se ele não pedir, sugira você mesma. Não no início. Deixe para seu grande final — Cinna instrui.

— Dê-me um sinal para eu saber quando.

— Tudo bem. Algum plano para sua entrevista? Sei que Haymitch deixou vocês decidirem isso.

— Não, nesse ano vou só improvisar. O engraçado é que eu não estou nem um pouco nervosa.

Assim que Katniss parte, Cinna aguarda para se juntar a plateia e assistir às entrevistas e orientar a jovem.

Ela entra e uma maré de aplausos que perdura muito tempo ocorre. Ela parece se dar muito bem na entrevista. Até que Caesar diz.

— Apenas que eu sinto muito por vocês não poderem participar do meu casamento... mas estou satisfeita por vocês pelo menos poderem me ver no meu vestido. Não é... a coisa mais linda?

Katniss não olha para Cinna. Ela sabe que é o momento certo. Exatamente como tinha instruído, ela ergue os braços até acima da cabeça e começa a girar. A obra de Cinna se revela aos poucos. Todos gritam quando fumaça e fogo sobem e definham o vestido. Ela tosse, mas logo passa.

O fogo cessa. No mesmo vestido, porém negro e com penas, exceto pelos remendos brancos nas mangas. Ou eu deveria dizer, minhas asas.

Porque Cinna a transformou num tordo.

— Bem, tiro o chapéu para o seu estilista. Eu não acho que alguém possa dizer que isso é a coisa mais espetacular que nós já vimos em uma entrevista. Cinna, acho melhor você fazer uma reverência!

Caesar faz um sinal e Cinna se levanta, reverenciando graciosamente o público. Ele não se importava pelo ato de rebeldia. As emoções que punha no trabalho só machucariam a si mesmo.

Para fechar a noite, após as entrevistas, os tributos de mãos dadas, as luzes que se apagam. Todos irão voltar ao Centro de Treinamento aos tropeços.

A noite passa como um véu. Amanhã começam de verdade os Jogos. Logo chegará o dia em que os rebeldes farão a evacuação para o Distrito 13. Cinna e Portia aparecem aonde Peeta e Katniss dormem juntos. Peeta se despede.

Cinna guia Katniss ao telhado. Antes de subir na escada que irá elevá-la ao aerodeslizador, Katniss lembra.

– Eu não disse adeus à Portia.

– Eu digo a ela – conforta Cinna.

Quando alcançam a área de preparação da arena, Katniss toma banho. Cinna faz tranças no seu cabelo até suas costas e a ajuda a vestir as roupas simples. Este ano, a roupa dos tributos é um macacão azul equipado, feito de material muito resistente, com zíperes na frente. Um cinto de seis polegadas de largura estofado revestido de plástico roxo brilhante. Um par de sapatos de nylon com sola de borracha.

— O que você acha? — pergunta, segurando o tecido fora para Cinna examinar.

Ele franze a testa enquanto ele esfrega o tecido fino entre os dedos.

— Eu não sei. Ela vai oferecer pouco em termos de proteção do frio ou da água.

— Sol? — pergunta Katniss.

— Possivelmente. Se ele foi tratado — diz ele. — Ah, eu quase esqueci isso.

E puxou o broche de tordo do bolso, como no último ano e o prega no macacão.

— Meu vestido era fantástico noite passada – diz Katniss.

— Eu pensei que você ia gostar — ele dá um sorriso apertado.

Ele a leva até a placa de metal circular e fecha o zíper do pescoço do seu macacão de forma segura.

— Lembre-se, garota em chamas‚ eu ainda estou apostando em você.

Ela sibila algo que Cinna não compreende muito bem. Ergue o próprio queixo e aguarda a placa lançá-la para a arena. Os dois não entendem o que acontece, tão perplexos.

De repente a porta atrás dele é aberta bruscamente e três Pacificadores entram na sala.

Dois deles estão nos braços de Cinna, eles o algemam por trás, enquanto o terceiro o bate na têmpora com tanta força que ele cai de joelhos. Mas eles continuam batendo nele com luvas de metal maciço, abrindo talhos no rosto e no corpo.

Katniss gritando sem efeito; esta foi a última lembrança que Cinna teve.

Quando acordou, Cinna pode vislumbrar olhinhos viperianos na sua frente. Coriolanus Snow, presidente de Panem o aguardava. Cinna estava com um olho inchado e mal pôde enxergar a figura direito.

Algemado a uma mesa, mal tinha forças para falar. Se o olho bom não falhasse, não havia ninguém na sala, exceto os dois. Um televisor estava ligado, transmitindo as imagens do Massacre Quaternário.

– Você acordou na hora certa, Cinna.

Katniss estava do lado do corpo de Peeta no momento que Finnick praticava meios de reanimar o garoto. Pobre Peeta... pensou.

– Vai... Finnick... – Gemeu Cinna.

O Presidente Snow soltou uma risada devido à inútil torcida de Cinna. Agonizantes minutos passam até que Peeta começa a tossir e suas pálpebras dilatam. O sorriso de Snow se deformou e Cinna, juntando as forças, curvou o canto dos lábios.

– Agora entendo porque escolheu o Distrito 12, Cinna. Eles possuem esperança. A única coisa mais forte que o medo. Você contribuiu para que uma fagulha fosse acesa. E essa fagulha transformará Panem num caos.

