Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 10
Capítulo 9




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Secrets I have held in my heart

Are harder to hide than I thought

Maybe I just wanna be yours

I wanna be yours

– Arctic Monkeys –I wanna be yours.

Eu sonhei com esse momento incontáveis vezes. Eu via todas as minhas amigas dando o primeiro beijo, e me perguntava quando iria finalmente acontecer o meu. Quem poderia imaginar que, por consequências da vida, eu daria o meu primeiro beijo com vinte e três anos de idade. Quem iria imaginar que eu conseguiria dar esse passo gigantesco.

Eu continuo parada, com medo de me mexer e esse momento acabar. Colocando a mão em minha nuca, Brian me incentiva a abrir a boca, me incentiva a seguir seu ritmo calmo, leve e delicado. E, de algum modo, é como se eu já tivesse feito isso antes.

Por um momento me sinto mais forte, como se eu pudesse fazer e sentir qualquer coisa. Levanto meus braços timidamente e enrolo minhas mãos no cabelo de Brian, passando os dedos por suas mechas macias. Ele se aproxima, aprofundando mais o beijo. Sinto sua língua tocar a minha e é como se o céu se iluminasse depois de dias na escuridão. Então eu me deixo levar, seguindo o ritmo do meu único e talvez mais perfeito, beijo que vou ter em minha vida.

Quando nos afastamos, eu encosto minha testa na dele e respiro com dificuldade. Ele acaricia minha nuca delicadamente me causando arrepios.

Brian se afasta o suficiente para poder me olhar nos olhos, e pela primeira vez eu não quero desviar do seu olhar.

– Você nunca foi beijada. – Brian sussurra, revelando meu segredo.

Eu apenas concordo incapaz de dizer algo. De repente, percebo que talvez o beijo não tenha sido tão bom para ele, como foi para mim. Aquela força que se estabeleceu em meu corpo enquanto eu o beijava se desfaz como açúcar.

Brian segura meu queixo com o polegar e o indicador, fazendo com que eu não possa desviar meu olhar.

– Você foi perfeita. – Ele murmura, agora contornando os meus lábios com o dedo. – Você beija com suas emoções, Elizabeth. Como uma mulher como você nunca foi beijada até hoje? O que há de errado com os homens que passaram por você, e não ficaram doidos com sua presença assim como eu fiquei?

Eu dou um sorriso triste, voltando para realidade.

– Eu acho que a pergunta certa seria: Qual é o seu problema, Elizabeth? Eu sou a única a ter problemas aqui, Brian. Alguns caras ficaram sim, interessando em mim, mas eu nunca fiquei interessada neles até...

Suspiro, com medo de completar a frase e com a mudança que isso pode causar.

– Até? – Brian pergunta.

– Você. – Digo entre um suspiro.

Coloco as mãos em seu peito, me apressando em dizer:

– Mas isso não significa que podemos ser algo mais, Brian. Eu ainda continuo uma pessoa quebrada, acredite em mim quando eu digo que você não quer ter outra coisa a ver comigo que não seja amizade.

Ele suspira, soltando meu rosto e desviando o olhar.

– Se você só quer a minha amizade é isso que vai ter, eu não vou te pressionar mais, Elizabeth. – Ele se inclina para frente e pega a caneta que estava no pequeno criado mudo. Tirando minha mão de seu peito, ele pressiona a ponta da caneta na palma da mão e começa a escrever. – Aqui está o meu número, vou esperar por uma ligação a cada hora do dia, até que você esteja pronta, porque se quer que eu seja sincero, você não está pensando em outra coisa, além dos seus medos quando toma as suas decisões.

Brian se levanta da cama e anda até a porta.

– Eu vou esperar. – Ele diz, e sai do quarto sem olhar para trás.

Puxo o travesseiro que estava ao lado e o pressiono contra meu rosto.

Foda-se você, Brian Hooper.

***

No dia seguinte, mesmo estando com meu carro na garagem, decido ir para o trabalho com Kat. Com toda essa neve, nos sentimos mais seguras quando estamos juntas no carro, estranho, eu sei. Porém, eu esqueci completamente que a ida para o trabalho com ela não seria tranquila, e sim cheia de perguntas sobre Brian.

