Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 9
Capítulo 8




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It's an exploration, she's made of outer space
And her lips are like the galaxy's edge
And her kiss, the color of a constellation falling into place – Arctic Monkeys – Arabella.

– Talvez eu deva colocar apenas uma calça jeans. – eu disse desanimada olhando para meu guarda roupa.

Senti um baque na minha cabeça e olhei para trás á tempo de ver o travesseiro caindo no chão.

Kat estava me olhando com desaprovação e eu já sabia o que estava por vir.

– Você está maluca? Nada de calça jeans, você tem que o surpreender! Toma. – ela diz jogando um vestido preto de alças finas. – Experimente esse.

Reviro os olhos pela décima vez hoje, não aguento mais provar os vestidos da Kat ou até mesmo os poucos vestidos que tenho.

Provo o que ela me deu por último e me surpreendo com o resultado.

Com um pouco de decote na frente ele fez parecer que sou abençoada com seios grandes e também não ficou tão comprido, embora Kat seja bem maior e todos os seus vestidos batem abaixo do joelho quando eu os visto. Esse, no entanto, ficou acima do joelho.

– Eu gosto. – declaro, tomando a minha decisão.

Kat me faz dar uma volta e me olha admirada.

– Uau, se eu não fosse hetero te pegava.

– Cala a boca. – digo rindo.

Ela pega uma bolsa rosa e se aproxima de mim. Oh, não.

– Eu não vou passar maquiagem! E também não vou discutir sobre isso.

Ela faz seu precioso biquinho, que pode funcionar com Max, mas não comigo. Quando vê que eu não vou deixar, ela desiste e abraça a bolsa contra seu peito.

– Ok, mas só vou permitir porque você é linda naturalmente também.

Então eu faço de novo, reviro os olhos.

– Pare de revirar os olhos desse jeito, o Brian vai pensar que você tem tique.

– Me parece uma boa ideia, assim ele não se encanta por mim.

Ela se vira e vai em direção á porta.

– Agora é a sua vez de calar a boca. – e sai do quarto, talvez se perguntado porque sou tão idiota.

Coloco minha sapatilha vermelha favorita, e olho para meu corpo pelo espelho, mais uma vez. Até que estou favorável, embora seja estranho usar calçados para ficar em casa, eu deveria ficar de chinelo ou descalça, mas vou respeitar a regra, de quem seja que inventou, e usar calçados porque tenho visitas.

Saio do quarto e vou para a cozinha, sentindo o aroma de comida. Se Max não fosse advogado ele poderia ser cozinheiro, aposto que se ele abrisse um restaurante iria ganhar mais dinheiro do que na sua empresa.

Max está parado em frente ao fogão, mexendo o conteúdo que está na panela. Ele também poderia passar facilmente por um modelo, o que eu acho injusto, pois uma pessoa não deveria ter tantas qualidades assim. Posso dizer que ele é alto, talvez o mesmo tamanho de Brian, seus cabelos ruivos e olhos verdes. Ele e Kat formam o casal de ouro, Max é a pessoa mais caridosa que eu já conheci e Kat a mais amável. E é isso que os torna tão diferentes, eles não são esnobes por causa de beleza ou dinheiro.

– Você tem que me ensinar a cozinhar bem assim, quando Kat for embora eu vou viver de comida congelada.

Digo indo até a geladeira para pegar um pouco de suco de morango.

– Oh, não seja dramática, eventualmente você vai aprender a cozinhar. – Ele se vira, tirando a panela do fogo. Dando os últimos toques ele murmura algo totalmente satisfeito.

– Eventualmente colocarei fogo no prédio todo. – Eu digo, e rio quando ele diz mais uma vez: Drama.

Ouço o interfone tocar e meu corpo treme. Ele chegou.

Não me mexo, continuo encostada no armário da cozinha, esperando Kat ou Max ir atender. No entanto, eles não fazem isso. Max age como se não tivesse escutado e Kat grita para que eu vá atender a porta.

É pecado querer matar a melhor amiga? Ok Elizabeth, você vai fazer isso, vai passar por essa noite sem nenhum problema.

Atendo o interfone e afirmo para Peter, o porteiro, que pode deixar Brian subir. Encosto-me na porta e espero.

Enquanto isso, repito as duas regras que criei hoje.

Não olhar diretamente nos olhos de Brian.

Não ficar, em hipótese nenhuma, sozinha com ele.

Acho que essas regras vão ajudar, eu só tenho que me desligar do que o meu corpo sente quando estou perto dele.

A batida da porta me leva de volta para a realidade, me leva de volta para o nervosismo. Passo as mãos pelo cabelo, aliso o vestido e suspiro.

Abro a porta e me dou conta que a primeira coisa que faço é quebrar a minha primeira regra e ao mesmo tempo a segunda.

Seu grande sorriso me recebe e se afunda no fundo do meu estomago, formando uma sensação estranha.

– Uau, eu te disse para ficar linda, mas você exagerou. – Ele diz, me olhando dos pés á cabeça.