Cinna gemeu em resposta.

– Sabe por que está vivo até agora? – Não há resposta. – Porque eu acho que seria justo você ver o seu sonho de rebelião terminar em pesadelo. Deixei que você vivesse tempo suficiente para ver Katniss Everdeen mostrar a sua verdadeira natureza.

– Katniss... ela vive... Eu aposto...

O presidente virou-se e dimensionou com Cinna. Olho com olho. Era como se uma cobra fosse dar o bote a qualquer instante.

– Eu sei que você ainda aposta nela, eu vigiei a srta. Everdeen todo esse tempo.

Cinna sorriu novamente.

– Acha engraçado? Você não perde por esperar.

Num simples gesto com os indicadores, outros três Pacificadores entraram na cela e imobilizaram – desnecessariamente – Cinna. Iniciou-se então, uma nova sessão de espancamento sobre o estilista. Mas desta vez, fizeram questão de mantê-lo acordado pelo máximo de tempo.

Cinna acordou novamente. O seu corpo inteiro doía. Sentia a sua pele rasgada e sangue fluindo das feridas, inestancavelmente. Estava em uma posição tão encolhida que achava que seria impossível movimentar-se de novo. A tela continuava ligada, transmitindo as imagens da arena. Já era noite naquela selva densa. Quando a porta da cela se abriu e outros dois pacificadores entraram.

Cinna se encolheu ainda mais de maneira que seu estômago estava revirando e outras feridas se abriam nos seus pulsos com os cortes do ferro. Forçaram-no a ficar sentado na cadeira, atirando-o no assento. Uma mão que aparentava o tamanho de uma tampa de lixo acertou a bochecha de Cinna. Sangue e dois dentes foram cuspidos pelo estilista que continua sem reação.

Ouve-se o ranger da porta. Plutarch entra na cela, em um tom púrpura, encarando um pedaço deformado de carne esfola que uma vez fora Cinna. O tom do rosto do Idealizador era púrpuro.

– Podem deixar que eu cuido daqui um pouco.

– Você não deveria estar chefiando os idealizadores? – Contesta um dos Pacificadores.

– Espera aí, quem é o Idealizador Chefe aqui?! – Plutarch iniciou uma série de broncas em cima dos Pacifiadores que se retiraram contra a vontade. – Da próxima vez eu chamo o próprio Snow para dar um jeito em vocês!

Ele se aproximou de Cinna, com os olhos marejando ao ver o estado do estilista.

– Eu estou tentando arranjar uma equipe para resgatá-lo.

Cinna balançou a cabeça em negativa.

– Me desculpa, Cinna...

– Aposte nela...

Plutarch acenou e saiu da cela. Estava, claramente, em estado de choque. Mas eles tinham de continuar sem o estilista. A revolução tinha que acontecer; os sacrifícios eram iminentes.

Na tela, Cinna viu apenas Katniss perto de uma árvore. Sob custódia de dois Pacificadores, conseguiu sussurrar algo que deixou os homens confusos.

– Atira.

Como se pudesse ouví-lo, a garota puxou uma flecha, amarrou o fio na ponta e assim que um raio descarregou a sua energia, ela disparou a flecha contra o campo de força. E tudo escureceu.

Cinna conseguiu sorrir antes de apagarem-no.

Cinna abriu os olhos – ou tentara. Estava com o corpo amarrado num pelourinho, encarando a víbora que comandava Panem.

– Chegou a sua hora, Cinna.

Não haviam câmeras nem nada. Katniss, o que havia acontecido com ela? As chances de terem retirado todos da arena eram poucas. Ela estava estilhaçando aos poucos e isso diminuiria as chances de tirá-los. Mas Katniss era o plano. Ela precisava sair de lá.

– Não sei, exatamente, como você sabia que Katniss Everdeen atiraria aquela flecha no campo de força, mas será punido. E os seus outros colegas rebeldes também.

Um Pacificador despejou um líquido oleoso e amarelado no corpo de Cinna. O cheiro aumentou a sua dor de cabeça. O odor era familiar, lembrava... combustível. Cinna não teve como reagir. Antes que o Pacificador acendesse uma tocha, antes que alguma fagulha o atingisse, disse suas últimas palavras.

– Você não sabe do que ela é capaz.

O presidente o encarou com nojo e desprezo. Mas o prazer de ver Snow preocupado lhe rendeu um último sorriso. Porém, a cobra revidou.

. Você não tem medo de fogo, tem, Cinna?

O estilista já não se importou mais. Quando o fogo começou a consumí-lo até o final, pôde sentir o corpo queimando, os ossos em chamas. Não demorou muito para que o resquício de vida que morava em seu peito o abandonasse. Desejou que um dia Katniss tivesse a paz, que pudesse estar sã e salva. Talvez um dia.

– Boa sorte, garoto em chamas.

E então o Presidente Snow se virou, ciente que havia matado uma parte de Katniss Everdeen. Mas não imaginava que ele mesmo já havia deixado a centelha se alastrar.

O Tordo está vivo e pegando fogo.


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Notas finais do capítulo

É, foi muito rápido. Tô saindo de viagem agora e só volto dia, então boas festas e feliz natal e 2015.