Brian, Brian e Brian. Brian, o primeiro cara a balançar o meu mundo, o que me deixou com uma escolha a ser feita.

– Pare de pensar Liza, me conta logo o que aconteceu. – Kat fala, sem paciência.

– Brian me beijou. – Deixo escapar, antes de qualquer coisa.

Kat freia bruscamente o carro, nós duas somos lançadas para frente, mas graças ao cinto de segurança não nos machucamos. E graças a Deus não havia carro atrás. Mas espera, o carro poderia ter derrapado com toda essa neve!

– Você está maluca? Quer nos matar ou algo do tipo? – Eu grito, com o coração disparado.

Ela leva o carro até o acostamento e só então começa a falar novamente.

– Seu primeiro beijo! Por Deus, e você fala com essa tranquilidade toda? – Então, ela faz a coisa mais improvável e que nenhuma melhor amiga em todo o mundo faria, ela chora. – Eu não acredito que você conseguiu Liza. Você não tem mais medo?

– Pare de chorar, Kat. Eu sei que eu consegui ultrapassar uma barreira que achei que nunca iria ultrapassar, mas eu consegui. Para uma pessoa que tinha medo de chegar perto de qualquer homem, ter o primeiro beijo é algo bom, não?

Ela funga o nariz e limpa as lágrimas na barra da blusa de frio. Seus olhos castanhos começam a ficar vermelhos, e seu cabelo loiro se solta do coque que estava no alto da cabeça.

– Claro que sim, isso é incrível. E você não está tendo nem toda essa merda de terapia.

– Mas esse é o ponto, eu não abandonei os meus medos, muito pelo contrario... Eles continuam aqui. No entanto, com Brian foi diferente. Eu não sei, mas ele conseguiu minha confiança tão facilmente e o resto aconteceu.

Eu olho para Kat e vejo que ela entende o que eu quero dizer, ela sabe que talvez eu nunca me recupere dos meus traumas, mas que esse pode ter sido um começo.

– E então? – Ela pergunta, com a sobrancelha arqueada.

– E então o que?

Kat bufa e joga as mãos para o alto.

– E então, vocês decidiram o que? Foi apenas um beijo? Ele te chamou para sair?

Olho para a janela lembrando mais uma vez da nossa conversa.

– Não, mas eu acho que ele iria. Eu falei que não iria acontecer nada além de amizade e ele me disse que eu não estava pensando direito por causa dos meus medos. – Digo a última frase mais rude do que eu pretendia. – Ele é um idiota, não? Ele não sabe o que aconteceu comigo para dizer algo assim.

Ouço a gargalhada de Kat, e me viro para ver que ela está com a mão na barriga de tanto rir.

– O que? Você estava chorando e agora está rindo? Se decida, Kat. E por que você está rindo?

– Desculpe, mas a sua expressão de indignação foi a melhor. – Diz, e se apressa em continuar. – Mas em uma parte eu concordo com você, ele não poderia ter dito isso, mas ele está certo em todo o resto. Suas ações são consequências dos seus medos, você está colocando isso em primeiro lugar. E não tem como ele saber por tudo o que você passou se você não contar.

Kat liga o carro e volta para estressada.

– Opa, você é minha melhor amiga, deveria estar do meu lado nessa história! – Isso é inacreditável, penso, adquirindo mais um item para minha lista de indignações do dia.

– Não quando você está errada, linda.

É fácil falar que me deixo levar pelos medos, quando sou eu a única que acorda toda noite tremendo por causa de pesadelos ou quando imagens do que me aconteceu aparece em minha mente me causando um ataque de pânico.

Eu não faço a mínima ideia do que fazer.

Permaneço em silêncio até o carro parar no estacionamento da clínica.

– Liza, tente. Se você só quer a amizade dele tudo bem, mesmo eu sabendo que não é esse o caso. Porém amigos também podem sair juntos, amigos podem assistir filmes juntos, amigos podem até se beijar às vezes, mas você tem que tentar. Dê uma chance a ele, isso não vai te matar. E se matasse, acredite em mim, muitas mulheres iriam querer morrer dos sintomas que Brian pode causar – Kat diz, e vejo em seus olhos que é a resposta mais sincera que ela poderia me dar.


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