O choque que isso me causa se parece com um soco no rosto.

– O que? – Eu digo, gaguejando. Olho para o meu vestido, talvez ele tenha razão, eu deveria ter colocado o jeans. – É... talvez você esteja certo.

Dou um passo para o lado para deixa-lo entrar, mas invés de fazer isso, ele para á minha frente e me faz olhar em seus olhos.

– Acho que você não entendeu. – Ele murmura, sem tirar os olhos dos meus. – Você está mais do que linda, eu não sei como explicar isso, mas uau... Você está maravilhosa.

Sorrio, nem homem me tratou assim antes. É tudo tão novo, as sensações tão estranhas e ótimas ao mesmo tempo. Eu posso ser ingênua em varias coisas, posso não ter experiência, mas sei que se eu não fosse fodida de tantas formas eu já estaria me apaixonando por ele. E sei também que se eu não me afastar vou acabar me apaixonando e eu não posso deixar ninguém ter os pesos que são meus problemas em suas vidas.

– Obrigado. – digo, dando um passo para traz. – Você também não está nada mal.

Brian está usando calça jeans e camiseta social branca, com os primeiros botões abertos, me dando um pouco da visão do que é o seu tórax e com as mãos dobradas até o cotovelo.

Tento manter minha boca fechada para que ela não caia aberta no chão.

Fecho a porta atrás de nós e caminho até a poltrona e me sento, de frente para o sofá que ele está se sentando agora.

– Porém vou admitir uma coisa, nada jamais vai superar você com as minhas roupas. Sério, eu posso te recomendar as lojas que vou para compra-las.

A risada me escapa antes que eu posso segurar.

– Ah, isso seria ótimo, eu estava mesmo pensando em fazer uma mudança total no meu estilo.

Ele concorda, sorrindo.

– Bom, fica a dica.

Me salvando de fazer um comentário idiota, Kat entra na sala sorrindo de orelha á orelha.

– Olá, estou tão feliz que você veio. – Ela diz e nos pede para esperar um minuto, saindo da sala e indo em direção á cozinha.

Brian me olha com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso no rosto.

– Ela toma muito café ou toda essa energia é natural mesmo?

– Eu não ouso comprar café e dar para ela, isso seria como se jogar de um precipício e pedir para não morrer. – respondo. Me sentindo mais leve com a conversa descomplicada.

– Eu concordo com o que a Liza disse. – Max diz, saindo da cozinha, com o braço por cima do ombro de Kat.

Depois que as apresentações são feitas, nos estabelecemos na mesa de jantar. Uma coversa suave surge enquanto todos desfrutam da comida que Max nos preparou.

Enquanto Max fala de sua empresa para Brian, eu tenho tempo para pensar no quanto estou perto dele. A mesa é pequena, o que faz com que o espaço entre as cadeiras seja menor. Eu estou sentada ao seu lado, uma vez ou outra seu braço roça no meu e eu paro o que estou fazendo para recuperar minha respiração. É difícil prestar atenção em qualquer outra coisa quando isso acontece.

– Então quer dizer que você é dono da oficina? – Escuto Kat dizer, empurrando meus pensamentos para longe.

Brian concorda com a cabeça, enquanto termina de engolir a comida.

– Sim, dessa e de mais uma que fica no centro.

Isso explica o seu carro absurdamente caro.

– Nossa, me fale como é ser o chefe? – Kat pergunta. – Deve ser demais não precisar chegar na hora certa e poder ir embora quando quiser.

– Na verdade não, levando em consideração que eu moro em cima da oficina e sou aquele que a abre e a fecha.

– Oh, sim. Agora lembro que Liza havia me contado sobre isso.

– Sobre o que? – Brian pergunta, com seus olhos se voltando para mim.

Tomo um gole de vinho e respondo antes que Kat diga algo mais.

– Sobre você morar em cima da oficina. – Eu olho, mas desvio o olhar rapidamente.

O que há em seus olhos que eu não posso olhar e não ficar presa á eles?

– Eu fiquei sabendo de uma história parecida com essa também. – murmura Max. – Eu fico imaginando o quanto você se assustou, Brian, com uma pequena louca entrando correndo pela porta de sua oficina.

Todos á minha volta, incluindo eu, riem.

– Pode apostar, ele estava segurando sua ferramenta com tanta força e acho que apenas isso deu a segurança que ele precisava para não molhar as calças. – Eu sorrio, deixando refletir nos meus olhos. – Eu quero dizer, quem no mundo não fica com medo de mim?

Vejo pelo canto do olho Brian encosta-se à cadeira. Me pegando desprevenida, ele coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

–São das pequenas que eu tenho medo. – Ele diz, completando o tremor em meu corpo.

O lugar que ele tocou queima, ascendendo desejos que eu nunca tive antes. Desejos de ser tocada e beijada, mas não por qualquer um, por ele.

Olho para ele e instantaneamente seus olhos se conectam com os meus como imas. Eu sei que não deveria estar fazendo isso, porém todos esses sentimentos estão sendo maior que minha força de vontade nesse momento. Eles estão acabando completamente com minhas estúpidas regras e com meus não estúpidos, mas sim importantes motivos por não querer isso.

Seus olhos dizem tudo o que estou sentindo, ele quer isso também. Eu posso ver e sentir a necessidade que roda em nossa volta.

Ouço um suspiro distante. Desvio o olhar, e olha para Kat a tempo de vê-la murmurar para sim mesma:

– Eles são tão fofos.

Céus, eu fiz mesmo isso. Deixei todos esses sentimos penetrar em minha pele e ser vistos por todos, mas principalmente por Brian, mesmo sabendo de tudo o que está em jogo, incluindo a minha sanidade mental.

– Hum. – Max limpa a garganta. – Acho que terminamos aqui. Kat, você me ajuda a tirar a mesa?

– Claro, baby. – Ela responde se levantando e o seguindo em direção á cozinha com seu prato na mão.

Apoio os cotovelos contra a mesa e segura minha cabeça em minhas mãos.

– Precisamos conversar. – Brian diz ao meu lado.

– Ou não. – sussurro, buscando por pensamentos concretos no meio da bagunça que se encontra minha cabeça.

– Sim, precisamos. – Afirma.

Levanto-me e vou em direção ao meu quarto, esperando que ele me siga. A cada passo que dou meu coração bate mais rápido. Sento em minha cama e o vejo entrar no quarto e fechar a porta atrás de si e se encostar contra a ela.

Permanecemos sem dizer nada, se olhamos esperando para ver quem vai dar a primeira palavra, e por incrível que pareça, sou eu quem começa.

– Eu já sei o que você vai dizer, e sim, eu posso sentir seja o que for que está nos rodeando. Eu posso sentir esse magnetismo, mas eu não posso e não consigo fazer isso.

Brian sai da porta e anda em minha direção até estar sentado na cama, bem na minha frente.

– Não consegue o que? – sua testa está franzida, e uma mecha de seu cabelo está entre os seus olhos, fazendo minha mão coçar para coloca-la no lugar.

– Isso! Acabamos de nos conhecer e eu tenho todos esses sentimentos bagunçados dentro de mim, pode parecer estranho, mas eu nunca senti nada disto, Brian. É tudo novo e está acontecendo rápido demais. Você não entende e eu não posso explicar, desculpe por isso, mas eu realmente não posso.

Brian suspira e passa as mãos pelos cabeços.

– Você não pode ou você mesma está se impedindo disso? Eu sei que está acontecendo rápido demais e eu, sinceramente, não entendo o porquê. Mas eu quero entender, quero te conhecer e eu quero, verdadeiramente, fazer você sorrir mais do que esses pequenos sorrisos que você se limita a dar.

Meu coração se aperta dentro do peito. Como ele poderia entender que, mesmo que eu queira isso também, eu não posso me permitir a ter? Como ele pode entender que os demônios dentro de mim sempre serão maiores do que a pessoa que eu sou.

– Eu tenho traumas, Brian. Você quer me conhecer, mas eu posso te garantir que o que vai encontrar dentro de mim não é bonito, eu não tenho nada para te oferecer, e acho que o pesadelo que você presenciou em sua casa comprova tudo isso.

Ele chega mais perto, coloca suas duas mãos em meu rosto, fazendo meu coração parar por um momento.

– Você acha que eu tenho medo de pesadelos? Você acha que isso me assusta? – Ele acaricia minha bochecha com a ponta do dedo e suspira pesadamente. – Então me deixe esclarecer uma coisa, Elizabeth. Eu não me assusto com nada disso, eu não me assusto com seus pesadelos ou com as marcas que você mesma faz em seus braços com as unhas. Eu não tenho medo do que mais possa acontecer com você, que eu não saiba. Você entende isso agora? Eu também tenho traumas, Elizabeth, e eu entendo o quão difícil é se abrir sobre isso. Mas se você não quer falar sobre o seu passado, tudo bem, eu também não quero, eu quero conhecer a mulher que se esconde por trás de tudo isso.

Ele segura meu queixo com a mão direita, passa o dedo sobre o meu lábio inferior e eu perco todo o ar do meu pulmão.

– Me deixe te mostrar, como isso pode ser bom. – Ficando com o rosto a centímetros de mim ele sussurra. – Solte o ar, Elizabeth.

Solto o ar que estava prendendo, mas meu coração continua em uma dança frenética.

– Eu vou te beijar agora. – Brian diz, com sua voz rouca.

As palavras fogem e a única coisa que sou capaz de fazer é olhar para sua boca, e então retornar para seus olhos. Com um aperto no fundo do meu estomago, e minha pele em chamas.

Fecho meus olhos, e segundos depois sinto sua boca na minha.

Pela primeira vez, em toda a minha vida, eu não quero me afastar e o medo que sempre esteve presente não aparece.


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